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PARTE III – RESULTADOS E DISCUSSÕES

6 PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADES DE ECOTURISMO NA SERRA

6.2 Percepção dos atores sociais e institucionais sobre as perspectivas e

6.2.3 Aspectos culturais

A superintendência do IBAMA/SE considera que a Serra de Itabaiana tem valor cultural, “a Serra faz parte da cultura de um povo, que deveria ser considerada e valorizada”. Sugeriu a criação de um “espaço para a população colocar a sua cultura, para a comunidade se manifestar”.

Para a gerência da Estação Ecológica da Serra, ela tem grande valor cultural “pelo que representou e representa para as pessoas na construção de identidade através de suas lendas, mitos, histórias, vivências, faz parte do cotidiano da população local”. Para valorizar a cultura local, deveria se incentivar a publicação e a reedição de material literário esgotado, incrementar a divulgação nas escolas e a realização de eventos culturais.

Dos quatro proprietários de terra, um disse: “só vinculo a Serra à questão ecológica. Não vejo nada relacionado à cultura”. Os outros três entrevistados enxergam os valores culturais da Serra, cuja sugestão para a valorização do patrimônio cultural é expressa no seguinte depoimento: “deveria haver um projeto integrado entre os diversos órgãos para se fazer um centro cultural e de educação ambiental para atender à população local”.

Os três entrevistados das secretarias responsáveis pelo turismo consideram a Serra de Itabaiana com grande valor cultural. O entrevistado da secretaria de turismo do Estado creditou o valor cultural da Serra às lendas e aos mitos que fazem o imaginário do sergipano; às feiras, às festas, à paisagem, e que era necessário “incentivar o público local nas suas manifestações culturais para fazerem parte do mercado turístico”. O entrevistado da secretaria de Areia Branca acrescentou a “necessidade de revigorar além da religiosidade as manifestações culturais que estão praticamente acabadas”, e que está em estudos a criação de uma feira de artes em Areia Branca.

O entrevistado secretaria de Itabaiana relatou que “é preciso incentivar a cultura, pois o que ainda permanece é por causa do pessoal mais velho que mantém as tradições culturais”. Para isso, a Secretaria de Educação de Itabaiana estimula as escolas a terem um grupo artístico e folclórico, que são requisitados tanto pela prefeitura quanto pela iniciativa privada para eventos.

Das oito agências turismo de receptivo entrevistadas, quatro afirmaram ter pouco ou nenhum conhecimento sobre aspectos culturais da Serra de Itabaiana. Foi lembrado mais uma

vez por dois entrevistados que “o sergipano precisa dar valor em primeiro lugar à sua terra. Tem muita coisa bonita”.

Os outros entrevistados das agências de receptivo concordam que a Serra tem valor cultural. O aspecto mais citado é o São João de Areia Branca e a culinária de São João. Contudo, alguns depoimentos se destacaram, a seguir: “Revitalizar e valorizar a cultura popular das localidades no entorno da Serra. A secretaria de cultura do estado tem pessoas aptas para isso, que não são aproveitadas, além da falta de continuidade das ações nas mudanças de governo”.

Quatro depoimentos assinalaram que as escolas são o caminho para resgatar os valores culturais da Serra e do estado de Sergipe, e que a população deveria se mobilizar para mexer com os brios do poder público.

Os quatro agências de ecoturismo / turismo aventura afirmaram que a Serra tem valor cultural. As lendas e os mitos foram citados duas vezes, como também a falta de valorização do sergipano com relação às suas belezas naturais e culturais. Foi destacado ainda que “o conjunto natural e cultural da Serra é ideal para re-educar não só os alunos das escolas como também a comunidade sergipana visando valorizar a nossa cultura e a conscientização para reduzir a degradação da natureza”.

Todos os cinco guias de ecoturismo reconhecem o valor cultural da Serra. Alguns depoimentos auxiliam na percepção dos referidos entrevistados. Um dos três guias que mora no entorno da Serra disse que deve se “divulgar a cultura nas escolas”, e citou a necessidade de “criação de um barracão cultural em Areia Branca”, alertando que “as pessoas que procuram a Serra é pela água, pelos banhos”.

Outro guia também morador do entorno declarou que “As coisas tão se acabando porque os governos não se interessam por nada. Os grupos folclóricos quase não existem mais. Dois ou três velhos é que ainda mantém. O pessoal mais novo não tá nem aí”. Outro guia morador do entrono confirmou que “A cultura popular da Serra também tá na UTI”.

Os dois guias que moram em Aracaju, em síntese, sinalizaram para a necessidade de se publicar as lendas, as estórias da Serra e divulgar a cultura local em eventos, ou criar eventos para isso.

Dentre os dose beneficiários com o fluxo turístico, três entrevistados afirmaram que a Serra de Itabaiana não tem valor cultural. Outros dois afirmam que “à única coisa que tem é o São João de Areia Branca”. Já vários entrevistados, afirmaram que “os mitos e as lendas continuam fortes”, mas o resto, ou seja, “os grupos folclóricos tradicionais os mais novos não ligam, tão morrendo”. Contudo, dois entrevistados afirmaram que “sem a nossa cultura não tem alma”.

Sobre a peregrinação à Serra no dia primeiro de novembro, assinalaram a necessidade de resgatá-la. No entanto alguns depoimentos concluíram que “nunca vai voltar a ser a mesma coisa. A maioria dos mais jovem só qué sabê de bagunça e cachaça”.

Com relação ao São João, as opiniões são quase unânimes: “O São João tá morrendo. Culpa da administração municipal e dos políticos”. [...] “O São João de Areia Branca era bem tradicional, com um forró pé de Serra, realizado em uma rua havia o envolvimento de todos, tinha muito calor humano. Com a transformação comercial, interesses políticos e econômicos, perdeu a sua alma. Cobrança de ingresso inclusive para os moradores, gente de todo tipo e de todo lugar, começou a ter bagunça, violência, até assassinato. Hoje em dia o São João virou um incômodo para a população local”.

Para resgatar os valores culturais, a entrevistada do Centro Cultural de Areia Branca disse que “são necessárias a conscientização dos grupos artísticos e divulgação. A criação do Centro cultural está buscando o resgate da cultura local, o reisado, o grupo mamãe sacode, quadrilha de São João, capoeira, o grupo de zabumba, artes plásticas, compositores, poetas, artesões. Estamos providenciando cursos de capacitação para revigorar esses grupos, alguns deles parados”.

Dois entrevistados lembraram que há alguns meses começou a se colocar barracas na beira da pista em frente à cidade com produtos locais, visando valorizar aspectos culturais locais. Outros disseram que “a partir de um pólo turístico, deveria se organizar e se incentivar a cultura local”.

Há também aqueles que priorizam a educação, “incentivo à cultura local junto com a educação ambiental. Na maioria das vezes as escolas vêm para a Serra para praticar a educação ambiental, quando chega aqui, a única preocupação é o lazer e tomar banho. A maioria dos monitores são deficientes para instruir sobre educação ambiental”. [...] “Deveria inserir nas escolas aulas sobre a cultura local, não só do município como de todo o estado, e

buscar parcerias com ong´s e instituições (SEBRAE, Serviço Social do Comércio - SESC, Serviço Nacional de Aprendizagem comercial - SENAC, Petróleo Brasileiro SA - PETROBRAS) para participar com recursos humanos e materiais para incentivo e divulgação da cultura”.

Um outro afirmou que “precisaria de dinheiro para investir na cultura. A estrutura das escolas é precária, professores desinteressados, por causa de maus salários, a educação normal nas escolas já é comprometida, imagine se há motivação para ensinar cultura!”.

A grande maioria citou que “nenhum prefeito se interessa em fazer coisa alguma”, e que desconhecem projetos culturais do município, exceto a entrevistada do Centro Cultural de Areia Branca.