• Nenhum resultado encontrado

Representações Sociais da Exclusão: a construção de um

CAPÍTULO 3 A Teoria das Representações Sociais

3.4. Representações Sociais da Exclusão: a construção de um

O início de uma pesquisa parte de uma concepção do que se quer conhecer, pesquisar, investigar. Parece claro, mas Fourez (1995) refere-se a esse momento como matriz disciplinar e ainda define disciplina científica ou

paradigma como uma estrutura mental, consciente ou não, que serve para

classificar o mundo e poder abordá-lo (p.103). O paradigma está influenciado por um conjunto de ideias e que partilham de um contexto cultural vivenciado.

Afinal, quais são as condições para o nascimento de uma disciplina? Fourez (1995) tem em seus argumentos que é inevitável a influência das condições econômicas, bem como, as culturais e sociais de uma época durante a construção ou elaboração de uma nova maneira de ver o mundo. O autor exemplifica a informática como disciplina de nascimento recente com atributos

76 científicos necessários como uma técnica determinada, noções de comunicação e informação associadas, bem como os problemas a esses atrelados no contexto comunicacional. Em foco essa disciplina define e redefine o que é informação e comunicação e constrói paradigmas em torno de seus conceitos.

O autor considera que para a base de uma disciplina científica são necessários alguns elementos como: estruturas mentais, instrumentos, certas regras em comum, normas culturais e práticas que fazem com que os estudos a respeito do mundo se organizem e se aprofundem. Esse conjunto de ideias delimita classificações a respeito do que conhecemos como, por exemplo, a distinção entre fenômenos físicos de fenômenos químicos o que determina a base de pensamento das teorias posteriores. As evidências associadas a essas classificações surgem, segundo Fourez (1995), depois que a disciplina científica se estabelece. Isso não que dizer que ela perdure então, o paradigma pode ser posto em questão e recolocado na comunidade científica.

De acordo com Heidegger (1958, conforme citado por Fourez, 1995), “a ciência não atinge mais do que aquilo que o seu próprio modo de representação já admitiu anteriormente como objeto possível para si”. Nesse sentido o objeto de pesquisa surge dentro e pela disciplina que a complementa e ainda tem a possibilidade de variedade desse objeto na medida em que a disciplina „evolui‟ ou avança em seus conceitos. Mais adiante contextualizaremos a respeito do conceito de representação que serve de referencial teórico de pesquisa e nas ciências humanas.

A ciência surge do discurso cotidiano e aos poucos estrutura-se em torno de discursos sistemáticos embasados pela cientificidade. Fourez (1995)

77 considera que um paradigma estabelece uma ruptura com os projetos da vida cotidiana. Em contraste com essa ideia, Laville e Dione (1999) revelam as concepções construídas no que por eles foi denominando “senso comum” como saber ou explicação espontânea é “com freqüência, enganador” (p. 18). Em nossa visão o senso comum constitui fonte de investigação e de saber que se manifesta e que influencia as comunidades científicas em suas elaborações. Os estudos científicos definiram a Psicologia como ciência no laboratório de Leipzig onde Wundt desenvolvia trabalhos em busca da definição do objeto de pesquisa dessa área do conhecimento. A psicologia experimental foi entendida como um campo concreto da construção do conhecimento psicológico e as funções psíquicas fizeram parte das orientações de trabalho de Wundt (REY, 2005).

Para Wundt, os processos complexos do pensamento humano não seriam suscetíveis de método experimental, bem como os aspectos sociais dos processos mentais pelo que objetivou especificar o lugar do experimento do desenvolvimento da ciência psicológica (REY, 2005).

De acordo com Farr (1998, conforme citado por Rey, 2005) Wundt estabeleceu três metas em sua vida e configurou as seguintes ideias a serem concretizadas: a) a psicologia experimental, b) uma metafísica científica e c) a psicologia social. Ele manifestava a ideia de que o desenvolvimento da psicologia caminhava e favorecia os avanços da filosofia, mas a influencia da filosofia alemã não o permitiu estabelecer a ligação da psicologia aproximada às ciências naturais. Apesar disso, continuou seus interesses em torno dos estudos da vida coletiva.

78 Para Wundt, os aspectos sociais da psicologia deveriam se apoiar na história e limitou-se a afirmar que a psicologia teria seu desenvolvimento como ciência na medida em que considerasse a importância do histórico. Mesmo assim não especificou como ocorre a mudança do histórico para o psicológico (REY, 2005). Esse aspecto apresentado à psicologia delimita uma grande mudança paradigmática a respeito das pesquisas psicológicas e direciona para outros caminhos as possibilidades de trabalho para a psicologia e especificamente para a psicologia social.

Nesse avanço, Moscovici (2005) ressalta a sua discordância quanto a Mead no que diz respeito à intersubjetividade e ao considerar que durante o início de uma interação, seja com um sorriso ou um gesto vocal, suscita reações no outro no entanto, existe a construção do que foi nomeado de „campo de significações comuns‟ aos indivíduos quando ao reagirem tomam consciência de seus movimentos e da relação que se estabelece e de suas próprias ações tendo como resultado o pensamento. Portanto, na medida em que o pensamento é acompanhado pela linguagem e pela consciência do que ocorre na interação, ele escolhe significações comuns e passa a controlar a comunicação com o outro, ao sabor das situações da realidade presenciada. Essa construção retrata parcialmente as práticas sociais construídas no dia a dia dos grupos sociais.

A teoria das Representações Sociais aponta para a perspectiva de que o senso comum nos indica argumentos científicos relacionados às representações que construímos e que influenciam diretamente as práticas sociais nos grupos e no estabelecimento dessas relações no social. Faremos

79 um panorama das principais ideias que a teoria abarca para sistematização desse novo paradigma trazido por Moscovici em meados dos anos 60.

3.5. A Teoria das Representações Sociais: uma abordagem teórica de