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CAPÍTULO 02: A transgressão social na juventude brasileira

2.1 A violência e a juventude no Brasil contemporâneo

Atualmente, observo significativo interesse no fenômeno da violência vinculada com a juventude como Adorno, Bordini & Lima (1999) percebem enquanto um problema social no Brasil já na década de 70 ao chamarem atenção para o fato de que nas grandes cidades brasileiras encontravam-se crianças e adolescentes nas ruas mendigando e atuando em trabalhos informais.

No entanto, os autores destacam que o incômodo da opinião pública é influenciado pelos dados crescentes da criminalidade urbana violenta. Dados que geram suspeita sobre o aumento e o implacável envolvimento desses jovens na transgressão social, com foco nas classes mais desfavorecida economicamente. Assim afirmam que: “... o crime constitui-se, na atualidade, uma das principais preocupações na agenda dos mais urgentes problemas sociais com que se defronta o cidadão brasileiro” (p. 62).

Já Soares (2004), em uma análise sobre a juventude e violência no Brasil contemporâneo, apregoa que, “a violência tem se tornado um flagelo para toda a sociedade, difundindo o sofrimento, generalizando o medo e produzindo danos profundos na economia” (p. 130). Porém, esclarece que tal barbárie cotidiana está dirigida especificamente para um grupo específico da sociedade: os jovens pobres e negros, do sexo masculino, entre 15 e 24 anos.

Com estas observações, ao longo dessa seção apresento dados atuais e nacionais para elaborar o perfil dessa categoria de jovens vítimas da violência.

Dessa situação da juventude brasileira, Adorno (2002) aborda que a questão do envolvimento dos jovens com o crime possui dupla perspectiva, de um lado se apresenta como vítima da violência e, por outro, é apontado como autor da violência. Na análise, contextualiza que em um país com normalidade institucional e governo civil, esperava- se uma sociedade internamente pacificada, afinal havia a reconquista do Estado democrático, já que a violência em geral é localizada como produto do regime autoritário.

Um esboço do quadro da criminalidade juvenil tem o jovem como autor da violência e este é apresentado na pesquisa realizada na cidade de São Paulo por Adorno (1999) no Núcleo de Estudos da Violência – NEV/USP no período de 1993 a 1996, comparativamente aos dados da pesquisa equivalente da Fundação Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) de 1988 a 1991. Esse estudo teve como objetivos:

1. Conhecer a magnitude da delinqüência juvenil e sua evolução recente; 2. Caracterizar o perfil social do jovem transgressor; e

3. Avaliar a aplicação das medidas sócio-educativas previstas no Estatuto das Crianças e do Adolescente a fim de compreender se o poder público tem produzido os resultados esperados para conter as infrações dos adolescentes. Os resultados na pesquisa mostraram que:

1. Quanto à questão do aumento voraz da criminalidade, comparando os dois períodos referidos (1988-91 e 1993-96), não houve substantivas modificações no movimento da criminalidade juvenil. Especificamente sobre os homicídios cometidos por adolescentes, teve-se que apenas 1,3% de todas as ocorrências infracionais detectadas correspondiam a essa modalidade infracional. Percebe-se com isso que existe um descompasso entre as percepções coletivas e os fatos. Os pesquisadores ressaltam que a criminalidade organizada e o tráfico de drogas apresentam um crescimento relativo que merece ponderação.

2. Quanto ao perfil dos jovens com envolvimento infracional, a pesquisa indicou que está em processo de diversificação a composição dos grupos constitutivos da transgressão social-legal juvenil quanto ao nível de escolaridade dos jovens, mas que quando se compara o perfil étnico, ainda se observa, comparando os dois períodos: maior presença de jovens negros e que pertencem aos estratos socioeconômicos mais pobres. Com isso, a inserção dos jovens no mundo social contemporâneo é caracterizada por desigualdades sociais e pelas dificuldades de acesso aos direitos civis e sociais e de acesso às instituições promotoras de justiça e de bem-estar. E, com base em pesquisas anteriores e em leituras especializadas, percebe-se a tendência das agências de controle social na imputação da responsabilidade pelas infrações aos cidadãos ‘suspeitos’: os mais pobres, os mais negros e os mais imigrantes.

3. Quanto à avaliação da aplicação das medidas sócio-educativas, concluíram que há correspondência entre a gravidade das infrações cometidas por adolescentes e o grau de medida aplicada, tendo os magistrados aplicado preferencialmente medidas médias. No entanto, constataram alguns indícios de aplicação de medidas sócio- educativas com desvios que poderiam comprometer a legitimidade do ECA, tais como: distribuições de medidas leves para infrações de elevada gravidade e um elevado nível de arquivamento e remissões, como se estivessem abdicando-se de intervir. Por fim,

notaram discriminação judicial, na medida em que, adolescentes brancos receberam medidas mais brandas do que as dos negros.

O estudo concluiu que:

“Tudo leva a crer que o atual cenário de medo e insegurança diante da evolução da delinqüência juvenil tenha a ver com o modo pelo qual o ECA vem sendo implementado em nível das agências governamentais, em particular o complexo constituído em torno das instituições policiais, da promotoria da infância e da adolescência, da justiça especializada e das instituições do poder executivo responsáveis pela tutela, guarda e oferta de tratamento para os adolescentes infratores” (Adorno, 1999, p. 62).

A seguir exponho outros estudos que nos mostram o outro lado do fenômeno da violência na juventude: o do jovem como vítima da violência. Nessa perspectiva, destaca-se que o número de vitimização da juventude tem aumentado consideravelmente. A pesquisa desenvolvida pelo NEV/USP, de Peres, Cardia & Santos (2006) sobre a temática dos homicídios cometidos contra as crianças e os adolescentes no período de 1980-2002, anuncia o progresso da redução drástica das taxas de mortalidade infantil que é anulado pelas taxas de homicídios contra as crianças e os adolescentes. Nestas, as maiores vítimas são jovens entre 15 e 19 anos, possuem cor, situação social, sexo, localização e profissão claramente conhecidos. A relação entre as vítimas é de 7,6 meninos para cada menina vítima de homicídio. A evolução do número de vítimas no período é de 368%, isto é, passa de 1.926 vítimas em 1980 para 9.007 no ano de 2002. Considerando a divisão de vítimas por causas externas26, no ano de 2002, os homicídios passam a ser responsáveis por 40% das mortes por causas externas de crianças e adolescentes no Brasil. Em 1998, os homicídios ocupam o primeiro lugar entre as causas externas de morte de crianças e adolescentes, ultrapassando as mortes acidentais e os acidentes de trânsito.

Com base nos dados apresentados, percebo a violência com múltiplas facetas e determinantes, considerando a pesquisa do NEV/USP de Adorno (1999), que traça um panorama da autoria juvenil da criminalidade, ao informar que os números e estatísticas denunciam estabilidade do nível de criminalidade. No entanto, conforme pesquisa publicada em 2006, que avalia as taxas de homicídio contra esse grupo da população, os

26As causas externas de óbito são por: acidentes de transporte, homicídios, suicídios e uso de armas de

dados são alarmantes, mesmo vigorando o Estatuto da Criança e do Adolescente que fortalece a garantia e oferece mais solidez aos direitos básicos de vida e saúde das crianças e dos adolescentes. As pesquisadoras, ao abordarem o período de 1980 a 2002, chamam a atenção para o quadro do crescimento das graves violações de direitos humanos que, para elas, estão interligadas à acentuação das desigualdades sociais, à precariedade do aparelho público, à maior exposição da juventude ao consumo de álcool e drogas, ao acesso às armas e ao fortalecimento do crime organizado.

A partir da última análise da dinâmica da violência pela perspectiva do jovem vítima da violência, abordo a análise longitudinal do mapa da violência dos jovens no Brasil. Waiselfisz (2006) na continuidade da pesquisa da1998 a qual pretendia realizar uma leitura social das mortes violentas dos jovens brasileiros considera que, desde 1998, as mortes foram percebidas apenas como o ponto visível da violência generalizada que afeta e vitima a juventude do país.

O mapa da violência que abrange a década de 1994 a 2004, mostra que, em 2004, o Brasil tinha o contingente de 36 milhões de jovens na faixa de 15 a 24 anos de idade, o que representava 20,1% da população brasileira. Na análise deste período, o número total de homicídios no país passou de 32.603 para 48.374, um aumento de 48,4%, bem superior ao crescimento da população que foi de 16,5%. O número de homicídios da população jovem aumentou 64,2%, superior aos 48,4 da população total. No nível internacional, entre 84 países do mundo, o Brasil ocupa a 4ª posição no ranking das taxas de homicídios e, (comparativamente entre os jovens), em 2004 o Brasil sobe uma posição e permanece atrás apenas da Colômbia e Venezuela. Essa pesquisa confirma os dados de outros estudos, em que os homicídios afetam principalmente os homens (93% das vítimas são do sexo masculino) e negros que têm um índice de vitimização de 73,1%, superior ao dos brancos na população total.

Parto do pressuposto de que são várias as matizes da criminalidade e que suas manifestações variam conforme as regiões do país. Assinalo tal realidade para contextualizar o sujeito desse estudo (um jovem com história de conflito com a lei no Distrito Federal), da Região Centro-Oeste onde ocorreram 6.874 homicídios de crianças e adolescentes entre os anos de 1980 a 2002, ou 6% do total de casos do país. A maior parte dos casos vitimou crianças e adolescentes do Distrito Federal. A proporção de

crianças e adolescentes entre as vítimas de homicídios cresceu em todos os Estados da Região, especialmente no DF, onde o incremento global (1980 a 2002) foi de 113,3%.

Em relação a realidade focalizada cabe destacar que a faixa etária de 15 a 19 anos teve os maiores valores dos coeficientes de mortalidade por homicídio e que em outro estudo do CRISP (Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG), fundamentada na base de dados do Datasus (Banco de Dados do Sistema Único de Saúde), ao focalizar as taxas de homicídio em todo o Brasil de 1993 a 2002, aponta que o Distrito Federal está entre as capitais que ostentam taxas elevadas de homicídio.

Contribuindo para a importância do tipo de focalização da questão Waiselfisz (2006) declara que:

“A incidência crescente de todas essas formas de violência, que torna os jovens ao mesmo tempo vítimas e algozes, exige do conjunto da sociedade uma análise mais aprofundada e uma atitude mais objetiva e responsável, se houver realmente a preocupação em reduzir essa violência na sociedade” (p. 18).

Nesta direção, Soares (2004) aponta para o problema da invisibilidade desses jovens, marcados em pesquisas com dados claros e perceptíveis. Esses dados mostram o processo, de estigmatização e negligência, vivido por esses jovens. Contrapõe a invisibilidade dos jovens pela sociedade com a visibilidade recuperada a força e com violência pelos jovens autores de ato infracional que se recompõem como sujeito pela via da transgressão social-legal. Esclarece que não está defendendo a agressão nem elogiando a violência, mas busca compreendê-la, procurar uma ‘chave de leitura’, uma interpretação.

Assim instigante, o autor convoca ao debate os pesquisadores com ousadia ética a se debruçarem sobre o drama da juventude brasileira para compreendê-la. Pois entende que mudanças dependem de um mutirão educativo e protetor para os jovens apontados retoricamente pelos políticos e pela mídia como o futuro da nação.

No debate, Adorno (2002) toma posição frente a esse drama da juventude e pauta que o fato de as instituições públicas não cumprirem o seu papel educativo, de segurança, de proteção e de justiça produz na opinião pública o sentimentos de que o

crime está crescendo e que parte da responsabilidade seria devido ao envolvimento dos jovens com a transgressão.

E com sutileza, recorda que, segundo os resultados oferecidos por diversas pesquisas, os jovens são mais vítimas que autores da violência e adverte que, historicamente, os jovens eram sujeitos sem fala e objetos da intervenção dos adultos, e que, legalmente, foram transformados em sujeitos de direitos, conforme exposto na seção 1.2. Frente a realidade da violência entrelaçada com a juventude brasileira, o caminho da análise da construção dos sentidos subjetivos do sujeito jovem com história de transgressão social-legal se torna mais tortuoso. Com esta apreensão o pesquisador evidencia: “Ser jovem é, em última instância, viver uma situação perigosa – os dados mostram isso de maneira contundente” (Adorno, 2002, p. 105). Outra percepção advém ao se deparar com as estatísticas, qual seja, a de que os dois problemas são graves, o do jovem como agressor e o jovem como vítima, mas o jovem como vítima revela uma situação mais grave, e faz essa confrontação para reforçar a importância de pôr em pauta os dois lados da moeda do fenômeno da violência ligada à juventude.

Ao problematizar sobre o fenômeno da violência-juventude, e com isso esclarecer alguns por quês do estudo sobre o jovem autor de ato infracional e não de outro jovem qualquer, sigo a partir de agora para pesquisas nacionais dedicadas aos processos de subjetivação do jovem autor de ato infracional. Nos meandros dessa problemática instalada em que vítima é algoz e o algoz é vítima, trilho outras chaves de leituras oferecidas, além dos dados estatísticos apresentados.

Zaluar, Noronha e Albuquerque (1994) e Zaluar (2004) abordam a importância de problematizar a correlação entre pobreza e criminalidade, lembrando que a principal causa de morte entre crianças não é mais a desnutrição e que não são os imigrantes inadaptados os responsáveis pela violência urbana. Afirmam estar diante de novos fenômenos da criminalidade e da violência e concluem que não há qualquer associação entre taxas de mortalidade por homicídios e pobreza ou imigração. Chamam a atenção para o papel do crime organizado e do tráfico de drogas e de armas na estruturação dessa criminalidade.

Na perspectiva de problematização correlacional, ressaltam para a participação relativa dos jovens como agentes e vítimas da violência urbana. Defendem o

entendimento dos efeitos da pobreza e da urbanização acelerada sobre o aumento da criminalidade, o que inclui a análise dos mecanismos institucionais e societais do crime organizado. Para assim apontar as rigorosas regras em que os jovens são envolvidos dentro dos grupos criminosos, tornando-se eternos suspeitos. Nessa análise a droga é associada a uma cultura de valorização do dinheiro, do poder, da violência e do consumismo, e que os jovens são as principais vítimas dos crimes violentos, devido à cadeia de vinganças de que são prisioneiros.

Zaluar (2004) procede à análise da convergência do recrutamento de jovens pelo mercado de drogas nas favelas e nos bairros pobres, da pobreza com suas oportunidades educacionais e econômicas inadequadas e das formações subjetivas cristalizadas na identidade masculina associada à honra e à virilidade. E ressalta, o Brasil, a partir de sua configuração cultural, institucional e econômica, vivencia um pavor do crime, o que gerou uma dicotomia entre o bem e o mal na preferência das camadas da população (quem morre são os pobres, sem recursos políticos e econômicos que lhes garantam acesso à Justiça e à segurança):

“O nome do diabo passa a ser invocado cada vez mais para atribuir sentido ao viver sob a insegurança e incerteza das altas taxas de inflação, da crise econômica, da ineficiência e da corrupção institucionais, além dos encontros odiosos com os bandidos nas ruas das cidades. E os próprios bandidos, identificados pessoal e profundamente com essa encarnação do mal, reinterpretam a sua saga por um pacto fictício com ele” (p. 43).

Confirmando a análise de Zaluar, a pesquisa de Azevedo (2000) tratando da adolescência infratora como rito de passagem para a vida adulta, considerou na análise de histórias de vidas de adolescentes em conflito com a lei que os sujeitos pesquisados não vivenciaram um processo emancipatório identitário. A transgressão não desencadeou em suas vidas processos de metamorfose de suas identidades.

Na contribuição de Calil (2001) situa-se a análise de como os significados sociais atribuídos aos meninos de rua determinam a construção de sentidos subjetivos e a constituição da subjetividade de um adolescente que viveu nas ruas de Santos durante nove anos. E defende que atrás da máscara da agressividade do jovem estava um pedido de ajuda em busca de uma transformação social, para apontar a crise social do país como contexto de exclusão para essa população pobre e sem direitos à vida. O jovem

pesquisado expressa que, para ele, muitos atos infracionais decorrem de atos de desumanização dirigidos a eles, no caso, os meninos de rua. Calil afirma que esse sujeito excluído socialmente representa um fracasso social, político e coletivo. Ele está em desigualdade social à medida que não tem os seus direitos igualmente garantidos, e assim o status de sujeito de direitos preconizado no ECA não é cumprido.

A leitura de Teixeira (2002) define que:

“O tema ‘Adolescência e Violência é um ponto crítico, de saturação, condensação de múltiplas determinações, pois revelador das mutações, transformações da cultura, dos padrões de relações entre os humanos, do modo de ser e existir – pensar, sentir e agir – dos indivíduos, neste momento histórico” (p.235).

Assim defende que a violência é um elemento indicador da configuração subjetiva dos membros da sociedade, ao pensar que aponta para uma ‘ética da convivência’. O estudo legitima o binômio adolescente-violência e constrói as seguintes questões:

“Qual futuro é possível para crianças e adolescentes que vivem, no presente, de modo tão radical a experiência da violência? Qual futuro é possível com o passado incrustado na memória que não se reconhece e coexiste com a vivência não elaborada da violência – os fantasmas? Qual a possibilidade de não repetir como agente a violência que o vitimou?” (p.286).

Peralva (2000) prioriza a questão da relação violência e democracia e desenvolve na tese o fenômeno enquanto paradoxo brasileiro, já que nos últimos 30 anos, apesar da democracia ter progredido, ocorre o aumento da violência. A autora explica que, durante a transição democrática que se deu em uma ruptura progressiva com o sistema autoritário, instituições responsáveis pela ordem pública demandavam transformações que não foram priorizadas, e sem essas instituições novas a democracia abriu possibilidades para que a violência se desenvolvesse. Como estratégias adaptativas ao aumento da violência, a sociedade que, no âmbito de uma democracia deveria ser mais aberta, experimenta uma ressegregação para responder à insegurança. Nota-se que esse sentimento de insegurança vivido pela população não está interligado apenas à violência e à criminalidade em si, percebe-se que existem outros fenômenos constitutivos da violência.

Peralva (2000) ressalta que a redemocratização brasileira não se resumiu a um fato político, mas envolveu um conjunto de outras mudanças, como a crise econômica prolongada. No contexto, a violência generalizada que acompanhou essas mudanças, confluiu em uma transformação do plano social, tendo como efeito uma incapacidade das instituições responsáveis em garantir a ordem pública e demonstrando o seu despreparo frente às novas dimensões da vida na democracia.

Pensando na juventude pobre brasileira, a autora mostra que a sua inclusão no processo democrático é conseguido pela participação nos meios de comunicação de massa e também devido o aumento do nível de escolaridade da juventude. Mas, devido à ausência de políticas eficazes de redução das desigualdades de renda, a inclusão da juventude nessa construção do processo democrático permanece apenas no campo da aproximação simbólica entre o mundo dos ricos e o dos pobres. Na perspectiva a juventude frente à generalização da violência está imersa em uma sociedade em que os valores mínimos de cooperação, do reconhecimento do outro e do direito à vida não são compartilhados.

“Não há de se esperar uma vitória rápida contra a violência na qual a democracia brasileira está mergulhada. Nada se fará sem uma reforma profunda da polícia e da justiça. A fragilidade dessas duas instituições nos impede até hoje de contar os nossos mortos” (p. 186).

Peralva (2000) em síntese ressalta: a idéia de direitos humanos vem sendo interiorizada desde a década de 80, mas as novas idéias precisam ser transportadas para meios institucionais mais eficazes e defende que ao interrogar sobre a categoria da juventude este é o caminho para ir além da compreensão do universo específico de um grupo etário.

Outra contribuição singular é Oliveira (2001) que cartografou a juventude de periferia na contemporaneidade publicando sobre a invisibilidade social dada a esses jovens, que só emergem do invisível quando são tidos como ameaças à ordem pública ou mesmo quando já atingiram os registros policiais. Com essa lógica esse jovem é estigmatizado e exilado socialmente.

A pesquisadora indagou-se sobre a produção da adolescência infratora em uma esfera em que os adolescentes são vítimas privilegiadas da violência enquanto seus

delitos representam apenas 8% dos crimes praticados, isso sabendo que a juventude é significativa no total da população brasileira, em torno de 40%. Defende que o ECA já estabelece medidas de responsabilização do ato transgressor e focaliza na priorização