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4.2 ESTRATÉGIAS NO AUDITÓRIO ITINERANTE

4.2.3 A voz intencionada

Pode-se partir da anatomia humana para compreender como se produz a voz e sua importância para um comunicador. A voz é o código sonoro mais efetivo para transmitir uma mensagem radiofônica. Ela se origina a partir da circulação do ar pelo aparelho respiratório, onde é possível a aspiração e a respiração. Estes processos são fundamentais para a geração da voz e os seus usos. No entendimento de Mágda Cunha, junto com a oralidade, “[...] a voz é outra evidência fundamental do comportamento humano e também de reconhecimento [...] O próprio conteúdo de emissão poder ser controlado, alterado e conduzido da forma que mais agradar ao emissor e de acordo com seus objetivos”.242

240 CASTILLO, 1984, p. 49. 241 Ibid., p. 32.

O modo de articular as palavras depende da intencionalidade de cada comunicador. Conforme Paiva (1995) “a materialidade que é constituída pela voz no discurso radiofônico é o que torna possível aos apresentadores a construção de uma imagem de um profissional, cujo papel vai além da simples reprodução oral de um acontecimento”.243 A velocidade do texto radiofônico, que dá ao ouvinte apenas uma chance de ser entendido, deve ser claro e preciso, já que o ouvinte está ambientado em locais capazes de lhe distrair enquanto ouve a emissão. Ao estudar a voz do comunicador, Mazzarino compreende que este “[...] é o dispositivo primordial pelo qual se realizam as estratégias de captura dos ouvintes. A palavra que passa pelo rádio é uma fonte simbólica”.244

No Gente Nossa, Itor Rosa faz uso das propriedades essenciais para desenvolver a voz com qualidade, e assim possibilitar boa desenvoltura ao microfone e entendimento por parte dos ouvintes. Entre as qualidades de sua voz, pode-se destacar o tom alto e forte. A voz empregada por Itor Rosa é característica do discurso radiofônico popular, que se analisou anteriormente. Neste sentido, segundo Lopes,

a voz do discurso radiofônico popular é à primeira vista, uma voz narrativa, uma voz que apresenta, relata ou reflete sobre um tema. No entanto, em virtude da alta intensidade dessa voz e da força imaginativa que desencadeia, ela deixa de ser apenas uma voz que apresenta para ser uma voz que representa.245

Ao iniciar sua fala, Itor se utiliza de palavras simples, com aumento do tom às expressões amigáveis e quando anuncia as atrações. A sua fala é usualmente coloquial e alegre, o que revela a facilidade de comunicar ao microfone e de lidar com o público. Para Paiva, a voz “carrega o imaginário na sua expressão e produz elementos de significação que nenhuma imagem concreta consegue descaracterizar”.246

Ao identificar um atração musical, ao anunciar o sorteio ou distribuição de brindes, ou mesmo para agradecer a presença da platéia no auditório, o tom da voz é mais alto. É neste momento que se pode identificar com mais freqüência a alteração do tom de voz, mas isso não

243 PAIVA, 1995, p. 22.

244 MAZZARINO, Jane Márcia. A cidadania da escuta: os ouvintes como produtores de sentido, inseridos no

processo comunicacional mediado pelo rádio - um estudo de caso do Programa Acorda Rio Grande, da Rádio Independente de Lajeado, RS. (Dissertação, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação - UNISINOS), São Leopoldo, 2001, p. 143. Explicita que a capacidade motora do ser humano de pronunciar sons variáveis faz surgir um código auditivo para objetos, acontecimentos e imagens e dá surgimento à fala. Desses códigos auditivos frutificam imagens, que permitem reconhecimentos, tanto da linguagem quanto dos sujeitos envolvidos, e dos quais também se vale o rádio, um meio essencialmente sonoro, que funciona atrelado ao imaginário do ouvinte.

245 LOPES, 1988, p. 131. 246 PAIVA, op. cit., p. 21.

significa que em outros momentos ele se utilize da mesma qualidade. “En cualquier caso, y a

veces de forma inconciente, el hablante modifica el tono para dar mayor información a sus interlocutores o para mantener su interes”.247 Para justificar a alegria de fazer o programa e

entusiasmar o público presente, Itor Rosa usa da intensidade para falar. Sua voz pode variar conforme a emoção que se dá diferenciada a cada momento.

A entonação na hora de dizer algumas palavras mostra o que o apresentador gostaria de passar ao ouvinte em casa, e mesmo àquele presente no auditório. Itor toma cuidado em não imprimir a mesma intensidade na voz do início ao fim do programa. Sempre em entonação alegre, busca variar a intensidade para não incorrer no risco de cansaço, já que ao falar mais alto, poderá perder a força de sua expressividade antes mesmo do programa acabar. É quando se observa outra qualidade em sua voz. Pela prática de comunicar e experiência em locução, o apresentador do Gente Nossa toma cuidado em relação à duração da expressão que vai utilizar.

Comumente interessado na qualidade daquilo que transmite, especialmente com o intuito de ser extremamente claro no que diz, ele observa a velocidade da locução. Sua manifestação se dá numa velocidade parecida àquela que se pode encontrar num diálogo entre dois amigos, por exemplo. Não há uma percepção definida da velocidade de se falar no rádio, mas Itor Rosa procura emitir corretamente os sons das palavras, para o público compreender com clareza. O ritmo que emprega passa por variações perceptíveis quando se nota o envolvimento do público com o apresentador. “Não dá prá deixar a peteca cair. Preciso manter o auditório atento as minhas ações e ansioso por mais interação. Tenho que ser direto e pensar rápido para agir sem perda de interesse de quem está lá”.248

Intencionado a imprimir um discurso de proximidade com o ouvinte, o apresentador utiliza-se da voz para criar situações de relacionamento, de sensações e de experiências vividas pelos que estão no auditório ou em casa. Este modo de falar de Itor Rosa causa, nos ouvintes, um efeito de identificação-projeção. Em outros termos, no olhar de Lopes, “o reconhecimento das vozes pelos ouvintes dá-se por uma operação de associação pela qual o modo de falar é associado ao modo de ser dos apresentadores”.249

247 VITORIA, Pilar. Produción radiofónica: técnicas básicas. México: Trillas, Universidade Internacional de

Florida, 1998, p. 48.

248 ROSA, 2005. Entrevista realizada no dia 14 fev. 2006. 249 LOPES, 1988, p. 165.