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6. MANIFESTAÇÕES DE POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL

6.7. A UTILIZAÇÃO E A VALORIZAÇÃO DA HABITAÇÃO

Sendo o Casal do Silva um bairro de habitação social, no qual as pessoas foram realojadas há cerca de 6 anos, é frequente encontrar alguns sinais exteriores de edifícios mal cuidados ou em estado de degradação precoce. Estas anomalias não são apenas visíveis no exterior dos prédios, na verdade, existem nos espaços comuns interiores dos mesmos, mas a maioria encontra-se no interior dos apartamentos.

Estes defeitos podem ocorrer por diversas causas. Podem ser de ordem construtiva, ligada a incorrecções no decorrer da construção do bairro, cabendo a sua reparação à câmara; mas também podem acontecer por desgaste natural do material, na sequência da sua utilização corrente ou podem advir de actos de vandalismo causados por moradores. Desde o início do realojamento, até à data, foram muitas as anomalias de ordem construtiva, no interior das casas, que os residentes deram conhecimento à CMA. No fim do primeiro semestre do ano de 2009, a autarquia tinha reparado 90% das anomalias sinalizadas em apartamentos, sendo reparados outros 10%, até ao final de 2009. São menores as anomalias existentes quer por desgaste do material, quer por actos de vandalismo e é procedimento corrente promover a sua reparação através da responsabilização dos residentes.

Todas as pessoas que vivem no bairro habitam uma casa com as devidas condições ao nível de conforto, água, electricidade e gás, em estruturas próprias para esse efeito. Contudo, aqui a demonstração de que existe exclusão social está ligada à apropriação que algumas famílias efectuam do espaço. A este nível a referência recai apenas em poucos agregados familiares, provavelmente cerca de 30 que, dependendo da sua incidência em determinado prédio, ou em determinadas ruas, manifestam sinais de inadequada apropriação do espaço. A sua demonstração acontece pela existência de: bugigangas atulhadas à entrada dos prédios; pela falta de higiene de alguns espaços comuns, exteriores e interiores; por utilização indevida de electricidade e água (referidas, vulgarmente como “puxadas”); por portas de entrada de apartamentos em que foi substituída a fechadura por um cordel; estas entre outras situações do mesmo cariz. Na maioria das vezes os protagonistas destes actos são famílias multi-problemáticas com carências a vários níveis, desde o mais básico, como hábitos de higiene deficitários, a poucos cuidados com as habitações e circundantes espaços comuns, dificuldades de gestão económica, entre outros. Daqui resulta uma desestruturação da família que se estende ao espaço onde se encontra.

A partir da visibilidade dos comportamentos e formas de estar destas famílias, há uma imagem de exclusão que é, frequentemente, associada ao bairro, pela restante comunidade envolvente. Para além da opinião da comunidade envolvente à urbanização, continua a ser habitual ouvir alguns dos próprios residentes no Casal do Silva a demonstrarem o seu desagrado relativamente a estas famílias, o que afecta de forma negativa os seus sentimentos de pertença a este local.

A maioria das famílias do bairro possui as rendas mensais apoiadas em dívida, apesar de serem valores muito reduzidos (que vão dos 6,50 aos 240,00 Euros) e serem calculadas com base na situação social dos agregados familiares, próprias para bairros de realojamento.

As pessoas que se encontram em situação de dívida afirmam, com frequência, necessitarem de ajuda a este nível. Embora sejam acompanhadas no âmbito de atendimentos sociais, num apoio sempre abrangente e transversal, feito mensalmente (quando as famílias o permitem) mas no qual, lhes é referido que o pagamento da renda é uma prioridade. Continuam a ser muito poucos os agregados familiares que têm a preocupação de pagar as rendas em dívida e a renda actual, todos os meses.

Mais uma vez, verifica-se uma situação que está francamente associada à má gestão que as famílias fazem do seu dinheiro. Isto porque, quando existem situações em que

ocorreram alterações dos rendimentos para valores inferiores, é feita a avaliação da renda e há lugar à sua diminuição. Na grande maioria dos casos, as famílias que estão nesta situação são cumpridoras e, ultrapassado um período menos favorável, regularizam a sua situação.

Actualmente, existem 128 agregados familiares com as rendas em dia e 140 famílias com rendas em dívida (conforme Anexo 8 Gráficos de Caracterização Dimensões Pobreza e Exclusão Social – Gráfico da Habitação). Verifica-se que a maioria das pessoas não efectua o pagamento da renda porque não o considera prioritário face a outros bens, tais como a água, ou a electricidade. Na medida em que se não cumprirem o seu pagamento há lugar ao corte destes serviços. Com a renda isto não acontece porque mesmo que não a paguem não há lugar (até à data) a acções de despejo.

A este nível a equipa técnica do gabinete na CMA tem vindo a efectuar um trabalho de aproximação às famílias, que mantêm rendas em divida, com vista à progressiva alteração da sua situação. Apesar de se ter vindo a verificar a alteração positiva do comportamento de algumas famílias, uma vez que mensalmente procedem ao pagamento de rendas em dívida e da renda actual, ainda há muito trabalho para efectuar a este nível. Poderá eventualmente passar pela notificação das famílias pela CMA, de modo a procederem à regularização da sua situação, em detrimento de serem efectuadas acções de despejo.

Notas de síntese

Como foi referido no início deste capítulo, a maioria das famílias residentes na urbanização são afectadas por fenómenos de pobreza e exclusão social. Destacam-se aqui, brevemente, algumas características ilustrativas dessa situação.

A maior parte dos agregados familiares estão dependentes de subsídios, limitando-se a 12% as pessoas que estão empregadas. Uma justificação para que isto aconteça são os baixos índices de escolaridade da população, dado que quase metade dos adultos não sabe ler, nem escrever, ou tem o primeiro ciclo do ensino básico. Situação que dificulta a sua inserção no mercado de trabalho.

Existem cerca de 12% dos residentes que fazem parte de famílias multi-problemáticas nos quais se destacam: nos homens, o alcoolismo, associado a maus-tratos verbais e físicos, principalmente às suas companheiras; nas mulheres, algumas situações de gravidezes precoces, e constituição de famílias monoparentais; nos jovens, a

problemas geram famílias desestruturadas, onde se verifica a existência de algumas situações de falta de saúde mental, sendo pessoas com dificuldades de efectuar a gestão financeira para fazer face às despesas fixas mensais, provocando situações de dívidas. Ao nível da saúde a principal fragilidade identificada na população prende-se com a negligência ao nível dos cuidados materno infantis, verificando-se a ausência das famílias às consultas com os médicos e ao acompanhamento com enfermeiras, previsto para este efeito, no Centro de Saúde. Isto poderá provocar a existência de doenças desnecessárias porque não são prevenidas.

Relativamente à utilização que alguns residentes fazem das suas habitações há dois grandes problemas a destacar que estão ligados, por um lado à falta de preservação dos espaços comuns dos prédios, existindo alguns actos de vandalismo, por outro às situações de agregados familiares que mantêm rendas em dívida, sendo que isto acontece na maioria das vezes, por desleixo ou por dificuldades de gestão económica mensal, como já foi referido.

Apesar dos problemas existentes as instituições em presença na urbanização, em articulação com outras organizações locais, têm vindo a realizar uma intervenção que pretende ir ao encontro do diagnóstico efectuado, numa perspectiva de integração, gradual da população. Neste sentido, existem: dois serviços de acompanhamento a pessoas em situação de desemprego; dois centros de ocupação dos tempos livres para as crianças; um projecto de articulação com o agrupamento escolar que conta com um mediador sócio cultural, existência de turmas de currículo alternativo, e aulas de alfabetização para adultos; acompanhamento a projectos de vida dos jovens e inserção destes em actividades que vão ao encontro dos seus interesses; sessões de informação e formação ao nível da aquisição e desenvolvimento de competências parentais; campanhas de vacinação e de higiene oral com o Centro de Saúde local, a partir da utilização da sua unidade móvel no espaço da urbanização; realização de campanhas de limpeza do bairro e de plantação e preservação dos espaços verdes do Casal do Silva; acompanhamento e encaminhamento social às famílias multiproblemáticas, principalmente aquelas que têm problemas de saúde mental e situações de divida graves. São estas, entre outras acções que se desenvolvem diariamente e que se pretendem desenvolver com vista à diminuição dos fenómenos de pobreza e exclusão social e promoção da integração social dos residentes no bairro.

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