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Diagnóstico e inventário turístico

No documento PORTCOM (páginas 45-52)

1. Turismo Cultural

1.5 Diagnóstico e inventário turístico

Uma das iniciativas políticas diretamente relacionada à sistema- tização do setor turístico brasileiro foi a criação, no ano de 2003, do

77 HALL, Michael C. Planejamento turístico: políticas, processos e relacionamentos. São Paulo: Contexto, 2001.

78 DELGADO, Manuel. Trivialidad y transcendência. Usos sociales y políticos del turismo cultural. Turismo cultural: el patrimonio histórico como fuente de riqueza. Valladolid: Fundación del Patrimonio Histórico de Castilla y León, 2000.

Ministério do Turismo e a reorientação da EMBRATUR, anterior- mente, o órgão máximo do turismo, no país, que passou a ser uma autarquia especial do Ministério do Turismo, responsável pela execu- ção da Política Nacional de Turismo, no que diz respeito à promoção,

marketing e apoio à comercialização dos destinos, serviços e produtos

turísticos brasileiros no mercado internacional.80

O Ministério do Turismo estabeleceu políticas e diretrizes para a regionalização do turismo, a qualificação profissional e empresarial e a estruturação da oferta turística, com a ampliação dos investimentos na promoção do país tanto no exterior quanto internamente. Lançou o Programa Nacional de Turismo (PNT), objetivando fomentar o au- mento do número de visitantes, da quantidade de dias de permanência no país e de gastos. Para tanto, estimulou políticas de financiamento e linhas de crédito, promoveu novos investimentos, incluindo infraes- trutura turística. No ano de 2006, o Ministério desenvolveu o progra- ma “Vai Brasil” que incentivou o crescimento do fluxo de turismo in- terno, por meio da redução de custos das viagens em baixa temporada, tornando-as mais acessíveis ao mercado interno e externo.

A escolha pela atividade turística deve estar alicerçada por um diagnóstico que consista no inventário das possibilidades turís- ticas, ou seja, que colete dados e reúna informações preliminares sobre o levantamento dos recursos e atrativos de interesse para o turismo. O Ministério do Turismo definiu o inventário da oferta turística da seguinte maneira: “inventariar significa registrar, rela- cionar, contar e conhecer aquilo de que se dispõe e, a partir disso, gerar informações para pensar de que maneira se pode atingir de- terminada meta”.81

80 BRASIL. Embratur – Instituto Brasileiro de Turismo. Ministério do Turismo. Disponível em: <http://www.institucional.turismo.gov.br/ portalmtur/opencms/institucional/estrutura/embratur.html>. Acesso em: 28 jan. 2008.

81 BRASIL. Estratégia de gestão do inventário da oferta turística. Brasília: Ministério do Turismo, 2004, p. 11.

A estruturação e a diversificação da oferta turística – compreen- dendo o conjunto de atrativos, serviços e equipamentos e a infraestru- tura de apoio ao turismo de um determinado destino – pode assegurar que, de forma articulada e compartilhada, sejam recolhidas e disponi- bilizadas informações confiáveis que embasem e assegurem o processo decisório quanto ao estabelecimento de ações em turismo.

O processo de inventariação turística, no Brasil, foi iniciado, na década de 1960, quando o espaço territorial do país recebeu, oficial- mente, seu primeiro mapeamento turístico. O próprio Ministério do Turismo reconhece que:

Em que pesem tantas e tão diversas tentativas, o Brasil, ainda, não conhece a real dimensão do seu espaço turístico nacional, a grandeza do seu patrimônio natural e do seu patrimônio his- tórico-cultural.82

As iniciativas ligadas à inventariação devem ser tomadas de ma- neira a permitir que os municípios e as regiões possam desenvolver o turismo com vistas à sustentabilidade. O Ministério do Turismo reco- nhece que o inventário não pode ser tratado como algo estático, com base no simples preenchimento de formulários, mas que “é preciso perceber a realidade do lugar e interpretá-la”.83

Todos os municípios brasileiros possuem patrimônio cultural, his- tórias, modos de fazer, falar, cantar, celebrar etc., mas nem todo patri- mônio será passível de exploração econômica através do turismo, que pode conduzir, até mesmo, à destruição dos recursos culturais.84 Cabe,

82 BRASIL. Projeto inventário da oferta turística. Brasília: Ministério do Turismo, 2006b, p. 10.

83 BRASIL. Op. cit., 2004, p. 12.

84 RHODEN, Luiz Fernando. Patrimônio histórico como potencialidade para o turismo. In: GONÇALVES, Ana Beatriz R.; BOFF, Claudete (Orgs.). Turismo e Cultura: a história e os atrativos regionais. Rio Grande do Sul: URI; FAPERGS, 2001. v. 1.

então, o entendimento de que a chave para o ‘turismo cultural’ como atividade sustentável está na preservação, na valorização e promoção do patrimônio, sem deixar de conservar as características que torna- ram peculiares uma comunidade.

O turismo deve ser entendido como uma experiência cultural:

Os visitantes têm de considerar uma destinação como sendo atraente e valendo o investimento de tempo e dinheiro gastos na visita. Por isso, podemos pensar nas destinações como ex- periências cultuais. [...] É, pois, vital manter a diferença entre a destinação e o ambiente doméstico, através de planejamento e gerenciamento de boa qualidade, evitando o desenvolvimento de paisagens turísticas uniformes.85

Os roteiros culturais devem se prestar a fomentar a aquisição de um conteúdo diferenciado para o visitante e para a comunidade. O sucesso do setor turístico depende das experiências culturais dos via- jantes. Cooper, Fletcher, Wanhill, Gilbert e Shepherd afirmam que:

O novo turista’ não está mais satisfeito com a experiência pas- siva, mas busca, em vez disso, autenticidade nas destinações, com uma abordagem voltada para o entendimento da cultura, da história e do ambiente locais e da forma como o povo local vive e trabalha. Temos que entender e apreciar estas tendências se quisermos planejar e gerenciar com sucesso as destinações para satisfazer as demandas do novo turista, ao mesmo tempo em que garantimos que as destinações sejam autossustentáveis.86

Contudo, para que os roteiros culturais possam ser estabelecidos e cumprirem sua função, há a necessidade prévia de se elaborar um inventário de todos os recursos da localidade e de seu entorno.

85 COOPER, Chris; FLETCHER, John et al. Turismo, princípios e prática. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001, p. 137.

86 COOPER, Chris; FLETCHER, John et al. Op. cit., p. 135. Turismo Cultural

O patrimônio turístico tem a capacidade de atração para o consu- midor turístico, vai além dos aspectos físicos ou do meio ambiente e constitui, segundo a Organização Mundial do Turismo:

[...] a matéria-prima sobre a qual deve existir uma intervenção dos responsáveis pelo desenvolvimento turístico e que, median- te um programa adequado de investimentos e atuações, possa obter um recurso turístico – o que posteriormente se denomina produto – que seja criativo para o consumidor. A partir da exis- tência desse produto turístico, devem-se desenvolver as estraté- gias de marketing adequadas para sua melhor comercialização no mercado turístico.87

Esta pesquisa não pretende aprofundar as questões mercadológi- cas associadas aos roteiros culturais e ao patrimônio, mas esses aspec- tos não podem ser negligenciados pelos profissionais, direta ou indire- tamente, envolvidos com essas áreas.

A movimentação de visitantes e turistas, no Brasil, tem crescido sistematicamente e pode influir na maneira como o patrimônio – pos- sível atrativo e importante componente da oferta turística – deva ser administrado. Fatores mundiais, tais como guerras, atentados, crises econômicas internacionais etc., estimularam ou não a vinda de turis- tas ao Brasil em alguns momentos. Da mesma maneira, a crise aérea vivida pelo Brasil, nos últimos anos, a projeção internacional do país, promovida pela EMBRATUR, as notícias sobre a violência urbana brasileira divulgadas pelos principais jornais do mundo, a eleição do Cristo Redentor, do Rio de Janeiro, como uma das ‘sete novas ma- ravilhas mundiais’, entre outros fatores, têm provocado oscilação na quantidade de turistas que visitam o Brasil.

De qualquer maneira, o Brasil atingiu, em 1999, a casa dos 5 mi- lhões de turistas, repetindo este feito nos anos de 2000, 2005 e 2006, o que demonstra que o país tem, apesar das diversidades internas e

87 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO (OMT). Introdução

externas, mantido uma certa constância na atração do fluxo turístico. Embora o Brasil tenha conseguido crescimento significativo, nos últimos anos, há muito ainda para ser conquistado. Países com menos opções em atrativos culturais e naturais têm atraído muito mais visi- tantes, como demonstram os levantamentos da Organização Mundial do Turismo (OMT).88

A opção pelos destinos, no Brasil, está, muitas vezes, ligada a even- tos, convenções e negócios. O país tem intensificado, especialmente através dos Convention & Visitors Bureaus (C&VB)89, as tentativas de criar feiras e congressos que atraiam os turistas, principalmente para os grandes centros urbanos do país, como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte. Esses centros contam com a melhor infraestrutura do país e opções culturais ligadas ao entrete- nimento. Possuem, também, um grande número de bens de natureza material tombados pelo IPHAN. Contudo, das cidades mais visitadas, apenas o Rio de Janeiro e São Paulo foram contempladas com regis- tros de patrimônio imaterial, nos cinco primeiros anos desta prática legal, assunto que será aprofundado neste estudo.

As cidades brasileiras mais visitadas possuem, também, um grande número de bens culturais reconhecidos como patrimônio significativo para a região e para o país. Esse patrimônio incentiva o turismo em seus diferentes segmentos, fortalecendo, inclusive, o de caráter cultural. A sustentabilidade pode ser uma ferramenta poderosa, quando articulada aos planos de preservação e salva- guarda do patrimônio cultural.

Discutir as questões relativas ao patrimônio mostra-se, portanto, de extrema importância para a orientação do setor do turismo no Brasil.

88 WORLD TOURISM ORGANIZATION. Registros de visitações

internacionais. Disponível em: <http://www.unwto.org/index_s.php>.

Acesso em: 06 fev. 2008.

89 Os Conventions & Visitors Bureaus atuam na captação e desenvolvimento de negócios para o segmento do turismo, articulando-se junto aos setores públicos e privados, visando ao aumento e melhoria da demanda turística.

No documento PORTCOM (páginas 45-52)