• Nenhum resultado encontrado

A Socialização no Currículo em Movimento da Educação Básica do Distrito Federal

CAPÍTULO 1 ESTUDOS DA INFÂNCIA: DISCUTINDO A SOCIALIZAÇÃO INFANTIL

1.4 A Socialização no Currículo em Movimento da Educação Básica do Distrito Federal

A Educação Infantil no Distrito Federal (DF) utiliza o Currículo em Movimento da Educação Básica como referência para a organização do trabalho nas instituições de ensino que atendem as crianças de zero a cinco anos de idade. Ele é organizado em oito volumes: 1) Pressupostos teóricos; 2) Educação Infantil; 3) Ensino Fundamental – séries iniciais; 4) Ensino Fundamental – séries finais; 5) Ensino Médio; 6) Educação Profissional e a distância; 7) Educação de Jovens; 8) Educação Especial.

Neste espaço, nos deteremos no volume destinado à Educação Infantil, contexto evidenciado no estudo em questão. O documento busca alinhar-se à legislação que ampara a educação infantil: Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação básica (BRASIL, 2010) e Diretrizes Curriculares da Educação Infantil (DCNEI) (BRASIL, 2009), assim como ao Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) (BRASIL, 1998), Indicadores de Qualidade da Educação Infantil (BRASIL, 2009), dentre outros, e literatura nacional e internacional destinada ao trabalho com as crianças pequenas (DISTRITO FEDERAL, 2014).

Sobre essa literatura apresentada no currículo, observa-se a presença de campos diversos, entre os quais se destacam aqueles voltados à perspectiva histórico-cultural e a alguns pressupostos advindos da Sociologia da Infância. O documento se propõe a ser uma referência e não uma prescrição de conteúdos a serem ensinados e ressalta a compreensão do homem como sujeito histórico-social que deve ser considerado nos processos de ensino- aprendizagem em sua integralidade e à qual o currículo deve adaptar-se conforme for necessário. “A aprendizagem não ocorre solitariamente, mas na relação com o outro, favorecendo a crianças, jovens e adultos a interação e a resolução de problemas, questões e situações na zona mais próxima de seu nível de desenvolvimento” (DISTRITO FEDERAL, 2014, p. 33).

Propõe-se ainda uma educação para a diversidade facilitada pelos eixos transversais apresentados no currículo em que se torna possível focar temas atuais que, muitas vezes, são negligenciados nos processos educacionais. São eles: Educação para a Diversidade, Cidadania e Educação em e para os Direitos Humanos, Educação para a Sustentabilidade (DISTRITO FEDERAL, 2014).

Especificamente no currículo da Educação Infantil é feita uma apresentação acerca do da representação de criança nele presente e que se coaduna com a perspectiva já apresentada de uma compreensão da criança como ator social, ativo nos processos que a envolvem, inclusive no contexto educativo, reconhecendo-a como “cidadã desde já e não apenas no futuro” (DISTRITO FEDERAL, 2014, p. 34). Além dos eixos transversais mencionados, é anunciado um eixo integrador específico da Educação Infantil: educar e cuidar, brincar e

interagir, que funcionaria como articulador junto aos demais.

Nota-se que estando a interação presente como parte do eixo integrador esta assume uma reconhecida importância dentro dos pressupostos do instrumento, o que se confirma ao

longo do currículo em suas recorrentes menções ao papel que essas interações exercem nos processos que ocorrem na escola, sobretudo nos de aprendizagem. Ao lado do interagir

encontramos o brincar em uma associação considerada tão importante quanto a do binômio

educar e cuidar, sendo o ato de brincar apresentado como condição de aprendizagem,

amparado nos pressupostos teóricos de Vigotski (2008 apud DISTRITO FEDERAL, 2104) . As interações são, por sua vez, definidas como [...]

[...] ações sociais, mutuamente orientadas, entre duas ou mais pessoas, que podem motivar modificações no comportamento dos envolvidos, como resultado do contato e da comunicação que se estabelece entre eles. [...] Envolvem comunicação gestual, corporal e verbal e podem ser harmoniosas ou antagônicas, imitativas ou de oposição às ações do parceiro. Em suma, as interações, no espaço escolar, constituem-se como possibilidades de ouvir o outro, conversar e trocar experiências, aprender junto (DISTRITO FEDERAL, 2014, p. 39).

A socialização é apresentada como algo que deve ser objeto de reflexão pautada na compreensão da criança como ser que pensa e sente, considerando, portanto, a dimensão afetiva presente nesse processo. Embora não seja mencionada a expressão reprodução

interpretativa no currículo em discussão, Corsaro (2009) é um dos autores citados para

realizar uma maior compreensão sobre como abordar as interações nessa proposta curricular, sendo apresentada sua defesa de que a criança não apenas apreende o que lhe é apresentado, mas ressignifica, recria, interpreta e produz cultura. “Ou seja, as crianças não apenas imitam e reproduzem a vida social, mas participam dela ativamente” (DISTRITO FEDERAL, 2014, p. 40).

Tão importante quanto as interações, o texto do currículo cuida para que a brincadeira também seja objeto de reflexão docente quanto a que espaço ela ocupa na organização do tempo na Educação Infantil, a quem ela serve, quais objetivos atrelados, que relações são estabelecidas entre brincar e aprender, porque motivo as crianças brincam, etc. “A ludicidade,

como prática pedagógica, possibilita que as interações entre as crianças e seus pares e entre elas e os adultos se constituam como um instrumento de promoção da imaginação, da exploração e da descoberta” (DISTRITO FEDERAL, 2014, p. 44).

Quanto à organização do trabalho pedagógico, o documento expõe, diante da consideração da criança como ator social, a possibilidade de torná-la partícipe da organização das rotinas pedagógicas, sendo planejadas de modo a fazer sentido para a criança e não apenas intentando mantê-la ocupada, além da importância de atendê-la naquilo que ela manifesta como necessidade. Compreendendo o professor como importante mediador das aprendizagens infantis, salienta ainda a relevância de planejar uma rotina que contemple elementos como o tempo, os ambientes e os materiais que serão disponibilizados para as crianças e as relações que elas estabelecerão com eles. A rotina é considerada o guia do tempo-espaço aula, podendo ser flexível e dinâmica, isto é, “é capaz de apresentar quais as concepções de educação, de criança e infância se materializam no cotidiano escolar” (DISTRITO FEDERAL, 2014, p. 54), questão também proposta por Vieira (2015).

O Currículo em Movimento da Educação Básica vigente no DF explicita a socialização como as interações apresentadas acima, ancorando-se tanto em pressupostos pertencentes à abordagem construtivista quanto à abordagem renovada, proposta por Corsaro (2011). Nota-se que os elementos presentes em sua compreensão sobre as interações se pautam de modo mais intenso na primeira perspectiva, podendo ser considerada a grande base à qual agrega os elementos propostos pela Sociologia da Infância, de modo a não restringir-se a uma única abordagem. Esse posicionamento é reconhecido por Rossetti-Ferreira e Oliveira (2009), Carvalho, Müller e Sampaio (2009) como um diálogo possível à ampliação do campo de estudos da criança, em que um olhar multidisciplinar sobre esse sujeito é mais que bem- vindo, é necessário.

Nesse sentido, ainda é que anunciamos o capítulo seguinte, destinado à apresentação da Teoria das Representações Sociais, que acreditamos permite maior compreensão sobre o fenômeno de interesse deste estudo, a socialização. Seus pressupostos, na medida em que se pautam no conhecimento elaborado por um grupo social e nas ações que essas produções possibilitam e contribuem, sobremaneira, tanto no campo das reflexões acerca dos saberes docentes presentes no contexto educativo quanto em relação às práticas pedagógicas que orientam o trabalho realizado nesse espaço.

CAPÍTULO 2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: CONCEITOS E