• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA INVESTIGAÇÃO

2.2 O Turismo

2.2.1 A vertente económica do Turismo

O turismo constitui um importante factor económico, tendo, para muitos países que são destinos turísticos, como é o caso de Portugal, um peso muito significativo nas receitas. Devem ser destacadas, por um lado, as implicações directas nas economias dos países e regiões onde decorrem as actividades turísticas e, por outro, os reflexos gerados nos países emissores, tratando-se do turismo internacional. A sua importância é tal que alguns autores entendem que o turismo constitui uma actividade essencialmente económica, sobrevalorizando, para o efeito, os factores económicos e financeiros, em detrimento da sua componente social e cultural.

SISTEMA FUNCIONAL DE TURISMO Financiamento Concorrência Atitude Empresarial Comunidades Locais Recursos Humanos Organização Liderança Recursos Culturais Recursos

No entanto, segundo Marc Boyer, colocam-se muitas reticências às concepções reducionistas do turismo que se manifestam, designadamente, por uma aplicação mecânica à realidade turística de conceitos que relevam da realidade económica e produtiva e que não traduzem, de forma alguma, a verdadeira complexidade e o carácter globalista daquela.

“Il nous faut dénoncer, ici, les périls d'un certain nominalisme qui a voulu appliquer au

tourisme les termes en usage pour l'étude des activités productrices, on a parlé d'une industrie touristique chargée de mettre en valeur des sites, des attraits naturels, on a présenté l'eau, l'air, la neige comme des "matières premières" du tourisme. Même dans les cas le plus favorables, ceux des stations spécialisées - stations de cure, d'altitude, de sports d'hiver' - les faits naturels (tels l'eau thermale, le climat, l'altitude …) n'expliquent que médiatement le développement d'une activité touristique; ils ne sont devenus attraits que par l'intermédiaire de modes de penser, de sentir, qui constituent la culture même du groupe. Une station de ski, certes, c’est un équipement (accès, hébergement, remontée mécaniques...) utilisant des conditions naturelles favorables (enneigement, ensoleillement .. .) mais cette mise en valeur n'a été possible que parce qu 'il y a un engouement grandissant pour les Sports d'hiver, sous la forme plus précise de ski de descente, c'est à dire un procéssus culturel, et le succès de telle station n' est pas dû - immédiatement - à ses qualités naturelles, mais à 'image que le public se fait de cette station ... “ (Boyer:1982;12).

Considera-se portanto, em concordância com Boyer que, qualquer rendimento turístico, para além de ser condicionado por factores naturais e ambientais e, também, pela sua mercantilização", depende, fundamentalmente, da atractividade que possa suscitar junto dos seus clientes e, também, dos seus potenciais clientes, ou seja, das determinantes de ordem cultural. De qualquer modo, como salienta Celia Lury, manifesta-se sempre um "entrelaçamento" entre os aspectos económicos e os aspectos culturais, no que toca às questões do turismo e dos turistas, pois como está demonstrado, o consumo, designadamente o consumo de bens culturais, implica sempre um processo cultural e económico (Lury:1996;51).

Por seu turno, os citados exemplos apresentados por Boyer, a propósito dos desportos de Inverno, tornam evidente a complementaridade existente entre natureza e cultura. Enquanto o ambiente e os equipamentos que constituem factores de atractividade, os factores culturais, através das imagens que os clientes vão formando a respeito dos empreendimentos turísticos e dos locais a visitar, assumem-se como sujeitos activos e factores determinantes do sucesso das iniciativas.

Pode afirmar-se, no entanto, que para além do olhar e da experiência do turista se interpõem, com frequência, entre este e o "objecto turístico" (região, lugar, monumento) factores de mediação que vão condicionar as imagens e a representação.

Tal afirmação é mais evidente nos casos em que existe uma maior mobilidade dos turistas em resultado de uma restrita fidelidade aos destinos turísticos e, também, quando os viajantes se deslocam em grandes grupos e condicionados por programas muito restritos.

Esta acentuada aleatoriedade do turismo releva, fundamentalmente, do turismo de massas (organizado). No entanto, tal carácter predominantemente aleatório deste tipo de turismo tem uma menor visibilidade para o observador comum que retém, essencialmente, os aspectos manifestos, ou seja, a sua hetero-organização com carácter eminentemente profissionalizado, a sua acentuada estruturação e, a predominância de certos destinos turísticos.

Sobretudo nesses casos os contactos tendem a ter um carácter transitório e superficial o que restringe, com frequência, a realização, por parte dos turistas, de experiências autênticas1.

“Promotores privados e públicos, agências e companhias multinacionais, autarquias e

outras organizações de gestão administrativa contam-se entre os principais agentes que dinamizam um mercado e um modelo de organização do turismo que, pela sua parte, são também responsáveis pela acelerada diminuição da autenticidade dos ambientes turísticos” (Fortuna: 1995;30-31). Constata-se portanto que, no presente, o

turista se vê impossibilitado de encontrar uma autenticidade que procura. Ele confronta-se, com frequência, segundo Carlos Fortuna, com uma "autenticidade

encenada”.2

No caso do turismo interno português observa-se uma tendência para a sua não "mercantilização", o que significa que os acontecimentos e práticas colectivas das comunidades de destino turístico são marcadas, fundamentalmente, pela comunidade e pelas elites locais.

1 Admite-se, em concordância com Cohen (1991), que as novidades podem vir a assumir com o decurso do tempo um "carácter" de autenticidade. Ou seja, no caso uma "autenticidade emergente". Considera, Cohen, ao contrário de Mc Cannell, a autenticidade como sendo mais um conceito negociável do que primitivo.

A "mercantilização" do turismo implica que interesses externos e relações de mercado passem a controlar as economias regionais e locais e, mais do que isso, determinem transformações profundas nas comunidades locais a tal ponto que os ritos, festas, folclore e outros usos e tradições locais passem a ser determinados em função do turismo e dos turistas, ou seja, do exterior.

Parece evidente que as práticas turísticas, com frequência associadas às férias e ao lazer, se afirmam, nestes casos, por um elevado grau de fidelidade aos destinos turísticos. As práticas e os destinos turísticos preenchidos no quadro da família têm um carácter intergeracional, ou seja, regista-se uma transmissão dos valores e necessidades de geração em geração.

A distinção nas práticas e gostos dos amantes da natureza e veraneantes vão reflectir- se na dinâmica dos meios de acolhimento e suas transformações do mesmo modo, todas as actividades situadas a "montante" e a "jusante" das práticas turísticas, como as infra-estruturas de apoio, como é o caso do comércio regional e local, entre outros, reflectem, de igual modo, a referida diversidade.

As actividades turísticas nos grandes centros urbanos confundem-se, com frequência, com as múltiplas actividades de carácter social que se realizam ao longo do ano, nos pequenos núcleos turísticos, como no caso da maioria das estâncias de desportos de Inverno, estas actividades inserem-se nos ciclos de vida locais. Tal como Marc Boyer, outros autores têm acentuado a complexidade do fenómeno turístico e o seu carácter multidimensional, assim como a importância dos factores que o integram ou influenciam.

Nomeadamente, algumas condicionantes do sucesso da actividade turística como: o tempo; a mudança dos gostos de consumo; os ciclos económicos; as políticas governamentais (Murphy:1985;77). Se existem assimetrias quanto ao turismo, pode dizer-se que, no que respeita ao excursionismo, onde tem imperado, no caso, um "turismo" de proximidade, se registam as simetrias ainda mais acentuadas.

De facto, a entrada de espanhóis constitui um factor quase exclusivo, com 97,4% (segundo dados de 1994) contra 97,1% em 1992, o que torna o mercado português excessivamente débil quanto a esta componente3.

3 Ainda segundo dados da Direcção-Geral de Turismo, em 1994, tiveram maior expressão as seguintes entradas de excursionistas por países (em milhares): Espanha – 12 049,9 (97,4 %); Reino Unido – 75,3 (0,6 %); Alemanha – 52,5 (0,4 %); Holanda – 36,5 (0,3 %); França – 33,6 (0,3%). Refere-se ainda que foi utilizado o critério de distinção por países de nacionalidade e não por países de residência. Caso contrário a Espanha teria uma maior expressão (cf. "O

Há uma tendência para uma relação directa entre os turistas e os locais de destino. De facto, foi comprovado por Murphy que, por vezes, os locais de destino turístico apresentam condições para funcionarem durante todo o ano e, no entanto, quanto à sua frequência, apresentam distribuições muito irregulares com "picos" muito significativos na época alta.

Este desequilíbrio entre as épocas alta e baixa pode resultar de situações de mercado que decorrem, por um lado, dos desejos e motivações dos turistas e, por outro, de factores que Murphy considera como "institucionais" como o encerramento (por motivo de férias) de fábricas, férias escolares e, também, do sector público (cf. Murphy:1985;79).

Uma das consequências da sazonalidade do turismo é a concentração populacional, concentrando os turistas e os residentes nos locais de incidência turística, não só durante um período muito restrito do ano, como também, incidindo sobre ambientes (naturais e culturais) muito delimitados, provocando uma carga mais acentuada sobre o meio, afectando, designadamente, infra-estruturas e serviços. No entanto, embora a sazonalidade assuma no presente um carácter universal, pode dizer-se que os seus efeitos são diversos. Os impactes mais sensíveis resultam do turismo de massas. É de notar que Murphy considera que o incremento da familiaridade com os locais de destino turístico pode implicar um declínio da novidade e da atracção turística suscitando, subsequentemente, a procura de novos locais de destino (Murphy:1985;81).

No entanto, e segundo este autor, verifica-se que alguns destinos se têm ajustado à evolução da procura e às mudanças de circunstancia registadas no turismo e nos turistas.

Contudo, os diversos tipos de visitantes e o tempo de permanência são factores que podem suscitar mudanças nas populações, essas mudanças podem ser negativas ou positivas, designadamente, ao nível das sociabilidades, rotinas diárias e, até, nas crenças e valores. Por seu turno, nem sempre a participação de membros da população local nas actividades turísticas representa a atribuição aos mesmos de benefícios significativos para estes membros.

Isto resulta, quase sempre, do facto de aos trabalhadores locais, serem atribuídas funções pouco qualificadas ou até mesmo indiferenciadas.