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Estruturalismo, Escola Francesa e Escola Inglesa

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CAPÍTULO III – TEORIAS DA COMUNICAÇÃO

5. Estruturalismo, Escola Francesa e Escola Inglesa

A Escola Francesa e a Escola Inglesa formam-se a partir de conceitos ligados à linguagem e à cultura.

Na França, com o desenvolvimento dos meios de comunicação de massa, surge uma preocupação em estudar a relação do homem no mundo mediante os impactos e efeitos da indústria cultural.

Gustave Le Bon e Gabriel Tarde foram alguns dos pioneiros a identificar os movimentos de massa e a força das multidões na transição da identidade do sujeito moderno, entendida por Ferdinand Saussure, em 1918, como a emergência de um universo de signos e simbologias, a reformarem as estruturas e as entranhas da sociedade industrial européia, o que foi interpretado como uma força de totalidade estrutural por Claude Lévi- Strauss e inspirou as interpretações psicológicas sobre a identidade e personalidade para Jean Piaget (MARSHALL, 2003, p.3)

Ao longo do século XX, os estudos sobre a Indústria Cultural, realizados principalmente na Alemanha, França e Inglaterra, colocavam o homem imerso nas modernidades como um produto da técnica, do sistema dos objetos e da sociedade de consumo, um joguete da estética da mercadoria.

A interpretação dos processos sociais, culturais e econômicos identificava, cada vez mais, o enfraquecimento do sujeito diante do mundo em suas relações macro e microfísicas e a emergência de uma sociedade fundada apenas nos valores do espetáculo e da banalização (MARSHALL, 2003, p.3)

A representatividade francesa junto às teorias da comunicação surge quando o sociólogo Georges Friedman ajuda a criar o Centro de Estudos das Comunicações de Massa (CECMAS). A proposta era a de estudar as relações entre a sociedade global e as comunicações de massa a partir da interferência dos meios de comunicação nas estruturas sociais (TEMER & NERY, 2004 p. 93). Como pode-se notar, os estudos desenvolvidos aproximavam-se muito da Teoria Crítica.

Na realidade, apesar de alguns autores chamarem esses teóricos de herdeiros da Escola de Frankfurt, os estudos franceses têm um diferencial, pois trazem a questão da cultura, do paradigma culturológico (um modelo que irá se basear na cultura), uma visão neo-marxista que se aproxima da antropologia cultural e da análise estrutural (ligada à lingüística) para entender como a cultura de massa e seus diversos conteúdos interferem nas estruturas sociais e na vida das pessoas.

Estes estudos estão relacionados à Lingüística que ganha destaque nesse período, de onde derivará a corrente denominada estruturalismo. A linguagem como representação, como um espelho da realidade, trouxe nos seus primeiros estudos diferentes abordagens. Primeiro como representação do mundo e do pensamento numa visão histórico-comparativa:

[...] a lingüística do século XIX, sem negar a função comunicativa da linguagem, empenhou-se em relegá-la ao segundo plano, como algo acessório; passava-se para o primeiro plano a função formadora da língua sobre o pensamento; independentemente da comunicação. (BAKHTIN, 2002, p. 289)

Depois, o estudo da linguagem considerou a necessidade do homem de se expressar, de se exteriorizar, mas seu estudo resumia-se à expressão do universo individual do locutor. Ferdinand de Saussure, considerado o pai da Lingüística, na década de 20, criou um sistema em que :

[...] cada objeto mantém com os demais uma relação de semelhança, que permite reconhecê-los como sendo do mesmo conjunto e uma relação de diferença que permite identificar um a um (BIZZOCHI APUD SANTOS 2002 p. 53).

Esse sistema recebeu, posteriormente a qualificação de estrutura e foi a base do Estruturalismo, corrente de pensamento que dominou a Lingüística e influenciou as demais ciências humanas.

Saussure (2001) descrevia a linguagem como um sistema de base dicotômica: Língua (armazenamento de signos) e Fala (organização desses signos na frase; a combinação dos sentidos para constituir o sentido global da frase). Porém, não considerava as condições de produção nem sua recepção.

Roland Barthes (2001), dá sua contribuição ao estudo da linguagem ao apresentar a língua como instituição social: a divisão da linguagem com base nas noções de grupo e classes sociais, apoiado no conceito de “socioleto” (características do social, a linguagem do grupo). Esse autor dividiu os discursos em acráticos (aqueles que estão fora do poder, influenciados pelo senso comum, popular) e encráticos (os que se enunciam a partir dos múltiplos aparelhos estatais ou da comunicação de massa).

[...] A linguagem encrática é vaga, difusa, aparentemente “natural” e, portanto, pouco identificável: é a linguagem da cultura de massa (imprensa, rádio, televisão); toda essa linguagem encrática é ao mesmo tempo clandestina (não podemos reconhecê-la facilmente) e triunfante (não podemos escapar-lhe): direi que ela é pegajosa. A linguagem acrática, essa, é separada, cortante, desligada da doxa (é, portanto paradoxal); a sua força de ruptura vem-lhe de ser sistemática, construída sobre um pensamento, não sobre uma ideologia. (BARTHES, 1988, P. 102)

O livro Cultura de Massa no Século XX: o espírito do tempo, de Edgar Morin (2002) é considerado o marco da Escola Francesa, e os conceitos por ele criados são utilizados também na lingüística e semiologia. Isso porque, de maneira geral, no final da década de 1950 e início

da década de 60 do século passado, na Europa, os estudos tinham a preocupação maior de entender o significado das mensagens como processo organizado. Portanto, a estrutura da mensagem é o foco da análise. E aí entra a questão da construção das mensagens e a da maneira como se dá a recepção. O texto verbal e o não-verbal são vistos como discurso. O discurso passa a ser então um recorte da realidade a partir da visão de quem o produz. Por esta linha de pensamento, a comunicação de massa passa a ser vista por uma dupla face:

[...]que mantém e transforma, ou seja, tenta preservar o modelo social, ao mesmo tempo em que introduz o novo, e esta novidade é o elemento fundamental para aumentar o consumo. É como se os conteúdos se contradissessem nos veículos: “em um mesmo intervalo comercial ou numa mesma página de jornal, textos diferentes valorizam o carro super-rápido e o controle da velocidade nas estradas” (TEMER & NERY, 2004, p.96).

Portanto, nada é real, tudo passa a ser a representação simbólica da realidade. A Teoria dos Signos ganha força, principalmente, por analisar como a comunicação utiliza signos para representar a realidade (através de ícones, índices e símbolos, dentro de um contexto histórico, social e político).

Obviamente que a visão de dominação pelos meios se mantém, mas não mais com a mesma visão apocalíptica, e sim com uma visão mais integrada, uma vez que não se pode mais fugir dela. Alguns teóricos, como Louis Althusser, Pierre Bourdieu e Michel Foucault, fazem uma releitura das teorias anteriores e apresentam uma crítica da dominação em seus trabalhos, pois, para eles, quem detinha a comunicação, detinha o poder, ou seja, dominava através da ideologia passada pelos meios de comunicação de massa.

Essa linha de reflexão trouxe um agregado de outras áreas, o que a tornou diferenciada das demais escolas de comunicação, justamente pela diversidade de estudos, às vezes ligados à lingüística, às vezes ligados à ideologia e à política, às vezes ligados à antropologia e outras vertentes.

A mídia passa a ser entendida como um fator de vínculo social, pois “comunicar não serve só para comunicar: é o motor das relações sociais, que envolve a produção, o consumo, o intercâmbio e a reprodução” (TEMER & NERY, 2004, p.98). Essa linha de análise, que nasceu dentro do estruturalismo, evoluiu e recebeu a denominação de pós-estruturalismo.

É na visão pós-estruturalista surgida nas décadas de 1960 e 1970 do século passado, que todo contexto da comunicação (elementos/condições de produção e recepção das mensagens) é levado em consideração. No pós-estruturalismo, a linguagem é vista como ação, interação social, na qual o homem é o produtor de significados.

[...]”ultrapassar o nível da descrição frasal para tomar como objeto de estudo combinações de frases, seqüências textuais ou textos inteiros”[...] descrever e explicar a (inter) ação humana por meio da linguagem, a capacidade que tem o ser humano de interagir socialmente por meio de uma língua, das mais diversas formas e com os mais diversos propósitos e resultados” (KOCH apud SANTOS, 2002, p.54).

A questão do receptor como construtor de sentido ganhou espaço nesse período. A Universidade de Birmingham e o seu Centro de Estudos Culturais Contemporâneos (localizados na Inglaterra) redefinem a visão de cultura, e os estudos dessa escola (Escola Inglesa) passam a ser conhecidos como Estudos Culturais.

Por essa linha de pensamento a comunicação de massa tem um sentido ideológico que só pode ser entendido se houver a combinação da análise da mensagem e da sua recepção, pois o sentido está em quem recebe a mensagem.

Um aspecto marcante que diferencia os Estudos Culturais da Escola Francesa é a noção de experiência. Ao contrário de entender a cultura de massa como estrutura cuja dinâmic a interna leva à reprodução, os Estudos Culturais privilegiam as atitudes individuais, os papéis adotados pelos sujeitos, entendendo que as estruturas sociais exteriores influenciam na escolha e compreensão dos conteúdos e, portanto, são elementos essencia is para sua compreensão (TEMER & NERY, 2004, p.101).

Portanto, os Estudos Culturais abordam a diversidade dentro de cada cultura e, entre as diferentes culturas sua multiplicidade e complexidade. Os estudos são orientados pela hipótese de que entre as diferentes culturas existem relações de poder e dominação que devem ser questionadas. E tudo isso inserido na mídia. Um dos nomes expressivos dessa escola é Stuart Hall, que trabalha dentre outras a questão da cultura negra na comunicação. Tendo em vista a ampla transformação das sociedades modernas a partir do século XX, que provocou uma fragmentação nas culturas de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, outrora, consolidou o ser humano como indivíduos sociais.

Uma das conseqüências dessas transformações, segundo Stuard Hall (2005), é o fenômeno conhecido como “homogeneização cultural”, em que o ponto principal é a discussão e tensão entre o “global” e o “local” na transformação das identidades.

No Brasil, vários trabalhos abordam essa visão que podem ir desde o estudo dos grafites, enquanto manifestação cultural, até os da propaganda, das músicas (hip- hop) e das telenovelas.

Isso quer dizer que programas tidos como mais populares, como o Datena, Raul Gil e Linha Direta, entre outros, além de toda a cultura de origem popular, em vez de simplesmente serem condenados pelos teóricos, passam a ser estudados na tentativa de compreender qual o

significado para quem os assiste, pois, segundo essa linha de pensamento comunicacional, a recepção está longe de ser passiva: o público torna-se ativo dentro de um conjunto de práticas e de consumo cultural influenciado pelas condições econômicas e sociais. A maioria das pessoas se vê fascinada por esses programas e ligam a televisão com a finalidade de assisti- los; identificando-se e, em alguns casos, ficam indignadas, mas os assistem.

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