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4. UMA REFLEXÃO EM TORNO AO CONCEITO DE RURALIDADE NA

4.2. Entender o Rural da Colômbia

4.2.6. Rural Incompleto ou territórios Alternativos?

O rural incompleto constitui os espaços rurais ainda não completamente integrados ao sistema capitalista como um todo, desde a perspectiva de um modelo de economia neoliberal, como discutido no item anterior, e que o PNUD (2011) tem definido para a Colômbia da seguinte forma:

Se evidencia en el hecho de que pueden encontrarse sociedades rurales bien diferenciadas: algunas conservan gran parte de las características más tradicionales (el patriarcalismo, por ejemplo), otras están en procesos de transición hacia sociedades modernas, y otras, definitivamente, entraron en la modernización (PNUD, 2011, pg.30).

Em contraponto se propõe uma visão destes rurais incompletos como espaços de resistência os quais se refletem em locais de floresta tropical como no Pacífico colombiano, em movimentos de resistência de trabalhadores sem terra ou agricultores que mantém uma produção sustentável baseada nos princípios da agroecologia. Na Colômbia estes espaços de resistência, ou rurais incompletos, se visualizam nas terras das comunidades indígenas, afro- colombianas e camponesas, que tem criado caminhos alternativos para a permanência, reafirmação de sua identidade étnica e reprodução de sua cultura nos espaços rurais, dessa

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forma se constituem os Resguardos Indígenas, os Conselhos Comunitários da população negra e as Zonas de Reserva Camponesa (ZRC).

Como os Conselhos Comunitários no território negro do Pacífico, já foi discutido no capítulo anterior, cabe analisar as Zonas de Reserva Camponesa e Resguardos Indígenas, investigando se estes representam os rurais incompletos ou territórios alternativos.

Segundo Fajardo (2002), a ZRC é uma figura construída a partir das demandas de colonos de diferentes partes do país, devido aos processos de expulsão violenta sobre a propriedade da terra na Colômbia. As ZRC foram instituídas a partir da Lei 160 de 1994, a partir de mútuos compromissos entre o Estado e os colonos no qual: “El Estado titularía a los colonos en áreas sujetas a protección ambiental y protegería sus titulaciones, y los colonos se comprometerían a darle manejo sostenible a los bosques y demás recursos incluidos en la reservas” (FAJARDO, 2009:101). No início esta figura o que tentava era frear o latifúndio na Colômbia, mas estes planejamentos foram-se ampliando até se configurar em uma luta não só pela terra, senão pelos direitos sobre esta e o território.

As ZRC têm gerado conflitos, pois não mantem o statu quo do campo (FAJARDO, 2002), ademais estas comunidades camponesas também têm encontrado nesta figura “el instrumento mas adecuado para garantizar sus derechos, especialmente al territorio, a la tierra y a la seguridad jurídica de su tenencia” (ILSA; INCODER, 2012:15), onde lutam pela autonomia sobre a terra e embasam sua visão do território.

Desde a aparição da norma até a atualidade se tem constituído formalmente seis ZRC, localizadas nos limites das fronteiras agropecuárias, em regiões de conflito armado e de ausência estatal, o qual corresponde a um panorama que não é exclusivo do Pacífico colombiano, senão das muitas zonas rurais na Colômbia, nas quais se desconhecem os direitos sobre a terra e o território com a finalidade de transformá-la em capital (ILSA; INCODER, 2012). A isso os camponeses tem respondido com sua organização e luta histórica pela terra, representado nas ZRC, um meio para garantir a terra e futuro do campesinato colombiano.

Os Resguardos Indígenas, por sua vez, “constituyen territórios reconocidos por el Estado como propiedad de comunidades indígenas organizadas” (FAJARDO, 2002:104). Esses espaços foram criados no período colonial como iniciativa para preservar a população indígena sobreviventes a conquista, constituindo uma estratégia da Coroa Espanhola para a operação do sistema econômico. Os resguardos em seu início se estabeleceram nas regiões com maiores núcleos de população nativa, no centro, oeste e sul da região andina e em

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algumas áreas do litoral do Caribe (FAJARDO, 2002:104). Mas com as lutas entre grandes propietarios e nativos as terras destinadas a Resguardos foram expropriadas, ocorrendo a redução dos Resguardos Indígenas, que foram os que sobreviveram à violenta expropriação pelos terratenentes.

No século XX, as lutas indígenas vão se consolidando e se organizando, focando na defesa do território indígena outorgado desde a colônia e na luta pelos direitos obtidos na Lei 89, de 1890, “considerada como una articulación entre el contexto conservador del régimen de la Regeneración y su Constitución de 1886 y la defensa indígena de los derechos aun preservados frente a las presiones de españoles y criollos”(MONDRAGÓN, 1997 apud FAJARDO, 2002:104)

Vale a pena ressaltar que a partir dos anos 1970 o movimento indígena se consolidou e criou entidades como o Conselho Regional do Cauca - CRIC30 o qual fortaleceu o movimento no processo de recuperação de terras e de resgate da cultural indígena (FAJARDO, 2002). Na atualidade existem 408 Resguardos Indígenas distribuídos na região andina, no litoral do Caribe e na região amazônica, com uma população aproximada de 480.000 pessoas, que equivalem a 80% do total da população indígena colombiana e com uma área superior a 50 milhões de hectares (FAJARDO, 2002:104).

É importante destacar que todo o processo de luta pela terra por parte das comunidades indígenas, influenciou fortemente o caráter pluriétnico do país, o qual foi posto na constituição de 1991 e que lhe deu um caráter político, tanto às comunidades indígenas como as afrodescendentes. Esta forma de organização foi um exemplo para que as comunidades negras iniciassem um movimento de luta pelo território étnico no Pacífico colombiano o qual vem se consolidando nos últimos anos.

4.3. Na busca de conceitos para entender o espaço rural do município de Lopez de