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3. CARTOGRAFIA SOCIAL, RE-MAPEANDO A RURALIDADE NO MUNICÍPIO DE LOPEZ

3.1. Antecedentes

O mapeamento participativo é uma ferramenta e uma metodologia de trabalho com comunidades, que teve início no Canadá e no Alaska nas décadas de 1950 e 1960 (CHAPIN, 2010), com o objetivo de proteger os territórios ancestrais das comunidades indígenas. Com o transcorrer do tempo o mapeamento participativo se difundiu em muitas partes do mundo, na América Latina as iniciativas de mapeamento começaram na década de noventa (ACSELRAD; RÉGIS, 2008), com comunidades do México, da Colômbia, do Peru e do Brasil criando, assim, diversas formas de mapear. Esta iniciativa de cartografar o território surgem como resposta das comunidades camponesas, indígenas e afrodescendentes ante o reclamo de terras, o reconhecimento de seus territórios ante o Estado e a proteção de

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territórios geralmente de grande importância biológica, como é o caso da Amazônia e do Choco biogeográfico.

Chapin (2012) identifica três formas de mapeamento que se tem gerado segundo o contexto e o enfoque. A primeira e mais antiga se localiza na Alaska e no Canadá, a qual se realizou com comunidades indígenas, grupos de caçadores, coletores e pesqueiros, que tem tido como resultado não só inumeráveis estudos sobre os nativos que habitam os lugares mais agrestes e inóspitos, senão o reconhecimento desses territórios como próprios destas comunidades frente ao Estado.

A segunda forma se localiza na América Latina, Asia e África, “donde el mapeo ha tenido que ver con sociedades mezcladas, cazadores, pescadores y agrícolas y temas distintos y por mucho más variado que los de Canadá y Alaska” (CHAPI, 2012:5). As iniciativas de mapeamento nestes lugares se deram na década de 1990 com o propósito de produzir documentação para o reclame de terras. (CHAPIN, 2012).

O terceiro enfoque se concentra nas tribos dos quarenta e oito estados dos Estados Unidos, aqui o mapeamento se caracteriza por ser mais sofisticado devido ao uso de Tecnologias da Informação Geográfica (TIG). Em meados da década de noventa a tecnologia tornou-se mais acessível (CHAPIN 2012), as técnicas de mapeamento associadas com os SIG (Sistemas de Informação Geográfica), GPS (Sistema de Posicionamento Global) e tele-detecção, deram como resultado o que se tem chamado de PPGIS (Public Participation Geographic Information System), ou PGIS (Participatory Geographic Information Systen). Estes modelos “foram constituídos no âmbito dos SIG para ampliar o envolvimento público na formulação de políticas, assim como para valorizar o papel dos SIG na realização de metas de ONGs, grupos populares e organizações de base comunitária” (ACSELRAD & RÉGIS, 2008: 18). Joliveau (2008) considera os modelos participativos uma forma diferente de conceber os SIGs, e aponta que “ele é construído em função de um projeto de contracultura política. Os PPGIS têm por missão dar a palavra às comunidades de base e aos grupos desfavorecidos” (JOLIVEAU, 2008:59).

O uso das TIG`s nas formas de cartografar a partir de 2000 se tem intensificado, e tem influenciado fortemente as técnicas de mapeamento nas comunidades do Canadá e no Alaska, como também nas comunidades de América Latina, Ásia e África, que usualmente utilizavam

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croquis de mapas e insumos de baixo custo, diferentes das ferramentas tecnológicas, que “funcionaban bien dentro de la comunidad pero no podía asumir las batallas de la tenencia de la tierra y las batallas legales con el Estado.” (CHAPIN, 2012:11). Estas mudanças nas técnicas foram influenciadas pelas técnicas sofisticadas usadas nos Estados Unidos, que foram acompanhadas ao mesmo tempo pelo desenvolvimento das tecnologias de informação espacial, que se haviam feito mais acessíveis e que já não eram de uso exclusivo dos governos. De tal maneira que o uso de técnicas e tecnologia no mapeamento tem tido grande aceitação nos grupos de base, comunidades e camponeses, tanto no Alaska, no Canadá, na América Latina, na Ásia, na África, pois o poder de mapear reestrutura o controle sobre o conhecimento e o território, constituindo uma ferramenta de grande importância na medida em que se reclamam direitos sobre o território.

As técnicas desenvolvidas no transcorrer de mais de uma década se tem diversificado segundo o contexto, a comunidade e os objetivos da cartografia. Corbeh (2006) destaca algumas técnicas e ferramentas que se podem dividir em mapeamento básico, o qual não é tão elaborado, inclui o traço de mapas sobre o chão, ou sobre o papel, estes não contam com medidas exatas nem se consideram as referencias geográficas, são técnicas que consideram a memória e a percepção espacial dos indivíduos. Estas técnicas são chamadas de Cartografía Efímera e Cartografía de Esbozo. O mapeamento mais elaborado conta com técnicas de produção de mapas que consideram as referencias geográficas, que junto com as TIG`s, vão proporcionar dados matemáticos e espaciais mais exatos, e que servem de apoio aos processos relacionados à apropriação da terra das comunidades locais frente ao Estado, mais que a produção de conhecimento endógeno da comunidade. Se destacam a Cartografia Escalar, Modelagem em 3D, os Foto-mapas, os Sistemas de Posicionamento Global (GPS) e os Sistemas de Informação Geográfica (SIG).

O mapeamento participativo tem sido usado com diferentes propósitos e com as mais diversas técnicas, que vão desde o uso dos croquis de mapas, desenhos sobre o chão, maquetas e fotografias até técnicas mais sofisticadas, acompanhadas do uso de tecnologias da informação espacial, o que tem ocasionado o surgimento de diferentes denominações como: Etno-cartografia, Cartografia Social, Contra Mapeamento, entre outras. Na América Latina esses procedimentos são mais conhecidos como Cartografia Social, e se tem encaminhado a auxiliar as populações indígenas e afrodescendentes a reconhecer diferentes territórios como

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próprios ante ao Estado, assim, o debate sobre a geração de mapas desde um conhecimento endógeno, que se contrapõe ao conhecimento científico, de elaboração e uso deste.