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3.5 Araucaria Angustifolia

3.5.4 Sistemas de Cultivo e Manejo

Constatando-se a grande variedade de usos e aplicações relacionadas anteriormente, como oportunidade de renda, geração de empregos e na direção de se oportunizar a produção sustentável de madeira para a construção civil, discute-se neste trabalho o plantio puro da

Araucaria angustifolia como um produto que possa atender demandas do mercado local.

Assim, reduz-se o uso de madeiras nobres provenientes de explorações inadequadas, muitas vezes distantes do lugar de aplicação, como é o caso do uso de espécies tropicais provenientes da Amazônia gerando uma pegada ecológica bastante preocupante. Para o alcance deste

objetivo é possível reforçar o manejo florestal a partir de sistemas agroflorestais que tragam benefícios aos produtores.

A araucária é uma das poucas espécies nativas que pode ser utilizada em plantios homogêneos de maneira satisfatória, podendo ser plantada a pleno sol principalmente em solos de boa fertilidade química e resistindo às baixas temperaturas. Segundo Carvalho et al. (2003) a semeadura direta em campo é o método mais adequado, sendo usual a superlotação inicial com 6 a 12 mil sementes/ha, com uma posterior seleção para deixar as plantas mais vigorosas. Recomenda-se o uso de sementes selecionadas da mesma zona ecológica ou das zonas mais próximas, em plantios no sul e sudeste do Brasil.

Tanto para evitar a escassez da espécie, ou até mesmo sua extinção, como para promover seu aproveitamento de forma razoável e sustentada, sendo que historicamente sua madeira e outros produtos se mostraram de alto interesse econômico, atualmente podem ser promovidos plantios dirigidos através de um manejo florestal adequado. Segundo Webb et al. (1984), citado por Carvalho et al. (2003):

O crescimento inicial do pinheiro-do-paraná é lento; mas, a partir do terceiro ano, em sítios adequados, apresenta incremento anual em altura de 1 m e, a partir do quinto ano, taxas de incremento em diâmetro de 1,5 a 2,0 cm. Os povoamentos apresentam uma grande heterogeneidade, que se manifesta, principalmente, na altura. É admissível esperar um incremento volumétrico anual de 10 a 23 m3/ha.

Além da possibilidade do plantio puro, a espécie também pode ser utilizada em sistemas agroflorestais. De acordo com Mazuchowski (2007) os sistemas agroflorestais são produções consorciadas que envolvem um componente árboreo e um outro animal ou cultivo agrícola, maximizando o aumento da produtividade e rentabilidade econômica com proteção ambiental e a melhoria da qualidade de vida das populações rurais. Como demonstrado a seguir:

Nos três primeiros anos de plantio o pinheiro-do-paraná pode ser consorciado com culturas agrícolas, o milho, algumas vezes o feijão, o arroz e a aveia (BOM et al., 1994, citado por CARVALHO et al., 2003). Estes consórcios, além de não prejudicarem o crescimento do pinheiro-do-paraná, fornecem sombreamento, condição importante para o início da implantação, e possibilitam uma renda extra que cobre os custos de manutenção da cultura florestal (HOEFLICH et al., 1990, citado por CARVALHO et al., 2003). O pinheiro-do-paraná é uma espécie bastante interessante para o sombreamento de erva-mate, sozinho ou formando um conjunto com outras espécies, formando sistemas agroflorestais bastante interessantes. (CARVALHO et al., 2003).

Há também o sistema de produção em faixas alternadas, que é a implantação de faixas arborizadas permanentes em meio ao cultivo agrícola, em geral com mais de 20 m de largura.

Os consórcios de plantios assim como outras práticas de cultivo estão ganhando ênfase no desenvolvimento da produção madeireira. No estado do Paraná, em propriedades rurais que se configuram pela existência de capoeiras e capoeirões, a introdução da araucária, assim como de outras essências florestais madeiráveis, pode ser um excelente procedimento econômico-silvicultural. Como já ocorre com outros cultivos como os de pinus, eucalipto, grevílea e bracatinga, a silvicultura tem promovido a atividade madeireira como forma de resposta à exaustão da madeira de espécies florestais nativas, promovendo a geração de recursos no meio rural (MAZUCHOWSKI, 2007). Por tais razões demonstra-se que a

Araucaria angustifolia, adotando-se algumas atitudes, pode vir a ser uma espécie mais bem

aproveitada em programas silviculturais.

Para Mazuchowski (2007) o plantio do pinheiro-do-paraná é inviabilizado por instrumentos legais estabelecidos que visam simplesmente a preservação através de medidas fiscais exacerbadas. Com isso, as pequenas propriedades rurais, que no estado do Paraná representam 85% da estrutura fundiária, buscam erradicar a espécie pelos prejuízos decorrentes. Conforme o autor, essa postura acarretará um zoneamento da espécie, que ficará limitada aos plantios desenvolvidos pelas empresas florestais e às áreas de preservação ambiental, especialmente parques estaduais e federais.

Para transformar essa realidade Mazuchowski (2007) propõe mecanismos para o manejo silvicultural dos remanescentes baseados na alteração dos normativos legais vigentes por serem impeditivos ao plantio e no incremento do fomento para o manejo, principalmente nas áreas de Reserva Legal, estabelecendo mecanismos de incentivo ao pequeno produtor rural. Neste sentido ele afirma que entidades governamentais e lideranças municipais têm empreendido ações que procuram enfocar a viabilização de empreendimentos em pequenas propriedades, a partir da difusão de alternativas técnicas para o manejo sustentável das Florestas com Araucária. Mazuchowski (2007) cita experiências conduzidas pela EMATER para estímulo ao manejo do pinheiro, destacando:

...as unidades metodológicas para difusão de tecnologia, a premiação de produtores de destaque municipal, a utilização de mecanismos de apoio para novos plantios, a formação de grupos de produtores para coleta, padronização e comercialização do pinhão em parceria industrial.

O Projeto de Alternativas Agroflorestais, desenvolvido dentro do Programa Paraná Rural pelo governo estadual, entre 1989 e 1997, constitui um exemplo. Neste projeto duas atividades voltadas essencialmente para a atividade florestal em pequenas propriedades merecem destaque. Foram elas as Unidades de Comprovação que eram áreas demonstrativas para a difusão tecnológica, e os Arboretos Demonstrativos que promoviam a divulgação de espécies florestais alternativas de utilização industrial e comprovavam tecnologias florestais no âmbito microrregional. Algumas Unidades de Comprovação trabalharam especificamente visando à difusão da tecnologia florestal com araucária enfocando aspectos como: definir as melhores épocas de colheita e procedência de material genético; definir consórcios com erva- mate para maximização da renda; demonstrar o efeito do sombreamento nas mudas plantadas em áreas com capoeira para transformá-las em áreas produtivas e aumentar seu valor econômico; enriquecer áreas com samambaial dominante mediante o plantio do pinheiro; entre outras (MAZUCHOWSKI, 2007).

Mattos et al. (2007) também ressalta que o estímulo ao manejo sustentável é uma forma de conservar os remanescentes das Florestas de Araucárias. Para se alcançar esse objetivo o autor observa que é fundamental a realização de estudos sobre a dinâmica das florestas para assegurar sua conservação e manejo, incluindo observações de longo prazo por serem ecossistemas complexos, heterogêneos e com processos dinâmicos lentos (ver Figura 57).

Figura 57 - Variações da Araucaria angustifolia segundo estágios de crescimento. Fonte: ROTTA, 2006.

Hoeflich et al. (1990) também cita o sistema de plantio para agregar valor às grandes áreas cobertas por florestas secundárias ou terciárias (capoeirões e capoeira), originadas de desmatamentos indiscriminados no Paraná e em grande parte da Região Centro-Sul do país. Este sistema converte áreas florestais de baixo valor comercial em áreas de exploração economicamente rentável através de métodos de regeneração artificial com o plantio de espécies arbóreas de crescimento satisfatório, e de comprovado valor madeireiro. Recomendando para tal sistema a Araucaria angustifolia, o autor explica que:

Os plantios sob cobertura em vegetação matricial, de enriquecimento ou conversão, têm a grande vantagem, quando comparados ao plantio convencional, de não precisarem eliminar totalmente a vegetação existente, com os consequentes transtornos ecológicos, pois necessitam somente da abertura de pequenas faixas, que se alternam com faixas mais largas, nas quais se mantém a vegetação existente. Desta maneira, consegue-se reincorporar áreas abandonadas a uma atividade produtiva e sem perda de solo (HOEFLICH et al., 1990).

O autor ressalta que o plantio de espécies nativas permitirá o abastecimento dos mercados interno e externo com madeira de lei, consolidando o setor florestal no contexto da economia nacional. O sistema de manejo demonstrado por ele configura uma alternativa ecologicamente importante, uma vez que o plantio é executado sem causar tantos distúrbios na flora e na fauna, e ainda reduz a perda de matéria orgânica e a lixiviação dos nutrientes do solo (HOEFLICH et al., 1990).

Implantar novos plantios do pinheiro-do-paraná que utilizem técnicas de manejo silvicultural, segundo Mazuchowski (2007), pode garantir o mecanismo de corte dessas árvores, viabilizando uma renda efetiva para as propriedades rurais, excluindo-se as restrições de utilização e dando continuidade à biodiversidade ambiental. A proibição da extração de madeira em pequenas propriedades rurais inviabiliza o agronegócio e o interesse pela existência dessa espécie florestal. Portanto são necessários parâmetros técnicos objetivos e viáveis economicamente, unindo-se a isso a conformidade da autoridade florestal através da modificação dos normativos legais vigentes atualmente, que desestimulam o cultivo e manejo da espécie, a viabilização do fomento ao plantio e manejo do pinheiro em pequena escala nas propriedades de agricultura familiar e o desenvolvimento de uma sistemática de controle das árvores por idade e incremento anual proporcionando cortes seletivos.

O incentivo à prática do cultivo florestal do pinheiro-do-paraná pode contar ainda com a criação de mecanismos de apoio à viabilização comercial de seus subprodutos, especialmente o pinhão, e principalmente dos produtos madeireiros que atinjam o comércio com foco em construções e projetos arquitetônicos sustentáveis, divulgando essa matéria prima como um material renovável.