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A EDUCAÇÃO DA CRIANÇA DE ZERO A QUATRO ANOS

1- A CRIANÇA DE ZERO A DOIS ANOS

1.7. Os limites e as birras

Não raro, observamos os educadores de creche sem saber como lidar com as birras e as dificuldades das crianças de um a dois anos. Na maioria das vezes, quando brigam por um brinquedo, ou disputam o colo de uma educadora, evidenciam, nessas situações, a sua forma de interagir com o mundo dos objetos e pessoas.

Por vezes percebemos os educadores realizarem intervenções inadequadas como: tirar o brinquedo que foi motivo de conflitos ou excluir a criança do convívio se ela estiver agredindo um colega, ao considerarem que essas atuações “ensinam” as crianças a agirem de uma outra forma numa ocasião posterior semelhante. Assim colocam a criança para pensar no que ela fez, censuram a criança, dizem que não gostam mais dela porque agiu de forma “errada”, que são feios porque não sabem se comportar, entre outros.

Sabemos que a criança nasce amoral, ou seja, para os pequenos não existem ainda regras ou normas a serem seguidas e que garantam um bom convívio. O egocentrismo, nos primeiros anos, impede que eles coordenem pontos de vista e se coloquem no lugar dos outros, então, para eles, só existe a sua própria vontade, o seu desejo.

Selman (apud VINHA e MANTOVANI DE ASSIS, 2003, p.121), descobriu as estratégias que as pessoas utilizam para resolver os conflitos. As crianças pequenas, até três anos,

utilizam em geral estratégias ainda muito primitivas. Existem os níveis de relação interpessoal e as crianças que freqüentam a creche se encontram no nível zero.

No nível zero as sugestões das crianças para a resolução dos conflitos parecem ser tanto momentâneas (impulsivas) quanto físicas. A resolução do conflito ocorre por meio de duas estratégias principais: a da não interação (fugir, afastar-se, esconder) ou da intervenção direta (lutar, agarrar, gritar, agredir).

Os pequenos ainda são incapazes de perceber manifestações subjetivas. Eles não são capazes de perceber sentimentos, que não se expressam concretamente, como o choro, os gritos. Por isso, quando o educador diz que sua atitude deixou o colega triste, a criança responde, que ele não chorou. Para essas crianças, se elas não interagem fisicamente, não há conflitos. É comum acontecer conflitos quando eles brincam. É preciso, portanto dizer claramente à criança o que pode e o que não pode fazer como, por exemplo, você não pode tirar o brinquedo do colega, é preciso pedir-lhe para que o empreste, ou não precisa chorar porque você quer o carrinho que está no armário, é preciso pedir. O importante é conter a ação da criança e mostrar-lhes outras formas para dizerem o que querem.

Sendo assim, há uma maneira diferenciada que a criança utiliza segundo a sua estrutura de pensamento, para resolver os seus pequenos conflitos. Um exemplo da primeira conduta é quando a criança tenta pegar um brinquedo que está com outro colega e, não conseguindo, ela busca outro brinquedo, ou seja, abandona a idéia inicial e vai a busca de outro objeto que satisfaça o seu desejo de brincar. Na segunda conduta, a criança, querendo um objeto ou o colo do educador que está segurando um bebê, ela o empurra para ganhar o colo ou tenta retirar o brinquedo do colega.

As intervenções, nesses casos, precisam ser acertadas, deve-se reconhecer o sentimento da criança, dize-lhe que sabe que ela gostaria de brincar com aquele brinquedo mas, que o colega o pegou primeiro e, ao mesmo tempo, oferecer-lhe outro objeto interessante.

Outro fato que ocorre nas creches, com freqüência, são as “mordidas”, as quais são comuns entre as crianças de um até três anos aproximadamente. A criança usa a boca como uma das formas de conhecer e explorar o mundo; os pequenos, por volta dos 3 ou 4 meses, colocam “tudo” na boca: as mãos, os pés, o dedo da mãe ou de quem cuida dela, etc. A mordida para a criança pequena é uma forma de comunicação, uma maneira de dizer ao outro que quer o

brinquedo que está com ela, de dizer que não gostou que lhe tirassem um objeto com que estava brincando; de mostrar que está com ciúmes do novo colega que chegou na creche, de expressar aos educadores que a atividade ou a quantidade do material é insuficiente para todos, ou ainda, que o espaço físico é pequeno para que possa se locomover com tranqüilidade e comodidade. As crianças pequenas mordem também quando estão muito excitadas, felizes demais e como não sabem explicar o que estão sentindo o fazem através da mordida.

Para Rossetti-Ferreira (2000, p. 166), “Quando surgem os dentes, começam as mordidas. Vindo da boca, não podia ser diferente: a mordida também é uma maneira de conhecer o mundo. E é também uma forma de comunicação com ele”.

Segundo a autora, ao morder um objeto, a criança pode conhecer suas propriedades, perceber se é duro ou mole, áspero ou liso, por exemplo. O importante é dizer à criança que não se pode morder as pessoas, porque dói, machuca.

As birras, são freqüentes entre 15 meses e três anos de idade e, fazem parte de uma fase natural do desenvolvimento, quando a criança tenta se afirmar, dizendo não e querendo fazer tudo do jeito dela.

Para Mantoan (2002, p.103) ”as birras não duram muito. Quanto os adultos puderem ignorá-las, mais cedo elas acabarão”. Nesses momentos, o adulto precisa manter-se tranqüilo para poder atuar bem com a criança, colocando limites claros, dizendo o que pode e, o que não pode fazer. As birras, muitas vezes, torna-se para a criança uma forma de controlar o adulto, por meio da teimosia e da chamada de atenção, por isso, é preciso, não alimentá-las.

É necessário mostrar as crianças, que existem limites, que não são negociáveis, como a boa saúde, a boa educação e o estudo. A criança não pode escolher se toma, ou não, o remédio para a bronquite, ou escolher, se bate ou não, no colega, se vai a creche, ou ficará em casa. Estas são regras que não podem ser negociadas e, quando possível podemos transformá-las em uma opção como, por exemplo, quando a criança que ir a creche de sandálias e, o tempo está frio e chuvoso, podemos dizer a ela: você poderá ir de tênis ou bota, o que você prefere? Quando damos uma opção, a criança sente-se mais respeitada e, diminui a sua resistência. Não podemos ameaçá-las, dizendo que se não tomarem o remédio, “terão que dormir no hospital”, “sozinhas”,

“ou que será preciso tomar várias injeções”, ameaçá-las faz com que elas se tornem inseguras e infelizes, reforçando a sua heteronomia.

É necessário também um contato direto entre a creche e as famílias, uma vez que os pais precisam ser informados e ainda orientados quanto às características do desenvolvimento de seus filhos, suas facilidade, dificuldades e também as melhores formas de atuar com a criança ao educá-la.

1.8. A coordenação motora

Grandes são as conquistas, em relação ao desenvolvimento do aspecto físico das crianças do nascimento até os dois anos de idade, uma vez que se desenvolvem rapidamente surpreendendo-nos a cada momento. Para Lupianez (1998, p. 46),

Durante os primeiros meses tem muita importância o tono muscular, que é o grau de tensão e consistência dos grupos musculares; se fala em hipertonia quando há um excesso de tensão, de dureza, de pouca flexibillidade; pelo contrario, a hipotonia implica maior flexibilidade e falta de dureza e resistência.

As crianças hipertônicas são mais “durinhas” e andam antes, gostam de se locomover, fazem-no com agilidade e preferem as atividades que envolvem todo o corpo, enquanto que os hipotônicos são mais quietos, andam mais tarde e preferem as brincadeiras mais calmas.

O tono tem um importante papel na atividade afetiva e de relação das crianças pequenas. A autora (ibid, p.47) ressalta ainda que: “a primeira comunicação com o adulto é por meio do tono muscular”. É na interação do adulto com o bebê, a forma como o pega; envolve-o em seus braços; dá-lhe banho; troca-lhe as fraldas e a maneira de olhá-lo, é que se dá essa relação, que pode ser prazerosa ou não, o que depende da forma como o adulto a realiza.

Por volta dos seis ou sete meses, o bebê já fica sentado, o que é uma grande conquista e permite maiores explorações e experimentações, pois consegue ver todo o ambiente em que se encontra. É importante que haja brinquedos, perto dessa criança, para que possa pegá-los e explorá-los. Nesse sentido, o adulto, será um facilitador e promotor das experiências da criança, sentando-se ao lado dela, conversando e brincando.

Mais tarde, por volta dos nove meses, os pequenos começam a engatinhar e a vida deles amplia-se grandemente, pois, nesse momento, são capazes de se locomover, de buscar os objetos que estão fora do seu alcance imediato. O engatinhar traz a possibilidade de explorar o espaço físico e atuar sobre ele. Nesse sentido, cabe aos educadores enriquecer o berçário com objetos diversificados e que possam ser explorados: brinquedos organizados em caixas no chão, papéis com diferentes texturas que possam ser amassados, blocos para empilhar e encaixar, dentre outros.

Aos doze meses, aproximadamente, os pequenos já estão dando os seus primeiros passos. Andar se torna uma atividade interessante e desafiadora. As crianças precisam de espaço para exercitar sua coordenação motora, necessitam engatinhar, arrastar-se e, logo depois, andar. Não se pode limitar o desenvolvimento motor de uma criança deixando-a no carrinho, no berço ou no chiqueirinho. Locomover-se implica explorar o mundo, conhecê-lo e atuar sobre ele, significa se desenvolver. Essas são conquistas importantes da primeira infância, e precisam ser bem desenvolvidas, para Paim (2003, p. 185),

Múltiplas capacidades são controladas por regiões distintas do cérebro, que completam sua maturação em diferentes etapas do desenvolvimento, todas elas situadas na infância. Cada fase exige estímulos específicos, que são mais bem aproveitados quando acontecem na idade certa.

Vale ressaltar, então, o papel da creche em propiciar, na primeira infância, condições ótimas para o desenvolvimento das crianças, que precisam explorar os diferentes espaços físicos da instituição como o pátio e o parque, dentre outros. Essas explorações proporcionarão vivências motoras diferentes e necessárias às aprendizagens infantis. Brincar de bola no pátio; andar de velotrol; brincar de trenzinho; de roda; subir e descer escadas, acompanhados por um adulto e tentar subir nos brinquedos do parque são experiências importantes e necessárias.

Abordamos de maneira geral, a criança de zero a dois anos e, abordaremos ainda aspectos sobre as características da criança no início do pré-operatório.