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CAPÍTULO 2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: CONCEITOS E CONTRIBUIÇÕES

2.5 Representações Sociais, Educação e Infância

Arruda (2002a, p. 70) assinala: “A acumulação de informação, experiências e conhecimentos que vão se compor em representações constitui o capital com o qual se trabalhará o futuro”.

Nessa perspectiva, as representações não se fazem apenas com os elementos do aqui e agora, mas remetem ao conhecimento informações e representações passadas que compõem as representações construídas no presente e que já, de antemão, se relacionam às que serão elaboradas no futuro e que, de alguma maneira, podem contribuir para as mudanças que ocorrerão no intercurso desse tempo. Assim, compreender as representações sociais encontradas nos estudos relacionados à infância torna-se uma via de acesso ao tratamento real que os sujeitos que vivenciam essa etapa da vida vêm recebendo dos adultos responsáveis por seus cuidados, sejam nos espaços oriundos da família, das instituições educacionais ou de saúde, etc.

No presente estudo, o contexto de interesse refere-se à escola, espaço a que as crianças, no Brasil, têm acesso garantido por lei desde os quatro até os 17 anos de idade (BRASIL, 2013), passando aí, conforme a realidade do Distrito Federal, cinco horas de seu dia, sendo possível dobrar esse tempo se tomar como referência instituições que ofertem ensino em caráter integral.

Observa-se um interesse relevante por pesquisas relacionadas à infância, sobretudo no contexto da Educação Infantil, buscando compreender melhor como as crianças são vistas pelos adultos e como esses espaços são organizados para elas. Muitos desses estudos têm como suporte a Teoria das Representações Sociais. É o caso dos trabalhos de Demathé (2007), Demathé e Cordeiro (2009), Wilbert (2009) e Tacca (2013), que fazem um levantamento das representações que adultos, ora pais, ora professores, têm das crianças e da infância. Em comum, esses estudos apontam para uma representação ancorada nos elementos

ludicidade, brincadeira, alegria e aprender, ou seja, a representação de criança e infância

encontra-se fortemente marcada por essas expressões.

Andrade (2013, p.323) anuncia uma reflexão que vai além da criança e infância como objetos de representação, colocando em discussão a seguinte formulação: “serão as crianças

capazes de influenciar processos de significação da realidade de forma a influenciar a produção de representações sociais?” Essa resposta seria afirmativa, aponta, se consideramos a criança mais que objeto de representações, mas como “sujeitos que elaboram novas realidades” (ANDRADE, 2013, p. 324).

Nessa perspectiva, a Teoria das Representações Sociais parece útil ao estudo sobre a infância, anunciando o poder adaptativo e reprodutivo das crianças frente ao conhecimento socialmente partilhado. Analisada por essa perspectiva, a representação social, ao limitar a criança à categoria objeto de representação, poder ser compreendida como ferramenta teórica e metodológica comprometida com a conservação de crenças e valores se ancora na tradição e na lógica adultocêntrica. (ANDRADE, 2013, p. 329-330).

Assim, se considerarmos a agência infantil, é possível apreender que as culturas produzidas pelas crianças não apenas contêm influência adulta, mas também influenciam esse grupo geracional. Duveen (2013, p.209) acrescenta:

Se examinarmos os processos através dos quais a criança incorpora as estruturas do pensamento de sua comunidade e adquire assim um lugar como participante competente e funcional nessa comunidade, eles nos apresentam um campo de investigação que pode ser fonte de questões produtivas e contribuições construtivas para a TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS. (grifo do autor)

O pesquisador salienta que a criança nasce em um mundo em que inúmeras representações já estão construídas, influenciando-a, como no caso de seus estudos sobre gênero, em que algumas características atribuídas ao feminino e ao masculino são apresentadas desde cedo às crianças. Nesse sentido, elas não estão imunes a essas representações. A consideração realizada caminha para o questionamento de seu potencial como produtor de representações sociais e o papel das representações internalizadas na construção da identidade das crianças. Avançar nessa perspectiva, afirma Duveen (2013), é um desafio, posto que ainda há um centramento nos estudos em representações sociais na figura adulta. Em se tratando das metodologias para pesquisas nessa área, encontramos ainda um terreno frutífero, composto de possibilidades variadas e aberto à criação de novos instrumentos que captem as representações sociais, inclusive das crianças.

Pinheiro et al. (2008) realizou um estudo que objetivou analisar as representações sociais das crianças sobre a infância, na contramão da maioria dos estudos realizados sobre esse objeto que tem como produto o olhar do adulto. Corroborando o exposto anteriormente, os pesquisadores lançaram mão de instrumentos variados para captar as representações infantis, quais sejam, observações, filmagens, desenhos, entrevistas e registros de campos. A relevância do estudo atribuída por seus autores reside na “importância de identificar as

representações sociais que as próprias crianças têm em relação à infância na tarefa de elaboração de práticas e políticas públicas voltadas para esses sujeitos” (PINHEIRO et al. (2008, p. 357).

Remetendo-nos ao contexto da educação, a partir da compreensão de que as representações sociais orientam ações, insurge uma reflexão sobre aquilo que é realizado pelos professores na escola a partir dessas representações e aquilo que é esperado pelas famílias, posto que as representações dos dois grupos de alguma maneira se aproximam. Estar na escola implica uma expectativa de escolarização que, muitas vezes, está atrelada a uma representação de escola como lugar de aprender, e não de brincar, como se essas duas ações não pudessem ter nenhum tipo de articulação, numa espécie de retorno à visão da criança como miniadulto, no sentido de desvincular dela o brincar.

Compreender questões relacionadas à infância a partir da lente teórica das representações sociais pode facilitar aproximações entre o que se espera e o que é ofertado às crianças, sobretudo no contexto escolar. Em outras palavras, minimizar as possíveis dicotomias entre o desejo manifestado nas representações e a realidade palpável.