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Aspecto Social

3 – ANÁLISE DA AVALIAÇÃO DO CURSO

O PROFCEI foi realizado de agosto de 2000 a junho 2001, e de 2002 de março a dezembro e participaram tanto na primeira, como na segunda turma, 60 educadores.

Conforme mencionado anteriormente, participaram desta pesquisa 26 educadores, dos quais 12 na primeira turma, e 14 educadores na segunda turma, os quais trabalhavam direta ou indiretamente com as crianças de 0 a 4 anos.

Em resumo, durante o curso, estudamos os conteúdos trabalhados no programa do PROFCEI, que se baseia na teoria piagetiana sobre a construção da inteligência da criança, nos processos de construção do conhecimento; no desenvolvimento da moralidade infantil; na aquisição dos três tipos de conhecimento; o físico, o social e o lógico-matemático e no desenvolvimento integral das crianças em seus aspectos físico, afetivo, cognitivo e social.

Dessa forma, procurávamos levar às aulas exemplos de situações cotidianas vividas nas creches para que o conhecimento fosse mais significativo e contextualizado e, ainda, a fim de que os educadores se sentissem interessados em participar dos estudos e das discussões. Nesse sentido, juntos, analisávamos as situações a partir do referencial teórico estudado.

Os conteúdos eram desenvolvidos por meio de metodologia diversificada conforme exposto no capítulo 2. Conversávamos sobre como utilizar esses estudos ao agirem de maneira efetiva no trabalho com as crianças e procurávamos incentivá-los a aplicarem o que estava sendo estudado em suas creches e a trazerem os resultados positivos ou negativos, para que os analisássemos em conjunto. Um educador, por exemplo, trouxe para a aula a sua dificuldade em implantar o “self-service” em sua creche, porque considerava as crianças de três anos ainda muito pequenas, com dificuldades motoras que as impediriam de se servirem e levarem o prato com os alimentos até a mesa onde estavam sentados para almoçar. Nesses momentos, procurávamos levar a questão para o grupo para que, mediante a troca de pontos de vista, apresentasse sugestões e idéias, além de lançarmos questões: Como poderemos realizar o “self-service” de outra forma? Como promover a independência das crianças sem impor-lhes muitas dificuldades?

A partir das perguntas e diante das opiniões apresentadas e justificadas, buscávamos as características do desenvolvimento das crianças, o que eram capazes de fazer, quais as suas

pudessem se servir sozinhas, sem correr riscos. Essas reflexões tinham o propósito de favorecer a tomada de consciência e a construção ou a “reconstrução” do saber do educador.

Ao procurarmos incentivar a participação dos alunos, realizávamos uma avaliação oral ao final de cada aula, a qual constituía como mais uma oportunidade que os educadores tinham para reorganizar seus conhecimentos mediante os novos conteúdos e tematizá-los. O produto dessas avaliações ajudava-nos a planejar as próximas aulas e a organizar diferentes estratégias para se trabalharem os conteúdos.

No final do curso de 2001, os alunos responderam em grupo uma avaliação sobre o trabalho desenvolvido (anexo 4). Cada creche reuniu seus educadores para juntos refletirem sobre o que foi participar do curso, o que aprenderam e quais mudanças ocorreram na rotina da creche com a aquisição dos novos conhecimentos.

Na análise das respostas contidas no questionário final elaborado com o propósito de avaliar o curso como um todo, e o que mudou com a implantação do PROFCEI, concluímos que os educadores ficaram satisfeitos com o trabalho desenvolvido. A seguir serão relacionados os resultados encontrados a partir da análise dessas avaliações:

1- O que mudou em sua instituição após participarem do programa de formação?

O curso proporcionou a construção de novos conhecimentos que possibilitou mudanças na concepção e ação pedagógica dos educadores que se empenharam para aplicar o programa. ”Possibilitou novas formas de trabalho, com as diversas atividades que foram propostas durante o curso, proporcinando assim uma nova visão da prática de ensino”.

Mostraram também que o programa por ter trabalhado o desenvolvimento moral e com inúmeras situações que envolviam a cooperação, o respeito mútuo e o trabalho em conjunto possibilitou que os educadores dos diversos setores da instituição trabalhassem de forma mais dinâmica e cooperativa.

“O projeto fez com que com que as mudanças ocorressem de forma global onde todos os setores desenvolvem de uma forma dinamica e lúdica os conceitos de autonomia, auto-estima, iniciativa própria, responsabilidade e respeito mútuo”.

Como durante o curso enfatizamos e vivenciamos as trocas, as interações construtivas, o respeito mútuo e a divisão de responsabilidades, os educadores conseguiram trazer essa prática para dentro das instituições, aperfeiçoaram e dinamizaram as relações. Os estudos sobre o desenvolvimento moral e os procedimentos de uma educação mais ativa que visavam à construção do auto-controle à criança favoreceram também as trocas e as relações interpessoais entre os adultos.

Trabalhamos, de forma intensa, a organização do trabalho diário e a necessidade de favorecer, sempre que, possível, as escolhas das crianças, a possibilidade de tomada de pequenas decisões, a minimização do tempo de espera que lhes causam angústia e favorece a indisciplina. As atividades de higiene, como o banho e a escovação dos dentes, foram organizadas de forma a atender-lhes as necessidades, já que de modo geral, eram propostas atividades independentes para que as crianças não ficassem esperando sem fazer nada. Dessa forma, as atividades de higiene se tornavam mais tranqüilas para as crianças e também para os educadores.

Sabemos que a organização do trabalho diário, quando bem planejado, favorece a prática dos educadores, bem como o desenvolvimento das crianças. Os educadores sentem-se mais seguros quando planejam as atividades que serão oferecidas no dia, e as crianças, como sabem quais poderão realizar e a seqüência das mesmas sentem-se mais tranqüilas e confiantes com a previsibilidade que a rotina proporciona.

2- Como está organizada e como funciona a sua instituição atualmente?

Foram estabelecidas novas regras para o funcionamento da creche, baseadas nos princípios do PROFCEI, tais como: as classes estão organizadas em cantos, as crianças podem se servir sozinhas, reorganizaram-se os momentos de higiene como a escovação dos dentes e o banho.

“As salas estão organizadas em cantinhos, as crianças estão se servindo sozinhas e estão mais disciplinadas”.

Ressaltaram que o trabalho pedagógico está melhor devido a maior participação e envolvimento das crianças nas atividades propostas, contribuindo assim para minimizar a indisciplina.

Outro aspecto que nos preocupava era o fato de que nem todos os profissionais das instituições puderam realizar o curso no mesmo ano e, era necessário que os participantes do curso tentassem envolver os colegas nas mudanças. Nesse sentido, os educadores que participavam do curso tentavam compartilhar os conteúdos e as discussões com os colegas que não o faziam, o que se constituía um desafio para todos. Um dos momentos que eles utilizam para essa socialização são as reuniões pedagógicas realizadas uma vez por mês.

3- Como os participantes do projeto têm procurado difundir os conteúdos do curso junto aos demais participantes da instituição?

Os educadores responderam que procuravam passar os conteúdos do curso para os profissionais, que dele não participaram, por meio das mudanças que, gradativamente, ocorriam no seu trabalho, tais como: a rotina diária; a necessidade de se elaborarem atividades mais ricas e desafiadoras; as diferentes formas de resolver os conflitos; a maior participação das crianças na rotina, etc. “Procuramos passar os conteúdos do curso para os profissionais que não participam do PROFCEI através do cotidiano do nosso trabalho”.

Interessados em saber dos educadores sobre os resultados obtidos após o programa e também em verificar as limitações do mesmo, perguntamos quais os resultados alcançados.

4- Que resultados vocês têm observado com a aplicação do PROFCEI em sua instituição?

Mudou a visão dos profissionais sobre o que é ser educador de creche e o que este deve realizar para atender às necessidades do desenvolvimento das crianças pequenas.

“É interessante destacar que a partir do PROFCEI mudou a visão dos funcionários a respeito da responsabilidade enquanto educadores”.

A maioria dos educadores evidenciou nas avaliações que ocorre, no momento, uma melhor organização entre as próprias crianças pois possuem a livre escolha das atividades (dentro das propostas oferecidas pelo educador) e envolve-se mais nas mesmas. Ressaltaram, ainda, que o ambiente está mais prazeroso após as mudanças na rotina, a introdução dos

diferentes tipos de atividades e devido a uma maior participação das crianças na organização do trabalho diário.

“Esta capacitação com o programa do PROFCEI trouxe motivação e segurança para o grupo de funcionários”.

Em 2002, a avaliação foi realizada individualmente com o objetivo de verificar o que significou a participação no curso para cada um. Sabemos que são poucas as oportunidades que os profissionais de instituições assistenciais possuem em realizar cursos de formação e queríamos conhecer o significado que atribuíram a esse programa.

1- O que significou para você e a instituição da qual você faz parte, participar deste programa? Consideraram que foi importante participar do curso e da supervisão pedagógica porque puderam adquirir novos conhecimentos, modificar as atitudes em relação às crianças, além de aprenderem sobre o construtivismo e a importância do papel dos educadores e que tais conhecimentos possibilitaram a auto-avaliação deles frente a sua prática com as crianças.

“Foi uma ótima iniciativa pois os educadores tiveram a oportunidade de refletir sobre sua postura perante as crianças e mudar algumas atitude”.

Mostraram, ainda, que o curso proporcionou subsídios para rever posturas, metodologias, a necessidade de um espaço físico organizado e auxiliou na definição de projetos para 2003, porque possibilitou-lhes conhecer um pouco mais sobre o desenvolvimento infantil e suas implicações.

“Na creche ousamos mudar a maneira de trabalhar com as crianças e conseguimos bons resultados”.

De maneira geral, os educadores apontam para a melhoria nas instituições e atribuem tal resultado aos “novos” conhecimentos adquiridos. Diante da análise das avaliações, percebemos que as maiores mudanças foram relativas à estruturação do trabalho diário, à importância do papel do educador na creche e à forma de resolução dos conflitos, de modo que a criança participe da mesma e expresse seus sentimentos.

2- Que contribuições o programa trouxe para a transformação da sua prática educativa?

Para os educadores a mudança na estruturação do trabalho diário permitiu que as crianças se tornassem mais independentes o que proporcionou uma maior auto-estima entre elas.

“Aprendi a deixar que as crianças fossem mais independentes”.

O curso mostrou que a participação da criança é essencial para o seu desenvolvimento e criatividade, possibilita um “novo olhar” para as crianças, para o planejamento das atividades a serem desenvolvidas e para a postura construtiva dos próprios educadores.

“Me tornei mais afetiva com as crianças, porque eu era muito dura e rígida, pois tinha medo de perder o controle dentro da sala, mas agora vi que não é assim”.

O programa proporcionou a aprendizagem pela reflexão, a necessidade de se fazer a leitura de uma situação antes de agir, de ouvir o outro e evitar impor conceitos prontos;

Mencionam, ainda, que será preciso trabalhar muito devido à complexidade dos conhecimentos para serem compreendidos e transpostos à prática.

“É bastante conhecimento para pôr em prática em tão pouco tempo, haverá ainda muitos desequilíbrios para novas conquistas”.

Conhecendo a grande complexidade de uma teoria baseada nos princípios construtivistas e sabendo que o conhecimento precisa ser construído ou reconstruído pelo sujeito de forma contínua e gradativa até a sua apropriação, tentávamos, durante as aulas, mostrar aos educadores, por meio de exemplos de situações vivenciadas ou hipotéticas, como esse conhecimento poderia ser colocado em prática.

3- Qual a sua opinião sobre os conteúdos trabalhados e sua importância para a educação infantil? A maioria dos educadores responderam que os conteúdos foram adequados, que o vocabulário utilizado pelos docentes foi acessível. Os participantes consideraram também muito valiosas as experiências trazidas pelo grupo, ao discuti-las a contento. Disseram ainda que, em algumas aulas, o tempo foi curto para compreender o conteúdo trabalhado.

“Os conteúdos trabalhados foram muito bons. No magistério jamais ouvimos falar “dessas coisas” e, para a educação infantil é fundamental”.

Os conteúdos foram estimulantes para a maioria dos educadores porque estavam vinculados à rotina diária que eles desenvolvem e possibilitaram a aquisição das aprendizagens sobre os estágios do desenvolvimento, o que contribuiu para a melhoria da prática educativa;

Para alguns educadores o conteúdo do curso foi complexo, amplo e muitas “coisas” não foram aprendidas. Ressaltaram que faltaram atividades, exemplos e conteúdos para as crianças menores de quatro anos.

“Muita coisa ficou para trás, pois a gama que envolve o desenvolvimento infantil é muito ampla”.

A partir das respostas contidas nas fichas de avaliação do curso, podemos concluir que os procedimentos e as técnicas utilizadas, no decorrer das aulas, mostraram-se úteis para que os educadores introduzissem mudanças que tornassem a creche um ambiente mais propício ao desenvolvimento das crianças pequenas. Os instrumentos utilizados como forma de avaliação confirmam que o PROFCEI contribuiu com os educadores para uma mudança em seus juízos sobre a educação infantil e em suas ações realizadas com as crianças.