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CAPÍTULO 1 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS (TRS)

1.3 ABORDAGEM EXPERIMENTAL: TEORIA DO NÚCLEO CENTRAL E

As críticas à abordagem experimental referem-se ao artificialismo das situações, fazer de fatores isolados o centro do estudo e não considerar os determinantes externos. No entanto, para Abric (2001) os resultados obtidos pela experimentação em psicologia social estão bem distantes de serem desprezados, pois são relevantes no que concerne à realidade como exemplo, a influência social, as interações e os fenômenos de grupo, a identidade social e o funcionamento sociocognitivo.

Assim, Abric (2001) ao introduzir a noção de representação na psicologia social, possibilita novas formas de abordagens de uma metodologia experimental que leva a centração sobre os fatores cognitivos e simbólicos em que tanto os sujeitos quanto o grupo trabalham com situações no qual o cotidiano lhes propõem e a partir desta situação evoluem para além de pensamentos preestabelecidos (ABRIC, 2001).

Nesse sentido, a evolução do grupo se traduz por meio de uma realidade representada, uma realidade apropriada ao contexto do grupo, ou seja, transformada de acordo com a realidade do sujeito (ABRIC, 2001). Isto se dá, uma vez que as representações sociais são tomadas de posicionamentos diferenciados, mesmo que os sujeitos utilizem estratégias comuns (DOISE, 2001).

Para Doise (2001) os posicionamentos tomados por meio das representações sociais sempre mantem uma organização diferenciada, assim as opiniões ou situações variam de acordo como as relações sociais se apresentam. Portanto, podemos estabelecer que “em cada conjunto de relações sociais, princípios ou esquemas

organizam as tomadas de posições simbólicas ligadas a inserções específicas nessas relações” (DOISE, 2001, p. 193).

Diante destes fatos apresentados definimos como Teoria do Núcleo Central (ABRIC, 2001; FLAMENT, 2001) a estrutura da representação social. Nesta teoria as representações são organizadas por esquemas estáveis e estruturantes e o núcleo central é o que irá determinar a significação e a organização interna da representação. Vale ressaltarmos que em torno do núcleo central estão dispostos outros elementos denominados de núcleos periféricos, os quais são mais suscetíveis tanto no que tange a comunicação quanto às mudanças do grupo (MOSCOVICI, 2009).

A definição da Teoria dos Princípios Organizadores (DOISE, 2001) centra nas condições de produção das representações e nos posicionamentos tanto do grupo quanto do indivíduo. Esta teoria compreende a ancoragem como possibilidade de dar sentido as noções que dão formato ao conteúdo das representações e o modo como os indivíduos se inserem no meio social e se apropriam de categorias pertencentes aos seus grupos (DOISE, 2001).

Para Abric (2001) a representação social é um conjunto organizado e hierarquizado de julgamento, atitudes e informações que um grupo social elabora sobre um objeto, dessa forma, se apropriam e reconstroem a realidade.

Flament (2001) enfatiza que durante muito tempo a Teoria do Núcleo Central ficou somente na hipótese. No entanto, compreendemos que os elementos de uma estrutura cognitiva são simulados pelos aspectos quantitativos, proeminência ou de importância da centralidade. Abric (2001) insere nesses aspectos a centralidade qualitativa ao núcleo central.

Vale ressaltarmos que o núcleo central é determinado pela natureza do objeto e também por valores e normas constituintes da ideologia de um grupo. Também é a partir da vinculação de ideias mediadas por ações concretas que as representações sociais se tornam sólidas e estabilizadas no contexto do núcleo central. É mister evidenciarmos que essas ações são resistentes as mudanças (MAZZOTTI, 2002).

Dessa forma, os elementos periféricos são considerados esquemas, que tem a função de descrever sequencialmente as ações de uma determinada situação. Assim, os esquemas são elementos periféricos das representações sociais, organizados pelo núcleo central (FLAMENT, 2001).

Nesse sentido, os esquemas periféricos asseguram o funcionamento da representação, capaz de decodificar uma situação, ora indicando especificamente algo considerado normal, ora o que não é. Os esquemas normais têm como objetivo permitir a utilização de forma econômica da representação, uma vez que não é preciso analisar a situação a todo momento (FLAMENT, 2001).

Flament (2001) acrescenta que mesmo que consideremos o papel normal dos esquemas periféricos, as situações nem sempre o são. Se essas situações nem sempre são encaradas como normais, estas se inscrevem diretamente no núcleo central que por sua vez desestruturaria a representação. Nesse sentido, se isso fosse possível as representações sociais se transformariam o tempo todo, o que não é verdade. Diante do exposto, “a periferia da representação serve de pára-choque entre uma realidade que a questiona e um núcleo central que não deve mudar facilmente” (FLAMENT, 2001, p. 178).

Ao retratar sobre transformações nas representações de grupos, Flament (2001) considera as práticas sociais desencadeadoras desse processo. No entendimento do referido autor, algumas situações podem levar um grupo, independentemente de suas representações, entrarem em desacordo. Esses desacordos inicialmente estão nos esquemas periféricos, pois estes se modificam possibilitando proteger o núcleo central por algum tempo. Com a ampliação do movimento poderá haver uma ruptura do núcleo central, o qual se modificará, permitindo uma real transformação da representação.

Flament (2001) constatou dois casos discordantes entre prática e representação. O primeiro refere-se quando as práticas estão explicitamente em contradição. Essa situação foi denominada como esquemas estranhos, uma vez que a modificação da representação é brutal, pois esta se rompe como passado. Os esquemas estranhos se apresentam sob a forma de quatro campos imbricados, os quais Flament (2001) denominou da seguinte forma: evocação do normal, designação do elemento estranho, afirmação de uma contradição entre esses dois termos e proposição de uma racionalização que permite suportar – nem que seja somente por algum tempo – a contradição.

O referido autor ainda compreende que estes esquemas são parte integrante da representação, no entanto, este somente será disponibilizado como referencial discursivo. Porém, a problemática se insere a partir do momento que algum elemento do esquema estranho está implícito, nesse momento se impõe a referência no contexto

social, não ficando apenas no discurso. Vale ressaltarmos que a contradição pode ser individual, desde que este esteja inserido em um contexto social.

Em relação à contradição, quando muitos elementos contraditórios transformam esquemas normais em estranhos, observamos um grande número de tipos de racionalização. Flament (2001) acredita que estes acúmulos de racionalizações criam incoerência na convivência do indivíduo, tornando a mesma insuportável. Desta forma, a solução seria retornar as práticas antigas ou promover uma reestrutura no campo da representação. Assim, o núcleo central se rompe e seus elementos se dispersam, ao se dispersarem acaba cada um evoluindo conforme suas próprias lógicas, com sentido modificado que se apresenta de uma forma mais ou menos central em uma nova representação (FLAMENT, 2001).

O segundo estrutura-se na ideia de que as práticas admitidas pela representação são raras, dessa forma ativa-se os esquemas periféricos, permitindo uma progressiva modificação da representação, no entanto esta não se rompe com o passado. Para Flament (2001) duas representações são diferentes somente se seus núcleos centrais também forem diferentes. Nesse sentido, haverá problemas de comunicação social, uma vez que “duas subpopulações de uma mesma população tem, sobre um mesmo objeto, concepções radicalmente diferentes, elas não poderiam ter uma comunicação eficaz a seu respeito” (FLAMENT, 2001, p. 183).

No entanto, a teoria dos esquemas periféricos permite outra abordagem que retrata a ideia de que duas subpopulações podem ter uma mesma representação de um mesmo objeto e por práticas diferentes esquemas periféricos desiguais, portanto os discursos também serão diferentes (FLAMENT, 2001).

Portanto, o núcleo central se apresenta como a consequência de uma metodologia essencial, portanto a primeira situação que deve ocorrer ao se estudar as representações sociais é encontrar o núcleo central, uma vez que somente o conhecimento do conteúdo não é suficiente, mas sim a importância e o significado deste conteúdo (MAZZOTTI, 2002).

Diante do contexto apresentado em torno do núcleo central e dos esquemas periféricos que o circundam, compreendemos por meio de Flament (2001) que uma representação social comporta esquemas periféricos, que são estruturados por um núcleo central e que dessa forma dá identidade a representação.

Quando diante de uma situação há desacordos entre a realidade e a representação, esta provavelmente modificará o esquema periférico de início. Em seguida a esta situação a modificação no núcleo central, ou seja, na própria representação (FLAMENT, 2001).

Quando há contradição entre realidade e representação, surgem os esquemas estranhos que em seguida possibilitam a desintegração da representação. Se a realidade ocasiona somente uma modificação da atividade dos esquemas periféricos, ocorrerão mudanças de forma progressiva. Compreendemos portanto, que estes esquemas são parte integrante da representação, no entanto, este somente será disponibilizado como referencial discursivo. Porém, a problemática se insere a partir do momento que algum elemento do esquema estranho está implícito, nesse momento se impõe a referência no contexto social, não ficando apenas no discurso (FLAMENT, 2001). Vale ressaltarmos que a contradição pode ser individual, desde que este esteja inserido em um contexto social.

1.4 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS (TRS) NO CAMPO