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1.2 As Teorias Modernas da Comunicação Social

1.2.5 A Teoria Funcionalista

A Teoria Funcionalista foi desenvolvida principalmente por Talcott Parsons (1963) e Charles Wright (1960) e baseia-se na constatação de que a sociedade humana se organiza a partir de funções (ou disfunções) sociais. Uma ação é classificada como função ou disfunção de acordo com o efeito que ela causa, e do

34 RÜDIGER, Francisco. Introdução à Teoria da Comunicação: problemas, correntes e autores. 2ª ed. São Paulo: Edicon, 2005. p. 48.

contexto em que está. Um acontecimento é funcional quando ajuda o funcionamento social, quando gera problemas ele se torna disfuncional. Os processos de ação social se estruturam em sistemas que visam reduzir as tensões e manter o equilíbrio da vida em comum.

Há uma mudança de enfoque nesta teoria: a sociedade deixa de ser o meio de realização dos indivíduos e passa a ser um organismo que necessita que cada indivíduo exerça a sua função para se manter vivo. Os sujeitos são motivados e têm suas atividades reguladas através de valores culturais interiorizados, adaptam-se aos “sistemas de valor vigentes (as semânticas dominantes)35” e desempenham os papéis previstos pelos subsistemas onde vivem, visando a manutenção do sistema social.

(...) a teoria sociológica do estrutural-funcionalismo salienta, (...) a ação social (e não o comportamento) na sua aderência aos modelos de valor, interiorizados e institcionalizados. O sistema social no seu conjunto é compreendido como um organismo, cujas diversas partes desenvolvem funções de integração e de conservação do sistema. O seu equilíbrio e a sua estabilidade realizam-se por meio das relações funcionais que os indivíduos e os subsistemas ativam em seu complexo.36

A funcionalidade da sociedade se dirige à solução de quatro problemas fundamentais: (1) a conservação do modelo social e o controle das tensões (através de mecanismos de socialização dos indivíduos visando a internalização de valores), (2) a adaptação ao ambiente (ajustamento do sistema ao ambiente social e não social através da sua organização interna), (3) a tentativa de atingir o objetivo social (o que só é possível através do cooperativismo de seus membros), e (4) a

35 RÜDIGER, Francisco. Introdução à Teoria da Comunicação: problemas, correntes e autores. 2ª ed. São Paulo: Edicon, 2005. p. 54.

36 WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Coleção leitura e crítica. p. 52.

integração (as partes que compõem o sistema devem estar inter-relacionadas e apresentar fidelidade entre si e com o sistema, evitando tendências desagregantes).

As funções e disfunções podem ser latentes (não reconhecidas e não desejadas conscientemente) ou manifestas (desejadas e reconhecidas). Cada subsistema é composto por todos os aspectos do sistema global que demonstram relevância na solução dos problemas fundamentais. Cada um tem propósito (intenção) e função (ação) próprios e interage com os demais, de modo que pode ser funcional ou disfuncional tanto para o sistema como um todo ou para um subsistema em particular. A comunicação é um subsistema, não é o único e não existe sozinho. O processo de comunicação sofre influência e também influencia, não existe isolado, a não ser como metodologia em uma pesquisa científica. Dificilmente o sistema social baseia-se em um único subsistema para solucionar seus imperativos funcionais. Vários subsistemas podem ter funções semelhantes e concorrer para a resolução de um problema.

O processo de comunicação se estrutura socialmente, comunicador e receptor são membros de um ou mais grupos sociais, nos quais exercem diferentes funções. Ao mudar de grupo, mudam de função e podem inverter os papéis de emissor e receptor de acordo com cada função social que desempenham. Os grupos sociais podem ser primários quando satisfazem as necessidades imediatas do indivíduo (como a família e os amigos), ou secundários, quando suprem necessidades sociais (como partidos políticos, igrejas, empresas). A comunicação se dá na partilha de informações e experiência comuns dentro destes grupos.

Os indivíduos se socializam e vinculam seu modo de vida a certos grupos durante sua vida, partilhando com eles suas experiências, seus valores e padrões de comportamento, na medida em que estes grupos constituem o meio em que satisfazem suas diversas necessidades sociais. Em conseqüência disso, esses grupos condicionam a produção e recepção de mensagens que circulam na sociedade, levando as pessoas a fazerem escolhas, interpretarem o conteúdo e reagirem praticamente diante delas conforme os critérios, valores e padrões de comportamento defendidos pelos mesmos. A comunicação não deve ser vista, portanto, como um processo puro e simples de influência, mas um processo de influência recíproca entre as pessoas, condicionado por sua pertença a um mesmo grupo social.37

Wright (1974) formulou uma espécie de inventário das funções dos meios de comunicação em relação à sociedade. Essas funções manifestam-se nas transmissões jornalísticas, informativas, culturais e de entretenimento, com relação à sociedade, aos grupos, ao indivíduo e ao sistema cultural (imaginário coletivo). O autor destaca ainda quatro tipos de atividades de comunicação, que seriam seus propósitos: vigilância do ambiente, interpretação dos eventos, transmissão cultural e entretenimento. Essas atividades não são exclusividade do sistema de comunicação, mas são normalmente exercidas pelos meios de comunicação de massa. Por exemplo, em relação à sociedade, a atividade de “difusão da informação cumpre duas funções: fornece a possibilidade, diante de ameaças e perigos imprevistos, de alertar os cidadãos: fornece os instrumentos para realizar algumas atividades cotidianas institucionalizadas na sociedade, como as trocas econômicas, etc”38.

Em relação ao indivíduo, podemos apontar três funções da comunicação: atribuição de status e prestígio às pessoas ou grupos escolhidos para receber apoio; reforço do prestígio dos indivíduos mais bem informados; reforço das normas sociais. Por outro lado, seriam disfunções a livre circulação de informações que

37 RÜDIGER, Francisco. Introdução à Teoria da Comunicação: problemas, correntes e autores. 2ª ed. São Paulo: Edicon, 2005. p. 60.

38 WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Coleção leitura e crítica. p. 56.

podem ameaçar a estrutura da própria sociedade, ou de notícias alarmantes que podem gerar pânico (em vez de um alerta de perigo consciente), ou ainda quando o excesso de informações acaba por gerar uma “disfunção narcotizante”39. As grandes empresas de comunicação contribuem para manter o sistema social não só pelo que dizem os meios de comunicação de massa, mas principalmente pelo que ocultam, e como possuem interesses econômicos e ideológicos, podem induzir ao conformismo.