O existencialismo tem suas bases no campo da filosofia. Os questionamentos de diversos pensadores sobre a natureza humana levam a reflexões sobre conflitos existenciais, relacionados com o sentido da vida, a busca da felicidade, a finitude humana e a angústia diante da morte, que podem favorecer um estado melancólico e culminar em depressão.
Um dos conflitos mais marcantes no deprimido é a busca de sentido existencial, sendo que a manifestação desse conflito extrapola o campo filosófico, permeando a psicologia, as religiões e a literatura. Abaixo, estão algumas frases memoráveis que expressam o conflito e a busca de sentido existencial:
Jean-Paul Sartre: filósofo francês (1905-1980)
“A felicidade não está em fazer o que a gente quer e sim, em querer o que a gente faz.”
“Existir é isso, beber a si próprio sem sede.”
“Não importa o que fizeram de nós, mas o que faremos daquilo que fizeram de nós.”
“Somente quem não está remando tem tempo para balançar o barco.”
~ 85 ~
Matthew Arnold: poeta americano (1822-1888)
“A vida não é ter e obter. É ser e tornar-se.” Buda: líder religioso indiano (563-483 a.C.)
“A vida não é uma pergunta a ser respondida. É um mistério a ser vivido.”
Carlos Drummond de Andrade: poeta brasileiro (1902-
1987)
“O sentido da vida é buscar qualquer sentido.” Friedrich Nietzsche: filósofo alemão (1844-1900)
“Aquele que tem um porquê para viver pode suportar quase qualquer como.”
Sócrates: filósofo grego (470-399 a.C.)
“Tudo o que sei é que nada sei.”
René Descartes: filósofo francês (1596-1650)
“Penso, logo existo.”
Miguel de Unamuno: filósofo espanhol (1864-1936)
“O homem vive de razão e sobrevive de sonhos.” Bertrand Russel: filósofo galês (1872-1970)
~ 86 ~
“Ensinar como viver com incerteza, mas sem ser paralisado pela hesitação, é talvez a principal coisa que a filosofia pode fazer.”
Viktor Emil Frankl: neurologista e psiquiatra austríaco
(1905-1997)
“A busca da pessoa por um sentido é a motivação primeira em sua vida.”
“Liberdade é estar livre para e não livre de.”
“O ser humano é capaz de viver e até de morrer por seus ideais e valores.”
Dentre as teorias existencialistas, será destacada aqui a
logoterapia. Criada por Viktor Frankl, é considerada uma
psicoterapia centrada no sentido da existência humana. Esse constructo teórico-prático baseia-se na idéia de que a busca de sentido para a vida é a mola propulsora do caminhar humano.
A logoterapia relaciona sentido com realização, sendo ele dinâmico e vinculado a um determinado momento, de forma a ser vivenciado com engajamento, liberdade e responsabilidade pelas escolhas feitas.
Dentro dessa concepção, o vazio existencial surge da ausência de sentido e a falta deste torna o Ser infeliz, intolerante e confuso, além de provocar baixa auto-estima e depressão.
~ 87 ~
NEUROTRANSMISSÃO
A atividade cerebral se dá pela estimulação dos neurônios, através de impulsos nervosos, que percorrem o axônio em direção aos botões terminais (ou botões axônicos), estimulando a secreção de substâncias químicas denominadas
neurotransmissores, capazes de estimular ou inibir a ação
neuronal. NEURÔNIO Corpo Celular Botões terminais do axônio Dendritos Axônio
~ 88 ~
Para que ocorra a transmissão do estímulo nervoso, o neurotransmissor flui por uma pequena lacuna que separa o botão terminal de um neurônio dos dendritos ou do corpo do neurônio seguinte, denominada sinapse. O neurotransmissor liberado pelo neurônio pré-sináptico liga-se a um receptor do neurônio pós-sináptico, fazendo com que este dispare um novo estímulo elétrico que percorrerá o axônio em direção ao próximo neurônio da cadeia, dando continuidade à transmissão. O neurotransmissor, então, volta à fenda sináptica, podendo ser recaptado para uso futuro ou quebrado por ação da enzima monoaminoxidase (MAO). O processo pelo qual o impulso nervoso percorre o neurônio é elétrico e quando percorre a sinapse, é químico.
Fonte: Adaptado de Holmes (2001), pág. 50, figura 2.5.
Na fisiopatologia da depressão, observa-se uma falha na transmissão sináptica, sendo que alguns neurônios pós-
Botão terminal do neurônio pré-sináptico Dendrito do neurônio pós-sináptico Sinapse Neurotransmissor (químico) Sítios Receptores Impulso nervoso (elétrico) Impulso nervoso (elétrico)
~ 89 ~
sinápticos não disparam o impulso elétrico que daria continuidade à transmissão.
Atualmente são consideradas cinco hipóteses para explicar a falha na transmissão sináptica. Essa falha pode estar relacionada com: níveis ou quantidades de neurotransmissores presentes nas sinapses, presença de agentes bloqueadores, presença de neurônios inibidores, baixa sensibilidade neuronal e número de sítios receptores.
Um dos fatores considerados nos quadros depressivos é a
baixa quantidade de neurotransmissores nas sinapses.
Isso pode ocorrer devido a três situações distintas: baixa produção de neurotransmissores, excessiva destruição de neurotransmissores por ação enzimática (metabolismo) e recaptação dos neurotransmissores antes que eles estimulem o neurônio pós-sináptico.
Outro fator que pode influenciar a neurotransmissão é a presença de substâncias químicas com estrutura semelhante à dos neurotransmissores, porém , incapazes de fazer disparar o neurônio seguinte por não se encaixarem perfeitamente nos sítios receptores. Essas substâncias são chamadas agentes bloqueadores e obstruem o acesso dos neurotransmissores aos receptores do neurônio pós-sináptico.
Uma outra situação é a atividade de neurônios inibidores. Tais neurônios interferem na sinapse de outros dois neurônios e sua atividade reduz as chances de o neurônio pós-sináptico disparar.
~ 90 ~
Outra hipótese, bastante considerada atualmente, é a possível alteração da sensibilidade dos receptores do
neurônio pós-sináptico. Essa hipótese está ligada à lenta ação terapêutica dos antidepressivos. Supõe-se que, dependendo do tempo de uso dos medicamentos, a sensibilidade dos neuroreceptores pode ser alterada. A neurotransmissão também pode ser influenciada pelo
número de receptores do neurônio pós-sináptico. Os
neuroreceptores são proteínas que têm sua quantidade regulada por síntese e degradação. O número de receptores tende a diminuir com o avanço da idade, o que parece justificar o alto índice de depressão na terceira idade.
Fonte: Adaptado de Holmes (2001), pág. 51, figura 2.6.
As hipóteses que têm como foco os
neurotransmissores têm prevalecido nas últimas décadas e são a base dos atuais tratamentos farmacológicos. No entanto, após a constatação de que os níveis de neurotransmissores
Impulso nervoso (elétrico) Baixa Produção Recaptação Agente Bloqueador Metabolismo Enzima
~ 91 ~
aumentam aproximadamente três horas após terem sido ingeridos os medicamentos e a melhora nos sintomas só se dá de duas a três semanas após o início do tratamento farmacológico, muitos estudiosos passaram a considerar também possíveis alterações na ação dos neuroreceptores.
De uma forma ou de outra, sabe-se que na depressão existe uma alteração de componentes envolvidos no processo de transmissão do estímulo nervoso. Como causas dessas alterações, são apontados fatores genéticos que predisporiam a pessoa a ter baixa produção de neurotransmissores, fatores estressantes e questões psicológicas, envolvendo pensamentos e emoções capazes de provocar alterações fisiológicas.