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CAPÍTULO 3: O Desenvolvimento humano e os sentidos subjetivos na

3.3 A constituição do Pensamento e da Linguagem

3.3.1 Subjetividade

Devido a importância de compreender as funções psíquicas no âmbito da atualidade da psicologia traçada por Vygotski, ressalto autores formadores da Psicologia Sócio-Histórica em relação as categorias, sentido e significado, como são entendidas em uma trama da subjetividade e da linguagem. Pois, a produção de sentido é constitutiva da subjetividade.

González Rey (2001) explana que o sentido representa um sistema subjetivo que expressa de forma singular o valor subjetivo do sujeito acerca de uma experiência vivenciada por ele. Mas esse sentido singular é emitido considerando a constituição do

valor subjetivo do sujeito cercada pelas subjetivações do espaço social onde o sujeito está inserido. Por isso, os sentidos subjetivos são formas de gerar visibilidade sobre processos complexos. É uma categoria de análise dos processos de subjetivação do sujeito e da sociedade.

O sentido define o que o sujeito experimenta psicologicamente. A categoria de sentido, faz parte da qualidade do psíquico e rompe a dicotomia individual-social, porque ela favorece uma representação da subjetividade que permite entender a psique como uma produção do sujeito que se organiza em suas condições de vida social concreta e histórica. Assim, o sentido subjetivo é definido como:

“a unidade inseparável dos processos simbólicos e as emoções num mesmo sistema, no qual a presença de um desses elementos evoca o outro, sem que seja absorvido pelo outro” (p.127).

Para González Rey (2001), o sujeito é um produtor contínuo de sentidos e, no momento de produção consciente de sentidos, o subjetivo assume uma postura de confronto dos sentidos dominantes que caracterizam o momento atual, caracterizando-se como unidade constitutiva da subjetividade:

“Nuestra definición de la categoria de sentido subjetivo se orienta a presentar el sentido como momento constituyente y constituido de la subjetividad, como aspecto definitorio de ésta, en tanto es capaz de integrar formas diferentes de registro (social, biológico, ecológico, semiótico etc) en una configuración subjetiva que se define por una articulación compleja de emociones, procesos simbólicos y significados, que toma formas variables y que es susceptible de aparecer en cada momento con una determinada forma de organización dominante” (González Rey, 2001, p. 18).

Seguindo a concepção sócio-histórica, Bock & Gonçalves (2005) conceituam subjetividade:

“Subjetividade é constituída em relação dialética com a objetividade e tem caráter histórico. Isso quer dizer que é na materialidade social que se encontra a gênese das experiências humanas que se convertem em aspectos psicológicos; quer dizer ainda que as experiências individuais e subjetivas são possíveis apenas a partir das relações sociais e do espaço da intersubjetividade, e que estes têm existência e determinação material e histórica” (p.113 e 114).

Vygotski (1997) apesar de não nomear a subjetividade em seus estudos, como atualmente é identificado pelos teóricos da Psicologia Sócio-Histórica, refere-se a esse processo de constituição do sujeito:

“El comportamiento del hombre se devela em toda su complejidad real, em su potente significado, como um proceso dinâmico y dialéctico de lucha entre el hombre y el mundo y dentro del propio hombre” (p. 157).

Na Psicologia Sócio-Histórica percebe-se que o sujeito constrói-se num processo de significação com sentidos pessoais. Os sentidos são processuais e sociais, ou seja, na relação social o sujeito relaciona-se com os significados construídos sócio- historicamente; e a linguagem funciona como mediador entre o sujeito e o outro, atuando na mediação da relação desse outro para o sujeito em uma lógica dialética. Desta forma, está posto o surgimento do sujeito na intersubjetividade, em que o intrapsíquico constitui-se nesse âmbito. Esses dois processos, intrapsíquicos e interpsíquico, são constitutivos um do outro.

Ainda baseando-se em González Rey (2004), a subjetividade representa um sistema aberto que se expressa permanentemente pela ação, é uma categoria que define o desenvolvimento psicológico de maneira inseparável da cultura. A subjetividade é uma expressão da cultura, pois nela surge e é parte constitutiva dela (González Rey, 2002).

“A psique existe em uma dimensão subjetiva só dentro da vida cultural, a qual surge constituída no nível psicológico, por configurações de sentido e significação, que não são reguladas de forma direta pela ação de nenhum sistema externo, nem sequer pela mesma cultura em que aparecem” (González Rey, 2002, p. 12).

A subjetividade não é resultado subjetivo de processos objetivos externos a ela, é uma expressão objetiva de uma realidade subjetivada, assim, pressupõe superar dicotomias entre o social-individual, o interno-externo, o afetivo-cognitivo, o intrapsíquico-interpsíquico.

Aplicando essa compreensão de que a subjetividade pressupõe superar as dicotomias citadas anteriormente, à medida que a dimensão de sentido subjetivo rompe com a relação linear entre evento objetivo e significação psicológica, segundo González Rey (2005b), emerge o sentido como dimensão subjetiva. Elucida-se que a dimensão

subjetiva está implicada tanto nos sentidos anteriores quanto na produção subjetiva atual do sujeito e o sentido subjetivo se coloca como produção histórica constitutiva do sujeito que se dá em momentos internos e externos continuamente.

Fundamentado nessa definição de sentido subjetivo, González Rey (2005a) considera que o conceito de sentidos subjetivos, fundamenta uma concepção histórico- social da subjetividade.

A subjetividade é um sistema processual, plurideterminado e contraditório em constante desenvolvimento e não se caracteriza por estruturas constantes que permitam construções universais sobre a natureza humana. Partindo desse pressuposto, González Rey (2002) aponta que:

“a flexibilidade, versatilidade e complexidade da subjetividade permitem que o homem seja capaz de gerar permanentemente processos culturais que, bruscamente, modificam seu modo de vida, o que por sua vez, leva à reconstituição da subjetividade” (p. 37).

Esse autor retoma a concepção de sujeito histórico explanando que a constituição subjetiva atual representa a síntese subjetivada de sua história pessoal. No plano social o sujeito produz sentidos e significações, que, ao constituir-se subjetivamente, se convertem em constituintes de novos momentos do desenvolvimento subjetivo, ou seja, o sentido subjetivo localiza-se na base da subversão de qualquer ordem que se impõe ao sujeito (González Rey, 2005b).

Logo, o sujeito, por meio da elaboração de seus sentidos subjetivos, tenciona-se frente ao plano social em que está inserido. Por meio de suas significações se constrói enquanto sujeito singular que se atualiza permanentemente nos dois contextos, interno e externo respectivamente, o das configurações subjetivas individuais e o dos sentidos subjetivos produzidos nos espaços sociais nos quais percorre.

González Rey (2002) posiciona-se frente ao processo de apropriação, afirmando que a subjetividade não é simplesmente a apropriação do externo no interno. Constitui- se frente a um processo em que o plano social atua como instância subjetiva. Defende que o plano social é uma instância perpassada pela subjetividade. Conclui que toda situação social objetiva se expressa com sentido subjetivo nas emoções e processos significativos que se produzem nos atores dessas situações sociais.

Seguindo a idéia de que o sistema subjetivo é aberto, abrangente e irregular, González Rey (2005a) defende que não existem formas universais de subjetivação de uma atividade concreta, cada atividade inclui sentidos subjetivos diferentes, pois cada um origina-se da história do sujeito em particular e do seu contexto atual de vida. Logo, o sujeito é uma categoria central no estudo da subjetividade.