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Esquema 2.2 – Cadeia produtiva do biodiesel

5. A SUPOSIÇÃO TEÓRICA

A questão dos preços dos combustíveis constitui grande desafio para a produção de biocombustíveis no Brasil. A viabilidade econômica para a produção dos biocombustíveis passa, necessariamente, pela competitividade dos custos de produção destes produtos em relação aos preços de venda dos seus substitutos derivados do petróleo.

No caso do etanol, olhando para o cenário brasileiro, considerando os atuais custos de produção a partir da cana-de-açúcar, a estrutura tributária para os produtos, e os preços cobrados ao consumidor pela gasolina, pode-se afirmar que este biocombustível já é competitivo economicamente. Seu mercado baseia-se, atualmente, nas forças da lei da oferta e da procura. O preço de indiferença entre o consumo do etanol e da gasolina respeita a razão para o etanol de 70% do preço da gasolina (coeficiente de rendimento equivalente entre os dois combustíveis), e, nos últimos dez anos, raras foram as vezes em que o preço do etanol superou esse limite do preço de equivalência, como verificado no capítulo 3.

Não havendo a existência de um mercado obrigatório para o biodiesel (como o estabelecido pelo PNPB), ou havendo uma liberalização deste mercado, a sua produção só se daria se a transformação do óleo vegetal em biodiesel fosse, pelo menos, igualmente vantajosa à alternativa de vendê-lo nos mercados interno e externo de óleos comestíveis, e se o preço final do biocombustível ao consumidor fosse menor (ou igual) ao preço do diesel mineral.

Como o mercado de exportação e o mercado interno tendem a se equiparar em termos de preço, visto que a atividade de arbitragem tende a corrigir possíveis desvios11 ao longo do tempo, podemos dizer que a competitividade do biodiesel em relação ao diesel se dá quando os preços do óleo vegetal, agregados aos custos de processamento do biodiesel, são inferiores aos preços do diesel mineral. Como em todos os leilões de biodiesel, realizados até julho de 2010, os preços do biodiesel superaram os preços de mercado do diesel mineral, pode-se concluir, preliminarmente, que a produção de biodiesel ainda não se mostrou viável economicamente no Brasil.

Entretanto, como observado no capítulo 4, os preços ao consumidor dos combustíveis fósseis sofrem uma série de interferências externas, como consequência de políticas tributárias e

11 Desconsidera-se, aqui, a existência de prêmios de exportação e de mercado interno, causados por fatores de

ordem temporal, que oscilam ao longo do tempo, ora premiando o mercado de exportação, ora o mercado interno.

interferências governamentais buscando atingir objetivos políticos e sociais. Portanto, a afirmação de que um ou outro biocombustível é (ou não) economicamente viável, a partir de dados de um único mercado, pode esconder fatores que distorcem a realidade, conduzindo a uma conclusão equivocada.

Esta constatação pode ser verificada em um estudo conduzido pela German Technical Cooperation – GTZ, em uma série de levantamentos de preços ao consumidor e do nível de tributação do diesel e da gasolina em vários países, realizada desde 1991 (GTZ, 2009). Observando-se os níveis de tributação nos preços finais ao consumidor de gasolina e de diesel, a GTZ agrupou os países em quatro categorias, conforme ilustrado no Gráfico 5.1 e no Gráfico 5.2:

Gráfico 5.1 – Preço da gasolina ao consumidor em países selecionados em novembro de 2008

Gráfico 5.2 – Preço do diesel ao consumidor em países selecionados em novembro de 2008

Fonte: Pires e Schechtman (2009, p. 9), baseado em GTZ (2009).

Observa-se que os preços ao consumidor, para a gasolina e o diesel, diferem bastante de país para país, assim como também difere a relação de preços entre os dois combustíveis em cada um deles (comparando-se os Gráficos 5.1 e 5.2). Estas diferenças resultam em grande medida das políticas de tributação vigentes nestes países.

Dessa forma, quaisquer análises de competitividade entre os combustíveis fósseis e biocombustíveis que considerem apenas um determinado mercado, podem levar a conclusões equivocadas, uma vez que os preços finais escondem uma série de fatores externos que distorcem a real relação de preços entre eles.

frente aos combustíveis derivados de petróleo, dever-se-ia comparar a relação de preços em condições de “livre mercado”, fazendo isto para todos os combustíveis analisados.

A suposição teórica é que, se fosse possível comparar os preços dos combustíveis e dos biocombustíveis em condições de livre mercado (considerando a existência de mercados “perfeitos”, sem distorções tributárias e tarifárias, com possibilidade de arbitragem internacional, existência de livre-comércio e transações internacionais representativas), poder- se-ia, de fato, avaliar a competitividade dos biocombustíveis frente aos seus produtos substitutos derivados do petróleo.

No caso do etanol, avaliar-se-ia sua competitividade em relação à gasolina numa razão econômica de 70% do seu preço (valor de equivalência entre os dois combustíveis, quanto ao rendimento). No que tange ao biodiesel, seria avaliada sua competitividade frente ao diesel fóssil, comparando-se, diretamente, os preços do diesel mineral com os do biodiesel, em uma razão de 1:1.

Entretanto, condições de livre mercado são bastante difíceis de serem observadas nos mercados de combustíveis, principalmente pelo fato de não haver, em nenhum país do mundo, livre concorrência nos mercados de combustíveis, visto que a maioria dos países influencia, artificialmente (via tributação), os preços dos combustíveis em seus respectivos mercados nacionais.

Assim, para se obter uma análise da real competitividade dos biocombustíveis, será necessário encontrar uma maneira de trazer os preços destes quatro produtos (diesel, gasolina, biodiesel e etanol), de alguma forma, para condições semelhantes às que seriam observadas em condições de livre mercado, o que daria consistência para a análise pretendida.