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Metodologia de Pesquisa com Representações Sociais: a exclusão

CAPÍTULO 3 A Teoria das Representações Sociais

3.7. Metodologia de Pesquisa com Representações Sociais: a exclusão

Do ponto de vista metodológico é sabido que como acontece em qualquer teoria da psicologia social, utilizam-se recursos para analisar e compreender os fenômenos do senso comum na intenção de análise mais rica de detalhes para uma possível compreensão do contexto social. Apesar disso, a complexidade do contexto e dos objetos de pesquisa na psicologia social nos leva a utilização de diferentes métodos de intervenção para a investigação nesse referencial teórico-metodológico (Jodelet, 1989; Moscovici, 1992; apud Pereira, 2005).

Atualmente muitos softwares são utilizados para analisar os dados referentes aos objetos de representação social dentre eles: Nud. Ist (QSR), The Etnograph, Atlas.ti, Tri Deux Mots, Evocacion 2000, Similitude 2000, Spad-T, ALCESTE, entre outros do circuito desse contexto de referência teórico- metolológico (PEREIRA, 2005). Nesse referencial o autor aponta para uma abordagem quanti-quali (PEREIRA, 2005), que a nosso ver pode ser

99 questionado tendo em vista as análises quantitativas de frequência e hierarquia utilizadas em alguns softwares.

Com o referencial da Teoria do Núcleo Central, Abric (1976, apud Pereira, 2005) as representações se organizam em dois grandes sistemas onde podemos metodologicamente nos localizar e selecionar o mecanismo de acesso aos dados do fenômeno social investigado. O esquema se apresenta como na Figura 2, assim:

Ancoragem Princípios Campo das Organizadores Representações

Dados Atitudes Conteúdos das Sóciodemográficos Representações Sociais

Estrutura das Representações (Núcleo Central e Sistema Periférico) Figura 2: Articulação entre os vários componentes das Representações

Sociais (Fonte- Abric, 1976, apud Pereira, 2005).

A figura demonstra uma visão de como a representação social se materializa em uma estrutura mental e parte de um princípio estruturalista de entendimento enquanto corrente de pensamento baseado em Abric com a Teoria do Núcleo Central e a Teoria dos princípios geradores proposta por Doise (1986) com a teoria dos princípios geradores de tomada de posição.

Para compreendermos melhor esse modelo de operacionalização da constituição das representações delimitaremos alguns conceitos importantes que permeia essa construção teórico-metodológica:

O campo das representações é constituído por um saber comum que objetiva um conceito e uma imagem ou um esquema figurativo (Spini, 1997, conforme

100 citado por Pereira, 2005) que é expressa pela produção do discurso dos sujeitos pesquisados onde encontramos as representações sociais.

A argumentação para o entendimento de dados qualitativos é definida por Pereira (2005) como o fato de os sujeitos poderem expressar livremente as suas ideias que dão corpo à teoria de sua própria mente. Nesse referencial metodológico, apontam-se alguns artifícios para construir o instrumento de pesquisa:

a) a rede associativa – essa técnica implica solicitar ao sujeito que elabore evocações em torno de um estímulo específico, colocado em um círculo e ao centro do instrumento, e estabeleça uma árvore de ligações entre este e outras ideias que surgem apresentando também a hierarquia de importância dos elementos que surgem naquele momento com indicações de positivo, negativo ou neutro para essa hierarquia.

b) as evocações livres – outra técnica que também apresenta um estímulo e é solicitado que se façam associações livres de palavras e frases e as devidas hierarquias de graus de importância.

c) A carta associativa (ABRIC, 1994) – nessa técnica apresentamos um percurso de associações para o sujeito. Inicialmente apresentamos o estímulo principal e depois de dada a resposta, solicitamos a associação entre este resultado com o estímulo principal.

d) A escolha de dados qualitativos (VERGÈS, 1993, apud Pereira, 2005) – os sujeitos recebem um conjunto de estímulos já investigados em pesquisas anteriores e que constituem-se significativos e solicitamos que os sujeitos estabeleçam ligações (linhas são feitas) entre os elementos apresentados

101 (PEREIRA, 2005). Este instrumento pode ser compreendido à luz da análise de similitude proposta por Vergès.

A análise de dados pode ser feita de diferentes maneiras como utilizando a estatística (a análise de semelhanças, análise fatorial, etc.) Nessa perspectiva, consideramos que, em muitos casos, pode haver a necessidade de complementaridade entre as técnicas na intenção de investigar a lógica natural do pensamento dos grupos e as ideias que circulam na sociedade e como se organizam em termos cognitivos na mente dos pesquisados (PEREIRA, 2005).

No entanto, Moscovici (2003) nos lembra que a realidade percebida é fragmentada aos nossos olhos tendo em vista o processo de classificação que utilizamos ao incorporar as informações do nosso cotidiano. E que também podemos compreender a nossa realidade por intermédio de fatos e passar desse referencial para o referencial ilusório facilmente, ao lidar assim com o trânsito entre a aparência e o que realmente representa o que estamos percebendo de real. E essa realidade sobre sérias influências da comunidade a qual pertencemos, estamos imersos e nos „embebedamos‟ e, desse modo, não constatamos a realidade „inteira‟ mas a parcela que nos compete. Com isso o autor aponta que as representações sociais fazem parte dessa realidade percebida por cada grupo e direcionam o que é visível aos nossos olhos. Metodologicamente, precisamos de pelo menos mais de um formato de investigação das representações sociais para aprofundarmos nos fenômenos que a luz de determinado grupo é “traduzido”. Assim, a importância da possibilidade da diversidade de métodos nesse processo de investigação em

102 representações para que possamos „ver com o olhar do outro‟ por diferentes prismas.

Esse “olhar”, essa representação social por vezes nos parece não estar relacionada a nossa maneira de pensar e no entanto elas correspondem a mudanças que acontecem no decurso do tempo como produto de elaborações sociais como resultado de sucessivas gerações. As informações do presente são rompidas com elos construídos entre sistemas de imagens, nas reproduções da linguagem e estratificações na memória coletiva, podendo consequentemente dar essa impressão ao sujeito que a avalia. Para Moscovici (2003) o poder das representações pode ser visto da seguinte maneira: “elas controlam a realidade de hoje através da de ontem e da continuidade que isso pressupõe” (p. 38).

Nesse sentido, o conceito e a percepção de determinado objeto se entrelaçam e dessa maneira se engendram e não é entendida como mecanismo intermediário entre a percepção e o objeto. Assim a representação está na gênese da relação com o objeto quando, do ponto de vista conceitual, a presença do objeto pode ser considerada inútil ao contrário da percepção que necessita da presença do objeto para se constituir e a representação mantém essa oposição e se desenvolve nesse processo de reconhecimento do objeto (MOSCOVICI, 1978).

Na busca pelo conhecimento de como o sujeito pode estabelecer relações com um objeto de representação, sugerimos nesse estudo investigar na história de vida de um sujeito, quais são as suas memórias pessoais relacionadas a momentos de possíveis vivências de exclusão. Quando o indivíduo é tomado como foco exclusivo na construção da produção e da

103 evocação dessa memória, Sá (2005) considera como memória pessoal o conceito atribuído. Connerton (1993, apud Sá, 2005) define memória pessoal da seguinte maneira: “aqueles atos de recordação que tomam como objeto a história de vida de cada um..., que se localizam em um passado pessoal e a eles se referem” (p. 73), diferenciando de memória cognitiva o qual entende como os conhecimentos adquiridos no passado do sujeito. Aquelas são memórias sociais em sentido duplo, quando na sua construção e no seu conteúdo, no entanto, o lócus da construção desse processo vivencial se aloja na pessoa, no sujeito que „fala‟.

Delimitamos a forma como o nosso sujeito será escutado, ouvido e compreendido em nossa metodologia de pesquisa dentro do referencial teórico acolhido e apreciado no nosso trabalho.

O conceito de exclusão social é percebido pelas diferentes áreas do conhecimento como uma ideia complexa e de diferentes panoramas teóricos, de acordo com o olhar que cada pesquisador constrói. Nesse sentido, no próximo capítulo iniciaremos uma organização de idéias ainda em estudo para que possamos ao final do processo de pesquisa consolidar, de maneira mais personalizada, o que consideramos em relação à exclusão social e sua vinculação com a educação no contexto das representações sociais e da teoria socionômica.

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