• Nenhum resultado encontrado

Nesta sessão procura-se resgatar pontos históricos que relatam a exploração das florestas brasileiras, principalmente aquelas encontradas nos estados do sul e sudeste do país, áreas que tiveram um adensamento populacional bastante acentuado nas últimas décadas e que também se tornaram as principais áreas produtivas do Brasil, principalmente quanto à agricultura. Por não ser o foco principal deste estudo, não estão relatados dados diretos referentes às florestas tropicais da Amazônia, apesar de sua imensa importância para aspectos biológicos, ambientais, sociais e econômicos do país e do mundo.

De acordo com Hueck (1972), em seu trabalho publicado na década de 1970, mais de 2.000 espécies de árvores nativas do Brasil eram citadas como de grande utilidade naquela época, destas um terço se localizava na região montanhosa do leste e do sul do Brasil. Porém, segundo o autor, apenas 100 teriam importância comercial, e somente 30 delas eram efetivamente aproveitadas.

Isso mostra o sub-aproveitamento das espécies florestais existentes e a falta de conhecimento específico em relação às vantagens e aplicações apropriadas das espécies não utilizadas. Na história do Brasil independente, dos séculos XVIII, XIX e XX, estudos e pesquisas no setor florestal com culturas locais resultaram das investigações feitas por biólogos e naturalistas, as quais permitiram o aproveitamento das potencialidades de determinadas espécies. As espécies nativas de aproveitamento econômico relevante eram apenas retiradas sem que houvesse interesse no replantio. A visão predominante ainda era de

abundância de florestas e madeira para diversos fins e outro fator que não incentivava seu plantio era a demora do crescimento destas espécies florestais. Portanto as tentativas de reflorestamento com espécies nativas eram feitas em pequena e insignificante escala se compradas às culturas de eucalipto e pinus, espécies exóticas de rápido crescimento que tomavam conta da maioria dos reflorestamentos feitos na época (HUECK, 1972).

A exploração indevida e contínua das matas naturais levou a diminuição das áreas florestadas, trazendo riscos econômicos e ambientais que até hoje afetam a população:

As matas subtropicais do leste e sul brasileiros, assim como dos países adjacentes, estão quase todas em área de intensa atividade agrícola; infelizmente também é uma das áreas de destruição da vegetação primitiva em larga escala (HUECK, 1972, p.196).

Um dos motivos de tal destruição apontado pelo autor foi a expansão agrícola acompanhada de uma acelerada derrubada das matas neste período. Isto fez com que no século XIX essas áreas transformadas em estepes e savanas fossem consideradas de origem natural por estudiosos da época. Porém, estas não eram savanas naturais, mas terras abandonadas após a intensa utilização agrícola ou mesmo depois do simples desmatamento. Uma das culturas mais utilizadas neste período foi o café, mas o autor cita também o algodão, açúcar e milho (HUECK, 1972).

Outro fator limitante era o não cumprimento das leis de conservação das matas existentes. Hueck (1972) destaca que os reflorestamentos exigidos pela lei nunca eram feitos, as reservas estaduais eram pouco extensas e ainda era insuficiente a instrução florestal no Brasil.

As primeiras iniciativas de reflorestamento foram feitas por empresas privadas que dependiam da madeira para sua sobrevivência, como fábricas de papel e a Companhia Paulista de Estradas de Ferro.

De acordo com COUTO et al. (2000) em 1967 foi iniciado o Programa de Incentivos Fiscais, que reflorestou 6 milhões de hectares no país entre 1967 e 1984.

A principal cultura florestal em larga escala implantada nesse tempo foi o eucalipto, utilizado na produção de lenha e dormentes, como carvão vegetal na indústria siderúrgica, na fabricação de móveis, postes e mourões (HUECK, 1972).

Como explica o autor, o desenvolvimento rápido das espécies de eucalipto exige uma alta taxa de consumo de água, principalmente na idade de 5 a 10 anos, e também nutrientes. Depois este consumo de água parece baixar e a caída de folhas e galhos promove o retorno de substâncias nutritivas ao solo (HUECK, 1972). Por tal característica havia quem chamasse

atenção ao fato da cultura de eucalipto provocar a seca do solo. Naquele momento não se sabia até que ponto o eucalipto promovia o empobrecimento do solo, mas, para Hueck (1972) a eventual seca do solo não era atribuída mais ao crescimento destas árvores senão ao tipo de cultura com derrubadas prematuras.

No sul do Brasil uma das espécies mais valorizadas e utilizadas, com grande mercado internacional, foi a araucária. As matas densas de araucária sofreram uma exploração acelerada.

Conforme estimativas apresentadas por Hueck (1972), em 1963 o Brasil exportou 1.224.000 m³ de madeira, sendo que do total, 1.121.000 m³ correspondiam à Araucária, ou seja, 92% do todo.

No estado do Paraná, como descreve Maack, (1953 e 1960, citado por HUECK, 1972), da superfície total do estado de 200.857 km², retirando-se as áreas cobertas por campos de altitude, pela vegetação costeira e pântanos, sobram 176.737 km² que deveriam estar cobertos por matas. Destes 176.737 km², 100.457 km² seriam de “mata de lei”, matas pluviais subtropicais e tropicais, ricas em peroba, canela, pau marfim, cedro e outras madeiras de valor; e outros 76.280 km² correspondentes a “mata de pinho”, predominando a araucária ao lado de imbuais e outras madeiras. Na década de 70, Maack chama a atenção para o fato de que 87.900 km² desta área total de 176.737 km² de mata já terem sido destruídas (HUECK, 1972).

Esta destruição que ocorreu em todos os estados do sul, e não somente no Paraná, correspondeu não apenas ao interesse econômico do comércio da madeira, mas também às conseqüências do fogo, como explica Hueck (1972).

No intuito de controlar a economia e o comércio advindos da araucária foi criado, em 19 de março de 1941 pelo Decreto de Lei nº 3.124, o Instituto Nacional do Pinho no Rio de Janeiro, que tinha por objetivo melhorar os métodos de trabalhos florestais (reflorestamento e aproveitamento), classificar e determinar os preços da madeira. O Instituto foi extinto em 28 de fevereiro de 1967 (FILHO, 2006).

Ao longo da história da exploração inadequada e mal planejada da madeira no Brasil, com inúmeros exemplos de desperdício, pode-se observar que apesar da grande reserva florestal brasileira o país ocupa um consumo ainda pequeno comparado a outros países do mundo. De acordo com Leão (2000) o país com maior consumo aparente de madeira no mundo, considerando produção, exportação e importação, é o Canadá, seguido de Estados Unidos, Suécia e Japão. Enquanto 90% das casas norte-americanas são construídas com madeira, no Brasil sua utilização para este fim ainda é restrita, excetuando-se a região Sul

(LEÃO, 2000). Para Freitas (1998, citado por LEÃO, 2000) isso se dá pela falta de tecnologia adequada, a falta de tradição no uso e no processamento eficiente da madeira.

A cadeia produtiva de madeira no Brasil, de acordo com Juvenal e Mattos (2002), oferece matéria prima principalmente para a produção de energia (carvão vegetal e lenha), abastece os segmentos de papel, pasta de celulose, madeira em tora, serrada e painéis, a partir dos quais se formam outras cadeias produtivas (ver Figura 2).

Figura 2 – Cadeira Produtiva da Madeira

Fonte: JUVENAL e MATTOS, 2002.

Com o objetivo de se alcançar maiores índices de produtividade e mais eficientes modos de produção serão discutidos posteriormente métodos silviculturais e propostas de manejo florestal sustentáveis.

TORAS DE MADEIRA

FINS INDUSTRIAIS COMBUSTÍVEL

SERRADOS

PAINÉIS

POLPA

Madeira Sólida

Reconstituídos

Pastas de alto rendimento Celulose Carvão Lenha Compensados Lâminas Aglomerados MDF Chapas de fibra OSB HDF