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Para avaliar e monitorar a sustentabilidade devemos nos questionar se o desenvolvimento local é ou não sustentável. Para que isso seja possível, precisa-se de parâmetros que possam avaliar o desenvolvimento dos agrossistemas, bem como ele pode ser monitorado ao longo do tempo, pois na maior parte das vezes os processos são dinâmicos e necessitam de acompanhamento (BELLEN, 2006; ASTIER et al, 2008). Um dos caminhos na busca do desenvolvimento sustentável é a construção de indicadores de sustentabilidade, que apesar de sua grande variedade, é através deles que os atores sociais podem utilizá-los como referências para planejar as ações a serem executadas pelos gestores públicos, políticos e empresários comprometidos com as melhorias sociais, econômica ambiental.

A necessidade de concretizar indicadores de sustentabilidade foi resultante da recomendação da Agenda 21, adotada na Conferência Internacional da Organização das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, cujo objetivo foi traduzir os princípios de desenvolvimento sustentável em práticas a serem monitoradas pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável (OECD, 2008). Portanto, o interesse sobre indicadores de sustentabilidade vem se desenvolvendo há mais de 20 anos por entidades governamentais e não governamentais, universidades e instituições de pesquisa.

A Organização da Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2008) define “indicador” como uma medida qualitativa ou quantitativa provinda de uma série de fatos observados que podem revelar informações sobre o estado de um fenômeno em uma determinada área (MARANGON, 2007). Para Soares e Souza (2008), os indicadores de sustentabilidade são instrumentos que podem ser usados para auxiliar a avaliação de uma dada situação, estabelecendo em qual ponto se deseja chegar e monitorando as mudanças necessárias.

Vale lembrar que os indicadores podem informar uma determinada situação, mas também podem passar a ideia de uma percepção de uma tendência ou fenômeno não detectado imediatamente. É importante salientar que os indicadores não são as soluções para todas as dificuldades que envolvem a sustentabilidade, seja na sua avaliação ou na sua

operacionalização. O indicador deve ser determinado de forma clara em que indique os caminhos para a avaliação, discussão e percepção da sustentabilidade (FERNANDES, 2004; BELLEN, 2010).

Para Astier-Calderón et al, (2002), o indicador de sustentabilidade representa variáveis consideradas importantes na avaliação de tendências ambientais, sociais e econômicas para estabelecer políticas públicas, que podem ser quantitativas (valor de produção, taxa de infiltração, rendimentos, etc.) ou qualitativos (aparição de pequenos canais de erosão, tecnologia, compactação do solo, etc.) depende da opção escolhida e a ferramenta a ser utilizada.

Segundo (VEIGA, 2010) uma forma de medir o nível de sustentabilidade local contando os fatores economia, ambiente e sociedade é na utilização de ao menos três indicadores para avaliar, mensurar e monitorar a sustentabilidade, pois é estatisticamente, impensável fundir em um mesmo índice apenas duas de suas três dimensões (social, econômica e ambiental). A dimensão ambiental não dirá muito se não puder ser comparada ao desempenho econômico (a renda familiar disponível, por exemplo) e a qualidade de vida ou bem-estar. Para Sachs (1993), além desses, podem ser mensurada a sustentabilidade espacial e cultural.

Os indicadores referem-se a valores estabelecidos ou desejados por pesquisadores, Governo e preferencialmente pelos atores sociais do processo (BOSSEL, 2001; MALHEIROS et al, 2013), tendo como característica mais importante sua contribuição na tomada de decisão. Esse autor ressalta que na organização do método de seleção dos indicadores e na proposta de avaliação da sustentabilidade, devem ser abordadas situações como: existência, eficiência, liberdade de ação, seguridade, adaptabilidade e coexistência. Essas informações emergem de auto-organização dos sistemas com o meio ambiente, que são refletidas nas emoções, nas reações fisiológicas e nas necessidades sociais, como estilo de vida.

Dentre outras características do indicador, ele deve ser de fácil compreensão e aplicação, razoabilidade e praticidade, principalmente para aqueles indivíduos envolvidos com coleta, processamento e avaliação dos dados (FAO, 1999; UNESCO, 2006). O indicador deve ser coletado com base em procedimentos estruturados e incorporados às atividades do campo e que permitam tanto sua comparação ou análise ao longo do tempo como também sua comparação externa e permitam melhorias contínuas, ou seja, estes possam ser modificados ou ajustados para atender às mudanças no ambiente organizacional sem perder sua finalidade e legitimidade (CALLADO; FENSTERSEIFER, 2009; SONTAG et al, 2015).

A mensuração do indicador pode não identificar se há um significativo crescimento, estagnação ou decréscimo. O dado passará a ter um significado apenas se referido a parâmetros, que necessariamente não são universais, estáticos e imutáveis (DEPONTI et al, 2002). Pelo contrário, em geral, os parâmetros refletem os interesses concretos que se colocam para o avaliador naquele momento histórico. Os parâmetros são limites idealizados por seus propositores que representam o nível ou a condição (na ótica dos mesmos) em que o sistema deve ser mantido para que seja sustentável.

Alguns trabalhos como de Calório (1997), Marzall (1999) e Cáceres (2006) abordam a temática de utilização de indicadores como: água, solo, produção de resíduos, produtividade, agrobiodiversidade, mata nativa, nível educacional, saúde humana, estrutura do sistema, uso da terra, rendimento de cultivos, sanidade vegetal e animal, entrada de produtos agrícolas externos, atividades comunitárias, disponibilidade para mão-de-obra, acesso a terra, comercialização e consumo de energia, porém não basta apenas medir os indicadores, é preciso também propor recomendação ou ações que promovam efetivamente a sustentabilidade e que tornem mais sustentáveis aquelas atividades que ainda não o são.

Além desses há outros métodos utilizados com o objetivo de fornecer indicadores para a avaliação da sustentabilidade, como por exemplo: síntese energética, pegada ecológica, contabilidade do fluxo de matéria, análise de energia incorporada, análise de energia e produto interno bruto (PIB) modificado. Para tanto não existe um indicador único capaz de realizar essa tarefa, já que os índices e os sistemas de classificação são subjetivos, apesar da relativa objetividade dos métodos utilizados na avaliação da sustentabilidade (PEREIRA; ORTEGA, 2012)

Verona et al, (2007) em pesquisa realizada sobre o estudo de indicadores compostos na avaliação de sustentabilidade em agroecossistemas, apresentam de forma objetiva as vantagens e desvantagens do seu uso, salientando que o aspecto positivo no uso de indicadores compostos é a possibilidade de acompanhamento da avaliação com maior detalhamento onde no caso de estudos com agroecossistemas essa é uma qualidade muito desejável. Para a pesca, Charles (1994) considera quatro aspectos importantes como requisitos para o desenvolvimento sustentável: socioeconômicos, ambiental, comunitário e institucional. A adoção de indicadores implica na necessidade de se ter coerência com os propósitos que se propõem ao avaliar os agroecossistemas. Nesse contexto, Deponti et al, (2002), apontam alguns pontos interrogativos importante para o planejamento das ações, considerando que é necessário ter clareza sobre: “O que avaliar? Como avaliar? Por quanto tempo avaliar? Por que avaliar? De que elementos consta a avaliação? De que maneira serão

expostos, integrados e aplicados os resultados da avaliação para o melhoramento do perfil dos sistemas analisados?”

Podem-se utilizar diferentes métodos com diferentes indicadores para avaliar a sustentabilidade de uma maneira mais apropriada, em que cada metodologia é utilizada com suas regras específicas (PEREIRA; ORGETA, 2012).

Para a FAO (1999) ainda é um grande desafio monitorar globalmente todos os indicadores relacionados à pesca devido a problemas no gerenciamento desses recursos por parte da maioria dos governos. Um grande passo seria um apoio de países e organizações internacionais a adotar um sistema “único e global” de indicadores de sustentabilidade relacionada ao uso dos recursos pesqueiros, o que pode ser alcançado através de reuniões periódicas de especialistas e promover entre estes uma comunicação eficaz, uma vez que, os problemas de superexploração dos recursos pesqueiros e seu esgotamento são evidentes em todos os cantos do planeta. Os indicadores podem dar uma melhor transparência sobre a realidade dos recursos e das pessoas que vivem deles incentivando assim a adesão de setores responsáveis pela coleta de dados e na adoção de políticas públicas em resposta aos resultados desses indicadores.