2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
2.2 Legislação em EAD no Brasil
2.2.1 Criação da Universidade Aberta do Brasil
Apesar das críticas que recaíam sobre a educação a distância, o governo federal buscou corrigir as deficiências e deu continuidade a sua política de expansão de vagas via essa modalidade de ensino, que se materializou com a criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB).
As primeiras discussões sobre a formação de um sistema nacional de EAD começaram já na década de 1970, quando o coordenador de assuntos internacionais do MEC, o professor Newton Sucupira conheceu a Open University, na Inglaterra, fundada em 1969. O ministro da educação na época, Jarbas
Passarinho, incumbiu Sucupira de montar uma comissão de especialistas para estudar a possibilidade de implantar um modelo semelhante ao da Universidade Aberta da Inglaterra no país. O departamento de Ensino Supletivo do MEC também se encarregou de fazer estudos e observações sobre o assunto (Niskier, 1985).
A discussão ganhou corpo quando da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº 9394/96) supracitada, que postulava a modalidade EAD como uma das metas de fomento do governo.
Um precursor importante foi a criação da Universidade Virtual Pública do Brasil que reuniu, no final de 1999, 70 instituições de educação superior públicas dispostas a fazer educação a distância. O movimento começou com um encontro de professores na Universidade Federal de Brasília (UNB), representantes de 18 universidades, com o intuito de discutir de que forma melhorar a educação brasileira por meio da EAD. Do encontro, foi formalizado um protocolo de intenções para a criação da Universidade Virtual Pública do Brasil, a UniRede. Dois outros encontros seguidos fortaleceram a intenção de levar o projeto adiante. Os diálogos dos idealizadores da UniRede com a Secretaria de Educação a Distância (SEED) deram origem a uma chamada pública, por meio do edital, em 2004, para a formação de consórcios entre as instituições públicas de ensino superior para o oferecimento de cursos de EAD que formassem professores de Pedagogia, Física, Matemática, Biologia e Química, áreas com deficiência de profissionais. O programa batizado de Pró-Licenciatura logrou a abertura de 17565 vagas no ensino superior. No ano seguinte, o Pró-Licenciatura 2 foi lançado, voltado para a formação de professores para lecionar nas séries finais do Fundamental e no Ensino Médio (COSTA, 2010).
Não há dúvida de que esses programas de formação de professores foram o embrião da UAB. O estopim veio com a criação do Fórum das Estatais pela Educação, em 2005, que objetivava um diálogo maior entre o MEC, o governo federal, as estatais e toda a sociedade para a discussão de temas estratégicos como o desenvolvimento sustentável do país. No âmbito do Fórum das Estatais, surgiu o Projeto Universidade Aberta do Brasil, a princípio, idealizado apenas para a participação de universidades públicas federais.
O sistema UAB foi, então, instituído no ano seguinte pelo decreto nº5800/06, que define o sistema como um programa nacional:
Art. 1º Fica instituído o Sistema Universidade Aberta do Brasil-UAB, voltado para o desenvolvimento da modalidade de educação a distância, com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior no País.
Parágrafo único. São objetivos do Sistema UAB:
I- oferecer, prioritariamente, cursos de licenciatura e de formação inicial e continuada de professores da educação básica;
II- oferecer cursos superiores para capacitação de dirigentes, gestores e trabalhadores em educação básica dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
III- oferecer cursos superiores nas diferentes áreas do conhecimento; IV- ampliar o acesso à educação superior pública;
V- reduzir as desigualdades de oferta de ensino superior entre as diferentes regiões do País;
VI- estabelecer amplo sistema nacional de educação superior a distância; e VII- fomentar o desenvolvimento institucional para a modalidade de educação a distância, bem como a pesquisa em metodologias inovadoras de ensino superior apoiadas em tecnologias de informação e comunicação. (BRASIL, 2006b)
Pelo decreto ficou definido, ainda, que caberia ao MEC a implantação, o acompanhamento e a supervisão do Sistema UAB, que formaria convênios com as instituições públicas de ensino superior. O decreto determinou também que o custeio do Sistema UAB correria por conta das dotações orçamentárias anualmente repassadas ao Ministério da Educação e ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) pelo poder executivo. O fomento à criação e ao desenvolvimento da UAB vai ao encontro do objetivo de expandir a oferta de cursos e tem considerável parcela de responsabilidade para ajudar na meta do Plano Nacional de Educação, que é chegar em 2011 com 30% dos estudantes brasileiros com formação universitária.
De acordo com dados de 2010, 88 instituições federais e estaduais, de todas as regiões do país, integram o Sistema UAB. São 720 polos de apoio presencial disponíveis em todos os estados. Destacamos que são esses os dois pilares de sustentação da UAB: as Instituições de Ensino Superior e os polos, que funcionam em rede, uma vez que um mesmo polo pode receber cursos de diferentes IES e uma mesma universidade pode oferecer cursos em diferentes polos.
Se seguirmos definição de Peters (2003), sobre a existência de três modalidades possíveis de se organizar um curso universitário de EAD: universidades que já oferecem a modalidade presencial e partem também para a graduação a distância (dual mode), em instituições que oferecem várias formas de
ensino, com livre escolha pelo estudante (mixed mode) e outras organizadas exclusivamente para o ensino a distância (single mode) – podemos definir o modelo do Sistema de Universidade Aberta como dual mode.
É importante destacarmos que a UAB está vinculada à Diretoria de Educação a Distância (DED) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e não à SEED, um dos órgãos do MEC. A criação dessa diretoria tem a ver com a reformulação da Capes, que ganhou novas responsabilidades para dar conta das exigências do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), entre elas, a formação de professores e a valorização dos
profissionais da educação. Como pano de fundo da reestruturação, há a necessidade do governo em estabelecer um vínculo efetivo entre a educação
básica e o ensino superior. Dessa forma, a Capes favorece a formação dos docentes, via cursos pela UAB, atuando no seu âmbito, que é aperfeiçoamento de pessoal de nível superior; e também na educação básica, uma vez que é para lá que retornam os profissionais formados (COSTA, 2010).