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Abordagem Cognitivista-Desenvolvimental

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CAPÍTULO IV – COMUNICAÇÃO E PSICOLOGIA SOCIAL

3. Abordagem Cognitivista-Desenvolvimental

3.1. Ciências Cognitivas

As ciências cognitivas firmaram-se como a construção de uma nova ciência dos fenômenos constitutivos dos aparelhos e os comportamentos psicobiológico e das interações entre estes aparelhos e os comportamentos humanos, no que se refere também às suas formas altamente simbólicas, tais como as linguagens e as culturas. Com o objetivo de compreender a inteligência humana, as ciências cognitivas têm a finalidade de descrever, explicar, e, eventualmente, simular as principais disposições e capacidades do comportamento humano - linguagem, raciocínio, percepção, coordenação motora.

Não cabe a este estudo a discussão das teorias que têm por base o cognitivismo32,

apenas refletir os conceitos desenvolvidos por essa ciência no tocante aos estudos que possam

32 Na área da Comunicação a teoria da informação, tem por base essas ciências Shannon construiu uma teoria da

informação como teoria estatística do sinal e dos canais de comunicação; Wiener explicou o comportamento dos organismos através de um mecanismo de casualidade circular denominado feedback, lançando as bases da Cibernética. Em todas estas teorias, o aspecto cognitivo está presente na preocupação em considerar a forma como o homem pensa, como manipula a informação, como se apropria do conhecimento. Os aspectos levantados pelas Ciências da Computação, pela Cibernética e pela Teoria da Informação que também influenciaram a Ciência da Informação (ROZADOS, 2003).

indicar caminhos para entender as possíveis transformações cognitivas resultantes de experiências vivenciadas na interação dos jovens com ambientes virtuais. Nesse sentido, destacamos os estudos realizados por Piaget.

3.2. Teoria Piagetiana

Não é por acaso que as habilidades cognitivas estão presentes nos estudos sobre o desenvolvimento humano há algumas décadas. Jean Piaget elaborou uma teoria sobre o conhecimento e a estrutura cognitiva conhecida como cognitivo-desenvolvimental. A teoria Piagetiana tem como ponto de partida os padrões de ação física e mental vistas como processos e etapas explicitadas por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis.

Piaget dividiu em quatro estágios o desenvolvimento cognitivo de zero até os 15 anos de idade, que são específicos e correspondentes a quatro estruturas cognitivas primárias:

Sensorial-motor, pré-operações, operações concretas e operações formais. No estágio sensorial-motor (0-2 anos), a inteligência assume a forma de ações motoras. A inteligência no período pré-operação (3-7 anos) é de natureza intuitiva. A estrutura cognitiva durante o estágio de operações concretas (8-11 anos) é lógica, mas depende de referências concretas. No estágio final de operações formais (12-15 anos), pensar envolve abstrações. (PIAGET, 1978, p. 11-30)

Embora os estágios de desenvolvimento cognitivo estejam associados a faixas de idade, eles variam para cada indivíduo. Além disso, cada estágio tem diversas formas estruturais detalhadas33

.

Para Piaget, essas estruturas cognitivas são relacionadas a dois processos de adaptação: o de assimilação e o de acomodação:

• A assimilação envolve a interpretação de eventos em termos de estruturas cognitivas existentes,

• A acomodação refere-se à mudança da estrutura cognitiva para compreender o meio. Segundo Piaget (1978, p. 224-225), dentro desse esquema para adquirir-se a aprendizagem se faz necessário encontrar o equilíbrio entre a assimilação e a acomodação. A aquisição de informações entendida como o processo do saber humano ou o processo de

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O período operacional concreto tem mais de quarenta estruturas distintas, cobrindo classificação e relações, relações espaciais, tempo, movimento, oportunidade, número, conservação e medida. (PIAGET, 1978)

aprendizagem, se desenvolve principalmente por tratar-se de um processo em que o ser humano vivencia durante toda a sua vida.

3.3. Piaget, As Teorias da Comunicação e a Linguagem Hipermediática

Em meados do século passado, devido ao avanço tecnológico pós-grande guerra, observou-se mudanças significativas relacionadas aos processos das operações mentais. Tais mudanças ficam mais evidentes de acordo com o domínio das tecnologias cada vez mais acentuado pelas gerações mais jovens. Um dos aportes para esse parâmetro poderá ser percebido através da linguagem hipermidiática, que integra, segundo Meirelles,

o pensamento do jovem contemporâneo ao universo tecnológico. Tendo em vista o contato desse jovem usuário com os ambientes hipermidiáticos que poderá alterar sua capacidade cognit iva, na medida em que suas atividades, possibilita experiências geradoras de conhecimento, principalmente no que tange à sua relação com o uso da linguagem de hipermídia. (MEIRELLES, 2006)

Esse processo não ocorre de forma linear. Vejamos o exemplo de um aprendiz de motorista que, ao entrar no carro em sua primeira aula, recebe do seu instrutor várias orientações básicas de forma linear. O iniciante imagina que, de acordo com aquelas informações o processo será fácil. No entanto, logo em seguida percebe que para seguir as orientações deverá ter coordenação motora e colocar em prática vários sentidos simultaneamente, ou seja, deverá responder de forma não linear todas as informações recebidas linearmente. De forma similar esse processo ocorre quando o jovem está navegando pela primeira vez na internet.

Para Santaella, no contexto hipermidiático ou nas interfaces referente aos usuários, deve-se:

analisar as habilidades cognitivas que estão sendo postas em ação no ato de navegar pelos labirintos das infovias que envolve dar-se conta de uma teia intrincada de processos sensórios, perceptivos, estados de alerta, de reconhecimento e de identificação, habilidades discriminativas e seletivas, processos decisórios, memória, aprendizagem, controle motor, tatilidade e, sobretudo, processos de raciocínio (SANTAELLA, 2004 p. 87).

Esse esquema aponta o homem como um ser capaz de adaptar-se as mais divergentes situações, e quanto esse homem interage com o conhecimento externo. Todas as novas informações recebem influências das informações que já havíamos acomodado anteriormente. Nesse sentido:

A não–linearidade implica na construção das estruturas hipertextuais (módulos de informações inter-relacionados) de forma a oferecer várias possibilidades de caminho ao usuário durante sua navegação, tendo-se em mente que, quanto mais opções de caminho lhe forem apresentadas, mais narrativas discursivas poderão ser construídas (SANTAELLA, 2004).

A possibilidade de surgirem novas formas discursivas já foi apontada no item 3.5 do capítulo anterior. Habermas inspirou-se em Piaget para relacionar a comunicação com o processo de aprendizagem. Para Habermas (1987b) é através da criatividade do indivíduo em lidar com estímulos recebidos que o processo da linguagem o ajudará a estruturar o pensamento e, conseqüentemente, transmitir o conhecimento e as idéias. É através da linguagem que se pode entender o pensamento do outro para que a aprendizagem ocorra através das trocas de pontos de vista e do relacionamento social. Dessa forma, vão se acumulando na mente humana informações e, com elas, os pensamentos podem ser organizados e colaborar para que os sonhos tornem-se possíveis de ser realizados quando de fato são colocados em prática.34

Além disso, Habermas também concorda com Piaget sobre a potencialidade de entendimento entre as pessoas, por meio de socialização das idéias.

O processo de socialização da dimensão psicossocial para o desenvolvimento das novas competências comunicativas é estabelecida por Barbara Freitag, (1991), ao analisar a recepção da teoria Piagetiana por parte de Habermas:

Para Piaget e Habermas a ‘competência para o discurso’ significa justamente a autonomia do ‘Eu’ face aos ditames da sociedade e sua ‘linguagem autorizada’. A ‘competência para o discurso’ do ‘Eu’ autônomo refere-se a uma competência cognitiva, lingüística, moral e interativa do sujeito que atingiu cognitivamente o estágio do pensamento hipotético dedutivo piagetiano; lingüisticamente, o estágio da fala argumentativa; moralmente, o estágio pós-convencional. (FREITAG, 1991, p.93).

34 A organização cognitiva é o processo de aprender e conhecer os fatos de maneira previsível. O principal processo envolvido na organização cognitiva é a adaptação, ou seja, a capacidade de ajustar-se ao ambiente e interagir com ele. (KAPLAN, 1997)

A perspectiva behaviorista, como vimos enfatiza o papel dos fatores circunstanciais de reforço e aprendizagem do comportamento por meio da interpretação da inter-relação entre os valores individuais e os valores estruturais da cultura. Já os cognitivistas apresentam o comportamento social como função que um indivíduo que constrói ativamente uma interpretação ou definição da situação e das representações mentais internas como, por exemplo, atitudes, crenças, esquemas, expectativas, explicações, etc. que as pessoas têm da situação e emprega para lhes dar sentido.

O Behaviorismo, assim, pode ser relacionado à forma linear de leitura do mundo a que se refere McLuhan, na obra A Galáxia de Gutenberg. Já o Cognitivismo, traz uma visão mais integral do processo de aquisição de conhecimento, considerando a adaptação de vários estímulos a que o organismo é submetido. Esta idéia concerne à visão de McLuhan (1962) de que o homem moderno estaria recuperando modos audiotáteis de contato com a realidade.

Os conceitos aqui apresentados nos oferece uma visão complementar ao que é discutido pelas teorias da comunicação, uma maior compreensão sobre o panorama vivenciado pelos jovens no hiper-espaço e de como se desenvolverá os constructos imagéticos e simbólicos dentro desse mundo.

CAPÍTULO V – O JOVEM E A COMUNICAÇÃO VIA

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