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Avaliando as práticas e usos atuais

PARTE III – RESULTADOS E DISCUSSÕES

5 CONTEXTUALIZANDO A SERRA DE ITABAIANA

5.5 Avaliando as práticas e usos atuais

A “cerca invisível” percebida por Santana (2002) é confirmada pelos depoimentos. A cerca que isolaria a Serra de quaisquer atividades humanas subjetivas, permitindo apenas as atividades relativas à objetividade racional dominante de acordo com a legislação vigente, ou

seja, a preservação, a pesquisa científica e a educação ambiental, não é aceita pela população local.

Com relação às visitas na Serra de Itabaiana, não há o cumprimento dos requisitos mínimos para que se possam considerar as visitações atuais como ecoturismo, pelo fato de que, dentro de uma unidade de conservação quaisquer atividade está subordina ao plano de manejo, e no entorno da unidade ou zona de amortecimento, “[...] as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade”, conforme o artigo 2º da Lei do SNUC.

Ainda de acordo com esta Lei, toda unidade de conservação deve ter um plano de manejo, que é um documento elaborado após a criação da unidade de conservação, documento este que regula, orienta e estabelece critérios para as atividades no interior de uma unidade de conservação. Em seu artigo 2º, a Lei do SNUC define o plano de manejo:

Documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade.

O zoneamento é uma etapa do Plano de Manejo elaborado através de estudos biológicos, físicos, sociais, econômicos, geográficos dentre outros, que visa facilitar o gerenciamento e o monitoramento das práticas e usos da unidade de conservação.

De acordo com a Lei do SNUC, em seu artigo 2º, zoneamento é a “definição de setores ou zonas em uma unidade de conservação com objetivos de manejo e normas específicos, com o propósito de proporcionar os meios e as condições para que todos os objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz”.

Com relação ao ecoturismo, é através do Plano de Manejo e do zoneamento que se tem condição de estabelecer as áreas de maior interesse e que sejam permitidas para as práticas dessa atividade.

Nesse sentido, as trilhas para o uso público em unidades de conservação têm o propósito de suprir as necessidades recreativas dos visitantes, ao mesmo tempo em que visa minimizar e facilitar o controle dos impactos decorrentes da presença humana na área.

Assim, é a partir do zoneamento da unidade de conservação que se definem as trilhas e os pontos de visitação a serem utilizados na atividade ecoturística, visando reduzir os

impactos ambientais às áreas visitadas. Isso não ocorre na Serra de Itabaiana, pelo fato de que a unidade de conservação ainda não foi implantada.

A intensidade dos impactos mais comuns em trilhas é influenciada tanto pelo tipo e quantidade de visitação quanto pelas características físicas da trilha e adjacências, ou seja, o relevo, o tipo de solo e de vegetação e os recursos hídricos, estes, foco principal da procura pelas visitações à Serra atualmente.

Do levantamento das práticas e usos atuais ocorrentes na Serra, destaca-se a multiplicidade de usuários que “definem” as trilhas de deu próprio interesse, sem um ordenamento e avaliação prévia de seus impactos. Todavia, as trilhas assim construídas, podem provocar efeitos negativos tais como demonstrados no quadro 5.10. Aí são mostrados os impactos percebidos a partir do depoimento dos usuários e constatados nas visitas de campo, quando do acesso aos locais mais visitados.

Quadro 5.10 - Impactos em trilhas e os seus efeitos ecológicos e sociais TIPO DE

IMPACTO

EFEITO

Ecológico Social

Erosão de Solo

Perda de solo e nutrientes, sedimentação e turbidez de água, alteração de do padrão de drenagem. É o tipo de impacto mais permanente.

Maior dificuldade de viagem (caminhada), degradação de qualidade

visual, aumento de risco de acidentes.

Exposição de raízes

Danificação de raízes, redução na saúde de árvores, intolerância a

períodos de seca

Degradação de qualidade visual, aumento de risco de acidentes. Formação de trilhas

secundárias Perda de vegetação, exposição de solo Degradação de qualidade visual Solo úmido Mais suscetível a ficar barrento e a

impermeabilização

Maior dificuldade de viagem, degradação de qualidade visual

Água corrente Maior intensidade de erosão Maior dificuldade de viagem

Alargamento de

trilha Perda de vegetação, exposição de solo Degradação de qualidade visual Trilhas criadas por

visitantes

Perda de vegetação, fragmentação de habitat de vida animal

Evidência de impacto humano, degradação de qualidade visual Lixo Poluição, contaminação e doenças em

animais silvestres

Evidência de impacto humano, degradação de qualidade visual Fonte: Marion e Leung (2001) apud Borges (2002)

Utilizam-se como ações preventivas para a prática do ecoturismo, visando minimizar e controlar os impactos negativos, a colocação de materiais e equipamentos de proteção nas trilhas e pontos de visitação para facilitar a drenagem, a ultrapassagem de corpos d’água, a

ultrapassagem de alagados, a contensão da erosão, além de sinalização adequada e equipamentos de segurança que servem tanto para a segurança do visitante quanto para reduzir os impactos à área natural, como também o monitoramento constante, ou seja, o exame periódico dos níveis de mudança ocorridos em determinado local com a visitação, isto é, as alterações causadas ao ambiente visitado tanto positivas quanto negativamente.

Nesse sentido, a determinação da capacidade de carga é uma ferramenta para auxiliar no planejamento e no monitoramento das trilhas, entendendo-se por capacidade de carga o número de turistas que podem ser acomodados e atendidos em um determinado ambiente, “sem provocar alterações significativas nos meios físico e social e nas expectativas dos visitantes” (DIAS, 2003, p. 80).

Os princípios para a prática do ecoturismo propostos por Kinker (2002) trazem outros critérios além dos citados acima, que fazem com o que o ecoturismo seja a atividade mais indicada para as unidades de conservação, ressaltando que, como já visto, o que ocorre na Serra de Itabaiana em sua grande maioria são visitações aleatórias, desordenadas, com pouco ou nenhum controle. Apenas algumas visitações seguem empiricamente alguns princípios do ecoturismo, tais como a preocupação com lixo, com o número de visitantes e a educação ambiental.

Assim, diante dos resultados relativos às práticas e usos atuais na Serra de Itabaiana, cabe perfeitamente verificar as perspectivas e possibilidades de sistematização das práticas de ecoturismo, através do levantamento do potencial ecoturístico da Serra e da percepção dos atores sociais pertinentes, considerando os aspectos legais e institucionais relativos ao processo inconcluso de implantação de uma unidade de conservação em sua área.