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O Fenômeno das Representações Sociais: por Moscovici

CAPÍTULO 3 A Teoria das Representações Sociais

3.3. O Fenômeno das Representações Sociais: por Moscovici

Moscovici (2003) remete a dois princípios para iniciar suas considerações: a) o pensamento primitivo está embasado na ideia do „poder ilimitado da mente‟ que conforma a realidade ao ser determinante no curso dos acontecimentos na medida em que a penetra e consegue ativá-la e b) o pensamento científico em que centra sua atenção no “poder ilimitado dos objetos” que por sua vez define os pensamentos e determina a sua evolução, ao passo que é interiorizado na e pela mente humana. Para o autor, ambas as ideias representam um aspecto real da relação que estabelecemos no mundo externo e interno de nós mesmos.

Nesse momento, o autor contesta a visão científica aqui posta de que os sujeitos normais reagem aos fenômenos sociais ou acontecimentos vividos assim como a ciência além da concepção de que o processar da informação constitui o compreender dessa realidade. Nessa contestação, os argumentos revelam que a forma de incorporarmos as informações diz respeito à nossa capacidade de fragmentar a realidade por intermédio das classificações que fazemos das coisas e das pessoas com as quais entramos em contato e, portanto, podendo tornar visível ou invisível um ou outro aspecto do que é compreendido nessa realidade. Outro argumento de contestação é a característica que possuímos de poder passar da aparência à realidade através de imagens e noções que nos fazem distinguir as aparências das coisas reais e

72 percebê-las de maneira diferente. E para finalizar nas argumentações Moscovici (2003), nos lembra a importância que o grupo da nossa própria comunidade representa quando reagimos aos estímulos, que constituem um tipo de reação comum a esse grupo em que estamos inseridos.

As representações ajustam os nossos sentidos perceptivos e cognitivos na compreensão desse mundo externo e nos orienta ao que deve ou não se tornar visível ou invisível em nossas respostas nas relações com o meio social. As informações que conhecemos ou reconhecemos se misturam às nossas imagens, aos nossos hábitos, à nossa herança genética e cultural que envolvem nossas lembranças, opiniões e percepções construídas para que essas informações sejam vistas da maneira que as vemos.

Outro aspecto importante diz respeito ao entendimento de como as representações sociais são independentes e ao mesmo tempo intervêm em nossa atividade cognitiva, determinando-a. Nesse sentido, as representações exercem como funções de „convencionalizar‟ (convencionalizam) os objetos ou as situações vividas ou pessoas da interação fazendo com que sejam definidas e categorizadas no contexto de partilha de informações a respeito desses (MOSCOVICI, 2003). Esse aspecto se envolve com a linguagem, com os condicionamentos adquiridos anteriormente e com a cultura vivenciada para que vejamos o que é possível ver. O que não nos impede de tornar a consciência desses mesmos aspectos, convencionais da realidade e, então tentar fugir das suas exigências, sob a forma de como perceber e, pensar essa realidade. Para tanto, é possível conhecer as nossas representações, explicitando-as e conhecer assim as convenções e preconceitos existentes

73 nessa nossa realidade, reconhecendo que essa representação pode ser entendida como um tipo de realidade.

Outra função atribuída às representações é que ela é prescritiva pela imposição que ela faz entre as pessoas ou grupos, como se decretando o que „deve ser pensado‟. Com isso, as representações são impostas a nós pelos sistemas de classificações, das imagens e até mesmo discrições científicas o que implica em um elo de prévios sistemas da memória construída coletivamente com suas imagens e sistemas de linguagem, refletem conhecimentos anteriores e rompem com a informação momentânea e presente. Esse elo indica o poder que as representações têm na realidade por intermédio das experiências e ideias do passado que mantêm continuidade no momento atual.

É importante sabermos que, a partir dessas funções, as representações são compreendidas como de natureza capaz de propiciar mudanças de comportamento nos seres humanos em seus grupos e sociedades. Elas (RS) são os produtos de nossas comunicações e consequentemente, de nossas ações e podem se tornar conscientes de seu formato de expressão e argumentação no discurso do grupo com possibilidades de mudanças quando novas representações surgem e podem condicionar ou até mesmo responder pelos comportamentos manifestados entre as pessoas. Ela é reconhecidamente social porque é compartilhada e reforçada pela tradição do grupo e não necessariamente porque se refere a um objeto coletivo ou porque apresenta uma origem coletiva (MOSCOVICI, 2003).

Surge a questão do que seria uma sociedade pensante e Fregue (1977, apud MOSCOVICI, 2003) considera o pensamento como a principal forma de

74 influência de uma pessoa sobre outra. Com isso a necessidade de compreendermos a respeito das circunstâncias onde os grupos se comunicam,

tomam decisões e também omitem ou revelam suas questões bem como

entender mais profundamente as crenças, as ideologias e as representações que norteiam as ações sociais (MOCOVICI, 2003, grifo nosso). Pensar diferentemente disso implica a crença de que as pessoas são simplesmente condicionadas pelo meio ao receberem informações, sem pensar a respeito ou, em outro sentido, acreditar que a sociedade está sempre submetida à sua classe social que impõe suas ideologias e faz com que apenas sejam reproduzidos os comportamentos socialmente aceitos, portanto não pensando a respeito do que experienciam. Para o autor existe sim a capacidade pensante dos grupos e que pela comunicação se reorganizam e buscam entre si suas próprias soluções de conflitos sociais. Essa troca pode ocorrer em qualquer lugar do cotidiano e os temas científicos e ideológicos que surgem servem de „argumento‟ para a construção de novas representações envolvidas em seus pensamentos.

Formular a ideia de representação remete o autor a uma maneira específica de compreender e comunicar o que já faz parte do conhecimento do grupo e faz isso quando iguala toda imagem a uma ideia e vice-versa. E se utiliza da linguagem que quando traz consigo representações “localiza-se a meio caminho entre a linguagem de observação e a linguagem lógica” (MOSCOVICI, 2003, p.46) (fatos e símbolos abstratos). Outra característica das representações considerada é a dinamicidade de suas estruturas, sua plasticidade que é reconhecida na presença e ausência de comportamentos que se modificam durante as relações humanas. Re-significar a forma como as

75 sociedades pensam (discordando inclusive da posição de Durkheim) é visto como uma maneira de re-constituir o “senso-comum”. Assim, as representações sociais que constantemente se transformam ao ser compartilhadas influenciam nessas mudanças do pensar o social e propiciam a corporificação de ideias.

A construção do pensar social a respeito da exclusão nos envolve neste trabalho de pesquisa e nos faz articular com a teoria e a metodologia sugerida pela Teoria das Representações Sociais. Além disso, nos faz também criar ou sugerir diferentes construções metodológicas que favoreçam a corporificação do pensar do fenômeno da exclusão social. Essa construção tem o seu espaço no nosso próximo tópico do trabalho.

3.4. Representações Sociais da Exclusão: a construção de um referencial