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CAPÍTULO IV – CONCLUSÕES

4.2 Recomendações

Não é possível gerar riqueza e sustentabilidade num destino de natureza que define como estratégia de desenvolvimento a construção de casas em altitude, ainda que em madeira, que pela quantidade e ordenamento mais parecem habitações sociais ou clandestinas de bairros marginais e suburbanos. Esta estratégia representa em boa verdade um enorme erro não só de ordenamento e desenvolvimento do território, como também um autêntico erro na oferta do destino. Esta estratégia hipoteca toda e qualquer sustentabilidade que possa advir de um parque natural. Estas infra-estruturas deveriam estar inequivocamente alicerçadas em óbvios princípios de respeito e contemplação pelo meio e contexto em que se encontram inseridas.

Será igualmente um erro primário e grosseiro a futura construção de diferentes infra- estruturas em betão como as que estão anunciadas para a zona das Penhas da Saúde (como exemplo refira-se a construção de um Casino de Jogo e um Palácio de Congressos). Estas estruturas, para além de desenquadradas do meio, serão também projectos verdadeiramente desajustados das necessidades dos praticantes de desportos de natureza e de Inverno. Os praticantes de desportos de Inverno, pedestrianistas, betetistas, escaladores, montanhistas e outros amantes da natureza, valorizarão tanto mais os destinos de natureza da RTSE, quanto menor for a distância entre estes e os espaços verdadeiramente naturais virgens e selvagens.

A RTSE não deverá definir os seus objectivos de ordenamento do território e posicionamento da oferta em prol da satisfação de uma efémera e volátil procura. As instituições, as empresas e organizações do destino RTSE, relacionadas directamente ou indirectamente com o turismo, não podem pensar que o turismo de massas é o cenário ou a solução para o desenvolvimento sustentado desta região.

O destino Serra da Estrela enquanto parque natural dificilmente poderá ter uma capacidade de carga próxima daquilo que é normal noutros destinos turísticos, nomeadamente, sol e praia, religiosos, históricos ou turismo de cidade.

É de vital importância para a sustentabilidade do destino turístico da Serra da Estrela a criação de uma oferta multidiversificada. Só assim se poderão evitar situações, que em nome de um pretenso desenvolvimento da região, da sua economia e da qualidade de vida das suas gentes, venha a transformar a RTSE no maior dormitório de férias depois do Algarve.

As estratégias adoptadas nos últimos anos, em particular pelos responsáveis da RTSE, Turistrela S.A., e de algumas Câmaras Municipais, têm tido um efeito verdadeiramente perverso. No actual modelo de desenvolvimento turístico-sócio- económico da RTSE as populações locais, quer em termos económicos, quer em termos da criação de emprego, pouco ou nada têm beneficiado.

Estas decisões estratégicas não só têm contribuído para um efectivo aumento da sazonalidade da RTSE, como contribuído para a redução da capacidade de uma oferta que se deve posicionar no turismo rural e de natureza para o qual a RTSE está, genuinamente, vocacionada.

Para os turistas em geral e para os praticantes de desportos de Inverno e natureza em especial, a existência de uma oferta multidiversificada é de importância capital.

Para que este destino seja competitivo, com um posicionamento diferenciado e único, é muito importante a criação de distintos produtos, sejam eles complementares ou até substitutos.

Indo de encontro a esta linha de raciocínio 52,1% dos visitantes e 78% dos praticantes mostraram interesse na proposta da construção de um Indoor de desportos de Inverno na cidade de Gouveia. A futura construção dos meios mecânicos de grande porte para ligar as zonas altas da Serra da Estrela com as zonas intermédias demonstrou também ser do agrado de grande parte da procura, 89% dos visitantes. Os praticantes são quase unânimes, 87,8%, em assumir que o seu interesse pela prática de esqui no destino Serra da Estrela aumentaria se esta estância oferecesse serviços de efectiva qualidade. Os mesmos esquiadores, 76,8%, disseram que seria muito importante para o aumento da atractividade do destino Serra da Estrela, que se verificasse um reajuste do valor pago pelos forfaits e aluguer de material. Afirmaram ainda ser estrategicamente importante para o aumento da procura, uma política de Preço que respeite o princípio da proporcionalidade, ou seja, que o valor a pagar esteja na directa proporção do serviço prestado.

A necessidade do aumento do número de camas/alojamentos na RTSE é também alvo de referência por parte dos praticantes, (59,7% reconhece essa mesma necessidade).

Pensamos que, estrategicamente, a sustentabilidade da estância de esqui da Serra da Estrela deverá passar pela criação de uma oferta conjunta com a estância de esqui de Covatilla. Esta estância espanhola, situada na serra de Béjar a 70 quilómetros da Serra da Estrela, posiciona-se como uma estância de âmbito regional e tem como objectivo servir as regiões de Salamanca, Cáceres e Badajoz.

Covatilla pretende com a oferta de shorts breaks ser também uma verdadeira alternativa para os esquiadores das cidades de ÀvilaÁvila, Madrid e cidades satélites. A estância de esqui de Covatilla é uma estância muito jovem que oferece no presente não só mais pistas e quilometros esquiáveis que a Serra da Estrela, como possui ainda um potencial de crescimento que não encontra qualquer paralelismo na estância da Serra da Estrela.

O destino turístico Covatilla, até agora não tem sido grande concorrente da Serra da Estrela (basta atentar que 70,7% dos praticantes portugueses não conhecem este destino de neve). Contudo os responsáveis desta estância espanhola têm evidenciado uma grande atenção e interesse pelo mercado português.

Prova disso mesmo têm sido as sistemáticas e fortes presenças em feiras de turismo no teritório português e a contratação de professores de esqui portugueses.

Pensamos ser estrategicamente importante num futuro imediato a conjunta criação e apresentação de uma marca única. Esta futura região colherá assim os benefícios da oferta de um produto com dimensão ibérica.

Esta nova região, que passaria a deter novos produtos e produtos associados mas a uma só voz, deveria também desenvolver novas competências e ofertas que resultassem da riqueza das complementaridades gastronómicas, históricas, e culturais das duas regiões fronteiriças.

No que concerne ao turismo histórico, estas regiões já detêm ofertas conjuntas, nomeadamente com as Rota das Antigas Judiarias com Castilla y León e a Rota dos Descobridores com a Extremadura.

Estes produtos assumem forte interesse para os mercados emissores dos Estados Unidos da América e da Holanda, tendo em conta que existe um mercado potencial de cerca de 17 milhões de judeus ou de descendência judaica, muitos deles de origem Sefardita (origem de Portugal e Espanha).