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3 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: UM OUTRO LADO DO FENÔMENO

4 A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: DA TEORIA À AVALIAÇÃO.

4.3 A variação linguística e os documentos oficiais

A reconhecida importância que a discussão da variação linguística assume no contexto relativo ao ensino é indiscutível. Se analisarmos o QECRL há um destaque

21 Braga (2003) cita como algumas das correlações discursivas que podem ser estudadas sob a perspectiva

variacionista, o status informacional, os aspectos relacionados à coesão textual e a relação semântica de contraste.

22 As variáveis independentes (ou grupo de fatores) correspondem aos fatores que podem influenciar na escolha

significativo para o desenvolvimento das competências sociolinguísticas, como uma das competências que compõe as competências comunicativas.

Segundo o documento, a competência comunicativa do aprendente é ativada por meio do desempenho de várias atividades linguísticas, que incluem a recepção, a produção, a interação ou mediação. E estas atividades inscrevem-se no interior de domínios23 muito diversos e devem envolver tarefas, estratégias e textos diferenciados, realizados na oralidade, na escrita ou em ambas, claramente orientados para a ação, para que o aluno possa desenvolver essa competência.

No que concerne ao desenvolvimento da competência sociolinguística, esse conjunto de ações pedagógicas cumpre o propósito de despertar no educando uma atenção às condições socioculturais do uso da língua, por meio do desenvolvimento de uma sensibilidade

para as “convenções sociais (regras de boa educação, normas que regem as relações entre

gerações, sexos, classes e grupos sociais, codificação linguística de certos rituais fundamentais para o funcionamento de uma comunidade), (QECRL, p.35)”. Isso é fator imprescindível para possibilitar uma mobilidade social qualitativa, pois o componente sociolinguístico “afeta fortemente toda a comunicação linguística entre representantes de

culturas diferentes, embora os interlocutores possam não ter consciência desse fato”

(idem,p.35).

A fecundidade da discussão sobre o papel que a escola assume no desenvolvimento das competências sociolinguísticas, no documento supracitado, demonstra o amadurecimento das reflexões sobre a variação linguística e sobre o desdobramento desse fenômeno no desenvolvimento da competência comunicativa do educando. Uma responsabilidade da qual o ensino de língua materna não pode se furtar.

Os avanços nos estudos sociolinguísticos no Brasil e o contínuo percurso de reflexões acerca da relevância da temática voltada para os usos sociais da linguagem, têm posto em relevo a variação linguística também no âmbito da documentação norteadora do ensino no país.

Um dos documentos que lança bases para fomentar, inicialmente, essa discussão são as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), fixadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) como normas obrigatórias para a Educação Básica. As DCNs servem de referência para a escola construir o projeto político-pedagógico, de acordo com a sua realidade, e para planejar e operacionalizar o currículo, elegendo dentro das áreas do

23 Os domínios podem ser classificados, de forma geral em quatro setores: domínio público, domínio privado,

conhecimento e dos componentes curriculares, os conteúdos que assegurem a formação básica comum dos estudantes.

Caso haja clareza quanto à importância de se qualificar a compreensão sobre os usos sociais da linguagem, a variação linguística será uma temática posta em relevo pela escola, por constituir-se objeto de reflexão em vários documentos oficiais, tais como os Parâmetros Curriculares Nacionais de LP, que portam referências curriculares importantes para o país.

Ao abordar o ensino e a natureza da linguagem, apresentam:

O domínio da linguagem, como atividade discursiva e cognitiva, e o domínio da língua, como sistema simbólico utilizado por uma comunidade linguística, são condições de possibilidade de plena participação social. Pela linguagem os homens e as mulheres se comunicam, têm acesso à informação, expressam e defendem pontos de vista, partilham ou constroem visões de mundo, produzem cultura. Assim, um projeto educativo comprometido com a democratização social e cultural atribui à escola a função e a responsabilidade de contribuir para garantir a todos os alunos o acesso aos saberes linguísticos necessários para o exercício da cidadania. (Brasil, 1998, p. 19).

O domínio da linguagem, nessa perspectiva, passa necessariamente pelo desenvolvimento de competências sociolinguísticas, o que pressupõe compreensão da variação linguística, como elemento constitutivo das línguas humanas e que ocorre em todos os níveis, independentemente de qualquer ação normativa, conforme destacado no próprio documento ao abordar a implicação da variação para a prática pedagógica:

Assim, quando se fala em Língua Portuguesa está se falando de uma unidade que se constitui de muitas variedades (...). Não existem, portanto, variedades fixas: em um mesmo espaço social convivem mescladas diferentes variedades linguística, geralmente associadas a diferentes valores sociais. Mais ainda, em uma sociedade como a brasileira, marcada por intensa movimentação de pessoas e intercâmbio cultural constante, o que se identifica é um intenso fenômeno de mescla linguística, isto é, em um mesmo espaço social convivem mescladas diferentes variedades linguísticas, geralmente associadas a diferentes valores sociais. (Idem, p. 29). E, diante dessa realidade, aponta o documento que o que se almeja no trabalho a ser realizado no ensino-aprendizagem de diferentes padrões de fala e escrita,

não é levar os alunos a falar certo, mas permitir-lhes a escolha da forma de fala a utilizar, considerando as características e condições do contexto de produção, ou seja, é saber adequar os recursos expressivos, a variedade de língua e o estilo às diferentes situações comunicativas: saber coordenar satisfatoriamente o que fala ou escreve e como fazê-lo; saber que modo de expressão é pertinente em função de sua intenção enunciativa - dado o contexto e os interlocutores a quem o texto se dirige. A questão não é de erro, mas de adequação às circunstâncias de uso, de utilização adequada da linguagem. (Ibdem, p.31).

Tal abordagem, presente nos PCNs, se materializa, sobretudo, nos livros didáticos de Língua Portuguesa, elaborados à luz das orientações curriculares dos documentos oficiais, e, considerando, os critérios pedagógicos definidos pelo Programa do Livro Didático (PNLD).