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A sustentabilidade do turismo cultural

No documento PORTCOM (páginas 41-45)

1. Turismo Cultural

1.4 A sustentabilidade do turismo cultural

A sustentabilidade da atividade turística está diretamente relacio- nada ao respeito aos valores locais. Esses valores incluem as relações estabelecidas com a preservação e salvaguarda dos bens culturais e a

68 BRASIL. Op. cit., 2006a.

69 MOESCH, Marutschka Martini. Introdução. In: MOESCH, Marutschka Martini; GASTAL, Susana (Orgs.). Um outro turismo é

compreensão da comunidade e dos visitantes sobre esses bens. Segun- do Mário Carlos Beni:

Fundamenta-se tal respeito no entendimento dos valores am- bientais e culturais que produzirá comportamentos diversos du- rante a visita. Para isso, é básica a comunicação, ou seja, como esses valores são vivenciados e transmitidos.70

Nesse mesmo sentido, Marly Rodrigues argumenta que:

A valorização turística do patrimônio já se mostrara eficiente em outros países e, além disso, possibilitava a manipulação de um universo simbólico de considerável importância para o re- forço do civismo. A propaganda dos ‘monumentos históricos’, juntamente com a das ‘festas típicas’ e das ‘belezas naturais’, poderia promover aos olhos do mundo, e dos brasileiros, a ima- gem de um país com tradição e potencialidade para enfrentar o futuro.71

A ação integrada entre os setores público, privado e a sociedade local pode conduzir a ações de política estratégica para que as culturas possam ser compartilhadas e preservadas por todos e para todos, tanto pelos residentes, como pelos visitantes. Mário Carlos Beni explica que:

A essência do planejamento turístico local exige que a comu- nidade, em todos os seus segmentos, tenha consciência de seu patrimônio material e imaterial e que decida sobre o que com- partilhar e o que reservar para sua guarda e proveito próprio, e

70 BENI, Mário Carlos. Um outro turismo é possível? A recriação de uma nova ética. In: MOESCH, Marutschka Martini; GASTAL, Susana (Orgs.). Um outro turismo é possível. São Paulo: Contexto, 2004, p. 19. 71 RODRIGUES, Marly. Preservar e consumir: o patrimônio histórico

e o turismo. In: FUNARI, Pedro Paulo; PINSKY, Jaime. Turismo e

patrimônio cultural. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Contexto, 2003, p. 19.

também como e onde deseja que essa troca se efetue.72

A adequada gestão do patrimônio para a atividade turística não deve conduzir à descontextualização dos elementos culturais, a uma co- mercialização excessiva da cultura ou a uma caricatura estereotipada da comunidade que participa dessa cultura.73 As identidades culturais e a utilização turística do patrimônio devem conviver em equilíbrio, permitindo a manutenção das tradições e, ao mesmo tempo, a pos- sibilidade da entrada de divisas. Afinal, como afirmam Pedro Paulo Funari e Jaime Pinsky:

O turista atento à cultura apreciará melhor seus interlocutores locais e seus costumes, aproveitará melhor seu lazer e poderá valorizar a diversidade cultural, contribuindo, desta forma, para a formação de uma cidadania mais crítica. Não serão apenas consumidores passivos da cultura, mas poderão interagir com as diversas manifestações culturais.74

No Brasil, prevalece certo comodismo com relação a políticas e investimentos mais consistentes para a conservação e a divulgação dos bens relacionados à diversidade cultural do país. Nesse ponto de vista, Mário Jorge Pires comenta que:

O apelo cultural para o turismo e o lazer representa, hoje, muito pouco em um país como o Brasil. Basta observar os pacotes e a forma de divulgação de nossos atrativos, por meio de suple- mentos de turismo dos grandes jornais, para chegar à conclusão

72 BENI, Mário Carlos. Op. cit., p. 19.

73 DE LA ROSA, Beatriz Martín. Turismo y gestión cultural en lãs Islãs Canarais: apuntes para una reflexión. PASSOS. Revista de Turismo y

Patrimônio Cultural, v. 1, n. 1, 2003, p. 105-110.

74 FURNARI, Pedro Paulo; PINSKY, Jaime. Introdução. In: FURNARI, Pedro Paulo; PINSKY, Jaime. Turismo e patrimônio cultural. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Contexto, 2003, p. 11.

de que a visão antiga dos europeus sobre Novo Mundo sofreu pouquíssimas alterações. O Brasil, ainda, é o país da maravilho- sa costa, do calor e das morenas seminuas (ou nuas), ou talvez pior: o das feras que saem da floresta imensa – em processo de devastação – para as cidades, também exóticas.75

Conclui-se, portanto, pela necessidade de avaliar o quanto o ‘turis- mo cultural’ sofre a influência de todos os agentes direta ou indireta- mente envolvidos, tal como abordado a seguir.

O viajante está sempre preocupado em conjugar quatro verbos na destinação visitada: dormir, comer, comprar e visitar. O interesse pelo patrimônio também está diretamente relacionado a esses quatro ver- bos. O visitante geralmente quer visitar atrações interessantes, dife- rentes – como costumam ser os bens culturais – e, havendo possibili- dade, deseja comer, comprar e dormir na localidade.

Na área do turismo cultural, como nas demais, somente os in- vestimentos que demonstrem e justifiquem, antecipadamente, sua contribuição para a economia do país serão considerados nos planos de desenvolvimento. É, portanto, imprescindível relacionar todos os recursos que podem ser utilizados para o turismo, identificando-os, classificando-os e procedendo a uma avaliação real dos mesmos.

Entendida em suas múltiplas frentes – econômica, ambiental, social e ética –, a sustentabilidade poderá assegurar as bases para a permanência, para a integração da comunidade local aos projetos e para a rentabilidade da gestão de recursos que garantam o respeito ao bem cultural, a autenti- cidade, a qualidade da experiência turística, a satisfação e fidelidade dos visitantes, assegurando a competitividade no mercado.76

Entre os componentes indispensáveis ao turismo, a água, o acesso e os atrativos são fundamentais para que o turista tenha a possibilidade de

75 PIRES, Mário Jorge. Lazer e turismo cultural. São Paulo: Manole, 2001, p. 73.

76 ABELLÁN, Aurélio Cebrián. Acción local, turismo y patrimonio en la comunidad de Murcia. Cuadernos de Turismo, n. 16, 2005, p. 65-83.

empreender a busca pelo destino. Os locais, onde o IPHAN registrou bens de natureza imaterial, como patrimônio cultural brasileiro, estão consagrados como atrativos especiais, que têm a chancela oficial do re- gistro, mas só terão uma boa chance de atrair os visitantes se dispuserem dos demais componentes, incluindo boas estradas, aeroportos próximos, rede hoteleira, abastecimento de água e infraestrutura de saneamento.

Cabe ao setor público desempenhar o papel de mediador das rei- vindicações da sociedade em relação ao turismo, criando e implan- tando projetos entre o setor público e o privado, por meio de políticas condicionadas por características econômicas, sociais e culturais.77

Manuel Delgado argumenta que o protagonismo das instituições po- líticas na promoção do turismo cultural é tão intenso que ele poderia ser chamado de “Turismo de Estado”. Aponta, ainda, que os benefícios eco- nômicos advindos do turismo cultural somam-se ao prestígio e reconhe- cimento obtidos pelas instâncias oficiais que atuam em sua promoção.78

As políticas públicas relacionadas ao turismo devem se preocupar em: “entender e explicar a substância do conteúdo e das decisões po- líticas e a forma pela qual essas decisões são tomadas”79, contribuindo para que ocorra uma visão estratégica, fundamental para a compe- titividade da região e a sustentabilidade da atividade, propiciando a obtenção de melhores resultados.

No documento PORTCOM (páginas 41-45)