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CRECHES: BREVE PERCURSO HISTÓRICO

3.4. A análise dos dados

4.1.5. A Supervisão Pedagógica

A supervisão pedagógica consistia no contato direto entre os responsáveis pelo programa e o trabalho desenvolvido pelos educadores nas instituições, com o propósito de apoiá-los no processo de mudança educacional, em que estavam empenhados. Eram destinadas 40 horas para cada instituição, divididas nos 10 meses de curso. Essas horas de supervisão ocorreram sob a forma de observação participativa, reuniões e oficinas, realizadas mediante as necessidades sentidas pelos professores do curso, diante das solicitações dos educadores e, também, na dependência das dificuldades deles na instituição. As oficinas com temas específicos como: a estruturação da rotina diária, a indisciplina, o planejamento, dentre outros, eram solicitadas pelos educadores, e aconteciam nas instituições no horário de trabalho para que houvesse trocas entre a equipe docente e os educadores no intuito de ajudá-los a colocarem em prática os conteúdos abordados no curso.

As supervisões aconteciam, mensalmente, durante o decorrer do curso, a fim de observar o trabalho dos educadores (postura, interação com as crianças, modificação no espaço físico, melhora na qualidade das atividades, etc).

Durante as supervisões, acompanhávamos a implantação do conteúdo estudado e, por meio de reuniões e conversas individuais após as observações, refletíamos com os educadores sobre os novos encaminhamentos. Nesses momentos, estivemos atentos não só aos obstáculos enfrentados e aos progressos alcançados, bem como ao esforço dos educadores em modificar o trabalho pedagógico e em implantar a nova proposta.

O nosso objetivo era promover desequilíbrios por meio de questionamentos e relatos de situações vividas (anônimas), para que os educadores conseguissem chegar por si mesmos a um outro caminho ou forma de atuar, quando ocorria, portanto, a aprendizagem de fato. Evitávamos dar respostas prontas, pois o objetivo de um programa de formação deve ir além das receitas e propiciar que os alunos/educadores sejam capazes de ressignificar sua prática por meio do referencial teórico adotado e suas implicações.

Nossa função na supervisão era investigar como estava sendo aplicada a teoria que era estudada no curso, ao mesmo tempo em que usávamos nossas observações para reformular as aulas, ou mesmo, voltar a algum ponto que não havia sido bem compreendido.

Era preciso ter cautela ao chegar nas instituições, pois não queríamos que nos vissem como “fiscais”, ou aqueles que vão criticar, julgar e avaliar, mas sim, que percebessem que nossa intenção era de ajudá-los. Ao chegarmos nas instituições, perguntávamos se podíamos ir às salas. Nas primeiras visitas, havia um certo constrangimento que se transformou em segurança com o passar das aulas e das supervisões.

Cabe ao supervisor conquistar a confiança dos educadores, mostrando qual é o seu papel e o objetivo do seu trabalho. Dessa forma, consideramos necessário explicar o motivo das visitas, definir-lhes os objetivos e as responsabilidades. Procurávamos enfatizar o quanto caminharam, as mudanças que observávamos, ao mesmo tempo em que apontávamos o que ainda deveria melhorar.

Frente às dificuldades que nos apresentavam como, por exemplo, planejar atividades que envolvessem o conhecimento físico e que não se limitassem à “mistura de tintas e à massa de modelar”, tentávamos incentivá-los ao mostrar-lhes que não existem receitas, que era preciso inovar e juntos buscávamos outros caminhos com os quais alcançássemos os mesmos objetivos, como, por exemplo: a culinária e as experimentações que esta atividade propicia.

A cada supervisão, após a visita e as trocas de idéias com os educadores, propúnhamos metas a serem cumpridas para o mês seguinte.

Quando os acordos firmados não eram cumpridos discutíamos sobre a necessidade e o objetivo dos mesmos. Como exemplo temos as fichas e cartazes para a organização do trabalho diário, as quais não eram usadas em uma das classes do maternal (crianças de 3 anos). Os educadores relatavam não ter tempo para confeccioná-las e, quando faziam a roda inicial,

combinavam, oralmente, as atividades que seriam realizadas naquele dia. Naqueles momentos por meio de questionamentos, retomávamos a necessidade das fichas a fim de orientarem o dia das crianças e a importância desses materiais concretos, dispostos em ordem cronológica, para auxiliá-las na compreensão do tempo e na seqüência das atividades. Após a conversa, estabelecíamos um novo acordo para que os educadores procurassem implantar tal mudança. Como o tempo de supervisão (4 horas /mês) para cada instituição, era pouco e como sabíamos das dificuldades e das necessidades dos educadores durante o curso, criávamos oportunidades para retomar a discussão novamente sobre esses materiais para a organização do trabalho diário. Quando necessário, fazíamos o mesmo com os demais conteúdos.

É preciso ressaltar outro aspecto quanto à dificuldade que temos de compreender uma teoria tão complexa como o construtivismo e suas implicações para o trabalho pedagógico. Temos consciência de que nenhum curso ou metodologia garante aos educadores uma prática coerente com os pressupostos estudados, e que, para tal é necessário que eles acreditem nesses princípios e que tenham vontade para trabalhar de acordo com os mesmos. É preciso a aceitação do que foi estudado e uma ressignificação da própria prática. Compreendemos que os cursos são condições necessárias às aprendizagens e às trocas entre os educadores, mas não podemos dizer que são suficientes. Na discussão final, voltaremos não só a tratar do curso de formação assim como do acompanhamento por meio das supervisões, e discutiremos ainda seus avanços e limitações à luz dos dados analisados.

CAPÍTULO III