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6 PERCURSO PARA A PROPOSTA

6.2. Usabilidade em televisão digital

Pensar interfaces gráficas para a TV digital interativa (TVDI) é um desafio, uma vez que tem de se levar em conta conceitos já consagrados como os de usabilidade e design, todavia considerando, agora, as especificidades da televisão e dos hábitos de utilização dessa mídia. Lembramos que quando falamos em TVDI, referimo-nos a qualquer ação que permita ao telespectador estabelecer um diálogo com o programa, o apresentador, o serviço ou a interface, em suma, que permita ao indivíduo fazer escolhas e tomar determinadas atitudes, mesmo que sejam bastante elementares (GAWLINSKI, 2003, apud TEIXEIRA, 2008).

O conceito de usabilidade também deve ser levado em consideração no momento de projetar um ambiente interativo de televisão digital. O design gráfico dá forma ao projeto e, além de ter uma função estética, necessita prever a facilidade de interação pelo usuário. Gawlinski define com precisão essa equação:

“Usability and graphic design are symbiotic. An interactive television service designed purely for usability may allow viewers to perform tasks, but risks leaving them feeling disconnected, uninvolved and without a sense of allegiance. A service built only with graphic design in mind may look fantastic but be difficult and frustrating to use. The two must work together, not against each other.” (GAWLINSKI, 2003, p. 201, apud TEIXEIRA, 2008)

Em tradução livre, ele diz: “usabilidade e design gráfico são simbióticos. Um serviço de televisão interativo puramente desenhado para a usabilidade pode permitir que os telespectadores executem tarefas, mas arrisca deixá-los sentindo-se desconectados, sem envolvimento e sem um sentido de compromisso. Um serviço construído pensando somente no design gráfico pode parecer fantástico, mas ser difícil e frustrante de usar. Os dois devem trabalhar juntos, não um contra o outro”.

O conceito de usabilidade é amplamente discutido por Jakob Nielsen, maior pesquisador sobre o assunto na atualidade. O dinamarquês define o termo como característica de um sistema com componentes múltipos que normalmente implica atributos tais como: ser fácil de usar e de aprender a ser usado; ser fácil de ser recordado, mesmo depois de um tempo sem estar em contato com ele; conter baixa taxa de erros e despertar uma satisfação subjetiva. Em suma, na construção de uma interface, quanto mais simples se apresentar o ambiente mais eficiente se torna a interação, segundo Nielsen. Rebuscamentos visuais e o cruzamento de variados recursos e tecnologias tendem a obstruir a fluência da navegação. Nesse sentido, o teórico tem uma orientação bastante prática: se for eliminado algum recurso do projeto, sem prejuízo para a leitura, é sinal de que esse item não precisava estar ali.

Por mais que existam autores que consideram o pesquisador um tanto radical, suas recomendações - ainda que relativizadas, na medida em que os nichos de usuários estão cada vez mais segmentados, sendo alguns altamente especializados e já familiarizados com a tecnologia – precisam ser levadas em conta.

No caso da televisão, será preciso criatividade para atender às demandas, além de respeito a determinados regras de usabilidade para um sistema digital que prevê interações. Becker, Fornari, Filho e Montez (2006) discorrem sobre a usabilidade para TVDI. Eles elencam uma série de diferenças da televisão em

relação ao computador, inevitavelmente referência mais próxima em termos de possibilidades interativas, sendo elas: tela de menor resolução com área sujeita a distorções, o fato de não possibilitar ter barra de rolagem, a distância bem maior exigida para que um telespectador assista à TV, além do perfil do consumidor de produtos televisivos, que é mais heterogêneo que o público da internet.

A tipologia também deve ser escolhida com critério. Os autores citados relatam estudos da BBC, de Londres, referência mundial em termos de produção de conteúdo interativo para televisão, somados a pesquisas do Núcleo de Redes de Alta Velocidade e Computação de Alto Desempenho, da Universidade Federal de Santa Catarina, e ditam algumas regras de usabilidade para TVD, tais como: privilegiar o uso de fontes sem serifas para facilitar a leitura, bem como o uso de fundos escuros com escritos em tom claro; a entrelinha e o espaço entre os caracteres deve ser 30% maior que o convencional; cada tela não deve comportar mais que 90 palavras e o texto necessita ser dividido em blocos. É possível, ainda, apontar uma hierarquia de tamanho de letras que seja agradável ao telespectador. Com base nas pesquisas, os autores (2006) recomendam: títulos com fonte em corpo 36; menus em 20; texto em 22 pontos e botões em tamanho 18.

Teixeira (2008) também orienta que uma interface de televisão interativa deva oferecer feedback audiovisual a cada ação do interagente, lembrando que ele pode ser tanto sonoro quanto visual. O autor recomenda, ainda, que as interfaces para essa mídia contenham textos curtos e diretos e evitem subníveis de navegação em demasia. Quando há muito conteúdo a ser exibido, por exemplo, é mais agradável que ocorram trocas de páginas, utilizando-se, para isso, as setas do controle.

A ferramenta-chave nesse processo de interação é o controle remoto, que para servir às funções da televisão digital interativa deve vir obrigatoriamente acrescido dos botões coloridos: vermelho, verde, amarelo e azul. Como as pessoas não estão acostumadas a explorarem todas as teclas do controle, o uso dos botões necessita ser tão simples quanto intuitivo. As setas funcionam como a principal ferramenta de navegação e os botões coloridos devem assumir funções estáveis para que o interagente consiga memorizá-las com o uso frequente, facilitando a interação. Recomenda-se também o mínimo de combinações possíveis entre os

botões e que sempre apareça na tela a indicação de que tecla deve ser acionada para executar determinada ação.

Dentro, ainda, do campo de ação da usabilidade, podemos elencar variados conjuntos possíveis de interação para televisão digital. Teixeira (2008) disseca-os de forma bastante didática, com explicações as quais resumiremos a seguir, que antecipam algumas combinações eficientes de aplicativos e conteúdos de TVD.

O pesquisador sintetiza três possíveis variáveis, sendo a primeira referente ao nível de relacionamento entre o aplicativo interativo e o programa que está no ar. Por exemplo: com a tela da televisão expandida, o aplicativo pode ser vinculado ao vídeo de forma síncrona ou assíncrona, fazendo sentido esta interação ocorrer ao mesmo tempo em que o programa vai ao ar (quando o conteúdo comanda a interação que pode ser acionada) ou logo em seguida (nesse caso, os aplicativos ficam disponíveis para serem acionados quando convier ao interagente). É possível, ainda, que sejam oferecidos aplicativos com nenhuma relação com o programa que está no ar, sendo totalmente desvinculados do conteúdo e à disposição para acionamento a qualquer momento, tais como guias de programação, games ou compras pela TV.

Belda (2009) define como segundo conjunto de variáveis o fato de haver ou não um canal de retorno. Se a interação contém ações pré-estabelecidas, com todo o conteúdo já disponível na memória do set-top-box, não há necessidade de um canal de retorno. Agora, se há uma dependência de interação entre os telespectadores ou uma participação em tempo real ou, ainda, entrega de conteúdo sob demanda, necessita haver um canal de retorno, que pode ser permanente ou intermitente.

Por fim, o terceiro conjunto diz respeito à concepção estética do aplicativo, sendo normalmente idealizadas três formas possíveis: a apresentação em overlay, quando o vídeo aplicativo é carregado em uma pequena área da tela; sendo o contrário também válido: quando a interface interativa ocupa a maior parte da tela, redimensionando o vídeo que vinha sendo veiculado. Outra possibilidade é fazer com que a interface interativa cubra toda a tela, todavia é preciso atentar para o áudio do vídeo que aparecia até então, pois se o aplicativo tiver áudio próprio, o interagente pode perder o vínculo com a programação.

Vale destacar que essas variáveis todas são condicionadas pelos diferentes estágios de interação possível pelo sistema de televisão digital.