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PARTE III – RESULTADOS E DISCUSSÕES

6 PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADES DE ECOTURISMO NA SERRA

6.1 A paisagem da Serra

6.1.1 A Serra como um geossistema

Em estudo pioneiro, Cunha (1993) aborda a Serra da Itabaiana como um geossistema e, de acordo com essa metodologia, os níveis subseqüentes ocorrentes na Serra são os geofácies de mata atlântica, cerrado, mata ciliar, restinga, campo rupestre e o geótopo onde há a ocorrência do podocarpus sellowii, que serão abordados a seguir. Essa seqüência, bem como seus constitutivos naturais são apresentados a seguir e identificados como elementos de avaliação do potencial turístico.

Geofácies e diversidade biótica da Serra

A mata atlântica, cuja formação é conseqüência da corrente quente do Brasil que provoca precipitações abundantes no litoral, é uma ramificação da floresta tropical, que acompanhou a evolução do clima durante a Era Quaternária. “Nos períodos úmidos, de excesso de chuvas, “[...] avançou sobre o cerrado e a caatinga, deixando relictos nas serras, cursos de água, locais úmidos. Nos períodos secos, a caatinga avançou sobre a mata atlântica chegando até o litoral, onde deixou relictos” (FRANCO, 1997, p. 128).

Em Sergipe, a mata atlântica encontra-se em pequenas manchas no litoral, com maior densidade no sudeste do Estado. Nos municípios de Itabaiana e Areia Branca, grande parte já foi devastada para a produção de lenha, madeira e agropecuária, sobrando pequenas áreas de relictos na Serra de Itabaiana.

Na pesquisa de campo, foi observada a distribuição espacial do geofácie mata atlântica no entorno da Serra, em sua maioria localizada no sopé, apresentando-se também em manchas pequenas e médias nas matas de galeria e em relictos agrupados no topo, possuindo significativa diversidade de espécies: Sucupira (Bowdichia virgilliodes), Pau-Pombo (Tapirira guianensis), Oiticica (Clarisia racemosa), Ingá-porca (Sclerolobium densiflorum), Biriba (Eschweilera ovata), Ouricuri (Syagros comosa), Piaçava (Attalea sp.), Umbaúba (Cecropia sp.), Bromélia (Bromeliaceae) dentre outras.

No transecto longitudinal da vertente leste da Serra, próximo ao sopé, encontra-se vegetação típica de restinga, nativa de áreas de influência marinha, havendo controvérsias sobre a sua origem. A teoria mais aceita é de Aziz Ab’Saber (apud SERGIPE, 1978), segundo a qual a areia é oriunda dos processos erosivos do quartzito, que durante as oscilações climáticas da era Quaternária, de clima acentuadamente árido, formou “dunas fósseis” que se acumularam em um tabuleiro na vertente leste, criando condições para a disseminação desse tipo de vegetação, encontrando-se as espécies Hancornia speciosa Gomez (mangaba), Manilkara salzaminni (maçaranduba), Anacardium occidentale (cajueiro), Melocactus bahiensis (cabeça de frade), dentre outras.

Já o cerrado na Serra de Itabaiana se apresenta contínuo à vegetação de restinga, ocupa as menores altitudes da vertente leste e as áreas periféricas da Serra, cujas espécies mais conhecidas são o Cajueiro Bravo (Plumeria spp), Cajueiro (Anacardium occidentale), Murici (Byrsomina spp) Mangaba (Hancornia speciosa Gomez), Sucupira (Bowdichia virgilioides), Folha Larga, entre outros.

O geofácie campo rupestre é peculiar de elevadas altitudes, sendo encontrado na Serra de Itabaiana a partir de 450 m, apresentando gramíneas, ervas, liquens e musgos, bromélias, orquídeas dentre outras espécies. O pequeno porte desta vegetação está relacionado ao tipo de solo litólico, muito raso, com rochas expostas, à maior incidência solar, à mudança de temperatura e à presença constante de ventos fortes.

Segundo Franco (1997), “Nos campos rupestres há muito endemismo, pelo isolamento que tiveram no decorrer do tempo”. Dentre as espécies endêmicas encontra-se o Podocarpus sellowii, que se dispersou isoladamente pela Chapada Diamantina-BA, Serra de Itabaiana-SE, Brejo dos Cavalos-PE e Chapada do Araripe-CE. Na Serra de Itabaiana encontram-se algumas relíquias de 12 e 15m de altura no topo da Serra, indicando as mudanças paleoclimáticas

ocorrentes em tempos passados que criaram condições para a dispersão pelo País. Devido a restrição de sua ocorrência, é entendido por Cunha (1993) como um geótopo.

Quanto à fauna, foram confirmadas no trabalho de campo as espécies citadas por Franco (1997), tais como: paca (Cuniculus paca), raposa (Canis vetulus), tatupeba (Euphactus sexcinctus flavimanus), tatu verdadeiro (Dasipus novemcincta), gato do mato (Felis tigrina), teiú (Tupinambis teguixin), lagartos (Polychrus spp), sagüi (Callithrix jacchus), tamanduá- mirim (Tamandua tetradactylus) etc., além de vários espécies de aracnídeos, anelídeos, pequenos répteis e aves, dentre elas beija-flores, aves de rapina, ocorrências essas ratificadas em conversas informais com moradores da região.

Geologia e diversidade morfológica

A Serra é constituída por um relevo testemunho ou residual nomeado pela literatura como domo estrutural de Itabaiana. Ele surgiu devido processo de soerguimentos e dobramentos da crosta terrestre, cuja parte central foi “esvaziada” por processos erosivos devido ao clima semi-árido acentuado no Pleistoceno, restando os relevos residuais que formam o domo. Suas rochas são do grupo Miaba (Pré-cambriano), constituídas por quartzitos feldspáticos com camadas de metarenitos sílticos e espessos leitos de metassiltitos que afloram ao redor do “domo” de Itabaiana e na “janela tectônica” de Simão Dias.

A litologia e a estrutura das rochas da Serra apresenta conglomerados com clastos de embasamento, metarenitos e quartzitos médios a grossos, quartzos finos; filitos às vezes negros; metarenitos conglomeráticos no topo, predominando, entretanto, a rocha quartzítica. Sobressaem-se as estruturas paralelas e cruzadas planas e festonadas com ondulações, como também estruturas de escape de fluidos, cuja formação ocorreu em local marinho raso retrabalhado por marés, correntes e tempestades (D’EL – REY SILVA, 1992 apud SANTOS, 1997).

Quanto aos aspectos geomorfológicos, a Serra localiza-se entre o pediplano sertanejo e a planície costeira, apresenta-se com um formato retangular-ovóide, com a disposição das camadas inclinadas de leste para oeste, cujo front se volta para oeste e declividade menos acentuada para leste (SERGIPE, 1978; SANTOS e ANDRADE, 1992).

• feitio alongado na direção SW-NE, elíptico, cujo eixo maior se orienta nesta direção e o eixo menor na direção SE-NW;

• forma hemisférica e ligeiramente achatada, na qual se observa sobre a superfície do maciço diversos afloramentos rochosos, como também diversos sedimentos cenozóicos, produtos do intemperismo;

• superfície semiplana e ligeiramente inclinada votada para leste, de fácil acesso, onde os pequenos rios e riachos drenam a Serra por esse lado diretamente à calha do rio Sergipe ou através do seu afluente, o rio Jacarecica. Já aqueles que drenam a vertente oeste, de inclinação quase vertical e difícil acesso, vão ter ao platô central, desaguando no açude da Marcela, no sentido leste / oeste (SERGIPE, 1978).

As águas e o clima da Serra

A Serra de Itabaiana é dispersora de vários cursos d’água formadores de bacia hidrográfica de grande relevância para o Estado, a bacia do rio Sergipe. Os riachos da vertente leste são os mais importantes dentre eles o riacho Coqueiro, riacho Água Fria, riacho dos Negros e o riacho Vermelho, contribuintes do rio Jacarecica, afluente do rio Sergipe, de grande importância para a agropecuária e para o abastecimento de água da população da região (CUNHA, 1994).

Os cursos d’água perenes nesta vertente ocorrem devido à composição geológica da Serra que permite, através das rochas porosas e das fissuras por entre as camadas, a surgência da água, originando uma drenagem de padrão controlado, dado o paralelismo dos leitos, e encachoeirados com ocorrência de bacias de acumulação no percurso (SERGIPE, 1978, p. 17).

Com relação ao clima, devido aos fatores altitude, posição geográfica, distância do mar e vegetação, a Serra apresenta, segundo a classificação de Thornthwaite (apud CUNHA, 1993), clima megatérmico sub-úmido, com as chuvas ocorrendo no período de março até outubro e o período seco de novembro até fevereiro, com a presença de nevoeiros durante todo o ano.

A situação da Serra confere-lhe um clima de transição entre o litoral úmido e o sertão semi-árido e, pela altitude, que alcança 669 m, conforma uma barreira que retém parte das

nuvens que se dirigem para o interior. Com essas características, ss chuvas orográficas são constantes na vertente leste, mais úmida do que a vertente oeste (CUNHA, 1993).