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CAPÍTULO 4 – A METODOLOGIA DA PESQUISA

4.5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

4.5.3 Conceito de Habitus

O conceito de habitus trata-se de uma disposição geral e transponível e, portanto se aplica sistemática e universalmente. Essa aplicação transpõe os limites da necessidade das condições de aprendizagem. Dessa forma, as práticas são sistematizadas, pois apresentam esquemas idênticos bem como são sistematizadas por serem distintas (BOURDIEU, 2011).

Dessa forma, o habitus está estabelecido no princípio hierárquico social, que apresenta características intrínsecas de uma aposição social em um estilo de vida homogêneo (BOURDIEU, 1992). Nesse sentido, o habitus se apresenta como uma estruturante e estruturada o que faz com que a historicidade funcione de forma marginalizada. Nesse sentido, o habitus comporta em sua expressão, um sistema de disposições abrangendo as práticas sociais pelas quais a ordem social se materializa, evidenciando-a e significando- a mediante sua evidência.

A partir das escolhas teóricas para análise e discussão dos dados, utilizamos de variadas técnicas como forma de organizar e interpretar os dados. Num primeiro momento, foram contabilizadas as palavras evocadas pelos acadêmicos por meio da ALP. Utilizamos da ALP, uma vez que está técnica nos possibilitou obtermos informações que estabeleceu o núcleo central e o núcleo periférico das representações. Para Abric (2001) a ALP se apresenta como um instrumento que possibilita a estruturação das respostas apresentadas por meio de uma característica indutora em uma situação na qual os sujeitos da pesquisa farão evocações imediatas, permitindo a identificação do universo semântico relacionado ao estímulo indutor.

Após a contabilização das palavras, estas foram agrupadas em campos semânticos, que permitiu que agrupássemos um conjunto de palavras com os mesmos significados ou conceitos de acordo com o contexto abordado pelos acadêmicos.

Por meio desses campos semânticos elaboramos categorias e subcategorias. As categorias consistem em classificar os elementos que compõem um conjunto, sendo em um primeiro momento as diferenciações encontradas e em seguida o reagrupamento segundo critérios previamente definidos. Dessa forma, as categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos gerais para em seguida reagrupá-los em razão de características comuns apresentadas (BARDIN, 1997).

Dessa forma, a análise categorial, desmembra os discursos, transformando-os em um conjunto de categorias, uma vez que estas categorias selecionadas de forma cuidadosas irão gerar várias indicações e subcategorias para o processo de inferência, permitindo resultados válidos, uma vez que o processo de interpretação foi produtivo (BARDIN, 1977).

A partir das categorias organizadas, foram elaborados gráficos e organogramas com o intuito de uma melhor visualização dos agrupamentos e também por serem ferramentas que facilitam a interpretação dos dados de forma clara e objetiva (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2007).

As categorias também nos permitiu identificar a zona muda e os esquemas estranhos. A zona muda é considerada uma técnica que trata das representações que não foram citadas, por não serem consideradas comuns (MENIN, 2006). Menin (2006) esclarece que essas representações não são citadas ou quando evocadas são raras, porque podem ser conflitantes com o grupo, até mesmo no que tange a ética ou a moral.

Desta forma, a zona muda pode compor elementos do núcleo central que são esquecidos pelos sujeitos pelo fato de ser algo que acreditam não poder ser dito. Portanto, até mesmo elementos centrais podem ficar escondidos dando a ideia de que são elementos periféricos (ABRIC, 2001).

Abric (2001) esclarece que o núcleo central que estão na zona muda são considerados normativos, uma vez que tem o sentido de avaliações e valores para o grupo nos quais estes consideram como não sendo legítimos para representá-los. Contudo, isto não significa que o núcleo central não esteja estabelecido e sim que o mesmo pode ser modulado, uma vez que alguns elementos podem ser mais facilmente expressos do que outros (ABRIC, 2001).

Em relação aos esquemas estranhos, primeiramente consideramos o conceito de esquemas como sendo os elementos periféricos identificados por meio das palavras evocadas que para Flament (2001) tem a função de descrever sequencialmente as ações de uma determinada situação, assim, os esquemas são elementos periféricos das Representações Sociais, organizados pelo núcleo central.

Nesse sentido, os esquemas periféricos asseguram o funcionamento da representação, capaz de decodificar uma situação, ora indicando especificamente algo considerado normal, ora o que não é. Os esquemas normais têm como objetivo permitir

a utilização de forma econômica da representação, uma vez que não é preciso analisar a situação a todo momento (FLAMENT, 2001).

No entanto, mesmo que consideremos o papel normal dos esquemas periféricos, as situações nem sempre o são, diante deste fato a periferia serve como uma barreira de proteção entre a realidade que está sendo questionada e o núcleo central no qual aparece com representações cristalizadas difíceis de serem mudadas (FLAMENT, 2001).

Diante deste fato, quando as práticas estão explicitamente em contradição, são revelados os esquemas estranhos, uma vez que a modificação da representação é brutal, pois esta se rompe como passado. Os esquemas estranhos se apresentam sob a forma de quatro campos imbricados, os quais Flament (2001) denominou da seguinte forma: evocação do normal, designação do elemento estranho, afirmação de uma contradição entre esses dois termos e proposição de uma racionalização que permite suportar – nem que seja somente por algum tempo – a contradição.

Justificamos a escolha destes pressupostos teóricos e metodológicos, bem como das técnicas de organização e tratamento dos dados nas considerações feitas por Abric (2001) ao afirmarmos que pesquisar sobre as representações sociais implica em adotarmos novas orientações metodológicas, pois as mesmas nos levarão a centração tanto no que se refere aos fatores cognitivos quanto aos fatores simbólicos. E também pelos argumentos de Jodelet (2001) ao enfatizar que as TRS nos permite realizar articulações interdisciplinares e desvelar importantes campos de aplicação prática enriquecendo e impulsionando novos conhecimentos.