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3.5 Araucaria Angustifolia

3.5.2 Descrição e Características da Espécie

O pinheiro-do-paraná é uma árvore com um ciclo de vida que teve origem há 200 milhões de anos a partir de coníferas primitivas que sofreram adaptações até o surgimento das espécies atuais de araucárias. Segundo paleontólogos as espécies de araucária surgiram na Era Mesozóica, no período Jurássico-cretáceo. Todas as dezenove espécies que fazem parte do gênero Araucaria A. L. Jussieu se encontram no hemisfério sul, sendo que na América do Sul ocorrem apenas duas variedades: Araucaria angustifolia e Araucaria araucana (ver Figuras 50, 51 e 52), esta última presente no Chile e Argentina. As demais variedades são encontradas em regiões do Pacífico Meridional, em lugares como Austrália, Papua, Nova Guiné, Nova Caledônia, Vanuatu e Ilha Norfolk (NIKLES, 1980, citado por CARVALHO et al., 2003).

Figuras 50 e 51 - Exemplares de Araucaria araucana em fase adulta – Montevidéu/Uruguai.

Fonte: acervo da autora, 2010.

O pinheiro-do-paraná é a Araucaria angustifolia sendo a espécie que possui a área de distribuição mais extensa dentre as demais, podendo ser encontrada no Brasil e em menor quantidade na Argentina e Paraguai (CARVALHO et al., 2003). O agrupamento de árvores desta espécie é denominado Floresta Ombrófila Mista, e por conter a única espécie de conífera mais expressiva da vegetação brasileira, apresenta grande importância ecológica e econômica (NARVAES et al., 2005, citado por MATTOS et al., 2006).

Conhecida também como pinheiro-brasileiro a araucária é uma árvore de grande porte, podendo atingir uma altura de até 50 metros, possuindo um tronco reto que se ramifica apenas no topo (ver Figura 52). No Brasil ocorre em vários estados: Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (ROTTA, 2006).

Figura 52 - Araucaria angustifolia em fase adulta.

Fonte: ROTTA, 2006.

Segundo Carvalho et al. (2003) os pinheiros dominaram a paisagem do sul do Brasil provavelmente desde a última glaciação até o final do século XIX. Devido à grande exploração deste recurso natural a sua área remanescente tem sido bastante reduzida, se comparada à área de cobertura inicial estimada em 200.000 km², estando a maior parte, 185.000 km², no Brasil (MACHADO; SIQUEIRA, 1980, citado por CARVALHO et. al., 2003). Destes 185.000 km², 73.780 km² ocorriam no Paraná (40% da superfície do estado), 56.693 km² em Santa Catarina (31% da superfície), 46.483 km² no Rio Grande do Sul (25%), 5.340 km² no sul do estado de São Paulo (3%) e o restante em Minas Gerais e Rio de Janeiro (ver Figura 53). De acordo com o autor, a redução da Floresta Ombrófila Mista, ou Floresta de Araucária, para cerca de 1% do seu tamanho original trouxe a imposição de várias restrições para sua exploração. Deste modo ele afirma que o plantio da espécie tanto de forma homogênea como em sistemas silviagrícolas é de grande importância para a exploração adequada desta matéria prima contribuindo para a manutenção do patrimônio genético restante, ressaltando a relevância socioeconômica e ambiental desta árvore (CARVALHO et al., 2003).

Figura 53 - Áreas de distribuição natural da Araucaria angustifolia. Fonte: HUECK, 1972, citado por SHIMIZU e OLIVEIRA, 1981.

A acentuada diminuição da Floresta Ombrófila Mista, como demonstrado por Shimizu e Oliveira (1981) aconteceu porque a araucária desempenhou um importante papel na economia do país sob a forma de madeira serrada e laminada para exportação. Sendo que tais produtos em algumas ocasiões no passado foram ultrapassados somente pelo café em valor exportado. De acordo com os autores, árvores retas com fustes quase cilíndricos atingindo de 30 a 50 m de altura e diâmetro de 2 m à altura do peito eram comuns no sul do Brasil. Em São Paulo, as reservas de araucárias foram exauridas entre 1930 e 1940 (KRUG, 1964, citado por SHIMIZU e OLIVEIRA, 1981).

Além da exploração madeireira, as regiões ocupadas originalmente por araucárias sofreram pressões para serem transformadas em áreas agrícolas para a produção de café, trigo, feijão, soja e demais culturas. Segundo estimativas, dos 7,4 milhões de hectares de florestas naturais de araucárias existentes no Paraná, restavam em 1950 apenas 34%, diminuindo para 28% em 1960 (MAACK, 1968, citado por SHIMIZU e OLIVEIRA, 1981). Em 1967, as matas remanescentes foram reduzidas a 433.580 ha (MACHADO, 1975, citado por SHIMIZU e OLIVEIRA, 1981), e a 316.620 ha, ou seja, 4,3% da área original, em 1977 (FUPEF/IBDF, 1978, citado por SHIMIZU e OLIVEIRA, 1981). Colocando em números:

A produção de madeira de araucária em todos os estados aumentou de 1,5 milhões de metros cúbicos em 1945 para 3 milhões, em 1950. Então, a produção manteve-se estável, em torno dos 2,8 milhões de metros cúbicos por ano, até 1966. Posteriormente, houve um decréscimo até atingir uma produção anual de 1,8 milhões de metros cúbicos em 1972 (PARANÁ, 1976, citado por SHIMIZU e OLIVEIRA, 1981).

O início da exploração madeireira no Paraná ocorreu em 1871, com o estabelecimento da Companhia Florestal Paranaense próxima ao então futuro trajeto da ferrovia Curitiba-Paranaguá. Porém, este empreendimento fracassou pela dificuldade de vias para escoamento da madeira e pela concorrência estrangeira do pinho de Riga. Somente com a abertura da estrada da Graciosa, em 1873, ligando Curitiba à Antonina, da construção da estrada de ferro Paranaguá-Curitiba em 1885 e do ramal Morretes-Antonina em 1891 foi que a exploração da araucária se tornou importante atividade econômica para o Estado (CARVALHO et al., 2003).

A Primeira Guerra Mundial foi um fator que alavancou a exportação do pinheiro-do- paraná, alimentando o mercado interno e o argentino. A partir de então as serrarias se multiplicaram e as reservas de pinheiros diminuíam rapidamente, fazendo com que a madeira superasse a importância econômica da erva-mate no Paraná. A expansão do transporte rodoviário após 1930 facilitou a exploração por parte da indústria madeireira, que agora não dependia apenas das ferrovias para escoar sua produção. A crise da produção de erva-mate fez com que o ciclo econômico do pinheiro ganhasse força, havendo a abertura de muitas indústrias regionais, como fábricas de fósforos, caixas e móveis (CARVALHO et al., 2003).

No período da Segunda Guerra Mundial a araucária foi o principal produto de exportação do Estado, sendo relevante também para a industrialização dos outros estados do sul do país. Após o conflito, por volta de 1940, ocorreu o declínio do ciclo madeireiro, que começou a ser substituído por outras culturas, como o café no caso do Paraná, ficando da cobertura original de suas florestas de pinheiros aproximadamente apenas 1% da área.

Conforme Mattos et al. (2006) estima-se que mais recentemente no Paraná restem apenas 0,7% da área original, remanescentes em estágio primário ou avançado, distribuídos em fragmentos, em geral, pequenos e dispersos. Ressalta-se que esta pequena porcentagem diz respeito aos remanescentes de florestas de araucárias naturais. Florestas plantadas de araucária não constam nesta estimativa.

Após a constatada diminuição das Florestas de Araucárias deu-se início um programa de reflorestamento realizado por um número reduzido de empresas particulares com a posterior adesão do Governo Federal. Até 1979, segundo Shimizu e Oliveira (1981) foram plantados cerca de 90.000 ha. Já a estimativa apresentada por Silva et al. (2001) revela um

número bem menor, tendo sido plantados até 1978 apenas 58.000 ha na região sul, número que representava somente 2,5% da área reflorestada com outras espécies.

Estes reflorestamentos foram considerados insatisfatórios em quantidade e qualidade. Para Silva et al. (2001) uma das causas para a explicação desta pequena área reflorestada consistia na falta de conhecimento das exigências silviculturais da araucária, principalmente sobre técnicas de plantio e a escolha inadequada dos locais de implantação destes (GOOR, 1965, citado por SILVA et al., 2001).

Os locais onde naturalmente se dá o crescimento da Araucaria angustifolia se caracterizam por temperaturas médias anuais entre 12 a 18ºC (SILVA et al., 2001) e com altitudes que variam entre 500 a 1500 m (KLEIN, 1960, citado por NEGRELLE e SILVA, 1992). A árvore suporta geadas de até -10ºC, caracterizando-se em espécie de clima temperado. Mesmo ocorrendo em diversos tipos de solo, desde os menos férteis, como os derivados do arenito, até os mais férteis, derivados do basalto, é exigente quanto à sua fertilidade, tendo apresentado maiores índices de produtividade em solos argilosos ou franco- argilosos, profundos e bem drenados (SILVA et al., 2001). Assim sendo:

A escolha do local adequado para o cultivo da araucária tem influência decisiva sobre o êxito da plantação, sendo tão importante que outras condições como qualidade e origem da semente, espaçamento, tratos culturais, época de desbastes etc., assumem importância secundária (GOLFARI, 1971 e 1974, citado por SILVA et al., 2001).

De acordo com as suas características ecológicas a Araucaria angustifolia é uma espécie pioneira, perenifólia e heliófila, além de ser extremamente longeva, atingindo em média entre 140 e 250 anos. Com 10 a 35 m de altura possui diâmetro entre 50 a 120 cm, podendo chegar a 50 m de altura e 250 cm de diâmetro na fase adulta (CARVALHO, 2003, citado por MATTOS et al., 2006).

Com a exploração indiscriminada que sofreu a partir do início do século XX:

… o pinheiro-do-paraná foi incluído na lista de espécies que necessitam atenção (FAO, 1986) e na lista oficial de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção (Brasil, 1992). Sua classificação como vulnerável nessa lista, inspira cuidados especiais, a fim de que esses riscos não permaneçam (CARVALHO et al., 2003).

No sul do estado de Minas Gerais a sobrevivência da espécie depende da reprodução inicial em viveiros e posterior plantio, pois é incapaz de auto regenerar-se nos ecossistemas nativos da região (VIEIRA, 1990, citado por CARVALHO et al., 2003). Em São Paulo a espécie foi considerada na categoria criticamente em perigo de extinção em 1998. Em Mauá, região metropolitana da cidade de São Paulo considerada a única área com concentração

significativa de Mata de Araucária na região, um levantamento indicou uma diminuição drástica na quantidade de árvores, que passou de 36.310 indivíduos em 1937 para apenas 9.000 indivíduos em 1999 (MARCONDES e BARRETO, 2000, citados por CARVALHO et al., 2003). Também em Santa Catarina a araucária está na lista de espécies raras ameaçadas de extinção (KLEIN, 1993, citado por CARVALHO et al., 2003). Os 73.780 km² recobertos originalmente por Mata de Araucária no estado do Paraná foram de tal modo devastados pelas indústrias de madeira e papel, que a espécie foi colocada em 1995 na categoria de espécie rara na região. A única região de ocorrência natural da espécie no Uruguai, em 1971 foi declarada como Reserva Nacional (LOPEZ et al., 1987, citado por CARVALHO et al., 2003).

Romário Martins, pioneiro da ciência florestal paranaense, em 1908 já lutava junto ao Congresso Nacional por medidas legais e operacionais que regulamentassem a extração e comercialização da madeira do pinheiro, tendo em vista os altos índices de derrubadas praticados e a falta de mecanismos de reposição (MAZUCHOWSKI, 2007).