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Esquema 2.2 – Cadeia produtiva do biodiesel

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.3. Biocombustíveis atuais

2.3.2.6. Cadeia produtiva

Podemos afirmar que as condições de transporte e armazenamento do biodiesel não são essencialmente diferentes das empregadas nos combustíveis derivados de petróleo, com a diferença de que – em relação à cadeia do etanol – atualmente, ainda não está autorizada a comercialização do biodiesel puro (B100) ao consumidor final, mas somente a comercialização para mistura nas distribuidoras de combustível, na razão de 5% biodiesel / 95% diesel mineral.

Ainda fazendo um comparativo em relação à cadeia do etanol, existe também uma similaridade e uma diferença clara em relação àquele modelo. Quanto à similaridade, existe

também para a cadeia do biodiesel uma dispersão espacial da produção, uma vez que as unidades produtoras tendem a se concentrar próximo à disponibilidade de matéria-prima. Quanto à diferença, na cadeia do biodiesel não existe o problema da sazonalidade da produção, uma vez que para as matérias-primas atualmente utilizadas para produção de biodiesel, é possível a estocagem da matéria-prima para posterior processamento.

A cadeia produtiva do biodiesel segue configuração proposta por Cánepa (2004), conforme esquema extraído do artigo de Ferreira e Borenstein (2007):

Esquema 2.2 – Cadeia produtiva do biodiesel

Fonte: Cánepa (2004, p. 2451).

Conforme citado anteriormente, o biodiesel é vendido para as distribuidoras de combustíveis para posterior mistura no diesel mineral, de acordo com os percentuais estipulados pelo governo. De acordo com a legislação em vigor, a distribuição de combustíveis é de responsabilidade das companhias distribuidoras, devidamente licenciadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Desta forma, o biodiesel não pode ser vendido diretamente aos postos revendedores, mas às bases de distribuição da região. Para finalizar, vale ressaltar que, assim como para a cadeia do etanol, a movimentação de quantidades importantes deste combustível implica num adequado planejamento e correto desenho dos sistemas e processos, para que exista funcionalidade sob custos toleráveis. No entanto, isto também não configura desafio muito diferente do usualmente enfrentado pela agroindústria, atualmente.

2.3.2.7. Benefícios de sua utilização

2.3.2.7.1. Benefícios técnicos

“O biodiesel, misturado com o óleo diesel, tende a melhorar as características desse derivado de petróleo – aumenta a lubricidade, importante para o óleo diesel com baixo teor de enxofre” (PENTEADO, 2005, p. 6).

O biodiesel apresenta os seguintes benefícios técnicos, em sua utilização: i. É um ótimo lubrificante, podendo aumentar a vida útil do motor;

ii. Tem risco de explosão baixo (precisa de uma fonte de calor acima de 150 graus Celsius para explodir);

iii. Tem fácil transporte e fácil armazenamento (devido ao seu menor risco de explosão);

iv. Não precisa de adaptação em caminhões, tratores ou máquinas.

2.3.2.7.2. Benefícios econômicos

Conforme Amaral (2009), desde 2000, o Brasil importa, em média, 12% das necessidades de consumo de óleo diesel. Esta dependência do diesel importado tem custos econômicos e mesmo estratégicos, já que é o combustível que abastece toda a logística rodoviária brasileira.

Gráfico 2.8 – Vendas e importações de diesel no Brasil

Portanto, a produção do biodiesel, como complementação à produção do diesel mineral, promove uma diminuição dos gastos com divisas para a importação de diesel, além de diminuir a dependência de importações de diesel mineral.

Estima-se que, desde 2005, ano de início do programa brasileiro, mais de 1,5 bilhão de dólares deixaram de ser gastos com a importação de diesel mineral. (AMARAL, 2009) Além deste claro ganho econômico, o desenvolvimento da cadeia do biodiesel pode provocar uma série de outros benefícios, assim como foi observado para a cadeia do etanol, ao longo dos últimos 30 anos:

i. Beneficiar os agricultores;

ii. Contribuir para o crescimento econômico dos municípios;

iii. Promover o desenvolvimento, ampliar o mercado de trabalho e valorizar os recursos energéticos;

iv. Utilizar fontes alternativas de energia, mediante o aproveitamento econômico dos insumos disponíveis e das tecnologias aplicáveis.

2.3.2.7.3. Benefícios ambientais

O biodiesel também apresenta vantagens ambientais: melhora a qualidade do ar, face à redução de poluentes e gera menos gases poluentes, sem oferecer perda ao motor. Estudos constataram uma redução de 48% da emissão de monóxido de carbono em comparação com a do diesel comum, sendo a emissão de enxofre nula.

Especificamente no caso do biodiesel de soja, estes benefícios foram quantificados por Garcia (2007), que realizou levantamento bibliográfico e constatou que, em relação ao diesel de petróleo, o biodiesel puro de soja reduz as emissões em:

− 67% de hidrocarbonetos (HC); − 48% de monóxido de carbono (CO); − 78% de dióxido de carbono (CO2); − 47% de material particulado; − 100% de óxidos de enxofre (SOx);

Considerando todos estes ganhos, Amaral (2009, p. 4) conclui que:

Esses resultados indicam que, dado o contexto atual de combate às causas das mudanças climáticas, o biodiesel se encaixa perfeitamente na categoria de combustíveis limpos, pois reduz as emissões de Gases de Efeito Estufa, além de advir de fontes renováveis. Com esses benefícios, o biodiesel ajuda o Brasil a manter em níveis elevados a participação de fontes limpas na sua matriz energética.

2.3.2.7.4. Benefícios sociais

Estudos desenvolvidos pelos Ministérios do Desenvolvimento Agrário, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Integração Nacional e das Cidades mostram que a cada 1% de substituição de óleo diesel por biodiesel produzido com a participação da agricultura familiar podem ser gerados cerca de 180 mil empregos, diretos e indiretos, com uma renda média anual de aproximadamente R$ 4.900,00, por emprego (HOLANDA, 2004; MDA, 2007).

O mesmo estudo aponta que cada R$ 1,00 aplicado na agricultura familiar gera R$ 2,13 adicionais na renda bruta anual, o que significa que a renda familiar dobraria com a participação no mercado do biodiesel (MAPA, 2005). Estas estimativas justificam a conotação social dada ao programa do biodiesel, por parte do governo.

Com isso, a substituição de 1% de diesel mineral por biodiesel, segundo o programa de inclusão social pelo uso do biocombustível, gera uma externalidade positiva de quase US$ 100 milhões em empregos e renda, que deve ser comparada à renúncia tributária para oferecer competitividade ao produto (BUENO; ESPERANCINI; TAKITANE, 2009). Segundo reportagem publicada no jornal Valor Econômico (2010b):

Técnicos do BNDES também consideram que o programa apresenta pelo menos três grandes pontos positivos que asseguram a sua sobrevivência: o aspecto social, caracterizado pelo fato de ser intensivo em mão de obra (na produção de matérias- primas) e poder ser produzido a partir de várias oleaginosas, possibilitando o desenvolvimento agrícola em regiões menos favorecidas, como o semiárido nordestino.

Ainda do ponto de vista socioeconômico, o biodiesel pode ser um importante veículo de desenvolvimento regional, uma vez que, dada a diversidade de matérias- primas possíveis, pode ser produzido em qualquer região do país.

Assim, temos que o potencial de geração de empregos e renda na agricultura familiar pode ser expressivo no desenvolvimento da cadeia do biodiesel.