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1 EDUCAÇÃO CIENTÍFICA, LEITURA E LIVRO DIDÁTICO

2.1 Abordagem metodológica e instrumentos de pesquisa

Na abordagem metodológica da pesquisa foram combinadas as vertentes quantitativa e qualitativa para a geração de dados, ambas são adequadas e se complementam para o alcance dos objetivos desta pesquisa (BAUER e GASKELL, 2011).

A abordagem quantitativa consolida-se na produção de dados numéricos para o dimensionamento de fenômenos como a frequência com que determinadas formas de uso do LDQ são praticadas pelos alunos e a frequência com que os alunos usam os livros de outras disciplinas, além de outras características mensuráveis das práticas escolares importantes para esta pesquisa. Nesse tipo de levantamento de dados, o tamanho da amostra determina o poder de inferência estatística da pesquisa social, e quanto maior for, maior será o indicador de qualidade da pesquisa (BAUER e GASKELL, 2011, p. 513).

A abordagem qualitativa nesta pesquisa anseia a busca de dados que revelem fatores que possam influenciar o aluno a usar o LDQ, e para isso investigam-se aspectos da interação do estudante e de seus professores com os livros levando-se em conta os significados que atribuem a esse objeto, as atitudes em relação a ele, a motivação para usá-lo e as aspirações que a ele associam. Esse tipo de abordagem tem o ambiente natural, entendido aqui como sociocultural real, como fonte de dados e resulta na descrição ou narração de um fenômeno num contexto, impregnadas de todo o significado que o ambiente lhes outorga (TRIVIÑOS, 1987, p. 128).

Esse tipo de abordagem propicia ao investigador ver “através dos olhos daqueles que estão sendo pesquisados” (BRYMAN13, 1988 apud BAUER e

GASKELL, 2011, p. 32). Ao definir de forma genérica a pesquisa qualitativa, os autores Denzin e Lincoln (2006, p. 17) afirmam: “é uma atividade situada que localiza o observador no mundo”, e que dessa maneira os pesquisadores tentam “entender, ou interpretar, os fenômenos em termos de significados que as pessoas a eles conferem” (ibidem, p. 17).

Em relação à diferença entre pesquisa qualitativa e quantitativa, Denzin e Lincoln (2006, p. 23) explicam que os pesquisadores qualitativos ressaltam a íntima

relação do pesquisador com o objeto e buscam os valores que permeiam a investigação em uma realidade socialmente construída. Por seu lado, a pesquisa quantitativa trabalha com a medida e a análise das “relações causais entre variáveis, e não processos” (p. 23) e usam modelos matemáticos e a estatística. Eles consideram que nesses dois tipos de pesquisa há uma preocupação “com o ponto de vista do indivíduo” (p. 24), embora os pesquisadores qualitativos lancem mão de entrevistas e observações detalhadas para se aproximarem dos sujeitos.

Assim, ao contrário de caracterizar uma dicotomia, as abordagens quantitativas e qualitativas são integradoras, já que contribuem para a apreensão da dinâmica relacional do contexto sociocultural do objeto de estudo na perspectiva mais integral. A abordagem unicamente quantitativa não traria a compreensão de fenômenos subjetivos relacionados a crenças e valores, significativos para o conhecimento do objeto da pesquisa, e também a abordagem unicamente qualitativa não levaria conhecimento sobre o objeto como manifestação social quantificável.

Os instrumentos da pesquisa são questionários com 14 perguntas (vide Apêndice 1), para a produção de dados quantitativos e qualitativos, e entrevistas que foram realizadas de acordo com roteiro apresentado nos Apêndices 2 e 3. As entrevistas foram semiestruturadas, realizadas individualmente, abrindo espaço à participação dos sujeitos da pesquisa na elaboração do conteúdo, por meio de opiniões, expressão de conhecimentos e narração de experiências, como estratégia para uma relação mais próxima com os entrevistados, valorizando a expressão espontânea de seus saberes, de suas dúvidas e de suas opiniões sobre o tema da pesquisa.

Em relação às entrevistas, Bauer e Gaskell (2011, p. 65) afirmam que elas possibilitam obter “dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais e sua situação”, bem como “compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e motivações, em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais e específicos”. Nesse sentido, o roteiro elaborado para as entrevistas teve em vista não somente a coleta das informações relevantes, mas também abrir espaço para novos questionamentos e reflexões surgidos do diálogo entre entrevistador e entrevistado.

Para a análise teórico-analítica dos dados coletados, adotou-se como referencial a análise de conteúdo (BARDIN, 2011), com a finalidade de procurar significações nos textos construídos a partir das expressões dos sujeitos da

pesquisa. Trata-se de recurso indicado à pesquisa qualitativa, que trabalha com a materialidade linguística de materiais textuais. Para Laurence Bardin (2011), a análise de conteúdos é:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens. (p. 48).

Nessa perspectiva, a mensagem, expressando um significado e um sentido, é o ponto de partida para a análise de conteúdo. Esse sentido não pode, entretanto, ser entendido isoladamente, pois traz em si as representações que o sujeito emissor tem de si mesmo e está associado ao nível de domínio que ele tem do processo discursivo textual. Assim pensando, a análise de conteúdo implica em comparações contextuais, considera as interações entre interlocutor e locutor e é direcionada pela intencionalidade do pesquisador, podendo levar “para além do que pode ser identificado e teoricamente relacionado, isto é, para o que pode ser decifrado mediante códigos especiais e simbólicos”(FRANCO, 2007, p. 12).

Considere-se ainda que a análise de conteúdo preceitua que as investigações buscam um valor teórico. Assim, a simples descrição de uma informação, sem considerar as características do emissor, não é suficiente, e a análise deve implicar comparação contextual entre dois lados direcionada a partir da intencionalidade e da competência teórica do pesquisador, que deve considerar “os contextos individuais, sociais e históricos nos quais foram produzidos” (FRANCO, 2007, p. 16).