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3 TELEVISÃO DIGITAL

3.2 A televisão digital brasileira

Nesse contexto da sociedade da informação ou da aprendizagem ou do digitalismo, conforme queiram os teóricos cujas contribuições foram aqui lembradas, nasce a televisão digital brasileira. O Sistema Brasileiro de Televisão Digital vem a reboque dos padrões dos EUA, Japão e países europeus, que disputaram o interesse nacional pela adoção das tecnologias desenvolvidas por eles.

O decreto nº 4901, de 26 de novembro de 2003, instituiu o Sistema Brasileiro de Televisão Digital com o propósito de oferecer um serviço eficiente, que possibilite a interatividade e novos aplicativos de entretenimento aos telespectadores, além de fomentar a cultura, a educação e o pleno exercício da cidadania. As principais vantagens do sistema digital são: qualidade de imagem e som, interatividade, mobilidade e portabilidade. Por sua relevância para o âmbito desta pesquisa e o programa de pós-graduação no qual se insere, reproduzimos, na íntegra, o decreto supracitado:

Art. 1° Fica instituído o Sistema Brasileiro de Televisão Digital - SBTVD, que tem por finalidade alcançar, entre outros, os seguintes objetivos:

I - promover a inclusão social, a diversidade cultural do País e a língua pátria por meio do acesso à tecnologia digital, visando à democratização da informação;

II - propiciar a criação de rede universal de educação à distância;

III - estimular a pesquisa e o desenvolvimento e propiciar a expansão de tecnologias brasileiras e da indústria nacional relacionadas à tecnologia de informação e comunicação;

IV - planejar o processo de transição da televisão analógica para a digital, de modo a garantir a gradual adesão de usuários a custos compatíveis com sua renda;

V - viabilizar a transição do sistema analógico para o digital, possibilitando às concessionárias do serviço de radiodifusão de sons e imagens, se necessário, o uso de faixa adicional de radiofreqüência, observada a legislação específica;

VI - estimular a evolução das atuais exploradoras de serviço de televisão analógica, bem assim o ingresso de novas empresas, propiciando a expansão do setor e possibilitando o desenvolvimento de inúmeros serviços decorrentes da tecnologia digital, conforme legislação específica;

VII - estabelecer ações e modelos de negócios para a televisão digital adequados à realidade econômica e empresarial do País;

VIII - aperfeiçoar o uso do espectro de radiofreqüências;

IX - contribuir para a convergência tecnológica e empresarial dos serviços de comunicações;

X - aprimorar a qualidade de áudio, vídeo e serviços, consideradas as atuais condições do parque instalado de receptores no Brasil; e

XI - incentivar a indústria regional e local na produção de instrumentos e serviços digitais.

Art. 2° O SBTVD será composto por um Comitê de Desenvolvimento, vinculado à Presidência da República, por um Comitê Consultivo e por um Grupo Gestor.

Art. 3° Ao Comitê de Desenvolvimento do SBTVD compete:

I - fixar critérios e condições para a escolha das pesquisas e dos projetos a serem realizados para o desenvolvimento do SBTVD, bem como de seus participantes;

II - estabelecer as diretrizes e estratégias para a implementação da tecnologia digital no serviço de radiodifusão de sons e imagens;

III - definir estratégias, planejar as ações necessárias e aprovar planos de aplicação para a condução da pesquisa e o desenvolvimento do SBTVD; IV - controlar e acompanhar as ações e o desenvolvimento das pesquisas e dos projetos em tecnologias aplicáveis à televisão digital;

V - supervisionar os trabalhos do Grupo Gestor;

VI - decidir sobre as propostas de desenvolvimento do SBTVD;

VII - fixar as diretrizes básicas para o adequado estabelecimento de modelos de negócios de televisão digital; e

VIII - apresentar relatório contendo propostas referentes: a) à definição do modelo de referência do sistema brasileiro de televisão digital;

b) ao padrão de televisão digital a ser adotado no País; c) à forma de exploração do serviço de televisão digital; e

d) ao período e modelo de transição do sistema analógico para o digital. Parágrafo único. O prazo para a apresentação do relatório a que se refere o inciso VIII deste artigo fica fixado em doze meses, a contar da instalação do Comitê de Desenvolvimento do SBTVD.

Art. 4° O Comitê de Desenvolvimento do SBTVD será composto por um representante de cada um dos seguintes órgãos:

I - Ministério das Comunicações, que o presidirá; II - Casa Civil da Presidência da República; III - Ministério da Ciência e Tecnologia; IV - Ministério da Cultura;

VI - Ministério da Educação; VII - Ministério da Fazenda;

VIII - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; IX - Ministério das Relações Exteriores; e

X - Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República.

§ 1° Os membros do Comitê de Desenvolvimento do SBTVD serão indicados pelos titulares dos órgãos referidos nos incisos I a X deste artigo e designados pelo Ministro de Estado das Comunicações.

§ 2° Os membros do Comitê de Desenvolvimento do SBTVD serão substituídos, em suas ausências e impedimentos, por seus respectivos suplentes, por eles indicados, e designados pelo Ministro de Estado das Comunicações.

Art. 5° O Comitê Consultivo tem por finalidade propor as ações e as diretrizes fundamentais relativas ao SBTVD e será integrado por representantes de entidades que desenvolvam atividades relacionadas à tecnologia de televisão digital.

§ 1° Os membros do Comitê Consultivo serão designados pelo Ministro de Estado das Comunicações, por indicação das entidades referidas no caput deste artigo, de acordo com critérios a serem estabelecidos pelo Comitê de Desenvolvimento do SBTVD.

§ 2° O Comitê Consultivo será presidido pelo Presidente do Comitê de Desenvolvimento do SBTVD.

Art. 6° Compete ao Grupo Gestor a execução das ações relativas à gestão operacional e administrativa voltadas para o cumprimento das estratégias e diretrizes estabelecidas pelo Comitê de Desenvolvimento do SBTVD. Art. 7° O Grupo Gestor será integrado por um representante, titular e respectivo suplente, de cada órgão e entidade a seguir indicados:

I - Ministério das Comunicações, que o coordenará; II - Casa Civil da Presidência da República;

III - Ministério da Ciência e Tecnologia; IV - Ministério da Cultura;

V - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; VI - Ministério da Educação;

VII - do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação - ITI; VIII - da Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL; e

IX - Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República.

§ 1° Os membros do Grupo Gestor serão indicados pelos titulares de seus respectivos órgãos e designados pelo Ministro de Estado das Comunicações, no prazo de quinze dias a contar da data de publicação deste Decreto.

§ 2° O coordenador do Grupo Gestor poderá instituir comissões e grupos técnicos com a finalidade de desenvolver atividades específicas em cumprimento dos objetivos estabelecidos neste Decreto.

Art. 8° Para o desempenho das atividades a que se refere o art. 6o- deste Decreto, o Grupo Gestor poderá dispor do apoio técnico e administrativo, entre outros, das seguintes entidades:

I - Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP; e

II - Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações - CPqD.

Art. 9° Para os fins do disposto neste Decreto, o SBTVD poderá ser financiado com recursos provenientes do Fundo para o Desenvolvimento

Tecnológico das Telecomunicações - FUNTTEL, ou ainda, por outras fontes de recursos públicos ou privados, cujos planos de aplicação serão aprovados pelo Comitê de Desenvolvimento do SBTVD. (BRASIL, 2003)

Destacamos em especial o primeiro objetivo expresso no decreto, que é o de promover a inclusão social, visando à democratização da informação, por meio da tecnologia digital, o que implica, para especialistas na área, a possibilidade de o telespectador conseguir conectar-se à internet via televisão. E ressaltamos, ainda, estar no segundo objetivo do decreto o embasamento que justifica esta pesquisa, o intuito de criar uma rede universal de educação à distância, via televisão digital. Embora não esteja clara de que forma essa rede se estruturaria, a necessidade de buscarmos caminhos, a partir de pesquisas e experimentações na área, já está posta pelo decreto nº 4901.

Voltando à cronologia de implantação do sistema de televisão digital no Brasil, observamos que a decisão de adotar o padrão japonês de televisão digital , o (ISDB), foi tomada três anos mais tarde, e comunicada pelo presidente Lula pelo decreto nº 5820, em 26 de julho de 2006, embasado nos estudos do Comitê de Desenvolvimento do Sistema Brasileiro de Televisão Digital. Conforme relata Melo (2007), ele foi o preferido pelas emissoras (e repelido pelas operadoras de telefonia) por ser o único, segundo seus defensores, que permite aplicações de TVD em aparelhos portáteis e móveis utilizando apenas um canal de TV. Também por determinação do decreto, ficou estabelecido que as emissoras receberão canais adicionais para a transmissão digital. Os analógicos permanecerão por 10 anos e, após esse prazo, serão devolvidos ao governo.

Foi decidido, ainda, pelo desenvolvimento de um middleware próprio para o sistema brasileiro de televisão digital, o Ginga, que, segundo as promessas, conversará com todos os outros padrões (linguagens HTML, NCL e Java) e também pela produção de conversores com variação de preço conforme a tecnologia oferecida pelo aparelho (Melo, 2007). Barbosa destaca, ainda, uma outra característica da TVD que tende a ser obscurecida em um primeiro momento: “(...) engana-se profundamente quem pensa que a TV digital esgota-se em seus numerosos e diversos canais, na interatividade e na possibilidade de acesso à internet ou de envio de mensagens a celulares a partir do televisor; há uma nova

geração de decodificadores com disco rígido, conexões em rede de alta velocidade e programas para detecção inteligente de perfis de consumo”(2007. p.34).

Com a adoção do padrão japonês para o Brasil, uma série de questionamentos veio à tona e paira até hoje no ar: como ficará a produção dos componentes tecnológicos? Como será o acesso da população de baixa renda aos serviços de internet? E a produção? E a regulamentação? Melo (2007) defende o desenvolvimento de um conversor para televisão digital a baixo custo, mas que ofereça a interatividade. Segundo o autor, o que deve ser buscado ao longo do longo processo de implantação é a inclusão de mais atores na produção de conteúdo em rádio e TV digitais, um marco regulatório que prepare o Brasil para os desafios da convergência tecnológica e, por fim, o desencadeamento de um processo que leve a uma apropriação social das tecnologias da informação e comunicação sem precedentes no país.

Quando se fala em televisão digital, o recurso que povoa o imaginário coletivo é a questão da interatividade. Becker (2007) apresenta a opinião de Straubahaar e Larose que dizem que, para um sistema ser realmente interativo, ele precisa convencer o usuário de que ele não está interagindo com uma máquina e sim com um ser humano. No entanto, a discussão sobre o significado desse conceito é bastante ampla e já começa na diferenciação entre os termos interação e interatividade. Teixeira (2008) lembra que alguns autores diferenciam os termos, enquanto outros derivam interatividade de interação. E há, ainda, uma corrente que não admite o termo interatividade. Valdecir Becker e Carlos Montez distinguem os conceitos interação e interatividade com base em uma formulação aceita pelo senso comum: “A interação pode ocorrer diretamente entre dois ou mais entes atuantes, ao contrário da interatividade que é necessariamente intermediada por um meio eletrônico, usualmente um computador” (BECKER e MONTEZ, 2005, p. 49 apud TEIXEIRA, 2008, p. 28).

Por outro lado, o autor Alex Primo refuta o termo interatividade por considerá-lo impreciso. De acordo com ele,

a interação não deve ser vista como uma característica do meio, mas um processo que é construído pelos interagentes. Por mais que se critique a Teoria da Informação, a relação entre os interagentes continua sendo

deixada de lado por grande parte dos estudiosos, que acabam, mais uma vez, se preocupando apenas com a transmissão das mensagens. (PRIMO, 2007, p. 39 apud TEIXEIRA, 2008, p. 33)

Destacamos que Primo adota o termo “interagente”7 em detrimento de

“usuário”, uma vez que concebe a interação pelo viés comunicacional e não apenas pelo “uso” de um equipamento ou sistema. Primo prefere falar em interação mediada por computador e a vê de duas formas: a interação mútua e a interação reativa. A primeira remete à negociação contínua entre os interagentes e a segunda está relacionada aos processos de trocas limitadas em condições pré-estabelecidas. Ele parte do pressuposto de que todo sistema que oferece opções pré-determinadas de escolhas, ainda que sejam muitas, deveria ser considerado “reativo” e não “interativo”. “Para se tornar interativo, o sistema deveria dar `total autonomia ao espectador´, possibilitando sua `reposta autônoma, criativa e não prevista´” (TEIXEIRA, 2008, p. 35).

Se pensarmos nas possibilidades que a tecnologia digital aplicada à televisão oferece hoje, o sistema pode ser considerado reativo ou “pseudo- interativo”, como explicaremos a seguir, uma vez que ainda não há um consenso sobre a forma de viabilizar tecnologicamente uma resposta completamente autônoma e não prevista do interagente à programação da televisão. No entanto, a limitação atual não significa que seja impossível. Brennand e Lemos explicam como a interação ocorre, do ponto de vista tecnológico:

O STB (set-top-box) interativo possui capacidade de processamento computacional, sendo capaz de interpretar computacionalmente os fluxos de dados multiplexados. Desse modo, o STB executa uma aplicação que exibe na TV uma interface com o usuário. Isto permite à audiência interagir com o programa de TV pelo teclado ou controle remoto (...).

Caso o resultado da interação entre o usuário e o STB fique restrito ao subsistema de recepção doméstica, o modelo é chamado de TV digital pseudo-interativa (Enchanced DTV).

Uma expansão do modelo de pseudo-interatividade permite que o STB envie e receba dados adicionais por meio de um canal de interação (retorno), estabelecido via modem, por exemplo. Nesse caso, o resultado da interação com o usuário pode ser avaliado em tempo quase real por um provedor de serviços vinculado à rede de TVD, resultando no modelo chamado de TV digital interativa (interactive DTV). (2007, p. 104)

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Embora os autores pontuem diferenças conceituais entre os termos, nesta pesquisa, estamos usando as expressões interagente, usuário e telespectador como sinônimos, uma vez que essas discussões não são o ponto central do escopo deste trabalho.

O canal de interação ou retorno, ao qual se referem Brennand e Lemos, é o ponto em aberto na discussão sobre a interatividade na TVD. É possível, sim, um telespectador gerar um conteúdo, como acontece na internet, e remetê-lo ao canal de TV. O que não está formatada é a forma como essa interação irá ocorrer, pois seria impossível para um canal receber conteúdo gerado por milhões de telespectadores simultaneamente. As respostas a essa questão estão diretamente ligadas à decisão sobre qual seria a tecnologia adotada para o canal de retorno. Dentre as opções, além do próprio modem, no exemplo usado por Brennand e Lemos, destacamos:

- Via satélite: tem alcance do sinal robusto, porém apresenta dificuldade para estabelecer um canal de retorno.

- A cabo: tem uma boa largura de banda para a difusão e o canal de retorno, porém só alcança residências interligadas fisicamente.

- Por radiodifusão (ou difusão terrestre): já é usada pela TV aberta no Brasil, no entanto, tem dificuldades para comportar um canal de retorno.

Sem o canal de retorno, podemos falar em interatividade local, o que, para Becker (2007), precisaria ter a denominação revista, pois, nesse caso, não há trocas de informação. Essa expressão equivale ao termo pseudo-interação de Brennand e Lemos. Na verdade, o que ocorre é o acesso do telespectador a informações que já estão armazenadas no seu middleware. Becker admite que serão fatores mercadológicos e comerciais a determinar a forma como será formatada a interatividade.

Independentemente do nível de interatividade proposto pela televisão digital a curto, médio ou longo prazo, uma revolução será necessária no modo de produção dos programas televisivos. Do ponto de vista da concepção de produtos, os roteiros já precisarão ser pensados a partir da interatividade, do áudio, ao vídeo e os efeitos visuais. “A produção de TV, acostumada a um processo rápido, cronometrado, precisa incorporar a variável software, cujo processo de produção difere drasticamente da velocidade imposta pela TV” (BECKER, 2007, p. 79). Esse mesmo autor alerta que as experiências interativas na internet devem ser tomadas como referência, porém não como pressupostos.

“Estudar a interatividade na televisão partindo da internet pode causar o desvirtuamento do conceito de TV interativa, passando-se a considerá-la apenas como agregadora da rede mundial de computadores (Noam, SoutoMaior, Bernardo, Swann). Por outro lado, a internet também não pode ser desprezada, uma vez que é nela que a interatividade se manifesta nos níveis mais elevados conhecidos atualmente, podendo, inclusive, ser considerada um ambiente imersivo (Murray, Nielsen, Santaella)” (2007, p. 74).

Montez reafirma que a TV Digital Interativa (TVDI) não é a simples junção da TV com a internet. É um equipamento tecnológico com possibilidades que poderão minimizar a exclusão digital no Brasil, por meio de benefícios como acesso a serviços do governo ou portal educacional (2007). Algumas das aplicações que já existem para a TVDI:

- EPG (Eletronic Program Guide): guia de programação eletrônico - T-commerce: comércio via televisão

- VOD (Vídeo on Demand): TV como “locadora doméstica”

- Notícias interativas: uma barra de rolagem no canto inferior da tela contém as manchetes. Se o telespectador se interessar por alguma, seleciona-a e obtém mais informações.

- Programação educacional interativa: com baixo custo, fácil utilização e em larga escala, a TVDI pode oferecer programas para auxiliar na educação de crianças e adultos.

- T-Gov: acesso a informações disponibilizadas pela Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e quem sabe até a possibilidade de fazer a declaração do imposto de renda.

- T-learning: união entre a capacidade multimídia da TV com a personalização e a interatividade da internet.

A educação a distância é uma das possibilidades abertas pela TDI que merece uma atenção mais detalhada devido ao impacto que pode gerar junto à população. Como a EAD é vista como uma forma de democratizar o acesso à educação, distribuindo o conhecimento ainda localizado em centros de excelência, é preciso que seu alcance e o número de pessoas atendidas sejam significativos. O ponto favorável à educação pela televisão é a difusão em larga escala, uma vez que 94% dos brasileiros têm, pelo menos, um aparelho de TV em casa, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2007 (Pnad 2007), realizada pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por outro lado, segundo dados de 2007, do Comitê Gestor da Internet no Brasil, apenas 17% da população tem acesso à internet em casa, hoje o meio mais utilizado para difundir os cursos EAD.

Urge ressaltarmos, entretanto, que a EAD por televisão digital só fará sentido se houver a interatividade que, conforme já dito, prevê um canal de retorno conectado à TV, como uma linha telefônica, uma ligação a cabo, por satélite ou WiMax. Sem canal de retorno, só é possível acontecer a interatividade local, ou seja, as pessoas só acessarão as informações que já estiverem no seu set-top-box. E é preciso, claro, que o set-top-box do aluno ou “usuário” contenha o software de interatividade e não apenas um conversor de analógico para digital – diferenciação que acaba por triplicar o preço desse aparelho.

Abrimos, neste momento, um parêntesis para destacar que, atualmente, as divergências em relação à padronização desses set-top-box vão além da questão do custo, e estão cada vez mais distantes de um consenso. Há duas versões disponíveis no mercado de padrões para o middleware Ginga, que permite a interatividade: o Ginga-NCL e o Ginga-Java. O primeiro trata-se de uma versão mais limitada em termos de possibilidades de criação de aplicativos interativos, porém com maior estabilidade de resultados e palatável a qualquer programador, portanto mais fácil de ser utilizada. O Ginga-Java, por sua vez, incorre em patentes, portanto, seu código não está aberto para qualquer usuário manipulá-lo, embora seja de conhecimento público que essa versão permite uma variabilidade maior de possibilidades interativas.

O fato é que há divergências sobre qual versão deve estar contida nos set-top-box que chegam aos lares brasileiros e sobram acusações de falhas, como o favorecimento a um possível e prejudicial monopólio, uma vez que apenas uma empresa estaria produzindo o conversor com o Ginga-J, enquanto várias oferecem a versão Ginga-NCL. Ainda inexistem garantias de que os set-top-box vendidos atualmente com esses middlewares estão em conformidade com os padrões estabelecidos, ou seja, não se sabe se esses aparelhos conseguirão rodar com segurança os primeiros aplicativos de interatividade já disponibilizados pelos canais digitais de televisão.

Para aprofundar essa questão sobre EAD via TVDI, convém resgatar o aviso de Castro (2007) de que toda iniciativa educativa precisa ser entendida no contexto das relações de poder e das ideologias que as nutre. A EAD exige atenção redobrada no processo de ensino-aprendizagem: é preciso um diálogo intenso entre professores, alunos e tutores.

Castro (2007) ressalta que é necessário um cuidado extremo com a linguagem para viabilizar a teleducação pelo sistema digital, tendo como marcas a aprendizagem ativa e a co-autoria como diferencial. As novas tecnologias potencializam essa abordagem ao proporcionarem a interatividade. Cabe aos educandos se apropriarem das tecnologias para participar do processo de ensino-