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A UMESP e a formação docente

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3 A CRISE NAS LICENCIATURAS: O CENÁRIO E A

3.2 As licenciaturas no Grande ABC

3.2.3 A UMESP e a formação docente

A última década na Universidade Metodista de São Paulo foi marcada por séria crise, especialmente para os cursos de licenciatura. O ano de 2009 foi um importante período, pois foi aberto e estimulado pela reitoria espaço para discussões sobre os problemas de captação de alunos vividos pela instituição, no que tange aos cursos de formação docente, considerando o plano e missão da mantenedora frente ao compromisso social de formação das novas gerações a partir da educação básica brasileira.

Em 2009, a Universidade oferecia alguns dos cursos de formação docente nas modalidades presencial e EaD, os quais são apresentados na Tabela 24.

Tabela 24 – Licenciaturas oferecidas pela UMESP no ano de 2009 e suas modalidades.

LICENCIATURAS OFERECIDAS PELA UMESP NO ANO DE 2009 E SUAS MODALIDADES

LICENCIATURAS MODALIDADES

Ciências Biológicas Presencial

Ciências Sociais EaD

Educação Física Presencial

Filosofia Presencial e EaD

Letras Português e Espanhol EaD

Letras Português e Inglês Presencial

Matemática Presencial

Pedagogia Presencial e EaD

Fonte: Tabela elaborada pela Autora a partir de registros de Atas do Grupo de Trabalho que discutia a crise das licenciaturas na UMESP.

Tais cursos começavam a apresentar problemas relacionados à baixa procura de alunos ingressantes associados a uma alta evasão, o que motivou os gestores institucionais (reitor, pró-reitora e diretores das faculdades) à organização de fóruns de coordenadores das licenciaturas para discussões, análise e tomadas de decisão na tentativa de reverter o quadro relatado.

Os encontros objetivavam investigar os motivos da baixa atratividade dos cursos de formação docente, além do levantamento de estratégias para a captação de alunos, considerando os diferentes perfis dos cursos de licenciaturas.

O fórum, após muitas discussões, organizou, no primeiro semestre de 2010, um documento intitulado: “Pró-política de Licenciaturas na Universidade Metodista de São Paulo” (UMESP, 2010), que indica a necessidade de uma política institucional de apoio às licenciaturas para enfrentamento de uma crise institucional, sabedores, por meio de estudos e pesquisas, de que a crise não é apenas na

UMESP, mas tem caráter nacional. A partir desse encaminhamento, nasce o “Programa Institucional das Licenciaturas” (PIL), envolvendo um curso por área diferente de conhecimento. Assim, representando a área de humanas foram escolhidos os cursos de Filosofia e Pedagogia, na área de exatas o curso de Matemática, e na área de biológicas o curso de Ciências Biológicas.

Dentre os cursos participantes do PIL, o mais procurado pelos alunos é o de Pedagogia, que estrategicamente foi escolhido para a composição do programa, objetivando-se, dessa forma, um apoio financeiro para os demais cursos. Desde a criação do PIL, o curso de Pedagogia tem formado duas turmas com mais de 80 alunos, e compensando, de certa forma, a procura menor pelos outros cursos do programa.

O curso de Licenciatura em Educação Física, de acordo com a legislação vigente, encontrou caminhos de manter-se, porque seu projeto pedagógico foi organizado de forma a correlacionar licenciatura e bacharelado na modalidade de complementação dos estudos, criando sustentabilidade financeira.

Os cursos de Ciências Sociais (EaD), Letras Português/Espanhol (EaD), Letras Português/Inglês (presencial) continuaram a ser oferecidos, mas, desde 2011, não mais formaram turmas. A licenciatura em Filosofia (EaD) deixou de ser oferecida no vestibular com o objetivo de concentrar a procura no curso presencial, evitando concorrência entre as modalidades.

A Tabela 25 apresenta os cursos de licenciatura oferecidos no ano de 2017, para ilustrar o panorama atual das licenciaturas na UMESP.

Tabela 25 – Licenciaturas disponibilizadas pela UMESP no ano de 2017 e suas modalidades. LICENCIATURAS DISPONIBILIZADAS PELA UMESP NO ANO DE 2017 E SUAS MODALIDADES

LICENCIATURA DURAÇÃO MODALIDADE STATUS

Ciências Biológicas

4 anos Presencial Turmas formadas Educação Física Filosofia Matemática Pedagogia Pedagogia 4 anos

EaD Turmas formadas

Ciências Sociais

Presencial Não formação de turmas Letras Português

2ª Licenciatura em Ciências Biológicas

18 meses EaD em fluxo contínuo Turmas formadas 2ª Licenciatura em Ciências Sociais

2ª Licenciatura em Matemática

2ª Licenciatura Letras Língua estrangeira Espanhol 2ª Licenciatura Letras Língua Portuguesa

2ª Licenciatura em Pedagogia

Observamos nos dados apresentados na Tabela 25, em comparação com a Tabela 24, que a Pedagogia de formação inicial EaD é o único curso de licenciatura ainda oferecido de 2006 (ano de seu primeiro oferecimento) até 2017; os demais não mais formaram turma e, a partir de 2011, ponto alto da crise das licenciaturas, foram descontinuados na modalidade EaD.

No ano de 2017, o curso de Ciências Sociais passou para a modalidade presencial e o curso de Letras Língua Portuguesa, que já existia no presencial, tiveram seus projetos pedagógicos modificados seguindo os princípios do PIL, mas não formaram turma e nem foram incluídos no programa. Outras mudanças ocorreram, dentre elas, a criação dos cursos de segunda licenciatura em Ciências Biológicas, Ciências Sociais, Letras Língua Estrangeira: Espanhol, Letras Língua Portuguesa, Matemática e Pedagogia que, a partir do ano de 2017, com base na Resolução nº 2 (BRASIL, 2015b), foram organizados e oferecidos na UMESP.

Os cursos de segunda licenciatura têm carga horária de 1200 horas e são oferecidos na modalidade EaD. Os conteúdos são trabalhados no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e organizados a partir de planejamentos semanais de 20 horas, que incluem aulas gravadas de 90 minutos em consonância com outras atividades para leituras e reflexões sobre as temáticas em pauta na semana, organizada pelo professor conteudista/temático com apoio do professor tutor. Ainda na composição das horas semanais, os cursos oportunizam momentos síncronos de 100 minutos de contato direto com o docente responsável pelos conteúdos da semana, o que ocorre por meio da Blackboard Collaborate43.

O modelo pedagógico dos cursos de segunda licenciatura é de aula invertida. Os materiais são disponibilizados no AVA – Moodle44 uma semana antes do encontro síncrono entre docente e alunos, para enriquecimento e aprofundamento dos conteúdos da temática da semana. Esse encontro síncrono representa diferencial por seu caráter interativo de troca e socialização de conhecimentos. Vale destacar que, nesse modelo pedagógico, o alunado desenvolve as atividades propostas pelo curso com autonomia na escolha de dias e horários, não sendo o momento síncrono obrigatório. As atividades avaliativas são postadas pelos

43

BLACKBOARD COLLABORATE – Ferramenta para aprendizagem interativa on-line, por meio da qual os docentes e alunos se encontram virtualmente e que possibilita aprofundamento dos conteúdos trabalhados na semana (N.A.).

44 AVA – MOODLE – Plataforma de aprendizagem a distância utilizada pela UMESP como Ambiente

Virtual de Aprendizagem (AVA), espaço esse no qual são disponibilizados todos os materiais necessários para o trabalho pedagógico da semana (N.A.).

discentes no AVA e o único compromisso presencial dos alunos ocorre nas datas de provas presenciais no polo (duas no semestre).

A proposta foi criar projetos pedagógicos o mais sintonizado possível por meio de núcleos comuns, módulos cujos conteúdos são idênticos e necessários para todas as licenciaturas, dividindo, assim, os custos entre os seis cursos. São os módulos de núcleo comum: Formação Cidadã (20h), Linguagens, Filosofia, Educação em Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos (100h) e Educação, Inclusão e de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS – 60h). Subtraídas as horas de estágio (300h), os módulos de núcleo comum totalizam 20% da carga horária dos cursos. Os polos de apoio presencial são necessários apenas para o vínculo com a sede e realização das provas.

Retomando as reflexões sobre o PIL, é interessante pensar nos motivos que levaram a instituição à abertura desses cursos em período de crise das licenciaturas, com a opção de contemplar apenas quatro cursos presenciais no Programa Institucional das Licenciaturas.

Os cursos de Ciências Sociais e Letras Língua Portuguesa, oferecidos agora na modalidade presencial, de tão baixa procura, não conseguem abrir turmas. Existe grande empenho por parte das coordenações para que esses sejam incorporados no PIL e a expectativa para ampliação do programa com novos cursos é grande.

Frente ao observado, a partir das tomadas de decisão da UMESP com relação às licenciaturas, vive-se um paradoxo. A instituição procura sustentar seu discurso confessional missionário por meio de uma proposta libertadora e democrática de educação e, ao mesmo tempo, tenta sobreviver no mercado educacional cada vez mais dominado por um sistema neoliberal.

Segundo Laval (2004):

A escola que antigamente encontrava seu centro de gravidade não somente no valor profissional, mas também no valor social, cultural e político do saber, valor que era interpretado, de resto, de maneira muito diferente segundo as correntes políticas e ideológicas, está orientada, pelas reformas em curso para objetivos de competitividade que prevalecem na economia globalizada (LAVAL, 2004, p. XIII). O modelo empresarial tem dominado a lógica escolar e, de certa forma, a tem desfalcado de seus princípios e finalidades. Assistimos na Universidade a esse fenômeno. Segundo Laval (2004), a escola, enquanto instituição, vive uma intensa mutação que se associa a três tendências: a desinstitucionalização, a desvalorização e a desintegração.

A desinstitucionalização a coloca como produtora de serviços que perde a cada dia sua própria autonomia, estando regida pelos ditames do mercado. A desvalorização caracteriza-se como a transmutação dos valores institucionais da escola de emancipação política, cultural e social dos sujeitos em valor econômico e, a última tendência, a de desintegração, ocorre quando a instituição se envolve na incorporação de tendências de mercado como: aluno-cliente, educação-produto, forçando, assim, um novo modelo de instituição cada vez mais parecido com o empresarial (LAVAL, 2004).

Nesse sentido, identificamos na UMESP um processo de crise também de sua identidade confessional, quando confronta seus ideais de valorização da vida humana nos seus aspectos de justiça social, de construção intelectual e estética em conflito com as exigências e características da modernidade líquida e com o pensamento neoliberal, colocando em tensão, dessa forma, a sua própria missão e finalidade. Porém, quando observamos a crise das licenciaturas no contexto nacional, constatamos que a UMESP encontrou um interessante caminho de enfrentamento para essa problemática.

O Programa Institucional das Licenciaturas, objeto do próximo capítulo, é uma tentativa da UMESP de não abandonar seu importante papel social frente à formação humana e exercer sua autonomia universitária em confronto e resistência às pressões externas que envolvem sua sobrevivência no meio acadêmico e de mercado. De um lado, encontram-se as instituições privadas que visam lucro, pois enxergam a educação como negócio e, por outro lado, as instituições públicas, que historicamente atendem as classes mais privilegiadas da população brasileira. Em meio a esses espaços educativos, estão às instituições confessionais, dentre elas, a UMESP que, no contexto nacional de crise das licenciaturas, desenha horizontes favoráveis por meio do PIL.

Capítulo IV

Nascido no Recife, menino de uma geração que cresceu em quintais, em íntima relação com as árvores, minha memória não poderia deixar de estar repleta de experiências de sombras. Marcada por um gosto especial pelas sombras, que as gentes nascidas nos tópicos cedo incorporam e dele falam como se tivessem nascido com ele.

4 O CASO: A PROPOSTA DESENVOLVIDA PARA

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