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4. UMA REFLEXÃO EM TORNO AO CONCEITO DE RURALIDADE NA

4.2. Entender o Rural da Colômbia

4.2.3. Abertura económica e o narcotráfico

Em 1990 a Colômbia se lança a uma política de abertura econômica, a qual se traduz a abolição do protecionismo econômico no país. Isso se faz com a finalidade de impulsionar o processo de modernização no campo. Esta abertura implicou que as políticas se modificaram por esquemas seletivos de apoios diretos, com maior volume de recursos e ajudas para o setor agropecuário o qual produz um aumento nas áreas dedicadas à pecuária, diminuído as áreas de produção e exportação de origem agrícola e incrementado a importação de alimentos (FAJARDO, 2009). Ao mesmo tempo se evidenciou a incapacidade do Estado para resolver com os problemas gerados em outros sectores econômicos (como a indústrias, comercio e serviços) para absorver a mão de obra ociosa, gerando pelo deslocamento de camponeses para a cidade, em consequência em grande medida pela modernização do campo.

Fajardo (2009) ressalta os aspectos mais relevantes produzidos pela apertura econômica na década de noventa:

1. A aceleração da “evasão rural” do emprego.

2. O aceleramento das migrações internas rural-urbanas e rural-rurais no país. 3. A diminuição das áreas semeadas.

4. A recomposição da produção agrícola em termos de redução de cultivos temporais e da ampliação de cultivos permanentes.

5. A expansão da fronteira agrária. 6. O aumento da grande propriedade.

7. A diminuição da produção agrícola e o aumento de áreas dedicadas à pecuária.

Por outra parte, a adaptabilidade das atividades econômicas às reformas institucionais tem criado serios problemas no mercado, à medida que estes não foram atendidos pelas novas políticas estabelecidas, como por exemplo, a falta de intervenção nos mercados agropecuários não permitiu uma reorganização progressiva da oferta aos novos preços (PNUD, 2011). O novo modelo rural estimulou uma maior participação do setor privado para definir os caminhos do sector agrário, dando subsídios diretos e negociando tratados de livre comercio, que teve como resultado a saída de muitos produtores do mercado, que não podiam competir com os preços do mercado internacional, e consolidou a especialização produtiva dos cultivos permanentes (PNUD, 2011).

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A abertura econômica traduzida como a política para impor o novo modelo agrícola, acarretou que os pequenos e médios produtores, e em especial camponeses, tivessem que competir com a balança de preáços, além das limitações para o acesso a terra, as tecnologias de elevada produtividade e carentes de subsídios, tiveram como resultado perdas econômicas para os agricultores, incentivando a produção de cultivos ilícitos (FAJARDO, 2009). Estabeleceu-se uma economia de narcotráfico, a qual tem sua raízes no final da década de 1970, com os cultivos de maconha na Costa Atlântica, em particular em Guajira, Sierra Nevada de Santa Marta e Urabá, e também se estendeu a algumas localidades do departamento de Meta (FAJARDO, 2009).

Já nos anos de 1980 e 1990 ampliaram-se os cultivos de coca e papoula, Segundo Fajardo (2009) “la información mas reciente asigna aproximadamente 130.000 hectares a las plantaciones de coca, 10 a 12000 a la amapola y 8 a 10.000 a la marihuana.” (pg.113). A produção e comercialização de psicotrópicos se têm desenvolvido em áreas de fronteira interna e externa, zonas marginais, que tem um elevado valor ecológico, caracterizadas pelo difícil acesso e pouco controle do Estado, além de serem zonas atraentes para a exploração de recursos estratégicos e para o estabelecimento de grandes projetos energéticos (FAJARDO, 2002). Em virtude dessas práticas, essas zonas se convertem em campos de batalhas diante da constante luta pelo espaço, recursos naturais e cultivos, por parte de agentes externos: guerrilhas, paramilitares em aliança com o Estado28, narcotraficantes e multinacionais. As formas como essas batalhas se têm produzido são das mais violentas, em que a população civil fica em meio à violência, tornando-se as principais vítimas. Outra consequência dos conflitos é o grande deslocamento forçado, o qual na atualidade tem alcançado níveis dramáticos, tornando a Colômbia, provavelmente, o país mais afetado pelo problema dos refugiados internos, estimados em mais de dois milhões de pessoas (ESCOBAR, 2004:54).

Por outro lado, a produção de psicotrópicos por parte da população civil envolvida neste cenário de guerra, de deslocamento forçado e sem controle do Estado, como é o caso do Pacífico sul, da zona Andina e da região da Amazônia, que conforma o sul e sul-oriente do país, tem significado uma possibilidade de superar as condições de pobreza na qual se encontram os camponeses, indígenas e afrodescendentes que constituem as populações dessas regiões, já que os cultivos ilícitos proporcionam uma maior renda para muitas famílias, que

28 A partir dos anos oitenta o Estado se tem estabelecido alianças clandestinas com grandes narcotraficantes

para organizar, financiar e operar os grupos paramilitares, os quais foram criados para destruir as bases sociais da guerrilha e impedir a cobrança de impostos aos narcotraficantes (FAJARDO, 2002).

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tem deixado de cultivar alimentos para cultivar folhas de coca (Erythroxylum coca), papoula (Papaver somniferum) ou maconha (Cannabis sativa), em muitos dos casos tem sido obrigados a cultivar estes produtos ou sair das terras que ocupam. Em oposição a este panorama desalentador o governo colombiano tem tomado medidas para combater o narcotráfico e eliminar os cultivos ilícitos, em aliança com o governo dos Estados Unidos.“En Colombia, la fuerte presión de las autoridades norteamericanas han impuesto la erradicación forzada a todo tipo de productores, con énfasis en la pequeña y mediana producción, desde la fumigación desde aeronaves”(FAJARDO, 2002:130), o qual tem ocasionado consequências negativas para os agricultores e danos ecológicos irreparáveis nessas regiões que se caracterizam por sua grande fragilidade, como são as selvas, o Piedemonte amazônico, os paramos e os bosques andinos. As medidas tomadas pelo governo da Colômbia no combate ao narcotráfico e aos cultivos ilícitos agrava a situação, já que como consequência da erradicação forçada (fumigações) se gera a ampliação desmesurada das áreas de cultivos ilícitos (FAJARDO, 2002). E portanto causando um dano maior as áreas com grande valor ambiental.

A abertura economica provocou impactos na economia colombiana, pois a indústria e a agricultura encontravam-se em condições desfavoráveis para competir com os mercados externos, afiançando por uma parte, os cultivos permanentes ante os cultivos transitórios e, por outra, beneficiando o setor pecuário. A implantação da monocultura significou a transição ao modelo agrário moderno, que não conseguiu se efetivar de forma positiva no país, criando uma crise agrícola que afiançou a plantação de psicotrópicos. A (des)territorialização dessas duas formas de cultivos lícitos (monocultura de palma de óleo e cana por exemplo) e ilícitos (psicotrópicos), se tem dado através de ações violentas, da expulsão da população civil, entre eles camponeses, indígenas e negros que ocupavam as áreas de conflito e tem acirrado os conflitos internos que já duram mais de cinquenta anos.

Desta forma, houve o aumento da concentração da propriedade fundiária, o que implica no domínio das terras mais favoráveis em mãos de poucos grandes proprietários, o campo submundo na pobreza, e muitos dos desterrados nas cidades, somado aos custos ambientais que a implantação desse “novo modelo” produz no campo colombiano.