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A voz tem sempre algo a dizer (Psicodinâmica Vocal)

Educação Científica eTecnológica: a voz em ação, uma opção

Capítulo 2 Um novo lugar para a voz

3.3 A voz tem sempre algo a dizer (Psicodinâmica Vocal)

A voz é parte de nossa identidade, um dos nossos mitos pessoais no sentido de que se constrói pela interpretação de nossas experiências de comunicação e é sustentada pela cultura em que estamos imersos. (Ziemer, 1993).

Logo, o padrão de voz de uma pessoa faz parte de sua história enquanto sujeito e engloba desde o vocabulário utilizado até elementos mais específicos da qualidade vocal e seus parâmetros. (Behlau e Pontes, 1995).

O objetivo do trabalho com a psicodinâmica vocal é favorecer meios para que o sujeito reconheça, ele próprio, os elementos que compõem sua qualidade vocal e ainda, trazer ao consciente, informações relativas aos efeitos de sua voz sobre o ouvinte.

Qualidade vocal, segundo Behlau e Pontes (1995), é a impressão geral que se tem a respeito da voz de um determinado sujeito, considerando um padrão básico de emissão e a coleta de informações de dados pessoais, desde características físicas até aspectos da sua formação educacional/profissional.

De acordo com Behlau, Dragone, Ferreira e Pela (1997) devemos exercitar nos ouvir enquanto falamos, para conhecer nossa voz, percebendo se é fina, grossa, agradável, alta demais, baixa, ou seja, nos conscientizando sobre suas características. E também, para nos beneficiarmos quanto ao seu uso, percebendo sua funcionalidade. Como a utilizamos ao contar um segredo? Como conseguimos chamar alguém que estava distante sem prejudicar as pregas vocais? Ela é “bonita”? Combina conosco?

Conforme as situações e contextos, moldamos e ajustamos nossa voz para alcançarmos certos objetivos. As mesmas autoras relatam exemplos disso: pedir algo emprestado ou um favor a alguém é algo que não pode ser feito falando forte ou gritando; para pedir desculpas ou ganhar um presente também não podemos falar grosso e forte. Ainda nesse sentido, elas referem que a voz revela quem somos e como estamos: alegres – voz clara e brilhante; tristes – voz quase some, ficando bem baixinha; irritados – gritando; nervosos – voz trêmula.

[...] é preciso saber que, muitas vezes: uma voz aguda sugere alegria, exaltação...;média: equanimidade, serenidade, cortesia...; grave: pessimismo, ameaça, tristeza...Com relação à intensidade, a voz plena manifesta decisão, orgulho, entusiasmo..., enquanto um murmúrio expressa timidez, resignação, passividade, segredo... Muita velocidade implica pressa, angustia, impaciência e a lentidão, preguiça, tristeza, indiferença, desatenção. (REYZÀBAL, 1999,p.67)

Também se podem perceber questões da idade (voz de criança e idosos costumam ser diferentes), de sexo (de olhos fechados, na maioria das vezes sabemos se estamos falando com um homem ou uma mulher), saúde (voz mais grave, rouca e abafada quando se está com gripe ou crise alérgica), emoção (descrito acima), intenção (muitas vezes sabemos se a pessoa esta querendo agradar, convencer, ser irônica ou falsa), profissão (uns tendem a gritar e outros a falar mais baixinho) e personalidade (os tímidos e introvertidos costumam falar baixinho e fraquinho, enquanto que os mais extrovertidos ou que gostam de mandar, falam mais forte e grosso).

Servilha (2000) explica que deve ser realizada uma análise acústica por intermédio de máquinas e aparelhos específicos, com mais objetividade, ou uma análise perceptivo-auditiva, através da audição do avaliador (método mais subjetivo), para conhecer o som produzido pelo sujeito, em suas nuances, e então sugerir possíveis ajustes.

Nessa avaliação, além das características do comportamento vocal (já mencionadas), Behlau e Pontes (1995) indicam que podem ser analisados parâmetros relativos:

- ao Pitch29: sensação psicofísica da altura, considerando a variação entre

sons graves e agudos. Conforme Servilha (2000), situações mais alegres tendem ao uso de sons mais agudos, enquanto as mais sérias inclinam-se aos sons mais graves.

- ao Loudness: impressão psicofísica da intensidade julgando-se ser a voz forte ou fraca.

- à Ressonância: relativo à amplificação ou ao abrandamento da intensidade dos sons.

- à Entonação: melodia ou padrão que engloba inflexões e pausas, entendendo a palavra inflexões a partir de Soares e Picolotto (1977 apud Servilha 2000), como a altura vocal que se desloca durante a emissão, em curvas ascendentes - por exemplo, evidenciada pela colocação de uma pergunta convidando o interlocutor a intervir, complementar; e/ou descendentes – perceptível nas frases declarativas ou quando se quer concluir sua fala, como se estivesse oferecendo o turno de fala para o ouvinte. Nessa questão específica, Servilha (2000, p. 17) chama a atenção para momentos em que o uso dessa característica for indevido, “pode ocorrer uma situação constrangedora, pois o ouvinte vai entender como indicação do início de seu turno, interrompendo o falante”.

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Os termos em inglês “pitch” e “loudness”, de acordo com Servilha (2000, p.16) “foram incorporados a nomenclatura brasileira para descrição técnica das características da voz”

- à Articulação da fala : movimentos harmônicos de língua, lábios, bochechas e palato, entre outras estruturas, que se utiliza para a emissão dos sons da fala inteligíveis.

- à Velocidade de fala: ritmo próprio que cada sujeito imprime à sua fala, segundo sua personalidade, numa forma mais lenta ou mais rápida segundo um padrão.

- ao Ataque vocal ou sonorização inicial: primeiro efeito audível subseqüente à vibração das pregas vocais na fonação, e que deve ser suave e realizado com um bom suporte respiratório. Quando esse for brusco, indica a presença de golpe de glote e tem o efeito de uma pequena tosse que, se ocorrer diária e/ou constantemente, poderá irritar e causar alterações vocais (Pinho, 2002).

De acordo com investigações recentes, as “qualidades” da voz e não só do discurso transmitem até cerca de 38% do significado que o receptor recebe. A voz é o instrumento da comunicação oral e, como qualquer som complexo, caracteriza-se por diferentes componentes. Por isso, é importante valorizá-la como característica pessoal e como veículo de relações interpessoais. (REYZÁBAL, 1999, p.61)

Complementando essa discussão, Elsea (1989) reforça que o ouvinte considera agradável receber mensagens com dicção agradável, sem exageros e monotonias, ressaltando que a voz afeta fisiologicamente quem a emite a escuta, e exemplifica: se uma pessoa fala rápido, é provável que quem a escuta, tenha o ritmo cardíaco acelerado modificando seu padrão respiratório. Ao contrário, falar calmamente, fará com que a pessoa tenha reações físicas correspondentes a esse tom de voz.

E ainda, Reyzábal (1999) faz lembrar que nessas relações entre locutores (falante/ouvinte) está também o silêncio, o saber escutar, afinal monólogo permanente é mau sinal na prática educacional (analisando a questão pelo viés do professor). Numa interação pedagógica - a qual a autora denomina intercâmbio didático, também não se pode falar sem parar e todos ao mesmo tempo. “[...]. As palavras do professor devem enriquecer a informação, favorecer a auto-estima, motivar o estudo, orientar sobre dificuldades de comunicação, servir como modelo de língua e tantas outras coisas mais...(p.82)

Capítulo 4