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ABORDAGEM PSICANALÍTICA

No documento Depressão, corpo, mente e alma (páginas 71-75)

A abordagem feita pela psicanálise sobre os transtornos mentais tem foco nos processos psíquicos e na estruturação da mente, considerando a presença de conflitos inconscientes na gênese de tais transtornos.

No contexto psicanalítico, é importante estabelecer a diferença existente entre “Tristeza”, “Luto” e “Melancolia”.

Tristeza é o termo atribuído a um estado de humor

caracterizado por um abatimento, podendo estar presente também no luto e na melancolia.

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Luto é um processo natural de elaboração de perdas e

adaptação, vivido num curto espaço de tempo (semanas) e sem grandes conflitos.

Já a expressão Melancolia é a denominação usada pelos primeiros estudiosos desta abordagem para se referir ao atual quadro depressivo.

No que diz respeito à depressão, o entendimento psicanalítico tem como base a percepção de Sigmund Freud, pai da psicanálise, de que esse quadro patológico poderia ser provocado pela presença de conflitos inconscientes vivenciados em situações de perdas. Tais conflitos seriam gerados por sentimentos ambivalentes em relação ao objeto perdido (amor x ódio) e o principal fator desencadeador da depressão seria a raiva internalizada.

Posteriormente, outros teóricos trouxeram importantes contribuições, ampliando a compreensão do aspecto psicodinâmico presente nos transtornos depressivos. Atualmente, com base no modelo proposto pelo Dr. David E. Zimerman, na obra Fundamentos Psicanalíticos, podemos diferenciar alguns tipos de depressão em função do processo psíquico envolvido:

a) Depressão Anaclítica

O termo “Depressão Anaclítica” foi usado pelo psicanalista austríaco René Spitiz para definir o quadro desenvolvido por bebês quando estes eram separados de suas mães entre o sexto e o oitavo mês de vida, apresentando sintomas semelhantes aos da depressão no adulto.

Outro estudo, desenvolvido pelo psicanalista inglês John Bowlby, descreve três fases apresentadas por bebês que eram precocemente privados do convívio materno: protesto (choro e agitação), desesperança (cansaço e sofrimento) e

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retraimento (estado de apatia semelhante ao da depressão no

adulto).

A depressão anaclítica caracteriza-se pelo vazio sentido pela falta da presença materna.

b) Depressão por perdas

É a depressão que envolve vários tipos de perdas, sejam elas reais ou imaginárias. É possível observar três grupos distintos de perdas:

 Perda de pessoas ambivalentemente amadas e odiadas, provocando raiva e a sensação de culpa e desamparo.  Perda de pessoas ou coisas que sustentavam a auto-estima

do deprimido. Normalmente ocorre em pessoas que se sentiam intimamente desvalorizadas e pouco amadas, precisando agarrar-se a algo que lhes atribuísse valor (carro, cargo, cônjuge,...).

 Perdas por circunstâncias variadas que afetam as funções do ego no que diz respeito à adaptação ao mundo exterior. Situações como envelhecimento, morte de pais, aposentadoria, filhos que se casam e saem de casa, diminuição das capacidades visuais, auditivas e de memória, comprometimento estético e das funções motoras, podem gerar baixa auto-estima e resultar em depressão.

c) Depressão por culpa

O sentimento de culpa é um elemento freqüentemente observado nos casos de depressão. Esse sentimento pode ter origens diversas:

 Pessoas rígidas consigo mesmas, que exigem perfeição em tudo que fazem e que estão constantemente se julgando de forma cruel e implacável.

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 A pessoa pode experimentar conflitos por reconhecer em si desejos, sentimentos e características que contradizem padrões que ela mesma entende como certos e admirados por outras pessoas que lhe são importantes.

 A culpa pode ser decorrente do rompimento da pessoa em relação aos desejos e expectativas dos pais. Por exemplo, alguém que não conseguiu seguir a profissão que seus pais sonhavam ou que não conseguiu tirar as melhores notas, pode sentir que frustrou os pais e que por isso perdeu o amor e a admiração deles. Trata-se de um sentimento de fracasso.

 O sentimento de culpa pode ser oriundo da auto-imagem negativa gerada pela postura excessivamente crítica de quem educa, resultando em sentimento de inadequação. É como se pequenas atitudes, próprias da infância, fossem consideradas erros graves. A pessoa torna-se muito exigente consigo mesma.

 Algumas pessoas experimentam culpa por terem alcançado algum êxito, despertando a sensação de estar agindo de forma incoerente com os papéis que lhe foram designados na vida. Alguém que “aprendeu” que é incompetente, dificilmente consegue se aceitar numa situação de sucesso.

 A culpa pode ser fruto do sentimento que a pessoa carrega de ser incapaz de reparar os “estragos” causados por seus pensamentos e atos agressivos.

d) Depressão Narcisística

Esse tipo de depressão é observado quando há um colapso narcísico, isto é, quando alguém que valoriza excessivamente o próprio ego, colocando-se em posição de destaque em relação às outras pessoas, passa por uma situação

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em que se sente inferiorizada, provocando uma queda intensa da auto-estima e a sensação de não ser amada, ou melhor, de não ser a mais importante. A alta idealização da própria imagem termina em uma dura e insuportável queda para a pessoa narcisista, provocando depressão.

e) Depressão por identificação com pessoas deprimidas Durante o desenvolvimento infantil, a criança vai naturalmente internalizando características dos modelos presentes (por exemplo, os pais). Pode ocorrer que o modelo no qual a criança se espelhe apresente características depressivas. Certamente, a relação interpessoal revelará aspectos mais complexos que uma simples imitação. Por exemplo, uma mãe deprimida apresenta um sentimento de auto-desvalorização e assim, pode não se preocupar em fazer seus filhos se sentirem valorizados. De outra forma, uma pessoa que apresenta sentimentos de inferioridade pode, na tentativa inconsciente de camuflar seu sofrimento, esconder- se atrás de uma máscara de superioridade e fazer com que seus filhos e as pessoas à sua volta se sintam inferiores, diminuindo-lhes a auto-estima.

No documento Depressão, corpo, mente e alma (páginas 71-75)