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CAPÍTULO 3 A Teoria das Representações Sociais

3.6. A Teoria do Núcleo Central

Os autores responsáveis pela teoria do núcleo central encontram-se no sul da França, na região Mediterrânea, mais especificamente em Aix-en- Provence e Montpelier denominados grupo do Midi, sendo representados por Abric. Esse grupo, apesar da complementação à grande teoria, mantém a posição do conceito de representações associada à teoria original de Moscovici de 1961, adotando-a até os dias atuais.

Inicialmente, salientamos as funções das representações sociais elaboradas por Abric (1994 a, conforme citado por SÁ, 1996, p. 44), cuja divisão foi concebida da seguinte maneira:

1) Função de saber: elas permitem compreender e explicar a realidade. Por um lado, as representações facilitam a comunicação social, quando permitem trocas de saberes comuns entre os atores sociais através da transmissão e consequente difusão das informações no senso comum. Por outro lado, exerce a função de integração desses conhecimentos através da familiarização no ambiente social, tornando-os compreensíveis aos atores sociais e compatíveis com os valores assimilados por esses;

2) Função identidária: elas definem a identidade e permitem a salvaguarda da

especificidade dos grupos. As representações facilitam a integração entre

os valores históricos e as normas sociais que constituem a identidade dos grupos no contexto social. Salienta-se o papel de controle social existente

94 nas representações sociais quando, desde a socialização dos indivíduos, inicia-se a construção da identidade social através da influência particular de cada sujeito para com os outros membros dos grupos aos quais pertence.

3) Funções de orientação: elas guiam os comportamentos e as práticas. Através de ações seletivas de filtragem de informações que desembocam em interpretações do sujeito a respeito do objeto social com objetivos de construir o entendimento da realidade social a partir das representações, podemos assimilar que as representações sociais antecipam comportamentos e práticas sociais. Nesse sentido, define o que é lícito,

tolerável ou inaceitável em um contexto social (ABRIC, 1994a, conforme citado por SÁ, 1996, p. 44).

4) Funções justificatórias: elas permitem justificar a posteriori as tomadas de

posição e os comportamentos. Através das representações constituídas, os

atores sociais explicam, ao mesmo tempo em que justificam suas ações e práticas sociais, tanto no que diz respeito à situação do contexto social quanto, em relação aos seus pares sociais.

As funções atribuídas às representações sociais são compatíveis com a hipótese da organização interna elaborada por Abric em 1976, quando através da tese de Doctorat d'État de Jean-Claude Abric - Jeux, conflits et

représentations sociales na Université de Provence defende o seguinte

paradigma:

A organização de uma representação apresenta uma característica particular: não apenas os elementos da representação são hierarquizados, mas, além disso, toda representação é organizada em torno de um núcleo central, constituído de um ou de alguns elementos que dão à representação o seu significado. Abric (1994 a, apud Sá, 1996, p. 62).

95 Os resultados de pesquisas realizadas pelo professor Abric (1984 apud Sá, 1996) acrescentam que o elemento de reatividade constitui o núcleo central da representação social e portanto, com características significativamente importantes para a manutenção ou a mudança da estabilidade das representações sociais. De acordo com Abric, através dos elementos constituídos no núcleo central das representações, inicialmente, assimilamos o significado, maior ou menor, da interação entre o sujeito e o objeto de representação. A partir da construção do significado, as relações entre esses elementos se articulam e, formam a estrutura de como determinada situação social é representada pelo sujeito social. Em consequência, a conjuntura desses elementos do núcleo central determina como o sujeito social se comporta diante do objeto da representação. Ainda segundo o autor, a característica da estabilidade se mantém no núcleo central, apesar do acesso à informações que venham contradizer os elementos que lá se encontram. Essa característica faz com que as informações contraditórias sejam re-

interpretadas, seguindo os padrões adotados pelos elementos do núcleo

central.

A caracterização de núcleo central, atribuída por Abric (1994a, apud Sá, 1996), como subgrupo da estrutura da representação composto de elementos considerados centrais, cuja ausência, desestruturaria ou seria atribuído novos significados ás representações sociais. Em complemento a estrutura das representações, Flament, pesquisador do Grupo de Medi, articulou a importância dos elementos periféricos - aqueles que não pertencem ao núcleo central - para o funcionamento da estrutura representacional. Ao verificar diferentes incoerências existentes nos discursos ou em práticas a respeito de

96 objetos sociais, Flament (1987, 1989, 1994b, apud Sá, 1996) enfatiza a necessidade de assimilarmos a estrutura da representação como um todo, tanto o núcleo central quanto os elementos periféricos, para verificarmos a coerência das práticas apresentadas. Para melhor entendimento conferiu-se a qualidade de representação autônoma - quando o princípio organizador da representação é o núcleo central; ou não-autônoma - quando a organização da representação é revestida por diferentes temas, não sendo polarizado.

A característica da estabilidade possibilita ao núcleo central, de acordo com Abric (1994), conferir resistência às mudanças nas representações sociais. Além dessa característica as funções conferidas ao núcleo central são duas: a função geradora, a possibilidade de atribuir significado aos elementos existentes nas representações sociais. E a função organizadora, a qual determina a natureza das relações dos elementos configurados na estrutura da representação.

Com relação aos elementos periféricos ressaltamos cinco funções importantes na constituição das representações: a) concretização - resultam da ancoragem da representação na realidade; b) defesa do núcleo central - minimizam mudanças no núcleo central incorporando elementos novos ao sistema periférico; c) regulação - integra novos elementos a partir das informações novas do contexto social; d) prescritores de comportamentos - orientam as ações dos sujeitos envolvidos em determinada ação social e e) modulação personalizada das representações - permitem a manifestação das diferenças individuais.

A estrutura das representações sociais se estabelece em torno de duas "instâncias", de acordo com a Teoria do Núcleo Central, bem definidas e com

97 funções estabelecidas para a manutenção dos seus elementos - o núcleo

central e o sistema periférico - ambos se complementando.

O sistema central, o qual compõe o núcleo central, está ligado às condições históricas e sociológicas que se relacionam com os valores e as normas constituintes da gênese das representações, existentes nos grupos sociais. Em seu papel, mantém a homogeneidade e estabilidade das representações transcendendo a unidade temporal do imediato de um grupo (ABRIC, 1998). Ao contrário, o sistema periférico se encarrega de dar um tratamento aos elementos representativos do contexto atual dos grupos, lhes conferido características individuais ou peculiares para cada grupo que os compõe. Nesse sentido, o sistema periférico aponta para a integração das experiências do cotidiano conferindo-lhes significado e individualização das representações sociais (ABRIC, 1998).

Em vista disso, a nossa pesquisa encontra na teoria do núcleo central das representações sociais embasamento teórico metodológico para compreendermos a interação entre o funcionamento dos grupos e as condições sociais as quais pertencem os atores institucionais. Esse objetivo pode ser alcançado mediante o levantamento das representações sociais dos atores institucionais e de suas relações, considerando quatro características básicas que, segundo Abric (1998, apud CUNHA, 2000) sinalizam acerca da centralidade dos elementos do núcleo central, que são: 1) o valor simbólico - diz respeito a relação inegociável do núcleo central e ao objeto de representação baseada na significação que a representação tem para os grupos sociais; 2) o poder associativo - vinculada a polissemia dos elementos centrais, ao mesmo tempo que forma um conjunto de significações com os

98 elementos periféricos; 3) a saliência - corresponde ao lugar de destaque que os elementos do núcleo central ocupam no discurso dos grupos sociais, sendo observado pela alta frequência de evocação; e 4) a conexidade - através do poder associativo, podemos evidenciar os diferentes níveis de relações possíveis entre os elementos do núcleo central e os elementos periféricos.

O estudo das representações sociais procura mapear os elementos delas constituídas e relacionar a importância da participação desses elementos com as práticas sociais presentes entre os grupos sociais.

3.7. Metodologia de pesquisa com Representações Sociais: a exclusão