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Samba do Rio de Janeiro

No documento PORTCOM (páginas 167-170)

6. Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial no Brasil

6.1.12 Samba do Rio de Janeiro

Em 09 de outubro de 2007, foi realizado o registro das matrizes do Samba do Rio de Janeiro – samba de terreiro, partido-alto e samba- -enredo – no livro de Registro das Formas de Expressão.

O Centro Cultural Cartola, com apoio da Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro e da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), motivado pelo registro, em 2005, do samba de roda do Recôncavo Baiano e, temendo o enfraquecimento das matrizes do samba do Rio de Janeiro, encaminhou ao IPHAN o pedido de registro do samba carioca como patrimônio imaterial brasileiro.

O samba é um fenômeno cultural que passou de elemento de ex- pressão da identidade da população negra, alvo de discriminação e perseguição, nas primeiras décadas do século XX, a símbolo nacional brasileiro, agregando diversas camadas da sociedade. José Ramos Ti- nhorão afirma que o samba carioca nasceu após longa gestação:

[...] da África à Bahia, de onde veio para ser batucado nos ter- reiros da Saúde e, finalmente, tomando nova forma rítmica a fim de adaptar-se ao compasso do desfile de um bloco carnava- lesco. [...] Ao contrário do que se imagina nasceu no asfalto; foi galgando os morros na medida em que as classes pobres do Rio de Janeiro foram empurradas do Centro em direção às favelas, vítimas do processo de reurbanização provocado pela invasão da classe média em seus antigos redutos.263

O samba é uma arte de senzala, ligado às línguas, aos cultos africa- nos e à capoeira e que sofreu a influência da miscigenação. Foi discri- minado pela sociedade – havia perseguição e violência aos sambistas – até que jovens intelectuais do Rio de Janeiro passaram a reconhecer, nessa música, um elemento cultural significativo para o país. Em 1917, surge Pelo Telefone, o primeiro samba oficialmente reconhecido, composto

263 TINHORÃO, José Ramos. História da Música Popular Brasileira: samba. São Paulo: Abril Cultural, 1982, p. 4-5.

por Mauro de Almeida e Donga (Ernesto dos Santos), ambos nasci- dos no Rio de Janeiro. O sinal de aceitação foi o selo do disco de 78 rotações por minuto, que fazia, pela primeira vez, referência ao sam- ba como gênero musical. Ocorre, portanto, a legitimação do samba como bem cultural aceito pela intelectualidade e que deixa a caracte- rística de marginal para tornar-se legítimo aos olhares para além da com unidade de origem.

Em 1932, o jornal esportivo O Mundo criou o primeiro desfile de escolas de samba no Rio, na Praça Onze, localizada próxima a vários bairros de população negra. As autoridades perceberam que os desfiles atraiam turistas e aumentavam a ocupação hoteleira du- rante as festividades e começaram a apoiar oficialmente os desfiles e a apresentação das escolas de samba.264 O capital simbólico, a partir do turismo, passa a gerar recursos financeiros que impactam dife- rentes esferas sociais.

O fato de a capital do país ser o Rio de Janeiro facilitou o enten- dimento do samba como símbolo nacional. A difusão do samba, no rádio, foi outro fator que interferiu, favoravelmente, em seu favor, bem como a intervenção de Villa-Lobos e Mário de Andrade, intelectuais que orientavam as políticas culturais do Estado.

Para o registro foi considerado todo o conjunto de referências his- tóricas sobre o samba nos morros, nas ruas, nos quintais e nos blocos, constituído por monografias, teses, livros, vídeos, reportagens, disco- grafia antiga e testemunho de sambistas da velha guarda. Também foram mapeadas as mais antigas escolas de samba do Rio de Janeiro, como a Mangueira, a Portela, a Salgueiro, a Vila Isabel, a Império Serrano e a Estácio de Sá265.

O registro considerou três modalidades de samba:

264 ENEIDA, Moraes. História do Carnaval Carioca. Rio de Janeiro: Record, 1987.

265 LEOPOLDI, José Savio. Escola de Samba, Ritual e Sociedade. Rio de Janeiro: Vozes, 1977.

1) o samba de terreiro: criado no terreiro, espaço social em que a comu- nidade se reúne para conversar, cantar, discutir. Geralmente, cantado fora do período dos ensaios de samba-enredo das escolas de samba. Ele anima as festas do terreiro.

2) o samba de partido alto: nascido nas rodas de batucada, tipo de samba em que os cantores – partideiros – improvisam as estrofes de acordo com o tema, desafiando um outro a continuar a improvisação. Geralmente, o tema tem associação com a realidade dos morros e das regiões mais carentes.

3) o samba-enredo: criado a partir de um tema que também serve para a coreografia e cenografia utilizadas pelas escolas de samba.266

O registro do samba do Rio de Janeiro engloba a arte de fazer e salvaguardar a memória do samba e várias outras atividades, além da musical, como a cena da roda dos sambistas, as manifestações de religiosidade dos grupos, as comidas, os instrumentos, as bandeiras, a velha-guarda, os terreiros, atualmente, chamados de ‘quadras’ e a tra- dição das baianas. A salvaguarda das matrizes do samba é um dos caminhos possíveis para se atingir um equilíbrio social. As comunida- des necessitam de espaços culturais e físicos que possibilitem as ricas trocas sociais. O ambiente de interação existente, nessas práticas, pode constituir um espaço estratégico para o enfrentamento de questões relativas à violência e à criminalidade tão presentes no Rio de Janeiro e nas demais metrópoles brasileiras.

Zé Kéti eternizou o Rio de Janeiro no samba A Voz do Morro - de 1954/55 - composto para o filme RIO 40º, de Nelson Pereira dos Santos:

Eu sou o samba A voz do morro Sou eu mesmo sim senhor Quero mostrar ao mundo

266 VIANNA, Hermano. O Mistério do Samba. 5. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; UFRJ, 2004.

Que tenho valor Eu sou o rei do terreiro

Eu sou o samba Sou natural daqui Do Rio de Janeiro Sou eu quem levo a alegria Para milhões de corações brasileiros

Salve o samba, queremos samba Quem está pedindo É a voz do povo de um país Salve o samba, queremos samba Essa melodia de um Brasil feliz

Eu sou o samba A voz do morro Sou eu mesmo sim senhor Quero mostrar ao mundo

Que tenho valor Eu sou o rei do terreiro

Eu sou o samba Sou natural daqui Do Rio de Janeiro Sou eu quem levo a alegria

Para milhões de corações Brasileiros.

No documento PORTCOM (páginas 167-170)