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3. PARTICIPAÇÃO E EMPOWERMENT: CONTRIBUTOS PARA A MUDANÇA SOCIAL

3.3. CANAIS E METODOLOGIAS DE ACÇÃO PARTICIPATIVA

Torna-se fundamental estabelecer objectivos claros para a dinamização de processos de participação e empowerment, havendo conhecimento de que esta definição regulará a escolha das estratégias e das metodologias de acção. Isto implica fazer uma planificação cuidada dos meios e linguagens adequados aos diferentes intervenientes, porque é desejável que se tenha em consideração a necessidade de actuar de modo a promover a inclusão de pessoas mais desfavorecidas.

Para o autor Jordi Estivill (2003:116) a participação apresenta medidas ligadas à economia, ao social, à política e ao cultural existindo uma correspondência entre elas, não sendo viável desenvolver uma das dimensões sem a actuação das outras.

Este autor identifica então cinco canais de participação:

• Informação – constitui-se como um primeiro nível que potencia o exercício da cidadania na medida em que uma pessoa bem informada dá uma orientação mais responsável e consciente ás suas decisões;

• Qualificação e organização – o papel das organizações é o de optarem conscientemente por promoverem a inclusão ou a exclusão; porque ao modelarem a vida social definem as condições que as vão aproximar ou afastar das pessoas;

• Consulta – auscultar a opinião que as pessoas têm sobre os problemas da sua comunidade e quais as potencialidades que identificam para lhes fazer face. Ainda que muitas vezes o resultado desta consulta não seja colocado em prática na operacionalização de determinado plano local, esta auscultação pode ser uma forma destes actores se fazerem ouvir;

• Pedagogia da Participação – situada na grande diversidade das actividades que se realizam, é este o nível que melhor corresponde á situação objectiva e subjectiva das pessoas excluídas. Não convém esquecer que é preciso tempo e meios para participar, sendo muitas vezes necessário começar pela criação da auto-estima de pessoas e dos grupos e, na sequência de pequenas acções bem sucedidas, avançar para outras mais complexas, respeitando o ritmo e especificidade das pessoas, dos grupos, das comunidades com quem se está a trabalhar;

• Tomada de decisões centrais para a acção local – muitas vezes não são os que participam em parte do processo (planeamento, programação, implementação e avaliação) ou no seu todo, que tomam as decisões, mesmo quando a principal questão é o poder. Apesar da história demonstrar que quem tem o poder tem que o conquistar, importa fomentar o empowerment das pessoas, dos grupos e das comunidades, porque através dos resultados de muitos projectos verifica-se que é possível dividi-lo de forma mais adequada e equitativa.

Deste modo, e tal como tem vindo a ser referido, ao longo do capítulo anterior e deste capítulo, Participar é potenciar o exercício da cidadania através da disponibilização da informação aos indivíduos; com organizações que defendam uma prática inclusiva; promovendo a auscultação da realidade junto dos indivíduos, fazendo o levantamento das suas necessidades e potencialidades; fomentar a auto estima das populações desfavorecidas e respeitar o seu ritmo de trabalho e estimular o processo de empowerment individual e colectivo dirigido a decisões por estas participadas e centradas para a acção local.

No seu todo a metodologia defendida por Paulo Freire (1969 e 1983) é aplicável a vários contextos de educação/formação de adultos, dos quais se destacam contextos sociais e culturais, muitas vezes considerados desfavorecidos. Trata-se de uma metodologia que nos seus conceitos privilegiam a Educação Libertadora, propõe uma dinâmica de aprendizagem Acção/Reflexão/Acção, num processo que: é feito individual e conjuntamente em espiral; fomenta as potencialidades locais, partindo dos conhecimentos que os sujeitos têm da sua realidade; para que com a contribuição de elementos exteriores, sejam protagonistas da sua própria história e se sintam promotores e dinamizadores de processos de mudança social; respondam às suas necessidades; visando enaltecer o individuo, o grupo e as comunidades no seu todo.

Também Mark Lammerink (em várias publicações, nomeadamente em 2000) defende e fomenta esta pedagogia e dinâmica enquanto instrumento de trabalho importante na educação popular de adultos e na promoção de iniciativas para o desenvolvimento. Ao identificarmos as mais valias deste modo de actuação enquanto potenciador da participação é possível verificar que:

• A importância atribuída à capacitação das pessoas de modo a desenvolverem um processo de aprendizagem continuo, a partir das suas referências (tais como

o seu percurso de vida) a valorização do local e nele começarem por encontrar potencialidades que através da definição de um plano de acção, elaborado conjuntamente, contribua para dar resposta às suas necessidades e promover a sua inclusão;

• Este processo será baseado na Acção/Reflexão/Acção de determinada realidade focalizada, que acontece num processo em espiral, feito em grupo e em comunidade sempre que possível e com a contribuição de elementos/ pessoas exteriores ao local e que colaborem na resposta às necessidades da população como sistema de desenvolvimento num todo;

• Através da utilização de metodologias participativas é fomentado o respeito e a valorização das pessoas, são estimuladas consciências críticas, num processo de aprendizagem feito horizontalmente e de baixo para cima, em que todos têm um papel activo capaz de, no todo e de forma comprometida, promover a mudança; • Sempre que for preciso ao longo deste processo, verifica-se o plano definido e

se este vai ao encontro das necessidades diagnosticadas e contribui para lhes dar resposta e procedem-se aos devidos ajustamentos para que isso aconteça, num clima de aprendizagem que privilegia a reflexão após a pratica de modo a (re)definir uma nova prática, se necessário, rumo á aplicação das soluções que parecem ser as mais adequadas a todos.

Considera-se que a riqueza desta metodologia embora seja exigente, constitui várias mais valias à prática de uma intervenção localizada nomeadamente porque incentiva a participação dos sujeitos da acção, através da valorização do local e do estimulo de consciências criticas, desenvolvendo competências pessoais e sociais, fomenta a mudança.

São várias as metodologias que apelam à participação de agentes locais, e aquelas que promovem o envolvimento de elementos da população, o importante é aplicar os que melhor se adequam aos objectivos pretendidos, às características dos indivíduos, do grupo ou da população com quem se está a trabalhar. Para aplicar os métodos é preciso tempo, de modo a que sejam calendarizadas as acções a executar neste âmbito, tendo a duração necessária para que façam efeito.

Metodologias Participativas

Identificação

dos Métodos Breve Descrição

- Reuniões – reuniões realizadas entre elementos da população e pessoas que

trabalhem com a comunidade;

- Ateliers de Poder – grupos de trabalho nos quais se inserem situações da realidade em que

as pessoas jogam o papel da pessoa que confrontam e, assumindo papeis diferentes dos seu, discutem os problemas da comunidade;

- Teatro Fórum – a partir de uma peça relacionada a determinado tema de interesse para

uma comunidade, há um grupo que cria um enredo e começa a sua apresentação. No espaço em que esta decorre, um animador vai interpelando os espectadores que, ao darem a sua opinião, são convidados a assumir o papel na peça. São assim discutidos problemas da comunidade;

- Fotonovela – através de várias fotografias legendadas de determinada situação real,

é fomentada a discussão de que soluções existem para o problema;

- Leilão de Problemas – são apresentados vários problemas de uma determinada comunidade,

num plenário ao qual se convidam o maior numero possível dos residentes e dos representantes dos serviços e associações desta e face ás situações apresentados, as pessoas disponibilizam o que podem oferecer para ajudar a resolver os problemas;

- Conversas

Informais – conversas diversas estabelecidas entre várias pessoas da comunidade e os que nela trabalham; - Conversas

Personalizadas – conversas mantidas entre as pessoas que trabalham na comunidade com determinada pessoa face á sua situação especifica;

- Jogo da Glória – reprodução em tamanho real do Jogo da Glória de mesa. As casas do

jogo, na quais param os peões, sãos as instituições, serviços ou mesmo determinados monumentos ou casas mais antigas ou recentes da comunidade. São colocadas questões alusivas á história e a acontecimentos de determinado local. No final são atribuídos prémios;

- Utilização de

Analogias – através de determinados símbolos, são feitas comparações entre alguns percursos pessoais, de determinado grupo ou comunidade com vista á

sua real inserção de modo a atingir os objectivos pretendidos;

- Muros de

Lamentações – são colocadas várias mensagens num “muro” (quase sempre sobre a forma de painel) e é discutido o que é que se pretende transmitir com

aquela mensagem;

- Conferência de Pesquisa de Soluções para Problemas

– Processo que inicia com a proposta a algumas pessoas mais populares na comunidade (como o Padre, o Farmacêutico, o Comerciante) de animarem uma discussão aberta com a própria comunidade relativa ás seguintes questões colocadas sequencialmente e após resposta á anterior: 1ª O que vai ser de nós dentro de 10 anos? 2ª O que gostaríamos de ser dentro de 10 anos? 3ª O que estamos dispostos a fazer para ser o que pretendemos daqui a 10 anos?

Quando esta ideia já tiver sido discutida por todos, passados dois ou três meses, convoca-se um fim-de-semana num primeiro momento coloca-se e discute-se a 1ª questão em grupos de trabalho; num segundo momento a 2ª questão também em grupos de trabalho e num terceiro momento a 3ª questão da mesma forma. Identificadas áreas diferentes, são criados novos grupos em que as pessoas se reúnem por áreas específicas e preparam, organizam-se, no sentido do que irão fazer para chegar a determinada meta.

Quadro II – Metodologias Participativas

(Quadro retirado das aulas de Metodologias de Intervenção para o Desenvolvimento, integradas no VI Mestrado em Desenvolvimento, Diversidades Locais, Desafios Mundiais – Análise e Gestão – Julho de 2008)

2ª PARTE

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