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Uma das teorias mais utilizadas para fundamentar a perspectiva do desenvolvimento regional se traduz na Teoria do Desenvolvimento Endógeno (BARQUERO, 2001).

O conceito de desenvolvimento, no viés econômico, se traduz, segundo Barquero (2001) em um processo de crescimento e mudança estrutural que ocorre em razão da transferência de recursos das atividades tradicionais para as modernas. Segundo o autor, este processo se dá pelo aproveitamento das economias externas e pela introdução de inovações, determinando a elevação do bem-estar da população de uma cidade ou região. Aquém deste conceito o mesmo autor salienta que quando a comunidade local é capaz de se utilizar do potencial de desenvolvimento e liderar o processo de mudança estrutural, temos a dinâmica do desenvolvimento endógeno.

A constatação de Barquero (2001), sobre a como a dinâmica ocorre fica clara quando o mesmo afirma que

A teoria do desenvolvimento endógeno considera que a acumulação de capital e o progresso tecnológico, são indiscutivelmente, fatores-chave no crescimento econômico. Além do mais, identifica um caminho para o desenvolvimento auto sustentado, de caráter endógeno, ao afirmar que os fatores que contribuem para o processo de acumulação de capital geram economias de escala e economias externas e internas, reduzem os custos totais e os custos de transação, favorecendo também as economias de diversidade. A teoria do desenvolvimento endógeno reconhece, portanto, a existência de rendimentos crescentes no tocante aos fatores acumuláveis, bem como dá ênfase ao papel dos atores econômicos, privados e públicos nas decisões de investimento e localização. (BARQUERO, 2001, p.19)

Corroborando para essa revisão contextual do tema, o autor define que o processo de desenvolvimento ocorre em função da capacidade da região em utilizar o seu potencial e o excedente dos recursos produtivos para criar vantagem competitiva no mercado.

Esta perspectiva remete então a ressaltar que a teoria da inovação e do conhecimento elencada por Etzkowitz (2013) é convergente as definições adotadas na citação anterior. A acumulação de capital que está ligada a atividade das empresas, o progresso tecnológico que é obtido através da pesquisa nas universidades e por último então o governo que garante a estas duas a possibilidade de atuar interagindo na sociedade produzindo resultados que satisfaçam as demandas das organizações.

Com relação ao processo de desenvolvimento endógeno de uma região, é preciso conceber que

A região passa a ser um agente de transformação e não um suporte dos recursos e atividades econômicas, uma vez que há interação entre empresas e os demais atores, que se organizam para desenvolver a economia e a sociedade. De acordo com esse

pensamento, o ponto de partida para uma comunidade territorial reside no conjunto e no inter-relacionamento entre os recursos (econômicos, humanos, institucionais, culturais) formadores de seu próprio potencial de desenvolvimento. (XAVIER et al. 2013, p. 1046)

Fica visível que a partir da teoria do desenvolvimento endógeno, diversas variáveis reforçam e influenciam este processo. Uma delas seria a articulação dos diversos atores representativos de uma localidade, tanto atores da sociedade civil, organizações não governamentais, instituições privadas, governo, universidades e instituições de ensino. Nessa dinâmica cada um tem um papel que, articulados em si e combinados a um objetivo comum criam uma dinâmica de desenvolvimento através das potencialidades existentes no local. As principais teorias sobre o desenvolvimento englobam variáveis que fazem parte do ambiente onde se pretende que os indicadores evoluam. Sendo assim, como já salientado anteriormente Barquero (2001), defende que o processo de desenvolvimento deve ocorrer de maneira endógena, ou seja, pelas articulações, atividades, movimentos, constituições de coalizão de um determinado território. Segundo o autor quem promove o desenvolvimento regional são os atores da própria localidade a partir da adoção de estratégias com base nas potencialidades existentes em seu território, gerando a partir deste processo um consequente aumento do bem- estar da sociedade.

Conforme elencado anteriormente, Barquero (2001) apresenta algumas variáveis que são pertinentes a ocorrência do desenvolvimento endógeno. Estas estão representadas na figura

1 abaixo:

Figura1: Acumulação de capital Fonte: Barquero, 2001 p.19

As etapas da difusão das inovações e do conhecimento segundo o autor remetem a perceber que o desenvolvimento econômico e a dinâmica produtiva estão diretamente dependentes da introdução e propagação de inovações e de conhecimento, que por sua vez acabam impulsionando o processo de transformação e uma nova forma no sistema produtivo, já que a acumulação de capital é sinônimo de tecnologia e de conhecimento. Sendo assim, para que isso ocorra, é necessário que os atores participes do sistema produtivo local, tomem decisões adequadas que favoreçam investimentos em tecnologia e organização (MAILLAT, 2002). Esse processo é fator eminente na dinâmica do processo de inovação, já que conforme Schumpeter (1997) a inovação está ligada a produção de novos bens, à introdução de novos métodos de produção e à criação de novas formas de organização ou de abertura de novos mercados para produtos ou fatores. Estas inovações se caracterizam tanto como radicais ou incrementais, mas ambas as formas sempre serão resultado de uma cooperação coletiva tácita entre as empresas de uma determinada região, já que uma única organização não é capaz de realizar o papel de todos os atores pertencentes a este sistema produtivo.

Sobre a organização flexível da produção e o sistema produtivo, o autor afirma que a relevância está ligada muito mais na organização do sistema produtivo local, ou seja, na capacidade que estas organizações têm de se inter-relacionar com outras empresas, clientes, provedores e etc. do que com relação ao tamanho das empresas. Estas dinâmicas são importantes, pois este relacionamento, principalmente entre as empresas, que propicia o crescimento e uma mudança estrutural do sistema através de rendimentos crescentes ocasionados por uma economia que se transforma em escala e oculta. Essa relação também favorece pesquisas e desenvolvimento de novos produtos. Em resumo, “novas formas de organização do sistema produtivo, contribuem para que as empresas desfrutem de economias externas e internas e que façam uso das indivisibilidades ocultas do sistema produtivo, o que certamente contribui para os processos de crescimento econômico e mudança estrutural”. (BARQUERO, 2001, p.23).

Grande parte do processo de desenvolvimento ocorre em um meio urbano favorecendo ou exigindo então o desenvolvimento urbano do território. Isto ocorre, pois é no ambiente urbano em que ocorre a tomada de decisões de investimento, localização das indústrias, prestadores de serviço em sua maioria e etc.. É na parte urbana da cidade onde situa-se uma organização que propicia que os atores interajam para a troca de bens, serviços e conhecimento, segundo regras específicas institucionalizadas pela sociedade. É onde surgem as características mais propícias ao desenvolvimento endógeno que resultam em

externalidades que vão evidenciar e facilitar o surgimento de rendimentos crescentes através de um sistema produtivo diversificado que favorece a dinâmica econômica.

Com relação à flexibilidade e complexidade institucional, salienta-se que é inevitável acrescentar ao processo de desenvolvimento a participação de atores sociais que vivem em uma sociedade, que possuem uma cultura própria, formas e mecanismos próprios de organização. A atuação destes atores nas mais diversas sociedades possíveis se dará de formas diferentes e específicas de organização e de instituições que irão favorecer ou dificultar a atividade econômica nas instituições a qual atuam. Esta atuação quanto mais flexível, maiores serão as condições de competição das cidades e regiões, pois assim serão capazes de produzir bens públicos e gerar relações de cooperação entre atores para contribuir com a aprendizagem e a inovação. Por conseguinte, quanto maior for a capacidade dos atores sociais institucionalizados em atuar na integração de empresas em territórios, mais densa será as redes de relação envolvendo empresas, instituições de ensino e pesquisa, sindicatos, governos locais. Esta densa relação institucionalizada pelos seus agentes fará com que todos possam se utilizar com maior eficiência dos recursos disponíveis e assim melhorar a sua competitividade.

No caso das estratégias de desenvolvimento local, o mecanismo dinamizador seria representado pela resposta dos atores locais aos desafios colocados pelo aumento da competitividade, o que desencadearia os processos de desenvolvimento endógeno (BARQUERO, 2001).

Uma estratégia salientada por Barquero (2001), como vetor do tema é a iniciativa de estimular o surgimento e a expansão das empresas locais e favorecer o desenvolvimento dos recursos específicos que determinam a capacidade de atração de empresas externas.

A partir da concepção neo-shumpeteriana, onde o foco está nos processos de inovação, constitui-se um novo paradigma que é marcado pela acumulação flexível, produção descentralizada e menos dependente de economias de escala. Isso provoca uma ruptura no processo visto que vai a um sentido contrário ao que se determinava na época da revolução industrial. Ainda é possível perceber que esse novo paradigma possibilita um crescimento de pequenas e de médias empresas visto que essas condições favorecem o seu crescimento e desenvolvimento.

O processo de globalização da economia e da sociedade trouxe consigo um conjunto de situações que valem a pena serem estudadas no quesito desenvolvimento. A própria sistemática do processo, suas variáveis e sua forma de ocorrência vem despertando o interesse de diversos estudos visto que estes devem ser direcionados já que as variáveis apesar de serem

sistêmicas surgem de acordo com o ambiente onde se enquadram de maneira mais contingencial.

Indústrias, comércio, prestadores de serviço adquirem de maneira muito rápida uma dimensão global. Barquero (2001) diz que o Estado então há de ceder seu papel de protagonista e sua liderança para às empresas que possuem maior capacidade de inovação uma vez que novas tecnologias introduzidas por estas acabam fortalecendo o funcionamento das organizações e sua interação e sendo assim, beneficiando o Estado indiretamente.

No cerne da perspectiva do desenvolvimento econômico é tácito entre os pesquisadores que os processos de crescimento, desenvolvimento e mudança estrutural ocorrem por consequência da imersão de inovações no sistema produtivo. Estas não irão ocorrer se as empresas não dispuserem de condições para investimentos amparados por políticas públicas que se consolidem e sejam parceiras a este processo também juntamente com as universidades.

Já foi dito anteriormente que o processo de globalização vem reduzindo o papel do Estado na atividade econômica, também a privatização de atividades produtivas que seriam de caráter público e ainda a diminuição do papel das políticas redistributivas, industriais e regionais. O Estado acaba ficando apenas como um ente responsável pela condução positiva de condições econômicas e por favorecer ao funcionamento dos sistemas capitalistas. É a partir deste momento que os atores locais e regionais passam a empreender ações objetivando influenciar os processos de crescimento nas economias locais. Surge então a dinâmica da política do desenvolvimento local que acaba sendo uma resposta das comunidades frente aos reptos do fechamento das empresas, desindustrialização e consequente aumento do desemprego.

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