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Sumário

CAPÍTULO 3: URBANIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO E AS CIDADES NA ESFERA INTERNACIONAL

3.2 Urbanização na América Latina: um quadro geral (1930-2000) 1 A urbanização na América Latina entre 1930-

3.2.3 A urbanização na América Latina entre 1990-

Com a nova década, começam a surgir termos como cidades globais, cidades-mãe, cidades- rede, cidades mundiais. (BARROS, 2000)

A década de 1990 foi marcada pela busca, por parte dos países em desenvolvimento, da superação da inflação, das reformas econômicas, do saneamento do sistema financeiro, da redução do déficit fiscal, expansão do setor privado na economia, do aumento das exportações e da criação de condições adequadas para a captação de investimentos estrangeiros que propiciassem a expansão econômica.

A concentração econômica produzida em grandes e importantes centros urbanos fez com que estes se transformassem em centros de decisão e de relações com a nova ordem econômica e financeira mundial. (RODRÍGUEZ, 2006)

De acordo com Norma Rodríguez (2006), cidades globais seriam aquelas que exercem função específica na economia mundial, e são caracterizadas pela forte concentração de população. No caso da América Latina, cidades como São Paulo, Cidade do México, Buenos Aires, Rio de Janeiro e Santiago do Chile, produziriam sua integração à rede mundial e ao sistema de acumulação, mas se comportariam como periferias. No entanto, produz-se a conhecida dualidade: por um lado, essas cidades estão conectadas ao mundo; por outro, parte considerável de sua população se encontra em situação deplorável.

Durante a década da vigência do liberalismo ortodoxo, o setor de serviços desenvolveu-se com grande ênfase; já não são mais as indústrias as principais captadoras de mão de obra. Ao lado de serviços de alta qualidade e tecnicidade, com empregos de alta remuneração, coexiste o setor informal — e que apoia as necessidades do setor formal. (RODRÍGUEZ, 2006).

As transformações que as grandes cidades sofreram fizeram com que fossem consideradas como agentes de uma “revolução urbana” (ASCHER, 2001). Houve mudanças na morfologia, na organização e no funcionamento e na própria arquitetura das cidades. (MATTOS, 2006) Além disso, haveria que se agregar as peculiaridades das áreas ocupadas pelos setores médios, onde a periurbanização e a gentrificação aparecem como modalidades residenciais que influem em uma nova morfologia urbana. Há, de um lado, a recuperação de algumas áreas centrais e antigas. Há os que se deslocam para áreas semirrurais. (MATTOS, 2006).

Na Cidade do México, por exemplo, houve maior crescimento fora do perímetro urbano, em direção às cidades pequenas e médias, relativamente afastadas do núcleo central da capital. Essas tendências podem ser comprovadas não somente em metrópoles de maiores dimensões, mas em algumas menores, como La Paz, Montevidéu, Cidade do Panamá e San José de Costa Rica. (MATTOS, 2006)

Houve o aparecimento de bairros externos, destinados aos setores de renda mais alta, o que inclui desde cidades amuralhadas e clubes de campo, verdadeiras cidades-satélites privadas (Alphaville, em São Paulo; Nordelta, em Buenos Aires; Piedra Roja, em Santiago)55 (MATTOS,

2006).

No que diz respeito às empresas, muitas funções e atividades se deslocaram para áreas mais afastadas do âmbito metropolitano. Seguindo essa lógica do deslocamento, a construção de edifícios e/ou conjuntos corporativos promoveu a verticalização de algumas áreas intermediárias ou periféricas. Em algumas cidades, chegaram a aparecer complexos imobiliário-empresariais, que, em alguns casos, contribuíram para a formação de novas centralidades periurbanas. São exemplos o Centro Corporativo Santa Fé, na Cidade do México; o Centro Berrini, em São Paulo; de Catalinas e Puerto Madero, em Buenos Aires; Cidade Empresarial, de Santiago do Chile. (MATTOS, 2006)

Na mesma direção, alguns serviços pessoais, como os relativos à saúde, educação, administração pública e privada, comércio etc. tenderam a seguir os deslocamentos das famílias. Na Cidade do México, o processo afetou principalmente três áreas centrais da cidade: Miguel Hidalgo, Benito Juárez e Cuauhtemoc. Observa-se o deslocamento inicial, ainda no período industrial- desenvolvimentista, desde o centro histórico, em direção ao Paseo de la Reforma, e a Polanco, 55 Bairros deste tipo já existiam na fase anterior em Bogotá e na Cidade do México, por exemplo.

que logo se desviou em direção ao sul da cidade, seguindo preferentemente a direção da Avenida Insurgentes, para depois se dispersar mais amplamente em torno do Periférico Sul e culminar em vasta operação imobiliária do Centro Corporativo Santa Fé (MATTOS, 2006). Por outra parte, São Paulo destaca-se pelo sucessivo deslocamento da Avenida Paulista ao quadrante sudoeste, Avenida Luiz Carlos Berrini e à Marginal Pinheiros. A mesma tendência manifestou-se mais cedo, em Lima, com o deslocamento em direção a San Isidro e Miraflores. Em Santiago do Chile, onde o deslocamento inicial começou na Comuna de Providencia, houve maior dispersão rumo a El Golf, para culminar na criação de um centro terciário na Cidade Empresarial em Huechuraba. Exceção de Buenos Aires. (MATTOS, 2006).

Para a região como um todo, a transferência rural-urbana tem decaído em sua contribuição para o crescimento urbano. Se, durante 1950, 46,6% do crescimento urbano era explicado pela transferência urbano-rural, entre 1990 e 2000, contribuiu com 38,4%. No entanto, esse processo não é homogêneo em toda a região. Ocorreu na Argentina, Brasil, Chile, México ou Peru, mas não em países de grande população urbana, como Bolívia e Paraguai. Além disso, países com diferentes níveis de urbanização conhecem tendências erráticas (Cuba, El Salvador. Guatemala, Panamá, ou Venezuela). (CERRUTTI e BERTONCELLO, 2003)

Nas áreas rurais, a maioria dos migrantes é jovem (nos últimos 50 anos, eram 15,5 milhões de jovens de 15 a 29) e se tornaram parte da população urbana56. Essa migração ainda ocorre

por fatores econômicos. O acesso a serviços sociais e as oportunidades de trabalho nas áreas rurais ainda são considerados piores nas áreas rurais do que nas urbanas57. (CERRUTTI e

BERTONCELLO, 2003)

Após a euforia dos grandes símbolos arquitetônicos, tradutores da modernização, o empobrecimento de boa parte da população e o aumento do desemprego na América Latina desvendam o lado mais drástico dos acontecimentos. As críticas ao processo de urbanização, feitas durante e após os anos de 1990, revelam os desafios que as cidades enfrentam nesse processo. A complexidade e diversidade que as zonas urbanas e os fluxos migratórios vão adquirindo reacendem, constantemente, os debates sobre as deficiências e possíveis desdobramentos, em sua maioria negativos, da urbanização na América Latina. Os desequilíbrios se perpetuam e as soluções distam de ser definitivas.