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2.3 O RÁDIO DE MÚLTIPLAS MEDIAÇÕES: DO RADIOTEATRO AO GENTE NOSSA

2.3.3 O programa Gente Nossa: história e atualidade

A constante participação em eventos já não bastava para o locutor Itor Rosa. Junto com a profissão de gerente bancário, decidiu usar da criatividade. Foi quando criou um

133 FERRARETTO, 2005, p. 578-579. 134 Ibid., p. 593.

programa radiofônico terceirizado e que iria ao ar aos domingos pela manhã: o Gente Nossa, Gente que Brilha. Logo no primeiro ano de atividade, em 1967, gincanas com brincadeiras levavam cerca de 200 pessoas ao local, onde também se apresentavam grandes artistas da música gauchesca e intérpretes da Música Popular Brasileira. “Cobrávamos um conto de reis no ingresso. Tínhamos oito patrocinadores que nos forneciam brindes de graça. Estes eram jogados ao público, ou sorteados, o que era mais comum” (ROSA, 2005). Para produzir o programa, Itor Rosa se disse inspirado pelo que costumava ouvir nas rádios de Porto Alegre e que visitava com freqüência, inclusive para conhecer algumas atrações musicais e convidá-las para o programa em Venâncio Aires.

Na parte musical do Gente Nossa, Gente que Brilha, por diversas vezes passaram artistas importantes como Teixeirinha, Pedro Raimundo e Gildo de Freitas. A maior atração que o programa teve foi Flávio Ermínio Delavusca,

[…] na época conhecido pelo nome fantasia de ‘Gino Morelli’. Eu trabalhava no Banco ainda quando ele apareceu na agência para conversar comigo. Disse que queria se apresentar do Gente Nossa, Gente que Brilha. Ele era tenor do Teatro Nacional do Rio de Janeiro. Tinha origem em Venâncio Aires e estava visitando familiares (ROSA, 2006).

Mas por causa da ditadura, iniciada em 1964, o programa teve que parar, depois de ficar dois anos no ar. O período caracterizou-se pela falta de democracia, supressão de direitos, perseguição política e censura. Durante o Regime Militar, liderado inicialmente por Castello Branco, todas as formas de perseguição eram intensificadas.

Houve a promulgação do AI 5, e todo e qualquer veículo de comunicação deveria ter a sua pauta previamente aprovada e sujeita a inspeção local por agentes autorizados. O governo havia proibido que houvesse a distribuição de brindes gratuitos em programas de rádio. Outro fato negativo para a estabilidade do programa eram as canções trazidas pelas atrações musicais que poderiam ser interpretadas como uma afronta aos militares. Era comum na época encontrar músicas que protestavam contra o Regime imposto. 136

Anos depois, já aposentado, o apresentador do programa administrava um Banco de Fomento em Venâncio Aires. A atividade não lhe rendia grande envolvimento profissional e nem mesmo demandava de muito tempo. Foi assistindo televisão e ouvindo rádio que ele teve a idéia de voltar a apresentar um programa. “Eu percebi que o sucesso da TV e do Rádio na época eram os programas de auditório. Este estilo poderia garantir bons índices de audiência”.

(ROSA, 2006). De acordo com o apresentador, a idéia era fazer ressurgir o auditório do Gente Nossa, Gente que Brilha, já que não haviam mais programas deste tipo na emissora. Localizada em novo prédio, a Rádio Venâncio Aires não tinha condições de abrigar um auditório e, não mais podendo contar com o espaço do Colégio Nossa Senhora da Aparecida, Itor Rosa decide inovar: lança o auditório itinerante do Gente Nossa.

A proposta foi estudada por cerca de dois anos antes de ser efetivado o contrato entre o criador e a direção da Rádio Venâncio Aires.

Quase 30 anos depois do Gente Nossa, Gente que Brilha terminar, entrava no ar o

Gente Nossa, desta vez com uma nova proposta. Bimensal, com apenas uma hora de

duração, o intuito, inicialmente, era descobrir se a idéia de fazer um programa de auditório e itinerante poderia ter boa aceitação. A inovação de apresentações em bares, canchas de bochas, estacionamentos de supermercado e mesmo no meio da rua foi aos poucos ganhando adeptos que lotavam o auditório improvisado às sextas- feiras à noite, das 21h30mim às 22h30min. Dois anos depois, houve reformulações na grade de programas da emissora e o Gente Nossa ganhou espaço semanal, com duas horas de apresentação, das 21 às 23 horas. Os programas itinerantes eram e continuam sendo intercalados com programas apresentados no estúdio da RVA.137

A repercussão da itinerância na cidade surtiu o interesse de comunidades religiosas do interior do município e de municípios vizinhos. A procura pelo programa aumentou e começou-se a agendar a visita do Gente Nossa com a finalidade de oferecer uma atração a mais em festas comunitárias. O programa era apresentado de forma gratuita às comunidades requisitantes e passou a exercer, junto com os outros, a função de aumentar a recepção da Rádio Venâncio Aires na região.

Nos últimos anos, o Gente Nossa tornou-se um ponto de passagem de grandes artistas da música. Berenice Azambuja, Três Xirús, Volmir Martins, Xará Timbaúva e Hélio Jardim, Ana Paula Aragana e tantos outros cantores e duplas foram e ainda são sucessivas atrações. O programa, por sua característica de inserção em diferentes comunidades regionais, abria as portas para todo e qualquer tipo de manifestação cultural, especialmente musical. Com intenções comerciais, o Gente Nossa passou a exercer papel fundamental para artistas amadores que viam no programa uma possibilidade de ascensão na carreira.

A cada edição itinerante, Itor Rosa oportunizava apresentações de valores locais, da comunidade onde visitava, do bairro onde se instalava. Violeiros, cantores, tecladistas eram apenas algumas das atrações do Gente Nossa.

A experiência de integrar no quadro de atrações musicais os artistas desconhecidos até então rendeu ainda mais interesse por parte dos patrocinadores Em 1998, decidi lançar o primeiro produto genuíno do programa. Reuní alguns artistas da região para gravarem a primeira fita K-7, no estúdio da MGM gravações, em Porto Alegre. A gravação continha uma seleção de 14 interpretações dos melhores do Gente

Nossa.138

A relação a seguir, com o nome da música, o autor original e o nome dos intérpretes do Gente Nossa:

Lado A

Fantasia (Dauri da Rosa) - Dauri e Luis Clério Vá para o Inferno (Janete T. Jung) - Irmãs Jung

Você é o que esperei (André L. da Rosa) - Black Samba Fazer amor (Leonelo S. Lopes) - Leonelo

Adeus solidão (Newton Miranda) - Imelda Tão cedo (José N. de Souza) - Priscila

Viola Companheira (Oclécio P. Gomes) - Oclécio e Olane

Lado B

Buenos Dias, Venâncio (Lélia/Gerson) - Lélia e Gerson Ainda existe um lugar (Wilson Paim) - Ricardo

Não Vamos fazer guerra (D´Jair) - Léo Büllow

Mundo de Amor (Gaúcho da Fronteira e Genésio Simão) Libério e Sônia Frente a frente (Royce do Cavaco) - Carla

Chinita Aragana (Vilson Ceccoto) - Bartholo

Pedindo Bis - (João Paulo e Daniel) - Grupo Nova Atração.

A metade das canções gravadas na Fita K-7 são de autoria dos próprios intérpretes. Na época do lançamento, o material foi comercializado ao preço de R$ 3,00 cada unidade. Mil foram vendidos.

Sempre ao vivo, o programa já foi transmitido de Porto Alegre em duas oportunidades, bem como de São Carlos, Estado de Santa Catarina e de diversos municípios dos Vales do Taquari e Rio Pardo. Rádios de municípios vizinhos como Santa Cruz do Sul e Estrela já retransmitiram o Gente Nossa em cadeia com a Rádio

Venâncio Aires 910 AM pelo período de quase dois anos.139

138 ROSA, 2006. Entrevista realizada no dia 29 de jan. 2006.

Nos dias de hoje, entre os programas que se destacam na itinerância está o apresentado na época de Natal e que reuniu em cada um, nos últimos anos, cerca de quatro mil pessoas no estacionamento de um supermercado no centro de Venâncio Aires. Já houve, em duas oportunidades, inclusive, a chegada do Papai Noel em um helicóptero que pousou entre a platéia do programa. Também houve transmissão, ao vivo, do programa de dentro de um helicóptero, desde a decolagem em Porto Alegre até o pouso, no estádio Edmundo Feix, do Esporte Clube Guarani, em Venâncio Aires.