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A sustentabilidade da pesca artesanal no estuário do rio Vaza-Barris

CAPÍTULO III RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.3 A sustentabilidade da pesca artesanal no estuário do rio Vaza-Barris

A redução do pescado no estuário foi sugerida pelos ribeirinhos entrevistados como alta em 70% dos casos (Tabela 3.4) seja no mar onde alguns pescadores frequentam após a barra ou no estuário.

Tabela 3.4 - Justificativa para a redução do pescado no estuário do rio Vaza-Barris segundo o entrevistado.

Percepção da Redução Mosqueiro Pedreiras Mem de Sá Total

Alta 29 20 21 70%

Média 3 11 8 22%

Baixa 1 1 2 4%

Não alterou 0 2 2 4%

Total 33 34 33 100

Fonte: Elaborada pelo autor, 2017.

Em relação às causas, as principais foram o aumento do número de pescadores e no uso de petrechos predativos (Tabela 3.5). Outras causas é a poluição sonora emitida pelos barcos motorizados, despejo de esgoto doméstico e resíduos sólidos, informação essa que corrobora com (KALIKOSKI; VASCONCELLOS, 2013) em pesquisa realizada com pescadores na Lagoa dos Patos/RS. Para duas pessoas (2%) foi à atividade sísmica que está relacionada com a redução do pescado.

Tabela 3.5 - Causas relacionadas pelos entrevistados para a redução do pescado.

Causas da Redução Pedreiras Mosqueiro Mem de Sá Total

Aumento de pescadores 23 10 20 53 Petrechos predatórios 17 17 18 52 Assoreamento do rio 5 3 9 17 Poluição Sonora 4 11 1 16 Poluição da água 4 7 3 14 Causas Naturais 4 0 2 6 Atividades Sísmicas 0 2 0 2

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

Alguns pescadores falaram sobre as causas naturais (Figura 3.14) como se fosse uma época que o pescado aumenta e retorna a quantidade normal e o assoreamento do rio está em

toda a extensão até a boca do estuário, que para alguns, está fechando e ficando mais rasa o que impede que muitas espécies de peixes entrem ou saiam do estuário em direção ao mar e vice-versa, essa situação também foi descrita por Capelleso e Cazella (2011) através de entrevista com pescadores artesanais na Lagoa do Mirim/SC.

Figura 3.14 – Causas que levam a redução do pescado no estuário do rio Vaza-Barris de acordo com os entrevistados.

Fonte: elaborado pelo autor, 2017

Quanto ao número de pescadores, entrevistados das três comunidades relataram que houve um aumento significativo nos últimos anos (87%). E, entre as principais causas está o alto nível de desemprego tanto para os moradores da comunidade como para os que vem de fora que pela necessidade e falta de oportunidades de trabalho vê na pesca sua única fonte de renda.

Além disso, o local de pesca acaba atraindo outros pescadores de comunidade vizinhas do estuário e até de outras cidades e estados como no caso de pescadores que chegam de Pirambu e Piaçabuçu e a justificativa é que no local de pesca deles a produtividade é tão reduzida que não vale mais a pena pescar no próprio povoado de origem.

Fatores como a boa produtividade, reduzida poluição e espécies diferentes também foram um dos motivos que fizeram aumentar o número de pescadores no estuário do rio Vaza- Barris, essa última se deve ao fato do gradiente de salinidade do estuário ou até mesmo espécies marítimas que adentram no rio, favorecendo a multiplicidade de espécies de pescado em geral (Figura 3.15). 0 10 20 30 40 50 60 Aumento de pescadores Apetrechos predatórios Assoreamento do rio Poluição Sonora Poluição da água Causas Naturais Atividades Sísmicas

Figura 3.15 – Diferentes motivos apresentados pelos entrevistados para o aumento de pescadores na sua região.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Segundo Moreira Junior (2008) e Cunha et al, (2015) entre as causas da grave situação que se encontra a atividade pesqueira está no aumento do número de pescadores que devido a sucessivas atividades no meio acabam por traspor a capacidade de suporto do meio ambiente local em repor os recursos pesqueiros, configurando assim sua redução (LAWSON, 1977; DIEGUES, 1999). Outro problema é que segundo (SILVA, 2014; GUEYDE, 2016; PAUDEL et al, 2016) devido à perda é comum o uso de petrechos proibidos para compensar a perda que o meio oferece, agravando ainda mais a situação.

Quanto ao uso de petrechos irregulares (Tabela 3.6) existe uma Instrução Normativa n° 196 (IBAMA, 2008), onde considera que a rede de emalhe só é permitida com malha igual a superior a 100 mm (medida esticada em ângulos opostos), cujo cumprimento não ultrapasse 1/3 do ambiente aquático. O espaçamento menor pode capturar indivíduos jovens e que ainda não atingiram a idade reprodutiva, portanto esse tipo de equipamento é passível de ser apreendido. Outros petrechos irregulares também foram citados pelos entrevistados como, tais como: “fogo aceso”, bate-corrente e arpão.

0 10 20 30 40 50 60 70

Desemprego Redução em outras localidades

Tabela 3.6 - Tipos e petrechos predativos e impactantes que ocorrem na localidade.

Petrecho Pedreiras Mosqueiro Mem de Sá Total

Fogo Aceso 21 12 33 66 Arrasto (20 mm) 13 14 27 54 Bate-corrente 10 15 13 38 Arrastão no Mar 0 22 0 22 Camboas (20 mm) 36 10 1 47 Arpão 0 0 1 1

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

A pesca de arrastão (Figura 3.16) é apontada pelos ribeirinhos como uma das mais impactantes, pois a fauna acompanhante (que não é o alvo das capturas) é maior que a da objetiva captura promovendo a mortalidade de muitas espécies aquáticas inclusive ameaçadas de extinção como a tartaruga e algumas espécies de mamíferos aquáticos (CARDOSO, 1996; SECCHI et al, 2004; SCHUMANN; MACINKO, 2007). Além de ser conhecido ao longo da costa brasileira (BEGOSSI, 1992; VIEIRA et al, 1996; LOEBMANN; VIEIRA, 2006; MAIA, 2011; COTA, 2017) a predação pela pesca de arrasto é documentado em outros países por (MARQUETTE et al, 2002; AMADOR et al, 2006; GUEYDE, 2016).

Figura 3.16 - A pesca de arrasto “arrastão” é segundo entrevistados uma das principais causas da redução do pescado na região. Fonte: GREENPEACE/DR.

Fonte: Autoria própria, 2017.

Em relação à quantidade de resíduos sólidos presentes no rio, 52% dos entrevistados alegam ver muitos resíduos em suas respectivas áreas de pesca. A maioria atribui a causa ao

lixo jogado na água pela comunidade ribeirinha vizinha que com a ação da maré o vento acaba chegando a seu povoado. Alguns pescadores entrevistados das três comunidades culpam o próprio morador local pelo lançamento de lixo no rio, situação semelhante foi documentada por (SILVA; LIPORONE, 2001) no município de Uberlândia/MG.

Outra parte dos entrevistados relata que os resíduos sólidos aparecem por causa dos passeios de barco de turismo no rio, que com o descuido do próprio banhista o lixo, principalmente descartáveis, acaba sendo lançados na água (Tabela 3.7). Uma cita a presença do lixo, mas não sabe a origem e em menor número os pescadores que não encontram lixo durante sua atividade de pescaria.

Tabela 3.7 - Origem dos resíduos sólidos de acordo com os entrevistados.

Origem dos resíduos Pedreiras Mosqueiro Mem de Sá Total

Oriundo de outras comunidades 11 7 15 33

Barcos de passeio 6 16 5 27

Jogado pela comunidade 5 9 8 22

Não sabe a origem 4 5 3 12

Não encontra 2 0 2 4

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

A retirada da mata ciliar para a construção de casas próximas as margens do rio, também foi algo preocupante encontrado durante as saídas de campo principalmente no povoado Mosqueiro, onde 51% dos entrevistados desse povoado relataram que as casas depois de construídas atrapalhavam a passagem do pescador pela beirada para realizar as atividades de pesca (Tabela 3.8), situação semelhante foi descrita por três moradores do povoado Mem de Sá que com a chegada de moradores com interesse em segunda residências, os muros ou cercas destas já impedem a passagem do pescador para os locais de embarque.

Tabela 3.8 - Se a construção de casas as margens do estuário atrapalha a vida do pescado.

Mosqueiro Pedreiras Mem de Sá Total

Sim 17 5 3 25

Não sabe 1 0 0 1

Já 49% dos entrevistados relatarem que as casas nunca foram um empecilho para a realização de atividade de pesca na localidade. Para (DILL, 2002; HOLANA et al, 2007) a erosão, assoreamento no substrato e consequentemente um aumento do material em suspensão nos corpos d’água que vem a diminuir a penetração da luz solar tão importante para a diversidade de fauna e flora local. Esse processo ocorre principalmente pela supressão da mata ciliar para a expansão imobiliária(Figura 3.17).

Figura 3.17 - Retirada da mata ciliar (manguezal) para expansão imobiliária.

Fonte: Autoria própria, 2017.

De acordo com Souza et al, (2016) uma das maiores ocorrências de crimes ambientais registrados pelo Pelotão Ambiental no estado de Sergipe entre os anos de 2000 – 2013 foi o aterro e supressão de manguezal, sendo a principal justificativa a expansão imobiliária. Em qualquer dos casos as ocorrências são crimes devido à destruição de áreas de preservação permanente de acordo com a Lei n° 9.605 (BRASIL, 1998).

Mais recentemente a construção da Orla Pôr do Sol onde estes reclamam que perdeu o espaço para as lanchas e outras embarcações turísticas, onde a prefeitura deixou apenas um pequeno espaço “portinho” para o embarque e desembarque do pescador (Figura 3.18).

Figura 3.18 - Com a construção da Orla Pôr do Sol, o pescador reclama da perda de espaço ficando com um “portinho” que não oferece estrutura para o pescador quando chega da pesca.