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Esquema 2.2 – Cadeia produtiva do biodiesel

8. RESSALVAS METODOLÓGICAS

É importante que algumas ressalvas sejam feitas em relação ao raciocínio anterior.

Em primeiro lugar, é necessário ressaltar que a análise corresponde a uma simplificação da realidade, e que foram levadas em conta, para sua elaboração, uma série de premissas teóricas (explicadas ao longo deste trabalho). O objetivo desta simplificação foi possibilitar uma estimativa e avaliação dos custos mínimos teóricos para cada um dos biocombustíveis em uma mesma base de preços, de forma a compará-los a seus produtos substitutos derivados do petróleo, analisando, assim, sua competitividade somente sob a ótica econômica. No entanto, deve-se ter em consideração que os valores encontrados são aproximações da realidade, que possivelmente podem diferir dos preços reais praticados pelos diferentes players operando no mercado de biocombustíveis. Estas diferenças podem refletir os diversos padrões existentes de: nível tecnológico, custos de fatores de produção, rendimentos industriais, acesso à matéria-prima, níveis de concorrência intra e intermercados específicos, custos de aquisição dos insumos, vantagens (ou desvantagens) logísticas, escalas de produção (e comercialização), vantagens tributárias, entre outros.

Em segundo lugar, conforme explicado anteriormente, os preços internacionais da gasolina e do diesel não são exatamente àqueles praticados na maioria dos países, sobretudo nos importadores, em que os preços internos são definidos incorporando-se fretes marítimos e custos adicionais de internação destes produtos (ex: tributação), elevando a curva de preços dos combustíveis derivados do petróleo.

Por outro lado, a consideração dos preços internacionais do açúcar como referência do custo de oportunidade para o etanol da cana-de-açúcar, tampouco leva em conta os descontos que devem ser aplicados na eventual exportação deste produto. A análise também não considerou outras matérias-primas de baixo preço, como o melaço para o etanol, além de diversas existentes para a produção do biodiesel, que possibilitam a sua produção a preços mais baixos. De todo modo, esta comparação simplificada mostra como vem se comportando a atratividade dos biocombustíveis em nível mundial, e como vem evoluindo seu potencial para contestar efetivamente os mercados de combustíveis fósseis no futuro.

rentabilidades equivalentes entre etanol e açúcar ser verdadeira no longo-prazo13, fazendo com que o preço para os dois produtos tenda a caminhar junto ao longo do tempo (o que caracteriza a cointegração dos preços para os dois produtos); a rentabilidade obtida pelos produtores do açúcar e do etanol pode apresentar (e geralmente apresenta) diferenças significativas no curto-prazo, explicadas pelas seguintes razões:

i. falta de flexibilidade, no curto prazo, na alocação da cana para açúcar e etanol dentro do ano-safra por fatores técnicos, políticos e institucionais.

ii. existência de unidades produtivas especializadas apenas na produção de etanol ou açúcar.

iii. teto para o preço do etanol (preço do etanol multiplicado pela unidade de rendimento equivalente à gasolina).

iv. intervenção governamental no mercado interno, na definição do percentual de etanol adicionado à gasolina.

v. altas escalas de capital para investimento em novas destilarias/plantas de açúcar.

Por sua vez, apesar ter termos considerado as cotações da Bolsa de Nova York como sendo representativas dos preços de livre mercado, é importante recordar que o setor de açúcar permanece, ainda, altamente controlado e protegido em diversos países, por meio de cotas, subsídios e restrições à importação. Segundo Sheales et al. (1999), o mercado mundial de açúcar é caracterizado por intervenções governamentais, que distorcem globalmente a produção, o consumo e o mercado de açúcar.

Para Costa (2004) e Serôdio (2004), as exportações altamente subsidiadas da União Europeia distorcem os preços internacionais do açúcar, fazendo com que o preço mundial de equilíbrio do açúcar seja menor do que o preço de equilíbrio na ausência destas distorções (livre mercado). Entretanto, este fato não altera os resultados e a conclusão da análise realizada sobre a competitividade do etanol em relação à gasolina, no cenário internacional. Ao contrário, ela reforça a conclusão, pois, inexistindo as distorções mencionadas, os preços de equilíbrio (teóricos), no mercado de açúcar, seriam mais elevados do que os encontrados nos últimos dez anos, na Bolsa de Nova York (NYBOT). Por sua vez, isto indicaria que os preços do “etanol equivalente em açúcar” seriam ainda mais elevados do que os encontrados na

13 Mantendo-se diferenciais significativos de rentabilidade entre os dois produtos, a oferta tende a se ajustar

através do investimento em novas capacidades produtivas pelos agentes econômicos, nos mercados mais rentáveis.

análise, e, portanto, a competitividade do etanol em relação à gasolina, nos mercados mundiais, ficaria ainda mais prejudicada.

Em relação à análise para o biodiesel, apesar de terem sido utilizadas as cotações do óleo de soja para projetar o seu custo mínimo teórico, é importante relembrar que este biocombustível também pode ser feito com uma grande variedade de matérias-primas, cada qual com uma qualidade única para a sua produção, e apresentando diferentes custos de produção. Assim, a análise deve ser encarada apenas como uma referência de preços em termos mundiais.

Finalmente, este estudo reflete somente uma caracterização da competitividade dos biocombustíveis nos últimos dez anos (2000-2010), em relação aos seus produtos substitutos derivados do petróleo. A análise não pretende, em hipótese alguma, fazer previsões dos cenários futuros de preços, seja para os combustíveis fósseis, seja para os biocombustíveis analisados.

Como recomendação para estudos futuros, em se pretendendo analisar os preços teóricos dos quatro combustíveis já internalizados em cada país, dever-se-ia, numa análise futura, considerar todos os outros fatores específicos que atuam sobre os preços, tais como: estrutura de tributação, fatores logísticos, matéria-prima utilizada, escala de produção, tecnologia de produção, entre outros.